sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A fama de Melgaço e das suas Águas Termais no Brasil (1936)


A Estância Termal do Peso (Melgaço) era, na primeira metade do século XX, uma referência a nível nacional. O parque termal e o complexo hoteleiro ofereciam ótimos serviços e as caraterísticas das águas eram únicas em Portugal. As Águas de Melgaço eram apelidadas de "A Salvação dos Diabéticos" para estes doentes que encontravam nestas águas um tratamento eficaz e momentos de lazer. Contudo a fama destas águas também chegava a outros países, nomeadamente ao Brasil. A comprovar este facto, está um artigo publicado na revista brasileira "Vida Doméstica", na sua edição de Setembro de 1936, dedicado a estas termas:



MELGAÇO
Estâncias Termais Portuguesas 

“A Estância Creno-Climatoterapica de Peso de Melgaço fica situada na Província do Minho, distrito de Viana do Castelo, a quatro quilómetros da histórica e pitoresca vila do mesmo nome. Está ao nível de 115 metros e de 30 sobre o rio Minho, de cujas belas margens dista apenas 900 metros.
No centro de uma região  formosíssima e extremamente salubre, protegida de ventos e isenta de humidade e nevoeiros, goza de uma suavidade de clima que raro se encontra em estâncias desta natureza. O ar é puro e tónico devido à vizinhança de extensas matas de pinheirais.
O aquista ou turista que se dirige para esta estância, quer o faça de automóvel aproveitando a magnífica estrada nacional de turismo nº 1, quer utilizando o caminho de ferro, atravessa uma região de incomparável beleza.
É o Minho verdejante, o rincão mais risonho de Portugal, o gracioso litoral guarnecido de praias alegres, é a paisagem inigualável do Vale do Lima, de arrebatadora beleza. Chegado à vila de Monção, excelentes camionetas o conduzem à estância. Assim, por um serviço combinado, um passageiro de qualquer ponta do país aquém Tejo, saindo de sua casa de manhã e numa confortável viagem chega a Melgaço ao meio da tarde.
Segundo a opinião do eminente químico analista, professor Charles Lepierre, as águas bicarbonatadas mistas de Melgaço, pela sua complexidade, constituem um tipo muito interessante que não têm equivalente em Portugal. A “Fonte Principal” é uma água mesossalina, bicarbonatada (com predomínio do cálcio) litinada, manganésica, ferruginosa e arsenical, muito carbogasosa. A “Fonte Nova” tem uma composição semelhante à Fonte Principal, sendo contudo menos carbogasosa cálcica e ferruginosa mas mais alcalina. Ambas as nascentes são hipotérmicas.
Sob o ponto de vista microbiológico, estão ambas consideradas puríssimas. O
tratamento da Diabetes açucarada é por excelência a especialização desta Estância. Sob este aspeto não tem rival nem sequer congénere no país. As bem organizadas estatísticas do corpo clínico, resultado de rigorosos exames e análises laboratoriais dão nos últimos anos uma média de 75% de diabéticos tratados em que a glicosúria foi eliminada e 20% em que foi atenuada.
Aplicam-se também estas águas, com resultados igualmente brilhantes no tratamento de dispepsias, atonias gástrica e intestinal, nevroses gástricas enterocolites, insuficiências hepáticas, litiniases biliar e renal, anemias, obesidade e estados neurastênicos.
No seu amplo e elegante Balneário, são aplicados nesta Estância os mais modernos adjuvantes no tratamento hidrotermal. Em duas alas para senhoras e cavalheiros, separadas por um espaçoso hall, são ministrados, por pessoal especializado, banhos de imersão, duches subaquáticos e gerais, banhos carbogasosos, aplicações locais de água mineral (irrigações) diatermia, massagens, etc.

