domingo, 8 de julho de 2012

Vikings em Melgaço?

Há alguns anos foram descobertas no Monte de Prado, na encosta ribeirinha, no meio da vegetação desordenada, algumas esculturas de monstros, com semelhanças surpreendentes com as proas dos barcos Vikings, cujas incursões eram frequentes na zona litoral de Portugal e Galiza. Presença viking nas terras de Melgaço? Era uma assunto completamente desconhecido que tem movido estudos de especialistas portugueses, espanhóis e noruegueses.



O povo viking é um dos mais temíveis de toda a história militar e saquearam várias regiões desde o norte da Europa até ao Mediterrâneo e Mar Negro, chegando a atacar Constantinopla.
Na Península Ibérica, inúmeros ataques estão documentados. Em 840, um número indeterminado de embarcações bordearam a costa galega e asturiana até chegar à actual Torre de Hércules - torre e farol situado na península da cidade da Corunha em Espanha - (o seu grande tamanho deve ter-lhes parecido importante) e saquearam a pequena aldeia situada a seus pés. Ordonho I teve notícias da expedição e convocou o seu exército para fazer frente à incursão, derrotando os vikings e recuperando boa parte da pilhagem. Mandou afundar entre sessenta e setenta dos seus barcos, o que não deve ter sido uma grande vitória como demonstra o facto de que seguiram a sua campanha de saques. Em Lisboa os cronistas falam de uma esquadra composta por 53 baixéis.
No ano 844 outra expedição normanda arrasa a cidade de Gijón e segue a costa atlântica até chegar a Lisboa e atacá-la. Em seguida tomaram Cádiz e subiram de novo pelo Guadalquivir, saqueando minuciosamente Sevilha durante 7 dias, a partir da qual lançaram ataques por terra. No entanto, quando Abderramão II saiu com os seus homens, e após algumas batalhas, os vikings viram que não podiam vencer a força andalusa e fugiram, abandonando Sevilha e deixando muitos para trás, que se renderam às forças do Emir. Destes, os mais afortunados acabaram criando cavalos ou fazendo queijo, os menos com o velho castigo para a pirataria: enforcados.
Durante o reinado de Afonso III das Astúrias, os vikings chegaram a cortar as comunicações navais com o resto de Europa. O historiador e hispanista Richard Fletcher menciona pelo menos duas incursões assinaláveis na Galiza em 844 e 858.
Cquote1.svgAfonso III estava bastante preocupado pela ameaça dos vikings para estabelecer postos fortificados na costa, como faziam outros reis.Cquote2.svg
Em 858 os normandos sobem pelo Ebro desde Tortosa, sobem-no até ao Reino de Navarra, deixando atrás as inexpugnáveis cidades de Saragoça e Tudela, seguem depois pelo seu afluente, o rio Aragão até encontrarem o rio Arga, o qual também sobem, chegando até Pamplona que saqueiam, raptando ao rei navarro. Uma expedição similar ataca Orihuela a partir do rio Segura. Em 859, os vikings chegam de novo a Pamplona e sequestram o novo rei Garcia I Iñíguez.
Como consequência destes ataques, em 859 tentou-se detê-los de novo. Ampliou-se o porto de Sevilha e aumentou-se a frota de vigilância marítima sob os reinados de Abderramão III e Alhakén II. Abderramão II, ante as incursões normandas, constrói os Ribat, fortalezas nas desembocaduras fluviais, entre estas as denominadas hoje em dia São Carlos da Rápita em Tarragona, La Rábida no rio Tinto de Huelva; La Rábita em Granada, entre as desembocaduras do rio Grande e o Guadalfeo, etc.
Em 968 o Bispo Sisnando de Santiago de Compostela foi assassinado e o mosteiro de Curtis saqueado, tendo de se tomar medidas para defender a cidade interior de Lugo (Espanha). O saque de Tui no século XI deixaria o cargo episcopal da cidade vazio por meio século.A montante no rio Minho,já na margem esquerda,nas arribas ribeirinhas de Melgaço, existem no monte do Prado,dezenas de misteriosas e grandes cabeças de figuras fantásticas,iguais às que os vikings esculpiam, pensam alguns historiadores terem esta origem. A captura e sequestro de reféns para pedir um resgate também foi prática comum: Fletcher menciona o pagamento de Amarelo Mestáliz para garantir a segurança da sua terra e resgatar as suas filhas, capturadas em 1015. O bispo Crescónio de Compostela (1036–66) repeliu ainda outro ataque viking e mandou construir as Torres do Oeste (Catoira) como fortaleza naval para proteger Compostela. A Póvoa de Varzim, no norte de Portugal, foi colonizada pelos vikings; a cidade de Braga muitas vezes saqueada, bem como todo o vale e localidades do vale do rio Cávado,com tanta frequência, que motivou a construção das impressionantes muralhas da cidade de Guimarães.
Também a cidade do Porto e o vale do rio Douro. Lisboa sofreu ataques de grande importância. Mais contundente foi o conde Gonçalo Sancho que destruiu toda a frota de Gunrod da Noruega; o conde Sancho capturou e esfaqueou toda a tripulação e seu rei.
Não se sabe com certeza a causa ou causas que terminaram com os ataques vikings. Alguns autores opinam que a aceitação da fé cristã por volta do ano 1000 pela maioria destes, atenuou o seu desejo de atacar a seus correligionários. Também se aponta que as incursões só constituíam uma moda e que terminaram quando já não foram novidade. De qualquer modo os reinos nórdicos desejavam cada vez mais abrir-se ao resto de Europa e comerciar com eles em lugar de os invadir. Como exemplo está o caso do rei castelhano Afonso X de Leão e Castela que casou o seu irmão Fernando com a princesa Cristina da Noruega a 31 de Março de 1252, porque o dito casamento era conveniente tanto para Afonso X como para Haakon IV.

Informações recolhidas em:
 - MORENO, Eduardo Morais (2006), Os vikings em Espanha, nº 12 de História de Iberia Velha, HRH Editores,  Madrid.
- FLETCHER (1984). ch. 1, note 51
- HERREN, Ricardo (2003) -  Uma capilla para a princesa vikinga, nº 54 de A aventura da História, Arlanza Edições, Madrid.

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