domingo, 16 de setembro de 2012

A Misericórdia de Melgaço na Guerra da Restauração (1640-1668)

Igreja da Misericórdia da vila de Melgaço

A Misericórdia de Melgaço (terra do senhorio de Bragança) viu-se confrontada com os feridos desta guerra logo no ano de 1641. Os irmãos ordenaram a compra de “mesinhas” necessárias para se curarem duas mulheres pobres pobres que os galegos feriram e maltrataram na freguesia de Cristóval quando entraram para queimar a dita freguesia”.
No ano seguinte, em 1642, a Misericórdia foi contactada pelo Desembargador Gregório de Valente e Morais para proceder ao tratamento de militares enfermos. Os mesários concordaram mas lamentavelmente não puderam tratar gratuitamente, como desejavam, por a Santa Casa não possuir rendimentos para o efeito. Por isso, contentavam-se com o “socorro aos soldados nos dias em que estiveram enfermos”. Declararam ainda que o pagamento das mezinhas necessárias aos militares corria por conta da Coroa e que não tratariam soldados aquartelados, porquanto o cirurgião não aceitava esse encargo pelo ordenado de 18 mil réis anuais que recebia.
Não temos conhecimento das diligências posteriores havidas entre a Coroa e a Santa Casa, mas em 1643, os mesários acordaram na obrigatoriedade dos irmãos nomeados visitarem os soldados aquartelados que estivesses doentes e de darem conta da ocorrência ao cirurgião. Esta passagem prova que a confraria tinha cedido na cura  de militares que estavam nos quartéis e em casas particulares.

Mau grado as dificuldades sentidas, a Misericórdia de Melgaço procurava agir com normalidade e cumprir os rituais a que estava habituada. Em 1645, os mesários acordaram fazer as festividades da semana santa e resolveram “que pera os novellos se escolha o linho pior e parte do outro que se asede e que delles se façam os novellos para quinta feira maior e que o outro linho bom se venda para fazer toalhas e amitos”. O tempo impunha racionalidade e parcimónia nas despesas, mas a confraria não deixou de celebrar esta quadra em tempo de guerra.


Extraído de: 


- ARAÚJO, Maria Marta Lobo (2005) - Pedir para distribuir: Os peditórios e os mamposteiros da Misericórdia de Melgaço na época moderna. Boletim Cultural de Melgaço, Câmara Municipal de Melgaço.

Sem comentários:

Enviar um comentário