Distrações - Turismo - Embora se recente construção, a Estância possui um extenso parque onde não faltam alamedas ensombradas e lugares pitorescos. Os aquistas desportivos dispõem de um magnífico court de ténis, bom como de outros jogos e passatempos. Numa região privilegiada, não faltam passeios encantadores. Em S. Gregório, a poucos quilómetros, desfruta-se de um panorama maravilhoso. Está ali concluída uma Ponte Internacional que facultará excursões de imenso interesse turístico à vizinha e pitoresca Galiza. Mais passeios de grande interesse: ao sumptuoso Palácio da Brejoeira; Aos vetustos mosteiros de Paderne e Fiães; à capela de Nossa Senhora da Orada, belo templo do mais puro estilo românico. A excursão a Castro Laboreiro, com costumes extremamente típicos. A Estância foi dotada recentemente de uma rede de iluminação elétrica e tem cabine telefónica ligada à rede geral do país.


Capa da revista "Vida Doméstica", edição de Setembro de 1936

Artigo da "Vida Doméstica", edição de Setembro de 1936

Artigo extraído de: MELGAÇO - Estâncias Termais Portuguesas. In: Revista "Vida Doméstica", nº 222 de Setembro de 1936.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Melgaço, 1942 - O Presidente da Câmara ataca o Padre de Castro Laboreiro (Ainda a novela do volfrâmio...)



Em Junho de 1942, foi descoberto volfrâmio num baldio em Castro Laboreiro (Melgaço). Estávamos no auge da 2ª Guerra Mundial. Foi constituída uma Sociedade Mineira e os membros desta convenceram a Junta de Freguesia a vender-lhes o terreno a um preço muito baixo. Da Sociedade faziam parte o Presidente da Câmara e outros membros ligados autarquia, além de Manuel Alves de San Payo. Então, o padre de Castro Laboreiro envia um telegrama a Salazar e uma carta demolidora ao Ministro do Interior (VEJA CARTA - CLIQUE AQUI), onde se queixa da atuação, especialmente, do Presidente da Câmara Dr. João de Barros Durães e do Presidente da Junta de Castro Laboreiro, acusando-os de terem feiro uma negociata e de se apropriarem de uma riqueza que pertence ao povo castrejo.
O Ministério do Interior pede à Guarda Fiscal do Peso (Melgaço) para realizar as devidas diligências com vista a apurar os factos. Então, a Guarda Fiscal redigiu um relatório que envia em 23 de Outubro de 1942 (VEJA RELATÓRIO INTEGRAL - CLIQUE AQUI).
Da denúncia do padre e do relatório da Guarda Fiscal resultou a destituição do Presidente da Câmara de Melgaço. Contudo, este sentindo-se atingido na sua dignidade, escreve uma carta, datada de 8 de Novembro de 1942, ao Ministro do Interior onde faz a defesa da sua atuação e ataca violentamente o padre de Castro Laboreiro acusando-o de tentar enganar o povo  da sua paróquia, sobrepondo o seu próprio interesse ao dos seus paroquianos.
A dita carta diz o seguinte:

