domingo, 22 de setembro de 2013

O Castelo de Melgaço em ruínas (viragem do séc. XIX para o séc. XX)

Castelo de Melgaço na década de 1930. Parte da muralha já não existe.

Em 1910, quando da classificação do castelo de Melgaço, este encontrava-se em adiantado estado de ruína e, da cerca, já pouco restava. Desde 1884 que a Câmara Municipal tinha decidido vender boa parte da pedra da muralha.
Entre 10 de Outubro de 1914 e 3 de abril, de 1916 efetuou-se a escritura de compra do que restava da fortificação da vila para demolir, incluindo a Porta de Baixo com a inscrição medieval, a título de alargamento e aformoseamento da vila. Desse modo, a 14 de Outubro de 1914, procedeu-se à demolição da cerca desde a Porta de Cima, a que ligava com a couraça nova, para a Porta de Baixo, vendendo-se a pedra. Em 1916 a Câmara cedeu oito carros de pedra da muralha por troca de um pedaço de terreno pertencente a D. Maria da Nazareth Esteves dos Santos Lima, para o município abrir uma servidão junto à estrada de Prado a Paderne, no sítio de Cortinhas.
Em 1917 pretendeu-se acabar com este resto e se não fora o alarme lançado por António Maria Vasco de Melo Silva César e Meneses, 9º conde de Sabugosa a que se seguiu um movimento encabeçado pelo jornalista Humberto Beça, hoje nada restaria da fortificação.
A este respeito, escreveu o Conde de Sabugosa uma nota no livro “Neves de Antanho” que dizia que “Ainda hoje, enquanto isto escrevemos, (Agosto 1917), a vila conserva algumas dessas vielas de pitoresco aspecto, e é, em parte, cintada com as veneráveis muralhas que tanto a enobrecem. Consta-me, porém, que o município, com a deplorável mania de «modernizar», vício incorrigível das nossas edilidades. umas boçais, outras mal orientadas, está atentando criminosamente contra a majestade da sua terra, dilacerando-lhe os vetustos flancos para «fazer dinheiro» e colher materiais destinados a um edifício público, um tribunal, segundo me informam, que será provavelmente semelhante ao matadouro com que já se orgulha! Que lástima! Se alguma entidade há, que possa impedir o sacrilégio, acuda breve a afastar esta vergonha de Portugal!”
Em consequência, a 5 de Dezembro de 1917 um ofício do presidente do Conselho de Arte e Arqueologia indagava à Câmara por que motivo se demoliram as muralhas da vila, sem ser ouvida a Comissão dos Monumentos. A Câmara entendeu que a suspensão dos trabalhos era contrária aos interesses do município, decidindo informar a Inspecção-Geral das Fortificações e Obras Militares para garantir os seus direitos. Como resultado, em 23 de Janeiro de 1918, um despacho do Ministério da Guerra anulou a venda de talhões. Todavia, a Câmara decidiu vender o material proveniente da demolição de uma casa situada no largo do Chafariz e a pedra da muralha da couraça nova (26 de Junho de 1919). O entulho deveria ser deitado no espaço onde estavam os canastros, sobranceiro ao antigo lavadouro público (o atual jardim que rodeia o castelo). O Inspetor do Conselho de Arte e Arqueologia pediu que a Câmara o informasse sobre o plano de melhoramentos do castelo.
Contudo, Em 5 de Maio de 1920 a Repartição de Turismo solicitou a constituição de uma Comissão que tivesse como objetivo a "guarda e defesa do castelo". Nesse mesmo ano, a 24 de Novembro, tendo recebido um reforço orçamental, a Repartição de Turismo solicitou à Câmara o envio de lista das obras a empreender e o respetivo custo.
Sem preocupação de preservação, a 25 de Fevereiro de 1925 a Câmara deliberou vender a pedra dos alicerces das muralhas da vila, desde a extremidade do quintal das senhoras Almeidas até a extremidade do quintal de Emiliano Igrejas por oito escudos cada carro. A 1 de Abril seguinte, licitou dois lotes de pedra, um por 400$00 e o outro por 600$00. A 15 de Julho subsequente, colocou novamente em praça um terceiro lote de pedra das muralhas. À época, ainda, o presidente da Junta de Freguesia da vila solicitou à Câmara o refugo de pedra das muralhas para consertar o caminho público da Pigarra. No ano seguinte (1926), José Augusto da Cunha requereu à Câmara que lhe facultasse mais 80 carros de pedra, para além dos 120 que já havia levado, a qual se encontrava à entrada da vila, no lado sul, entulhada e em monte (27 de Outubro).

Depois de tudo isto, podemos olhar para o estado da torre e da muralha que restava na foto ao cimo. Sem mais palavras...

Informações recolhidas em:
CONDE DA SABUGOSA (1918) - Neves de Antanho. Edição da Livraria Bertrand, Lisboa. 
- www.fortalezas.org.

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