sábado, 13 de agosto de 2016

Estórias do Mosteiro de Fiães contadas há 300 anos

Igreja do antigo Mosteiro de Fiães (Melgaço)
Num livro publicado há mais de 300 anos, encontramos algumas estórias curiosas acerca do Mosteiro de Fiães, nomeadamente a existência de um tanque para banhos cuja águas milagrosas conseguiriam curar muitas maleitas incuráveis. Ora leia: “No concelho de Valadares, de que hoje é Conde D. Miguel Luiz de Menezes, ficando-lhe ao Norte a vila de Melgaço e para nascente o Reino da Galiza e vizinho ao rio Minho, sobre uns levantados montes e encostados a outros mais eminentes se vê o antigo Augustiniano Mosteiro de Santa Maria de Fiães. Fundou-se este Mosteiro no tempo do rei D. Ramiro, o qual morreu no ano de 850, no primeiro de Fevereiro.  Se este convento o fundou o mesmo rei ou a sua mulher, a rainha D. Paterna, seria a sua fundação alguns anos antes, mas não consta com certeza. Foi este convento sem questão alguma, desde os seus princípios, da Ordem dos Eremitas do Padre Santo Agostinho. Depois correndo os tempos, arruinando-se este convento, sem dúvida porque os mouros o roubaram e assolaram. Reparado, depois, o dotaram com muitas rendas Afonso Paes e dois irmãos seus, que nele movidos por Deus se recolheram para ali servirem ao mesmo Senhor. Era o primeiro título deste convento S. Cristóvão de Fiães. E pelos anos de 1150, havia entrado em Portugal a Reformação da Ordem de Cister, da qual se haviam já levantado sete conventos, em que entrava o de S. Cristóvão de Lafões e o de Santa Maria de Bouro, ambos de Eremitas de Santo Agostinho, cujos filhos deixando o hábiro preto, vestiram a branca cogula de S. Bernardo no ano de 1159. Este de S. Cristóvão de Fiães levado também da fama da grande virtude e santidade dos novos filhos de S. Bernanrdo que haviam vindo de França (que foi a melhor coisa que de lá veio) se passaram à sua Ordem.
Com o exemplo, que é muito poderoso, dos Eremitas, assim os de S. Cristóvão de Lafões, aonde era prelado o nosso Santo Frei João Cerita, como o de Santa Maria de Bouro, mandou o Prior do Convento de Fiães, dois religiosos a pedir aos filhos de S. Bernardo a relação dos seus estatuto e modo de vida, e a dar obediência ao seu abade. É de crer que, ficando-lhe o Convento de Bouro tão vizinho, a eles recorreram e que dele se lhe mandaria algum religioso, para lhe praticar o modo da sua vida e Santa Reformação. E desde então até ao presente, ficou esta Casa de Fiães sujeita à Ordem de Cister.
 Tanto que os nossos Eremitas receberam a reforma Cisterciente, tomaram logo por sua padroeira a Virgem Maria Nossa Senhora, pela grande devoção que S. Bernardo lhe tinha, e deixando o antigo título de S. Cristóvão, se começou a denominar aquela Casa de Santa Maria de Fiães. E é de tradição antiga, que os mesmos eremitas, quando voltaram monges, levarão consigo a santíssima imagem da Senhora de Fiães, a qual era de pedra branca com algumas guarnições de ouro e tinha sobre o braço esquerdo ao Infante Jesus. A sua estatura era de quatro palmos, e que tanto que foi colocada na igreja daquele convento, começara logo a obrar muitas maravilhas nos que com viva fé imploravam o seu favor e interseção. Esta Santa Imagem já hoje não existe, que a devia acabar o tempo e foi muito grande a incúria daqueles monges, não a mandarem reparar, por que a cabeça e mãos, que eram encarnadas, não se podiam desfazer, e o corpo podia-se concertar com algum betume, ou de gesso ou pé de pedra com cera. Depois mandaram fazer outra imagem, que colocaram em seu lugar.
 Havia ali um banho, que por milagre de Nossa Senhora apareceu junto ao Mosteiro, cuja água era de tanta virtude (particularmente, dizem, no dia de S. João Batista) que todos os doentes de várias enfermidades e contrações incuráveis, que nele se iam banhar e voltavam sãos. Este tanque, ou banho se mandou entupir há já anos, por mortes, e feridos que havia entre os que haviam de entrar primeiro. Ainda hoje vão muitos a buscar aquela água que dela emana e a levam a enfermos, que bebendo-a com fé, obra Deus com ela pelos merecimentos de Sua Santíssima Mãe, muitas maravilhas e milagres.


Extraído de: SANTA MARIA, Frei Agostinho de (1712) – Santuário Mariano e História das imagens milagrosas de Nossa Senhora. Tomo IV; Oficinas de António Pedrozo Galram; Lisboa.

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