“Melgaço, 8 de Novembro de 1942
Ex.mo Sr. Ministro do Interior
Com as responsabilidades políticas que tenho tido durante os últimos 12 anos numa luta constante em prol do Estado Novo, exercendo os cargos de presidente da Câmara Municipal, Secretário da Comissão Concelhia da União Nacional e delegado da Legião Portuguesa no concelho de Melgaço, julgo-me autorizado a vir expôr a V. Exa. a exatidão  dos factos ocorridos no caso do volfrâmio de Castro Laboreiro que motivaram a exposição e queixa do pároco da referida freguesia, senhor Manuel Joaquim Domingues, que tão grande alarde causou e foi classificado até como, escândalo por quem não conhece bem e com verdade como ele se passou.
Em princípios de Junho do corrente ano, constou ter aparecido volfrâmio naquela freguesia.
Fizeram registos os Srs. José Esteves e Abílio Domingues e outros, em determinados terrenos, registos esses que foram anulados por portaria ministerial por já não serem permitidos por Lei a partir de Outubro de 1941.
O Sr. Manoel Alves San Payo, melhor avisado e mais habilmente, já resolvera pedir e conseguira a alienação daqueles terrenos à Junta de Freguesia, visto saber que só em propriedades particulares se poderia pedir autorização ou licença de exploração daquele minério.
Enquanto os demais esperavam ver satisfeitos os seus pedidos de registo, este Sr. San Payo tinha conseguido adquirir, em hasta pública, e precedido das devidas formalidades legais da mesma Junta, o respetivo terreno.
Perante a posse do mesmo, pediu a necessária licença à Direção Geral de Minas, que lha permitiu provisoriamente a título de pesquisas.
Como estas fossem frutíferas, resolveu constituir uma sociedade. Para tanto, convidou as pessoas de sua amizade e que de algum modo pudessem emprestar à sociedade o seu melhor valimento no sentido de a exploração se fazer ordeira e honestamente.
Julgou pois que o melhor seria associar-se com essas pessoas, algumas das quais exercem cargos administrativos na sede do concelho e outras na Junta de Freguesia de Castro Laboreiro, a fim de lhe ser permitido o melhor rendimento na extração pacífica do minério.
Não tendo havido da parte destes funcionários e administrativos qualquer interferência na aquisição do terreno mas tão somente na constituição da sociedade que lhe foi oferecida por amizade e por interesse próprio do ofertante, não compreendemos como se tenha feito deste caso um alarido enorme com foros de grande escândalo e de imoralidade, apoucando e vexando pessoas que sempre foram honestas e deram o melhor do seu esforço na colaboração dos fins do Estado Novo.
De resto, primitivamente, toda a gente se riu da formação de uma sociedade em que muitos dos que hoje a ambicionam, chegaram a declarar não dar nem pelo terreno nem pelos trabalhos já realizados na sua consecução, a importância correspondente às despesas feitas.
Tal era, portanto, a perspetiva futura dessa sociedade para muitas pessoas das que depois fizeram a crítica e acusações. Porém, o tempo encarregou-se de demonstrar que não foram baldados os trabalhos realizados na organização e preparação desta. E só então, mas só então, é que todos começaram a arregalar os olhos e a sentir-se com desejos de partilhar do bolo. E desde que deste lhes tivesse sido permitido levar um bocado, não haveria imoralidade nem ilegalidade!
Até então, nem o pároco nem tantos outros da freguesia de castro Laboreiro, se importaram do caso. Ora, logo que o minério começou a ser extraído e a aparecer em certa quantidade, não faltaram os ambiciosos, ou melhor os invejosos, a protestar e reclamar em nome do povo da freguesia, procurando mostrar interessar-se por esta quando afinal só o seu interesse próprio defendiam!
Estes mesmos abeiraram-se do pároco com ofertas de dinheiro para gastar como julgasse necessário para derrubar a venda daquele terreno e conseguir a exploração do minério para a freguesia por meio de uma comissão presidida pelo pároco.
Desses mesmos indivíduos, alguns houve que anteriormente nos procuraram e pediram, com insistência, a sua admissão na sociedade - mas só quando esta já auferia lucros - e afastaram-se de nós com palavras de ameaça quando não viram satisfeitos os seus desígnios.
