sexta-feira, 12 de junho de 2015

As aldeias de Fiães (Melgaço) descritas em finais do século XIX

Igreja do antigo Convento de Fiães por volta de 1940
Fonte:
Arquivo Fotográfico do AML (Coleção Cassiano Branco)


No livro "O Minho Pittoresco", de 1886, o autor dá-nos uma rara descrição das aldeias de Fiães nesta época. José Augusto Vieira, montado numa mula, sai da vila de Melgaço em direção a Castro Laboreiro e, de passagem, fala-nos de Fiães nestes termos: "Serra acima, o horizonte é encantador para os lados de Melgaço e Galiza, e como que á vol d'oiseau se dominam as encostas e pequenos vales, onde os campanários destacam as suas agulhas brancas. O Minho corre em baixo, como serpente em voltas sinuosas. Para o norte, as serras de Galiza vão-se indistintamente fundindo no índigo esfumado da atmosfera.
Dobramos a montanha. O horizonte largo desaparece e logo na encosta Vila de Conde, lugarejo pertencente a Fiães, principia a dar o toque de melancolia às nossas impressões, até aí cheias do verde claro da vegetação, dos sussurros da água, do espelhar dos rios, do pitoresco das aldeias.
Parece que entramos numa região inóspita e selvagem. Os cães recebem-nos com latidos furiosos, as casas escondem-se como choças humildes na sua cor escura, a vegetação rareia. E assim vamos, ora subindo, ora descendo pelos torcicolos da montanha, até que ao fundo, num vale estreito, Fiães se nos apresenta, brumosa e triste, carregada na cor, como uma velha ruína abandonada.
Em frente fica o lugar da Jugaria, a ela pertencente, mas um pouco mais alegre com os seus tons verdes de prados húmidos. Vadiamos por um regato e eis-nos no terreiro orlado de vidoeiros e olmos, de castanhos e robles, com bancadas de pedra e chafariz de óptima agua, contíguo ao adro do antiquíssimo mosteiro e onde se faz em 11 de Julho a mais estrondosa romaria das povoações serranas.
A indústria de Fiães é agrícola e pastoril. Recolhe algum centeio, milho miúdo, nabos, castanha, e tem muitos gados e caça grossa e miúda, especialmente na floresta das Ramalheiras.
Uma nota... de Savarin.
O presunto, aquele magnifico presunto de Melgaço, cujas deliciosas
qualidades te descrevi, leitor amigo, é especialmente curado em Fiães, onde o preparam sem sal, receita talvez de algum monge epicurista, que a graves locubrações se entregou para mimosear o paladar delicado de qualquer D. Abade do mosteiro, ou de algum dos príncipes ou infantes, que aí estivera de visita.
Pinho Leal, um trabalhador infatigável que a morte arrebatou antes que lograsse ver o fecho do seu colossal Dicionário a que muitas vezes, fique dito para sempre, iremos buscar valiosos subsídios,diz que a palavra Fiães vem do português antigo Fian, Fiaã, Fiaam, Ffia, Sfiaã ou Fiada, e significa vaso de barro chato e redondo, a que depois se chamou Almofia. Servia antigamente para pagar certa medida de cereaes e também de manteiga (16 fiães faziam um alqueire). É provável, — acrescenta,— que aqui se pagasse este foro, pelo que se dizia terra de Fiães, — ou que houvesse aqui oleiros que fabricassem as fians, espécie de alguidar de barro, com a capacidade para dois quartilhos.
O que, porém, tornou Fiães notável, foi o seu mosteiro, de que hoje só por assim dizer o templo atesta a munificência."

Extrato de texto extraído de:
-VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, tomo I, edição da livraria de António Maria Pereira- Editor, Lisboa.

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