domingo, 30 de agosto de 2015

Melgaço no tempo do "dinheiro de emergência" (1920)



No início do século XX, a situação económica de Portugal é agonizante. A economia era altamente deficitária, as finanças públicas estavam falidas. O país vivia em convulsão social e em constante guerrilha política.
A República substitui a Monarquia em 1910 mas o rumo do país não se inverte. Vem a 1ª Guerra Mundial em 1914. Portugal envia soldados para o conflito na Europa e para África afim de defender as colónias. Portugal e o mundo estão numa crise tão profunda onde há inclusivamente falta de metal para cunhar moeda, sobretudo a de baixo valor. Surge o chamado “dinheiro de substituição” ou “dinheiro de emergência”: são as CÉDULAS FIDUCIÁRIAS.
As cédulas fiduciárias eram de aspeto bastante rudimentar, produzidas a princípio em simples pedaços de papel ou de cartão com as mais variadas dimensões, manuscritas ou impressas, com ou sem preocupação estética, as cédulas foram progressivamente melhorando a sua apresentação gráfica, acabando por revelar-se meios de propaganda turística e regional e, nos casos em que eram emitidos por estabelecimentos particulares, meios expeditos de publicidade comercial. 
Em Melgaço, as cédulas fiduciárias são pouco conhecidas. Reunimos uma pequena coleção de cédulas de início da década de 1920 de alguns estabelecimentos comerciais de Melgaço que as emitiram. Os seus valores oscilam entre 1 e 10 centavos...



Cédula de 1 centavo da loja Bon Marché de Prado (Melgaço) (frente)

Cédula de 1 centavo da loja Bon Marché de Prado (Melgaço) (verso)

Cédula de 2 centavos da loja Bon Marché de Prado (Melgaço) (frente)

Cédula de 2 centavo da loja Bon Marché de Prado (Melgaço) (verso)


Cédula de 2 centavo da loja Bon Marché de Prado (Melgaço) (frente)

Cédula de 2 centavos da loja Bon Marché de Prado (Melgaço) (verso)


Cédula de 4 centavos da loja Bon Marché de Prado (Melgaço) (frente)


Cédula de 4 centavos da loja Bon Marché de Prado (Melgaço) (verso)


Cédula de 1 centavo da loja de Francisco de Souza Cardozo (Melgaço) (frente)
Cédula de 1 centavo da loja de Francisco de Souza Cardozo (Melgaço) (verso)

Cédula de 2 centavos da loja de Francisco de Souza Cardozo (Melgaço) (frente)

Cédula de 2 centavos da loja de Francisco de Souza Cardozo (Melgaço) (verso)

Cédula de 2 centavos da loja de Francisco de Souza Cardozo (Melgaço) (frente)

Cédula de 2 centavos da loja de Francisco de Souza Cardozo (Melgaço) (verso)

Cédula de 5 centavos da loja de Francisco de Souza Cardozo (Melgaço) (frente)

Cédula de 5 centavos da loja de Francisco de Souza Cardozo (Melgaço) (verso)

Cédula de 10 centavos da loja Barateira (Melgaço) (frente)



Informações extraídas de:
- MARQUES, A.H. de Oliveira (1991). Nova História de Portugal: Portugal da Monarquia para a República. Lisboa: Editorial Presença.
- http://bloguedominho.blogs.sapo.pt


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

As Águas de Melgaço em crónica do jornal Correio da Manhã


Pavilhão Principal das "Águas de Melgaço", antes da remodelação

 No jornal "Correio da Manhã", na sua edição de 25 de Setembro de 2011, encontramos uma crónica dedicada às Águas de Melgaço da autoria de António Sousa Homem:

