domingo, 23 de dezembro de 2012

O significado de inscrições em monumentos melgacenses I


Inscrição na Capela de Nossa Senhora da Orada


Inscrição comemorativa da Fundação da Ermida de N.a S.a da Orada, gravada em silhar do ombral direito do Portal Ocidental do templo. A inscrição revela-nos o papel desempenhado pelo Prior de Fiães na fundação deste templo rural.
Foi o Padre. Bernardo Pintor o primeiro autor a publicar a inscrição de Orada, oferecendo leitura quase correcta do letreiro, primeiro sem desdobramentos:
"P'IOR MONAC DE / FENALIB ISTAM / ECCIÃ FUND" depois com desdobramento de abreviaturas:
"PRIOR MONACHORUM DE FENALIBUS ISTAM ECCLESIAM
FUNDAVIT" e depois da respectiva tradução:
"O Prior dos Monges de Fiães Esta Igreja Fundou" (PINTOR 1975. Anotemos apenas que a inscrição apresenta ECCLA e não ECCIA, e que a MONAC se segue o sinal de abreviatura, parcialmente gravado no silhar superior, pelo que deveria transcrever MONAC. A leitura do Padre Bernardo Pintor, correcta nas suas linhas gerais, seria citada por Lúcia M. Cardoso Rosas (ROSAS 1987).
Já tivemos oportunidade de referir as ligações profundas que uniam a Ermida de N.a S.a da Orada ao Mosteiro de Fiães. O Mosteiro teria recebido a herdade de St.a Maria da Orada das mãos de D. Afonso Henriques por diploma hoje desconhecido mas confirmado indirectamente por outro de seu filho, D. Sancho I, de 1199. É possível que a doação tenha sido realizada no quadro do diploma de 1173 pelo qual o primeiro monarca português entregou diversos e alargados bens ao Abade D. João e aos frades do Mosteiro de Fiães. A construção da Ermida, como Carlos Alberto Ferreira de Almeida teve oportunidade de sublinhar, deve ser colocada nos meados do século XIII (ALMEIDA C.A.F. 1988) e à qual talvez se deva associar a inscrição de 1245. É possível que tenha sido no final das obras dessa centúria que se gravou o letreiro que aqui nos ocupa, consagrando o papel do Prior de Fiães na construção deste prestigiado centro de devoção, implantado em plena mancha rural, à saída de Melgaço.


Extraído de:
- BARROCA, Mário Jorge (2000) - Epigrafia Medieval Portuguesa - (862-1422), vol. II, CORPUS EPIGRAFICO MEDIEVAL PORTUGUÊS. Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Porto.

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