Infelizmente, o Homem é assim, capaz de romper com todos os preconceitos e expor todos os seus haveres não vendo cumpridos os seus caprichos e ambições mas incapaz de o fazer na minoração da dor alheia e perante o infortúnio dos outros.
O povo mostrava-se satisfeito e acorria aos trabalhos em grande número, tirando bom resultado da sua laboração. O minério era pago no fim de cada dia e da semana à razão de 30$00 o quilo. Em muitas casas onde não havia pão nem adubo para o caldo, já começava a sentir-se a influência do minério. Não era de estranhar, dado o facto desta freguesia viver quase exclusivamente da emigração, que muito prejudicada tem sido nos últimos anos por motivo da guerra, não só não permitindo que os homens válidos da terra emigrem como obrigou a voltar a seus lares os que moureavam por terras de Espanha a França.
Com a promessa de que todo o minério extraído poderia ser pertença do próprio povo e de quem o extraía, alguns indivíduos e o pároco, Manuel Joaquim Domingues, desviaram dos trabalhos a gente pacífica que, até então, trabalhava com ordem e disciplina. Primeiramente levaram o povo a negar-se a entregar o minério extraído mas como não conseguiram tal abuso por a isso se opor a força pública (da Marinha, primeiramente e da Guarda Republicana ultimamente), conduziram-nos para a greve, isto é impediram que alguém na freguesia se dirigisse para aquele trabalho, com ameaças e não acolhiam quem de fora ali quisesse trabalhar.
Assim esteve paralisado a extração do minério durante uns 20 dias aproximadamente. Durante este período da greve, algumas pessoas que haviam pensado na aquisição de outra parcela de terrenos confinante com o adquirido por San Payo, onde também esperavam encontrar algum minério, fizeram as demarcações deste e apresentaram um requerimento à Junta de Freguesia a pedir a sua alienação, que foi arrematado em hasta pública também e precedido das formalidades legais ou tais consideradas.
Para evitar essa greve, que a todos causava prejuízo (Sociedade Mineira, Povo e à própria economia nacional), procuravam alguns elementos entender-se com o pároco da freguesia tendo-lhe oferecido uma percentagem sobre os lucros obtidos da exploração, 10% e aumento do custo do volfrâmio a pagar ao povo que passou de 30$00 para 40$00 o quilo. Estes 10% seriam aplicados pelo pároco ou Comissão por ele presidida, em melhoramentos locais julgados necessários pela freguesia de mais interesse ou conveniência.
Eram estas as duas reclamações manifestadas pelo pároco e que aliás a Sociedade, antes da mesma reclamação já publicamente tinha prometido, não só por achar justo, em sua consciência, como também para evitar conflitos e não a lamentar qualquer desastre motivado pelo excitação a que procuravam conduzir o povo.
Ora, além disso, o arrematante da segunda parcela de terreno e outros juntamente com o pároco ou quem o representava, pretendiam formar uma nova sociedade para a constituição da qual o pároco oferecia um terreno com um filão à vista de volfrâmio o que se acrescentaria ao terreno daquele ultimamente arrematado, com possível ou provável minério de aluvião, visto estar junto ao do Senhor San Payo.
Em compensação do seu filão à vista, (no dizer do pároco) apresentava este como condição fazerem parte da nova sociedade os Senhores Ferreira da Silva, empregado superior da Empreza Eléctrica do Varoza, Henrique Fernandes Pinto, advogado de Lisboa, Afonso Lares, Delegado Policial do concelho de Anadia, os comerciantes Augusto Joaquim Domingues e Vitorino Esteves, da freguesia de Castro Laboreiro. O Sr. Lares representava o pároco e era ele quem estabelecia as ligações ou conversações com os indivíduos que se associavam ao arramatante da segunda parcela de terreno - Manuel José Domingues, de castro Laboreiro - e que todos fariam uma nova e segunda sociedade.
Seria então requerida à Junta de Freguesia e alienação do terreno onde estivesse o tal filão que o pároco conhecia e levava para esta sociedade.
