domingo, 16 de fevereiro de 2014

Professor Matias de Sousa Lobato, o "Rei das Montanhas" (1859 - 1920)

(PARTE I)

Professor Matias de Sousa Lobato, em Castro Laboreiro em 1911

O professor Matias de Sousa Lobato, conhecido como o "Rei das montanhas" nasceu a 29 de Junho de 1859 na Casa do Rego em S. Martinho de Alvaredo (Melgaço). Era filho de Maria Benedita Martins e de Vitorino José Sousa Lobato.
Em 1904, encontra-se com José Leite de Vasconcelos na vila de Castro Laboreiro. No seu livro “De terra em terra”, o sábio refere-se ao professor Matias nestes termos: “Apesar da sua rusticidade, Castro Laboreiro procura acompanhar o progresso: possui algumas lojas de negócio, uma fonte de cantaria, e um Commendador, que é ao mesmo tempo o Professor primário da freguesia, o Sr. Mathias Lobato, pessoa amável, a quem os forasteiros ficam sempre devendo obséquios”.
Na revista Illustração Portugueza, nº 284, de 31 de Julho de 1911, numa reportagem do jornalista Bruno Buchenbacher é referido o seguinte: “Devido à amável recomendação do administrador do concelho de Melgaço, fui recebido com fidalga hospitalidade pelo Sr. Comendador e Cavaleiro fidalgo Mathias de Sousa Lobato, professor oficial de instrucção primária. Este cavaleiro, que sacrificou 28 anos da sua vida ao bem estar d’este povo, merece bem, pelo seu aspecto venerando, o cognome de rei das montanhas, que lhe foi conferido pelo falecido Hintze Ribeiro. Os serviços relevantes prestados ultimamente ao novo regíme, levaram o Sr. Dr. Alfredo de Magalhães a transformar a antiga designação autocrática, na mais popular denominação de “Leão das Montanhas”. Mas, mesmo assim, sempre rei…”
Em Junho de 1916, já se encontrava muito doente. Foi submetido a uma Junta Médica que o julgou temporariamente incapaz para o serviço, pelo que teve que passar à inatividade “conforme os seus desejos”. No entanto, em 1917, o seu nome constava de uma lista patrocinada pelo Dr. Vitoriano, como substituto do Procurador efetivo à Junta Geral do Distrito. A lista adversária era encabeçada por João Pires Teixeira e Justiniano António Esteves, ambos da vila de Melgaço.
Faleceu em Melgaço, em casa da sua irmã. Por sua morte, no Jornal de Melgaço de 29 de Agosto de 1920, podemos ler: “ Este nosso amigo, conduzido há pouco para o cemitério, nasceu em 1859 em Alvaredo, no Rego. Aos 22 anos de idade, obteve na capital do Minho o seu diploma de professor primário, conseguindo obter a sua nomeação temporária em 25 de Julho de 1882 para Tadim, Braga, e em 12 Maio de 1887 foi nomeado professor vitalício da escola de Castro Laboreiro, onde conseguiu captar as simpatias daquele povo, de tal forma que ele sozinho dispunha da maioria da votação daquela freguesia! E essa maioria, procedendo assim, cumpria tão somente o seu dever, pois a cada passo víamos o Matias na secção da Guarda Fiscal, na Administração do Concelho ou na Repartição de Finanças, a tratar dos interesses do seu povo, como o finado lhe chamava, e o cumprimento desse dever foi a causa do extinto alcançar grande influência política. A atestar esta importância, lá está o sino e o cemitério com que o finado dotou aquela freguesia, adquiridos de importantes donativos que para tal fim dos políticos soube conseguir. Um governador civil que uma vez esteve em Castro, e teve a ocasião de apreciar a popularidade do extinto, ao fim de jantar apelidou-o de “Rei das Montanhas”. E a atestar-nos a razão dessa popularidade lá estão os Diário do Governo, que nos dizem “Em 22 de Novembro de 1901, foi conferida ao cidadão Matias de Sousa Lobato, a mercê da Medalha de Prata para distinção e prémio, concedido ao mérito, filantropia e generosidade, pelos serviços que prestou em Castro Laboreiro, quando ali grassou a epidemia em 1897”.
Em 10 de Outubro de 1902, foi conferida ao cidadão Matias de Sousa Lobato a mercê de Cavaleiro da Ordem de Cristo, despachado no Diário do Governo 232, de 14 do mesmo mês e ano. Pelo Governo da República, foi agraciado com a medalha de cobre da Cruz Vermelha pelos seus serviços prestados em Castro Laboreiro, quando ali grassou a epidemia de tifo em 1913."
Daqui se vê que o extinto, não tendo sido nenhuma sumidade no magistério, podia ter sido uma notabilidade na medicina, se tivesses seguido a carreira para que a sua vocação o chamava. No estado de solteiro, tendo sempre dado provas de possuir um belo coração e, tendo completado em 29 de Junho, 61 anos de idade, faleceu no dia 16 do corrente (16/8/1920) o comendador Matias de Sousa Lobato. À sua extremosa irmã, Ana, e irmão, José, inteligente farmacêutico desta vila, enviamos os sentidos pêsames”.

Nesta foto, o Prof. Matias aparece de chapéu imediatamente à frente de um Guarda que se encontra junto à cruz do cruzeiro...
(Castro Laboreiro, 1911)

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Informações extraídas de:
- "Como eu visitei Castro Laboreiro e Soajo", reportagem de Bruno Buchenbacher in: Illustração Portugueza, nº 284, de 31 de Julho de 1911;
- VASCONCELOS, José Leite de (1916) - Excursão a Castro Laboreiro. in: Revista Lusitânia, Lisboa;
- "Jornal de Melgaço", edição de 29 de Agosto de 1920;
- ROCHA, Joaquim, A. (2010) - Dicionário Enciclopédico de Melgaço. Edição de autor.

PS - Um especial OBRIGADO à Sra. Teresa Lobato pela partilha de informações e pela procura das suas raízes...

1 comentário:

  1. Obrigada a si, Valter Alves, por este artigo e pela partilha de ideias e informações, também. Meu tio-avô merece este seu carinho e, pelo que posso deduzir da sua vida, mereceria ainda mais por parte das entidades municipais que, muito provavelmente, até desconhecem a sua pessoa. Cabe-nos a nós manter viva a memória de quem tanto se deu a um coletivo, às gentes da povoação de Castro Laboreiro.
    Bem haja!
    Abraço amigo
    Teresa Lobato

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