Um Domingo de sol e Água de Melgaço
"A minha sobrinha Maria Luísa tem, com o meu médico de Viana, uma relação conflituosa: por um lado, acha que a minha longevidade lhe deve bastante – dobrar os noventa é uma meta até agora só ao alcance de alguns, embora a minha família tenha demonstrado, ao longo dos séculos, uma tendência permanente para desanimar os seus desafectos, prolongando a existência até ao inadmissível. Um tio que dividiu a sua existência entre os Arcos, Valença e Lisboa é mesmo uma lenda desconfortável, finando-se aos 105 anos na sua quinta ligeiramente decadente, ouvindo o chilrear dos pássaros e o ruído dos freixos junto a um ribeiro que corria intramuros. Por outro lado, acha-o um libertino e ligeiramente gordo. A libertinagem manifesta-se sobretudo pelo estômago e pelo gosto despropositado por nobiliários arcaicos que fixam os desaires e os pecadilhos das avós minhotas a norte de Leça da Apúlia e até ao derradeiro grão de poeira que nos separa de Tuy. Afastado este pormenor, almoçámos todos em Caminha no domingo passado, saboreando no restaurante Primavera um cabrito que Maria Luísa classificou como uma ameaça ao meu regime alimentar e que duplicou, largamente, a felicidade dos comensais. Depois do almoço, o repouso merecido: reunidos em grupo palrador na esplanada do Café Central, a tarde providenciou-nos a sua saborosa Água de Melgaço. Tenho com a Água de Melgaço uma relação enamorada e fiel desde há décadas – amarga e luminosa, ela lembra o tempo em que o Minho era uma nacionalidade e uma referência. A Água de Melgaço fazia parte dessa identidade, à semelhança de uma cédula pessoal ou de uma declaração de contribuinte para a repartição de Finanças. Vinda em caixas de madeira para a casa de Ponte de Lima ou, mais tarde, para este eremitério de Moledo, é hoje uma espécie de recurso da memória que vamos periodicamente buscar ao Café Central e à sombra dos seus guarda-sóis. Esta semana comentávamos uns grafitos que foram misteriosamente deixados na fachada do edifício da Câmara. Entre um gole de Água de Melgaço e o pedido de um novo café, Maria Luísa, a esquerdista da família, concedeu que se tratava de um acto de barbárie cometido por estranhos (murmurava-se que duas estrangeiras e ainda por cima holandesas). Depois, uma nuvem passou arrastando a sua beleza disforme sobre a foz do Minho e as colinas de Santa Tecla. O meu médico de Viana quis ainda mostrar-nos a estrada florestal de Venade. Maria Luísa levou algumas garrafas de Água de Melgaço que bebemos entre os freixos e um abeto deslocado da paisagem. Eis um domingo."
Crónica de António Sousa Homem.

Fonte: Correio da Manhã, edição de 25 de setembro de 2011.

sábado, 22 de agosto de 2015

No dia em que o Castelo de Castro Laboreiro "foi pelos ares"...

Ruínas das muralhas do castelo de Castro Laboreiro

Foi no dia 18 de Novembro do ano de 1659, pelas nove da manhã, que um raio caiu sobre o Castelo de Castro Laboreiro originando uma violenta explosão que destruiu completamente a torre de menagem e zonas adjacentes. Na dita torre localizava-se um paiol de pólvora o que explica a magnitude da explosão. Não ficou pedra sobre pedra. Nunca mais o castelo recuperou a imponência e vitalidade que tinha até aí. Diz-se que foi um castigo de Deus para alguns que habitavam no castelo.
Este episódio é erradamente colocado pelo professor Pinho Leal, na sua obra Portugal Antigo e Moderno (1874), na idade média. No dito livro afirma que “no principio do seculo XIV, cahiu um raio no paiol da pólvora, que, incendiando-se, fez ir o castello pelos ares pelo que o rei D. Diniz o mandou reedificar”. Contudo um documento da época descreve com algum pormenor este episódio e situa-o na data e hora acima citada.
No dito documento, diz-se que "Aos dezoito dias de Novembro de 1659, que foi uma terça-feira, às nove horas da manhã, caiu um raio na Torre do Castelo, que servia de Armazém da pólvora e mais munições, o qual raio deu na pólvora e fez a maior ruína que se sabe, pois da Torre e mais partes acessórias não ficou pedra sobre pedra e deste grande prodígio se vê claramente ser grande castigo do céu que Deus mandou para castigar pecadores que dentro deste Castelo estavam nesta grande desventura se viram grandes milagres. O primeiro foi escapar o Governador Gaspar de Faria com a sua mulher e mais família, estando na parte mais arriscada, pois aí removeu a muralha da Torre; as suas casas e as fez em pedaços e aí estavam e aí escapou com mais segurança e castigou o que na Ermida não podia ficar pedra sobre pedra, pois caiu toda a Torre sobre ela e ficou Nossa Senhora dos Remédios aí me recolhi, sem cobertura, sem água, ficando debaixo toda a máquina. Terceiro Milagre;  Foi que escapou um Escrivão do Governador debaixo desta ruína, sem avaria e são. Nesta desventura morreram - Gaspar Lima de Castro, Escrivão das Décimas e Sisas e Tres/ados; e um mulato seu criado, por esse nome Marcos, natural de Tangil e um miúdo, criado do Governador, por nome de Gaspar de Medeia e dois soldados. Do livro n.º 51, folhas 5. Gaspar de Almeida dos Capitães o fez".