Tudo conforme e assente, o pároco mandou 4 cartas para Castro Laboreiro, que foram escritas na Pensão Braga, na vila de Melgaço, onde se encontrava em negociações, para outros tantos indivíduos seus associados ou propostos à nova sociedade, e dizer-lhes que da sua parte comunicassem ao povo da freguesia para retomar o trabalho da extração do minério, porém só o fizesse no terreno ultimamente adquirido e que constituiria a segunda sociedade.
O povo, ao saber disso e conhecer as intenções do pároco servindo-se dele para conseguir os seus fins e de mais alguns amigos, foi de novo trabalhar para o terreno do Sr. San Payo por saber que nele havia positivamente minério, vilipendiando o pároco e recebe-o hostilmente quando do regresso da vila de Melgaço à sua freguesia.
Esse mesmo povo dizia muito significativamente: Foi para isto que nos obrigou a estar de braços caídos durante mais de 15 dias!...
Perante o receio e ameaças da população, viu-se na necessidade de ausentar-se ou fugir da freguesia e nem sequer dizer missa na próximo domingo, por ter conhecimento de que o povo tencionava levá-lo ao extremo da freguesia e não mais o receber.
Entretanto substituía nas suas combinações o tal terreno com filão por outro de aluvião e, finalmente, quando o Sr. Lares e outros foram verificar este na sua companhia, chegaram à conclusão de que o referido terreno era pertença ou fazia parte do arrematado por San Payo e Manuel José Domingues.
Nesta conformidade e sem mais satisfações para aqueles com quem estabelece entendimentos e combinações, prometendo um filão que não conhecia e substituindo-o depois por um terreno de aluvião já arrematado por outros, resolveu partir para Braga e daqui para Lisboa com a série de acusações despeitadas sobre os mesmos com quem na véspera estabelecera acordo.
As conversações ou entendimentos, eram dirigidos da parte do pároco pela Sr. Afonso Lares e seu cunhado Dr. Henrique Pinto, respetivamente delegado Policial em Anadia e advogado em Lisboa, ambos em férias nesta localidade onde têm família, e da parte de Manuel José Domingues pelos Drs. Cândido da Rocha e Sá e José Joaquim de Abreu, deste concelho.
Entre a primeira sociedade e o pároco, o Sr. Lares representava o pároco e os elementos da sociedade em reunião deliberaram ouvi-lo e depois resolver em conjunto. estes senhores atrás mencionados é que conhecem bem os factos narrados e podem melhor esclarecê-los para se fazer o verdadeiro juízo das afirmações do pároco.
Quanto ao direito de alienação do terreno pela Junta, não o discutimos para nos faltar para tanto a competência e autoridade. Mas a Junta alienou-o na convicção de que assim o poderia fazer ao abrigo da lei estabelecida no Código Administrativo e desconhecendo outras leis sobre tal matéria posteriormente à publicação daquele Código. Fê-lo pois na sua boa fé e convicta da sua legalidade, vendeu, é certo por pouco mas ninguém dava mais nem tanto por aquele terreno antes de conhecida a sua riqueza em minério, em vista de ser um terreno a mais de 100 metros de altitude, sem vegetação, coberto de neve grande parte do ano e nos limites de Portugal, junto aos marcos fronteiriços, a confinar com as serras de Espanha, onde nem sequer os pastores costumam levar os rebanhos. Só assim se explica um valor tão baixo na sua aquisição e a falta de concorrentes à praça, havendo, também a acrescentar que foram novecentos mil e não nove milhões de metros quadrados o terreno arrematado. É claro que, depois de sabida a quantidade de minério nele existente, já não faltava quem oferecesse muito!!! muito… com o fim de lucrar muito mais.
Em conclusão e sem que na nossa consciência surja a mais leve culpa por tudo o que se passa, julgamos que não há imoralidade onde se estabeleceu até o pânico do escândalo nem a má fé onde se quer fazer ver um crime degradante.
O alto arbítrio e o espírito de eleição que informa V. Exa., mandará certamente ouvir as pessoas honestas e livres da paixão que neste caso melhor poderão fazer luz para que justiça seja feita a quem a merece e que já sofreu o vexame de ser desautorizado de funções públicas como cúmplice de ilegalidades.
A Bem da Nação.”


