sexta-feira, 25 de março de 2016

Antigo Quartel da Guarda Fiscal de Melgaço em fotos dos anos 50

Antigo Quartel da Guarda Fiscal de Melgaço e Torre de menagem (anos 50)

Neste edifício, funcionou durante muito tempo o quartel da Guarda Fiscal. Veja um conjunto de fotografias tiradas em meados da década de 50 do século passado, numa altura em que foi alvo de obras de requalificação. Atualmente, funciona neste edifício o Museu do Cinema do nosso concelho, desde 2005.

Antigo Quartel da Guarda Fiscal de Melgaço (anos 50)

Antigo Quartel da Guarda Fiscal de Melgaço (anos 50)

Antigo Quartel da Guarda Fiscal de Melgaço (anos 50)

Antigo Quartel da Guarda Fiscal de Melgaço (anos 50)


Antigo Quartel da Guarda Fiscal de Melgaço (anos 50)

Antigo Quartel da Guarda Fiscal de Melgaço (atual Museu do Cinema)

sexta-feira, 18 de março de 2016

A Inês Negra numa exortação às mulheres portuguesas nos tempos da Guerra em Angola

Muralha do Praça Forte de Melgaço e estátua alusiva à Inês Negra

Recuamos a 1961. Nos primeiros meses deste ano, acontecem em Angola terríveis massacres que provocam cerca de 800 mortos. Será a gota de água para que Salazar mande avançar tropas para o Ultramar.
Nesta época, a Emissora Nacional é a rádio do regime. Na emissão de 26 de Outubro de 1961, no programa “A Voz de Portugal”, faz uma evocação à coragem e ao patriotismo da Inês Negra, heroína lendária de Melgaço. Os feitos desta corajosa mulher melgacense servem para destacar as qualidades da mulheres portuguesas e de como estas são muito importantes para a Pátria portuguesa na guerra em Angola que acabara de se iniciar.
Ora, leia o guião do programa citado: “Conta-se que, dentro das muralhas de Melgaço havia uma mulher intrépida, partidária dos castelhanos, conhecida por a Arrenegada.
Sabendo que no arraial dos portugueses estava uma patrícia, ousada e valorosa como ela, chamada Inês Negra, desafiou-a para um duelo singular, que logo foi aceite.
Era 3 de Março de 1388.
Começaram o combate com grande fúria, terrível e desesperado, derindo-se as duas com as mãos, as unhas e os dentes, depois de quebradas as armas de que estavam munidas. A agressora ficou vencida e fugiu para dentro da vila. No arraial português, a vitória de Inês Negra foi festejada com ruidosa animação. No dia seguinte, Malgaço caia em poder do rei de Portugal.
Nunca faltaram, ao longo da nossa História, mulheres da Têmpera e do ímpeto patriótico da que se bateu destemidamente pela liberdade e honra de melgaço. Ainda agora, a explosão de terrorismo que ensanguentou o norte de Angola veio pôr àprova a energia moral das mulheres portuguesas, fiéis à centenária tradição nacional e conscientes da responsabilidade que constantemente lhes cabe nos destinos nos destinos da nossa Terra.
Imediatamente a seguir às primeiras horas de angústia em Luanda, a sua ação foi das mais espontâneas  vigorosas. E desde então, nunca mais deixaram de colaborar com as autoridades e organismos de caráter social e humanitário para que fossem atenuadas as dificuldades e as dores dos nossos irmãos sujeitos em Angola às ameaças dos rebeldes.

Como enfermeiras ou como paraquedistas, ou simplesmente como cooperadoras da Cruz Vermelhas, muitas se têm sacrificado com a mais comovente generosidade. E, embora chorando a ausência a ausência dos filhos ou dos noivos, nenhuma tem travado o passo aos soldados na hora da partida para o cumprimento do dever.”