Castelo de Castro Laboreiro em 1509
(desenho de Duarte d'Armas) 

Informações extraídas de:


- RODRIGUES, P.e Aníbal (1996) - O Castelo de Castro Laboreiro, in ‘Estudos Regionais’, n.º 17, Ed. C.E.R, Viana do Castelo.

domingo, 16 de agosto de 2015

Rio Minho em Melgaço nos postais dos últimos 100 anos

Rio Minho no Peso (Melgaço) e Ponte Internacional,  década de 90 do século XX


Mostramos uma pequena coleção de postais dos últimos 100 anos alusivos ao rio Minho à sua passagem por Melgaço. Faça uma viagem no tempo...



Rio Minho no Peso (Melgaço), passagem de batela em meados do século XX
Rio Minho avistado desde Gondufe (início do século XX)
Rio Minho no Peso (Melgaço), inícios do século XX
Rio Minho no Peso (Melgaço), início do século XX

Rio Minho em Remoães (Melgaço), inícios do século XX


Rio Minho no Peso (Melgaço), inícios do século XX 

Rio Minho à passagem por Melgaço, com vista para o comboio na margem galega (início do século XX)

Rio Minho no Peso (Melgaço), meados do século XX
Rio Minho no Peso (Melgaço), meados do século XX 
Rio Minho no Peso (Melgaço), meados do século XX
Vista para o rio Minho e Capela de Nossa Senhora de Loudes (meados deo século XX)
Rio Minho no Peso (Melgaço), meados do século XX
Rio Minho avistado desde o Cruzeiro  de S. Julião (início do século XX)
Rio Minho entre Melgaço e Arbo (década de 80)
Rio Minho (Melgaço), década de 80 do século XX

Rio Minho no Peso (Melgaço) e Ponte Internacional,  década de 90 do século XX

sábado, 15 de agosto de 2015

A Ponte da Cavada Velha (Castro Laboreiro - Melgaço)

A Ponte da Cavada Velha ou Ponte Nova (Castro Laboreiro)
(Foto de Daniel Jorge)


A ponte da Cavada Velha é uma das três pontes de origem romana que, juntamente com as da Dorna e da Assureira, pontuam, actualmente, a estrada municipal 1160, ao longo do Rio Laboreiro. Em tempos antigos, estabelecia a ligação entre as localidades de Assureira - Varziela - Castro Laboreiro - Porto de Cavaleiros.
O padre Aníbal Rodrigues sustenta a hipótese de a calçada que a serve, entroncar com a via romana vinda de Braga passando pela Portela do Homem e Entrimo.
Na actualidade, a ponte compõe-se de dois arcos de volta perfeita, de largura desigual entre si, sendo o maior de 10,60 metros e o menor de apenas 1,70m. Uma tal discrepância atribui-se a uma segunda fase de obras por que o imóvel passou, provavelmente pelos séculos XII ou XIII, campanha que conferiu o aspecto geral que a ponte hoje ostenta.
Com efeito, e à semelhança de uma grande maioria de pontes de origem romana, também esta foi alvo de uma reformulação na Baixa Idade Média, cujos elementos são bem visíveis. Enquanto que as partes baixas da estrutura e a curvatura do arco são executadas em silhares bem aparelhados e com aduelas almofadadas, características da cronologia romana da obra, o tabuleiro, com lajeado irregular e com guardas de cantaria menos cuidada, revela essa reforma medieval.

O mesmo contraste é perceptível em outros aspectos: os talhamares, e perfil triangular a montante, e rectangular, a jusante, recorrem também a um aparelho cuidado e muito regular, ao passo que o enchimento do arco e das juntas é efectuado com pedra miúda disposta horizontalmente mas com muitos orifícios. E o tabuleiro, ao organizar-se em cavalete de dupla rampa, é o mais claro indicador dessa campanha dos séculos XII-XIII.