Carta do Padre de Castro Laboreiro ao Ministro do Interior (8 de Novembro de 1942)
(Página 1)

Carta do Padre de Castro Laboreiro ao Ministro do Interior (8 de Novembro de 1942)
(Página 2)

Carta do Padre de Castro Laboreiro ao Ministro do Interior (8 de Novembro de 1942)
(Página 3)

Carta do Padre de Castro Laboreiro ao Ministro do Interior (8 de Novembro de 1942)
(Página 4)

Carta do Padre de Castro Laboreiro ao Ministro do Interior (8 de Novembro de 1942)
(Página 5)

Carta do Padre de Castro Laboreiro ao Ministro do Interior (8 de Novembro de 1942)
(Página 6)

Carta do Padre de Castro Laboreiro ao Ministro do Interior (8 de Novembro de 1942)
(Página 7)

Carta do Padre de Castro Laboreiro ao Ministro do Interior (8 de Novembro de 1942)
(Página 8)


Entretanto, a Comissão Concelhia da União Nacional tinha estado reunida em 6 de Novembro e decidiu escrever também uma carta ao Ministro do Interior onde defende a honra e caráter do ex-Presidente da Câmara de Melgaço :

“Melgaço, 9 de Novembro de 1942
Exmo. Sr Ministro do Interior:
A Comissão Concelhia da União Nacional de Melgaço, reunida no dia 6 de Novembro corrente, tomou conhecimento duma exposição apresentada pelo seu secretário, Dr. João de Barros Durães, respeitante a uma queixa apresentada a Sua Excelência, o Senhor Presidente do Ministério, pelo pároco da freguesia de Castro Laboreiro, acusando de irregularidades no exercício das suas funções, as autoridades administrativas da Câmara Municipal e seus funcionários e bem assim a Junta de Freguesia de Castro Laboreiro, por motivo de alienação de terrenos feitos por esta junta e onde se procede à exploração de volfrâmio.
Pelas informações por esta colhida e pelo conhecimento que temos das pessoas atingidas pela queixa do pároco, repelimos tais informações por as julgarmos incorretas e injustas para pessoas honestas, de caráter, e que desinteressadamente tem servido o Estado Novo.
Pelo seu passado e por todos os atos públicos e particulares que são do nosso conhecimento, jamais tivemos oportunidade de considerar os indivíduos visados como homens de má fé ou com intenções reservadas.
O facto de fazerem parte de uma sociedade para que foram convidados e que na sua boa fé aceitaram sem sequer lhes passar pela ideia a possibilidade de os considerarem capazes de tais vilanias, não se escondendo ou abrigando com qualquer subterfúgio como é próprio de quem não costuma tomar a responsabilidade das suas atitudes, mais convencem o nosso espírito de que não presidiu a esse ato a má fé ou a falta de moralidade.
Quem não conhece no concelho o presidente substituto da Câmara, professor Abílio Domingues, pela sua bondade, correção, prudência, paciência e porte moral à altura do cargo que desempenhava?!...
A sua modéstia de sempre não se alterou com a confiança que nele depositaram as autoridades superiores do distrito ao conceder-lhe o mandato de Presidente da Câmara na substituição do presidente efetivo, Dr. João de Barros Durães.

Os funcionários da mesma Câmara têm sido zelosos e cumpridores dos seus deveres, podendo verificar-se isso pela inspeção aos serviços desta Câmara realizada no ano de 1941, onde se verifica a competência, a ordem, disciplina e o interesse pelo bom funcionamento dos diversos serviços a seu cargo."

Carta da Comissão da Concelhia de Melgaço da União Nacional (9 de Novembro de 1942)
(Página 1)

Carta da Comissão da Concelhia de Melgaço da União Nacional (9 de Novembro de 1942)
(Página 2)

domingo, 15 de janeiro de 2017

Voando sobre S. Gregório (Melgaço)



Veja um vídeo com fantásticas imagens da povoação raiana de S. Gregório, na freguesia de Cristóval, concelho de Melgaço. 
Uma visão deslumbrante!
Vídeo de Foto General.