Veja o extrato do guião citado:





domingo, 13 de março de 2016

A "vida loba" de Castro Laboreiro (Reportagem Jornal I online)

Cainheiras (Castro Laboreiro - Melgaço)

Recordo aqui uma reportagem vídeo elaborada pelo Jornal I na sua edição online em Março de 2011 com o título "A vida loba de Castro Laboreiro". Transporta-nos para Castro Laboreiro e mostra-nos a vida em terras castrejas em comunhão com a natureza. As gentes, os animais, os sons da natureza, as brandas, as inverneira e tantas outras coisas para contar sobre a forma como se vive em terras castrejas...
Veja o vídeo!

sexta-feira, 11 de março de 2016

Um elogio às belezas de Melgaço de há meio século

Ao lado do Hotel Ranhada, no Peso (Melgaço) em meados século passado

Viajamos até Melgaço no ano de 1964. Nesta altura, quase ninguém tem televisão e só uns quantos têm um rádio em casa.  
Nestes tempos do Estado Novo, a estação de rádio oficial do regime salazarista era a Emissora Nacional. Entre os seus programas, havia um chamado “A Voz de Portugal” que era emitido em onda curta para o estrangeiro. A emissão do dia 17 de Setembro de 1964, dá um grande destaque ao concelho de Melgaço. Dá um autêntico elogio ao nosso concelho, às suas deslumbrantes belezas. Compara Melgaço a um grande jardim florido. Leia o conteudo do guião:
“A natureza favoreceu generosamente a terra nortenha de Portugal, não só com as suas belezas, mas também com um tesouro ciosamente escondido e de precioso valor: o das suas fontes medicinais.
Melgaço, Vidago, Pedras Salgadas constituem, individual ou coletivamente, um centro polarizador de vida, um prodígioso manancial de saúde e um regalo para os espíritos sedentos de repouso.
Melgaço, ponto estrememnho de Portugal, possui a graça de mirar, como sentinela enamorada, as boas terras do Minho, seu domínio senhorial, e o soberbo tapete da Galiza que lhe fica defronte.
Um honesto e grave escritoe do tempo clássico, o respeitável Manuel de Faria e Sousa, fiél amador do rincão minhoto, dele disse deleitadamente estas saborosas palavras: “Se no Mundo houve Campos Elíseos, existiram nesta província, se o não houve, merecia que os houvesse nela, se é que este título se deve dar a sítio ameno e delicioso”.
Mas o Homem fez de Melgaço uma estância mais atraente ainda pelos progressos que ali introduziu, sem esquecer os umbrosos e amenos parques e alamedas.
Varanda heróica, Melgaço é também jardim florido. Até entre penedos rebentam roseiras. E os horizontes são dos mais amplos que os nossos olhos podem contemplar.”



Fonte: Guião do programa “A Voz de Portugal” de 17 de Setembro de 1964. In: www.rtp.pt

Veja o guião do programa aqui:




sexta-feira, 4 de março de 2016

Histórias do tempo do contrabando em Melgaço

O contrabando no rio Minho

As memórias do contrabando costumas encantar-nos com narrativas que parecem  retiradas de romances picarescos: as mil e uma artes de ludibriar as autoridades, as reações de esperteza face a desafios imprevistos, a passagem de camiões desmontados nas pequenas embarcações do rio Minho, as solidariedades espontâneas ou as bizarrias de um companheiro. Mas existe uma outra face que espreita por entre estas palavras. O contrabando implicava uma vida de risco, de esforço e de sacrifício. As cargas eram pesadas e mal jeitosas. Uns não se davam bem com o sabão, outros com a chapa, outros com os couros, outros com a amêndoa, outros, ainda, com a tripa. Os sustos de outrora ainda agora arrepiam: uma turbulência no rio escuro ou a intercepção brusca de um agente da PIDE. Apesar da boa organização e do estreito entendimento com as autoridades, não deixava de haver apreensões, multas, dívidas, humilhações, perseguições, prisões, e, até mortes. Mulheres foram encarceradas em cadeias tão distantes como a de Orense. As mortes no rio Minho, às mãos da natureza ou das autoridades, portuguesas ou espanholas, não eram raras. Atente-se na notícia que segue, publicada na década de 1950 num jornal de Melgaço:
“Aparecimento de cadáver – Em 27 do mês findo, apareceu na Valinha, a boiar nas águas do rio Minho, o cadáver de José Fernandes, mais conhecido pelo “Zé do Diabo”, de Penso, que uns quinze dias antes, quando pretendia passar uma pequena porção de café para a Galiza, foi abatido a tiro pelos carabineiros”
Uma entre muitas tragédias. Por exemplo, dois jovens foram mortos a tiro, vítimas, segundo testemunhos, de uma denúncia que os descreveu, ao arrepio da verdade, como perigosos e armados. As denúncias, as ganâncias, os conflitos e as rivalidades também eram fruta da época. Acrescente-se que havia quem se sentisse, direta ou indiretamente, prejudicado nos seus negócios, por sinal legais, com os efeitos do contrabando. A memória desses tempos tem sombras.

