sábado, 15 de novembro de 2014

Peneda (Fevereiro de 1956) - Depois da tragédia, tratam-se dos feridos e dos desalojados

A Peneda e o santuário na época


Pareceu um milagre da Nossa Senhora da Peneda. No dia 2 de Fevereiro de 1956, um enorme bloco de granito abateu-se sobre a povoação da Peneda. Miraculosamente, apenas causou alguns feridos e outros desalojados.
Na edição do dia seguinte (3 de Fevereiro), o Diário Popular faz o rescaldo do desastre ocorrido e refere “Em toda a região de Melgaço e no concelho de Arcos de Valdevez causou profunda emoção, o desastre de ontem de manhã, no lugar da Peneda, junto ao santuário do mesmo nome.
Como o Diário Popular foi o primeiro diário a noticiar, uma grande massa de granito, cujo peso é calculado em mais de 150 toneladas, devido à acumulação de neve e à infiltração das águas, tombou do alto da serra, de uma altura superior a 200 metros e principiou a rolar pela encosta, vertiginosamente, destruindo, quase por completo três casas particulares e o refúgio para peregrinos pertencente à Confraria de Nossa Senhora da Peneda.
O bloco imenso era muito admirada em toda a região pela forma estranha em que assentava, deafiando todas as leis do equilíbrio. A sua configuração assemelhava-se a uma cabeça de velha e por este nome era conhecido por toda a população das redondezas.
Por feliz acaso, não houve consequências trágicas a lamentar, as quais, se receavam. Por este facto, de Melgaço, seguiu para o local o Sr. Dr. António Cândido Esteves, tendo o Sr. José Igreja posto à disposição dos serviços de socorros o seu automóvel.
O pedregulho derrubou também na sua marcha várias árvores, assim como o muro do cemitério, o qual por seu turno, tombou desfeito sobre os jazigos. Justamente, alarmada, a população da Peneda saiu para o campo, ouvindo-se gritar as mulheres e as crianças. Umas pediam socorro, outras, ajoelhadas na terra fria, imploravam a clemência de Deus. Depois destas destruições – um dos prédios reconstruído foi atravessado de lado – o grande bloco de granito abrandou de velocidade até se imobilizar. Deixara, porém, atrás de si, um sulco profundo no terreno e no seu caminho arrastara também várias pedras de grandes dimensões.
Felizmente, todos os feridos experimentaram hoje sensíveis melhoras. No Hospital de Melgaço, tiveram já alta, seguindo já para suas casas, Constança de Sousa, casada de 45 anos, e Maria de Jesus Martins, solteira de 27 anos. Apenas continua internada mas livre de perigo, Claudina Rosa Martins.
Esta tarde, seguiram de Arcos de Valdevez para o local do sinistro, os membros da Confraria de Nossa Senhora da Peneda, o Senhor Padre Manuel Alves, os Engenheiros Rebelo Oliveira, Júlio Vilaverde, Anselmo da Cunha e Ramiro Amaral, e o representa do Sr. Arcebispo Primaz de Braga Gilberto de Brito Dantas. Como os terrenos onde se deu o desatre pertencem àquela confraria, deverá ela decidir, em princípio, as previdências a tomar para evitar novos desprendimentos de rocha, os quais, no entanto, não parecem eminentes.
O cemitério do lugar, acanhado e mal situado, estava já para ser transferido para outro local apropriado. A confraria resolveu agora definitivamente colocá-lo noutro terreno. Para o efeito, os dirigentes daquele organismo religioso avistar-se-ão com a Junta de Freguesia, a qual por seu turno, pedirá o necessário apoio económico ao Presidente da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, Sr. Alberto Barreiros Aranha.
A Peneda voltou à calma, regressando toda a população aos seus trabalhos normais.”

(Diário Popular de 4 de Fevereiro de 1956) 

Na edição de 4 de Fevereiro, a edição do Diário Popular conta-nos que “A mesa da Confraria de Nossa Senhora, proprietária dos domínios onde se deu o desmoronamento da Peneda, visitou os locais mais atingidos e resolveu elaborar um plano de estudos tendentes a facilitar a solução dos inconvenientes criados pelo desastre.

O seu primeiro cuidado será proceder à construção de novos alojamentos para os habitantes da Peneda que viviam gratuitamente nas casas, agora destruídas ou danificadas, caso que será resolvidos urgentemente para evitar que a pequena população ali instalada abandone a terra e se fixe noutro local com melhores meios de acesso e ligação com os centros importantes do norte do país, o que seria um perigo para os importantes bens da confraria que ficariam sujeitos a assaltos. Está também assente a construção de um novo cemitério.”

Leia tudo sobre este desastre clicando em Momentos de grande pânico na Peneda (Fevereiro de 1956)






Extraído de:
- Diário Popular, edição de 3 de Fevereiro de 1956, nº 4787;
- Diário Popular, edição de 4 de Fevereiro de 1956, nº 4788.

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