1

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Memórias de um melgacense na Revolução de 25 de Abril de 1974







Este é um documentário realizado durante a Residência Cinematográfica Plano Frontal, orientada por Pedro Sena Nunes, no âmbito do FILMES DO HOMEM, Festival Internacional de Documentário de Melgaço.
Neste documentário, Rui Táboas conta-nos como emigrou para França para escapar à guerra colonial em tempos do Estado Novo. Contudo, viu-se obrigado a regressar a Portugal para cumprir o serviço militar. Viu-se envolvido no golpe militar que pôs fim à ditadura em 25 de Abril de 1974 onde foi um dos protagonistas. Um momento interessante neste documentário é quando Rui Táboas, um jovem soldado, a dar uma entrevista a um orgão de comunicação social francês…
Veja o documentário!


Ficha técnica

Interveniente: Rui Táboas

Realização: Artur Maurício

Câmara: André Abreu

Som: Bernardo Ramos
Montagem: Miguel Arieira
Pós-produção áudio: Daniel Deira
Coordenação geral: Carlos Eduardo Viana
Direção de produção: Rui Ramos
Produção executiva: Joana Bravo
Apoio técnico: Nuno Cristino Ribeiro
Tutoria: Pedro Sena Nunes.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O mistério das inscrições na estela sepulcral de Paderne (Melgaço)


Um dos maiores mistérios arqueológicos do nosso concelho é a da estela sepulcral de Paderne. Trata-se de uma pedra esculpida e com inscrições a assinalar um sepulcro cuja idade se desconhece com precisão. Segundo o antropólogo José Leite de Vasconcelos, que esteve em Paderne a fazer escavações arqueológicas em 1903, esta pedra encontrava-se perto do mosteiro e foi levada para o Mosteiro Etnológico Português por esta altura. Acerca desta pedra sepulcral, o autor escreveu um artigo na revista "O Archeólogo Português" em 1907 onde tenta explicar o significado das inscrições feitas na dita pedra.
No dito artigo pode ler-se: "Junto da igreja de Paderne, aldeia do concelho de Melgaço, existia há uns anos uma notável pedra lusitano-romana, com uma inscrição e figuras esculturadas, a qual fazia parte do lagedo granítico do adro, e estava pois sendo constantemente profanada e maltratada por quem lhe passava em cima. Por diligências do meu amigo, o Dr. António José de Pinho Junior, advogado de Monção, e moço ilustrado a quem os estudos da arqueologia e etnografia locais merecem particular estima, a pedra ocupa hoje lugar de honra no Museu Etnológico Português: Secção Lapidar – Minho.
Tem uma altura de um metro e 61 centímetros; de espessura, 16 centímetros; de largura, 50 centímetros. É pois uma estela. Com quanto lhe falte já a extremidade superior, pode esta lápide considerar-se dividida na superfície anterior em quatro segmentos.
O segmento superior, que, como digo, está incompleto, parece que representa um busto acéfalo, duas mãos sustentam adiante do peito, em alto relevo, um objeto indeterminável, mas muito provavelmente um vaso.
O segundo segmento é constituído por um nicho, encurvado em cima. Nele se vêem, em baixo relevo, duas toscas figuras, com feições desiguais, de pé, sem nada na cabeça – uma, a da direita aparentemente do sexo masculino, vestida de roupagem mais curta (simples tunica). A outra, a da esquerda, aparentemente do sexo feminino, vestida de roupagem que chega até quase aos pés (tunica muliebris). Cada uma das figuras tem na mão direita um objeto indecifrável e dá a esquerda à outra figura.
O terceiro segmento, separado do antecedente por um bordo, contém uma inscrição, que foi gravada no campo depois de um pouco rebaixado. Esta inscrição continua no segmento seguinte, cujo campo não foi porém rebaixado, como o terceiro. O resto  do quarto segmento era destinado a fixar o monumento no solo.
Os lados da estela são irregulares, e estão em parte quebrados. Pelas costas, a lápide foi levemente desbastada. A extremidade inferior acha-se também falha.
Veja-se a figura feita com toda a exatidão, quer quanto às figuras, quer quanto ao letreiro.
Este constava primitivamente de sete linhas. A primeira está incompleta, pelo gasto das letras. A última ocupa o quarto segmento. As letras da linha 7 são mais encorpadas que as restantes.
Inscrição
L1 - OC.. I ..F……..
L2 - C\ .. I I ……… II
L3 – ENI F A C ET
L4 – COMP VALUS
L5 – COMP ARDAE
L6 – A L HSS PENTV
L7 – COMP F C