O contrabando é uma atividade oportunista que tira partido das vicissitudes da fronteira. Constitui, portanto, um fenómeno bastante instável. Depende do muito que acontece, perto e longe, em Espanha, em Portugal e na relação entre os dois países. O mundo do contrabando é feito de mudança. Em poucos anos, sofre transformações radicais. Ora é mais num sentido, ora se inverte. Um dado produto, como o azeite, ora vai, ora vem. Tal produto ora dá, ora deixa de dar, ora volta a dar. Uma fase, como o do gado, sucede a outra, como a do café. Entretanto, os locais privilegiados de passagem deslocam-se do rio Minho para a raia seca. As vacas, antes “cordeadas” através do rio, caminham, agora, pelos planaltos. Num canto, fecham-se as pequenas lojas, no outro, proliferam as garagens para estacionamento de gado. Mudam os próprios protagonistas: os “patrões” , os “lugar-tenentes”, os “transportadores”, os fornecedores e os clientes deixam de ser os mesmos.
O balanço dos efeitos do contrabando suscita um consenso bastante alargado. Apesar de lucrativo, o negócio do contrabando gerou poucas riquezas. E estas, tal como os filhos, acorreram às cidades e às áreas metropolitanas. O investimento produtivo local resultou deveras escasso. O contrabando não sustentou a descolagem do desenvolvimento económico local, mas garantiu a sobrevivência condigna a uma população ameaçada pela miséria.
Esta espécie de balanço global não deve, no entanto, menosprezar o impacto local do contrabando. Basta percorrer a paisagem para o sentir. Antes da quebra recente, vários “oásis” do contrabando, como S. Gregório (na freguesia de Cristóval), eram animados por um rodopio de pessoas em busca de algum negócio ou de alguma oportunidade. Entretanto, a azáfama desertou, os comércios fecham, as propriedades vendem-se e a população diminui. 
Convém não dissociar o contrabando da emigração. Por um lado, como reparou um entrevistado, “mal o contrabando dava sinais de esmorecer, logo a emigração recrudescia. Todos os dias, partia alguém”.  Por outro lado, o contrabando, tal como a febre do volfrâmio, preparou o terreno para o surto emigratório dos anos 1950 e 1960. Ambos contribuíram para retirar parte da população da rotina do trabalho agrícola. Independentemente desta ou daquela lufada de prosperidade, ambos acalentaram ambições, abriram expetativas e alargaram horizontes. Uma vez dado o passo, ninguém concebia regressar ao antigamente. O volfrâmio e o contrabando propiciaram, também, vivências, conhecimentos e relações passíveis de mobilização noutros contextos e noutras paragens.. Proporcionou-se, em suma, um sentimento de inquietude com asas de esperança, umas das molas mais decisivas da emigração. Não é, certamente, por acaso que Melgaço primou, ao nível do país, tanto pelo contrabando como pela emigração. E, cada um a seu modo, ambos semearam a realidade atual. 

Extraído de: GONÇALVES, Albertino (ano de publicação desconhecido) - Caminhos de inquietude: A organização do contrabando no concelho de Melgaço. O Miño, uma corrente de memória.