sexta-feira, 20 de julho de 2012

A freguesia de S. Martinho de Alvaredo e a sua Igreja paroquial: raízes históricas



A freguesia de Alvaredo vem referida em documentos do séc. XII sendo então denominada de S. Martinho de Valadares. Em 13 de Abril de 1118, Onega Fernandes, sendo viúva e tendo hábito de religiosa, doou a quarta parte de S. Martinho ao bispo de Tui (Alonso, 1989: 42). Alvaredo era, no séc. XII, terra de Valadares onde dominava Soeiro Aires, um dos cavaleiros das lides da Reconquista favorecidos com carta de couto da povoação de S. Vicente concedida por D. Afonso Henriques. Em contrapartida, este e outros senhores ficavam“responsáveis pela defesa do território contra possíveis invasões do outro lado do rio Minho” (Mattoso, 1988: 143).
Em 25 de Fevereiro de 1312, D. Dinis anexou a Melgaço toda a terra de Valadares, mediante a renda anual de 300 libras em trocas dos direitos reais que ficavam a reverter para o concelho (Pintor, 2005: 133). Os moradores do termo de Valadares reclamaram ao rei e este voltou a conceder-lhes autonomia. Foi-lhe dada carta de foral, em Lisboa, a 1 de Julho de 1317 (idem, ibidem) e em 1 de Junho de 1512 recebeu o Foral Novo de D. Manuel I. Alvaredo esteve assim integrado no concelho de Valadares até i extinção deste pelo decreto de 24 de Outubro de 1855. Apartir desta data voltou a pertencer a Melgaço.
Sob o ponto de vista da organização religiosa do território de Entre Lima e Minho e segundo estudo de Avelino de Jesus da Costa, a ecclesia de S. Martini de Alvaredo pertencia, no séc. XIV, à Terra de Valadares. Em 1320 foi taxada em 60 libras pelo Rei D. Dinis “pelos benefícios eclesiásticos do bispado de Tui” (Costa, 1981).
Pelo‘Memorial’ de Dom Manuel de Sousa, de 1545-1549, a igreja de S. Martinho de Alvaredo tinha um rendimento de 33$000 reis. No ‘Censual de D. Frei Baltazar Limpo’ (1551-1581) refere-se que o abade era de “apresentação de Pêro Gomez d’Abreu e de outros padroeiros leigos” (idem, ibidem).
Em 1758, o memorialista respondeu ao Inquérito dizendo que era cura anual de“aprezentação do prior dos mosteiros de Sam Fins e Sam João de Longos Vales da Companhia de Jesus, como procurador bastante do padre reitor do Colégio de Coimbra” (IANTT, 1758).
O retábulo da igreja data de 1822 pois em 11 de Fevereiro deste ano foi celebrado no notário José Pereira da Costa, de Monção, uma‘escritura de contrato e obrigação ‘ entre o mestre-entalhador João Bento Barbosa de Brito, de Padornello, de Coura e Padre Teotónio de Alpoim Lobato, reitor de Cambeses, concelho de Monção, e procurador da Uni­versidade de Coimbra (ADVC, 1822).
João Bento Barbosa de Brito obrigava-se a ‘fazer o retábollo da tribuna da Igreja da freguezia de Sam Martinho da Barqueira (Alvaredo), termo de Valadares; elle servirá do dezenho do retábollo que se acha feito na capella-mor de São Miguel de Sago, neste termo de Monsão, salvo a diferença de que a urna se aproveitará, para a mesma obra, a que se acha já feita na mesma Igreja de Alvaredo; com a declaração que nesta obra se não meterá forro nem pelate; mas tudo será de táboa com as grossuras do costume; e também não se meterá talha alguma postiça mas sim nascida da mesma madeira em que se fizer a obra" (Idem, ibidem).
Receberia 94.000rs., em 3 pagamentos; "o primeiro antes de principiar a obra". Esta teria que estar terminada ‘athé o fim do anno prezente (1822)’. Deu como fiador Manuel António Vandonha Sotto-Mayor, lugar de Alderiz, freguesiade Pias (idem, ibidem).


Enquadrada em meio rural, a igreja de Alvaredo encontra-se construída em cantaria autoportante aparente e apresenta planta rectangular com nave, capela-mor e, adossada a esta, a norte, um pequeno corpo servindo de sacristia.
Na fachada abre-se porta adintelada e com verga recta sobreposta por janelão de brincos com lintel encurvado. Remate por cornija angular assentando em cunhais pilastrados. No vértice uma cruz latina e urnas nas extremidades.
Torre com dois registos sendo o último fenestrado por campanário de quatro sineiras, coroado por coruchéu rodeado de pináculos.

Informações recolhidas em:

ADVC, Notários (Monção- José Pereira da Costa), 5.1.6.17., fl.l 12. (publicado em MOREIRA, Manuel António Fernandes -‘O Barroco no Alto Minho’, Ed. C.E.R., Viand do Castelo, 2006, pp. 463-464)
ALONSO, Eliseo - Pescadores del Rio Miño, Ed. Deputacion Provincial de Pontevedra, 1989.
PINTOR, Bernardo - Melgaço Medieval, in ‘Obra Histórica-I’, Ed. Rotary Clube de Monção, 2005, p. 67-163.
CAPELA, J. Viriato (Coord.) - As Freguesias do Concelho de Melgaço nas «Memórias Paroquiais» de 1758. Alto Minho: Memória, História e Património, Ed. C. M. de Melgaço, Melgaço, 2005 (IANTT - Memórias Paroquiais, mem. 33, vol. 3, p. 275-277).
COSTA, Avelino de Jesus da - A Comarca Eclesiástica de Valença do Minho (Antecedente da Diocese de Viana), Comunicação apresentada no 1º Colóquio Galaico Minhoto, Associação Cultural Galaico-Minhota, Ponte de Lima, 1981, Vol. 1, p. 69-235 (ADB - Registo Geral, Livro 335, fls. 124-160).
MATTOSO, José -Identificação de um País. Oposição, Ed. Estampa, Lisboa, 1988, Vol.1.
MATTOSO, José -Identificação de um País. Composição, Ed. Estampa, Lisboa, 1988, Vol. 2.
PINTOR, Bernardo – Melgaço Medieval. Obra histórica, reed. Rotary Clube de Monção, Monção, 2005, Vol. 1.
- http://acer-pt.org/vmdacer/index.php?option=com_content&task=view&id=155&Itemid=65;


Sem comentários:

Enviar um comentário