Esta ponte é também conhecida por Ponte Nova, certamente em alusão a uma mais antiga que aqui (ou muito perto) terá existido. Segundo algumas opiniões, a ponte mais antiga seria a da Assureira, mas faltam, ainda, informações mais seguras acerca da marcha da actividade pontística nesta região, em particular a de época romana.
Exemplo importante de sobreposição (reutilização) de duas técnicas distintas de construção de pontes (a romana e a medieval), a Ponte da Cavada Velha ocupa um lugar de destaque no panorama destas estruturas no nosso país, integrando-se num núcleo regional bastante homogéneo e com personalidade própria, fruto do uso exclusivamente rural e agrícola com as populações locais a utilizaram.


Informações recolhidas em:

- ARAÚJO, José Rosa de (1962) - Caminhos velhos e Pontes de Viana e Ponte de Lima. Viana do Castelo;
- LIMA, Alexandra Cerveira Pinto Sousa (1996) - Castro Laboreiro. Povoamento e organização de um território serrano. Melgaço.
- RIBEIRO, Aníbal Soares (1988) - Pontes Antigas Classificadas. Lisboa;

- RODRIGUES, Pe. Aníbal (1985) - Pontes Romanas e Românicas de Castro Laboreiro. Viana do Castelo.

sábado, 8 de agosto de 2015

Assim era S. Gregório (Melgaço) e o rio Trancoso há 130 anos atrás...

Rio Trancoso

No livro "O Minho Pittoresco", de 1886, o autor dá-nos uma rara descrição do lugar e S. Gregório, na freguesia raiana de Cristóval nessa época:
"Chegámos enfim a S. Gregório, o mais importante lugar da freguesia de Cristóval, cuja igreja oculta por detrás da encosta, onde assenta S. Gregório, é o templo que fica mais ao norte em território português.

S. Gregório (Cristóval - Melgaço) no início do século XX

S. Gregório apresenta o aspecto duma pequena vila inclinada sobre o rio Trancoso, que ali voltámos a cumprimentar, como a nossa primeira artéria internacional, artéria que junto a Cevide, último lugar de Cristóval, vai desaguar no Minho e cuja confluência marca igualmente o ponto em que este formoso rio se interna em plena Galiza, ou melhor, em que ele, ao vir de lá, beija pela primeira vez a terra portuguesa.
S. Gregório é, por assim dizer, uma rua única, uma rua verde, em ladeira íngreme até à ponte da Várzea, essa ponte que o nosso desenho representa, e que é a primeira ponte internacional lançada entre os dois países, se não quisermos falar nas poldras de Pousafoles, mais ao nascente, no curso do Trancoso.
Mas, enfim, a ponte da Várzea tem já os seus 4 metros de altura, 6 de comprimento e 2 de largo! É quase a ponte de um lagosinho!
Não se riam dela, contudo, que ali onde a vêem, com os seus dois troncos de castanheiro, lançados de margem a margem, e os seus torrões como pavimento macio, é um símbolo de fraternidade entre dois países que vivem em plena paz, e seria um baluarte de independência a conquistar, quando o clarim de guerra ressoasse desoladoramente por aquelas quebradas fora.
Ponte Várzea é o lugar espanhol, donde o pontilhão tira o nome e que pertence à alcaidaria de Padrenda, com quem S. Gregório faz o seu comércio meio lícito, meio... de contrabando!
Que diabo queriam, porém, que fizesse S. Gregório, se no inverno é a margem de Ponte Várzea que lhe dá por empréstimo um bocadito de sol, a cujos raios vão aquecer-se aqueles pobres friorentos gelados das suas sombras de meses!
Na pequena vila, — chamemos-lhe assim, que não seja senão por patriotismo, — há uma capela onde se festeja Santa Bárbara! Há também... uma aspiração legítima e justa, que os governos só lembram por ocasião de eleições — é a duma estrada que os ligue com Melgaço!


Ponte da Várzea, entre S: Gregório (Melgaço, Portugal) e Ponte Barxas (Padrenda, Espanha)
Desenho de 1886 (in "O Minho Pittoresco)


S. Gregório (Melgaço), no início do século XX

Texto extraído de:
- VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, tomo I, edição da livraria de António Maria Pereira- Editor, Lisboa.