sábado, 13 de setembro de 2014

Histórias de Fiães (Melgaço) de tempos passados

Interior da Igreja do Mosteiro de Fiães

Na obra "Portugal Antigo e Moderno", volume III, editado em 1874, Pinho Leal fala-nos como seria a freguesia na época e fala-nos de algumas estórias da terra:
"O clima d'esta freguesia é excessivo, e seu solo, apesar de abundante de águas, é em geral pouco fértil. Produz porém muito centeio, algum milho, pouco vinho, muita castanha e bastante fruta, em um estreito e profundo vale, que fica a este. Cria bastante gado, e os seus presuntos, curados sem sal, são os melhores da província.
Há aqui muita caça de varias espécies, principalmente no sitio das Ramalheiras, imensa floresta de carvalhos, urzes e giestas. Toda a freguesia está assente em terreno muito acidentado, e é vasto o seu território.
Tem montes quase a pique. Ainda li há poucos anos que em em 1841, perto do lugar de Portocarreiro, desabou um cabeço, ao longo de uns seiscentos metros, arrastando na sua queda grandes árvores e penedias, e destruindo uma aldeia, da qual morreram então 15 pessoas.
Esta avalanche monstruosa foi direita a uma capela na encosta, e quando todos se persuadiam que ela seria arrasada, aquela mole imensa se divide em duas, e se precipita pelos dois lados da ermida, ficando esta intacta.
Por muitas vezes se tem nesta freguesia dado deslocações idênticas, deixando sempre tristes consequências da sua passagem devastadora.
A 1500 metros ao sul do mosteiro, se está a majestosa e alta serra de Pernidelo, donde a vista se estende por um vastíssimo e formoso panorama. Ao sopé desta serra se estende na distancia de 6 a 7 Km's a verde e fértil veiga de Melgaço. O ribeiro de Várzeas divide aqui Portugal da província da Galiza.
Conta-se por aqui em Fiães que em 1861 foram devastadas as povoações gallegas de Padrenda, Monte Redondo e Gazgoa, por uma fera, que uns diziam ser lobo outros tigre, outros javali, etc. Dali passou a Portugal e encheu de terror as povoações de Castro Laboreiro, Fiães e outras, fazendo muitas vitimas. Só em um dia, matou duas crianças de 11 anos, em Castro Laboreiro, devorando uma e despedaçando outra. Não era raro encontrar aqui um braço, acolá uma perna, além um crânio, principalmente nas freguesias galegas.
Tudo andava horrorizado. Ninguém sabia de noite, e, mesmo de dia, só bem armado e nunca só. O povo, sempre propenso ao maravilhoso, ligou varias historias sobrenaturais a este acontecimento. Segundo uns, era a fera—um filho indigno, amaldiçoado pelos seus pais. Segundo outros, era um Caim que tinha assassinado um seu irmão. Outros pretendiam que era uma alma do outro mundo. Os mais espertos sustentavam que era um lobisomem e os mais sérios, teimavam que era, nem mais nem menos, o diabo em pessoa.
Combinaram-se todos os povos destes sítios para fazerem uma grande montaria ao animal feroz, qualquer que fosse a espécie a que pertencesse.
Reuniu-se grande numero de povo no terreiro da Capela de Alcobaça, limites de Fiães e Lamas de Mouro, e mais de 300 homens investiram na floresta das Ramalheiras. Não apareceu a fera, mas achou-se um rapaz, de 14 anos, horrorosamente ferido por ela, e salvo por umas vacas, que andava guardando, as quais se atiraram resolutamente ao animal feroz, e o fizeram fugir. O rapaz escapou. Esta fera apareceu nestes sítios por duas vezes, com intervalo de dois anos, demorando -se de cada uma alguns meses. 
Desapareceu sem se saber como, nem para onde. Também nunca se chegou a saber positivamente que espécie de animal era."

Extraído de:
- PINHO LEAL, Augusto Soares A. B. (1874) - Portugal Antigo e Moderno (Volume III). Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, Lisboa.

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