Discussão da inscrição

L1 – L2 O que resta não me permite propor nenhuma explicação.
L4 – A 7ª  letra pode ser I ou L
L5 – A 6ª letra parece ser R.
L6 – N e T estão juntos (Nexo).
Nas linhas 3 e 4, o A não tem traço no meio, nas outras tem. Alguns dos PP são abertos.
Da discussão precedente resulta que o texto poderá interpretar-se assim: …..eni f(ilia), a(nnorum) C. et Comp. Vaius(Valus?), Comp. Ardae (filius), a (nnorum) L., h(ic) s(iti) s(unt). Pentu(s) Comp. f(aciendum) c(urauit). Isto é: Fulana, filha de um indivíduo cujo nome no genitivo termina em eni, de cem anos de idade, e Comp. Vaio (Valo?), filho de Comp. Arda, de 50 anos de idade, estão aqui sepultados. Pento Comp. mandou fazer este monumento”. Interpretei o F da 3ª linha por f(ilia), baseado em ser, como parece, feminina a figura da esquerda.
Comentarei agora rapidamente o monumento, seguindo a mesma ordem que segui até aqui.
Cipos funerários em forma de cabeça humano não são raridade na Península: em Cárquere (Beira), por exemplo, há alguns; em Lara de los Infantes (Espanha) também se conhece um. Rematados, porém, em busto não me acode nenhum à lembrança. Apenas estou no caso de mencionar aqui, a este respeito, um sepulcro (do tempo do Imperador Cláudio) que está em Roma no Museu Capitolino, e em cuja cobertura aparece entre duas volutas o busto do falecido, um rapaz de cinco anos, enfeitado com uma bula. Sendo vaso o objeto seguro pelas duas mãos, poderei comparar o nosso monumento com as figuras votivas do cerro de los Santos (Espanha), onde esse tema aparece frequentemente: o vaso na estela simbolizará libação aos deuses manes (inferiae). O busto representará o sacerdote que faz a libação, ou o próprio dedicador do monumento.
Nichos como o que está abaixo do busto vêem-se também não raro com estelas, ora com uma, ora com duas figuras, conforme o número de defuntos que se desejam simbolizar. Lembrarei mais tarde os monumentos de Cárquere. O figurar bustos em nichos de estelas é corrente em países de civilização romana ou grega e não vale a pena citar casos.
Há outros exemplos epigráficos e literários de idades provetas, como a que se menciona na linha 3. Se na linha 4, a leitura Valus é justa, temos aqui  um nome igual ao segundo elemento de palavras como Ate-valus, Cloto-valos, Lano-valus, Nerto-vali (genitivo), elemento que se tem por céltico, na aceção de “poderoso” ou “chefe”, e é comparável ao latim validus.
Às linhas 4, 5 e 7, há uma palavra comum, "COMP", em abreviatura. A repetição faz-me crer que represente, não um nome individual, mas um nome étnico, que para os contemporâneos era tão conhecido e tão fácil de entender, que bastava indicá-lo pelas suas iniciais. Não posso porém identificá-lo com nenhum conhecido. A posição do nome  étnico numa epígrafe era usualmente depois do nome do indivíduo, como nas linhas 6 e 7. O aparecer nas linhas 4 e 5 antes dele, não seria caso estranho em país bárbaro, onde muitas vezes se sai fora das normas epigráficas.
De Arda, na linha 5, há outro exemplo no Alt-celtischer Sprach-schatz de Holder: nome de homem da Gália. A palavra poderia ser céltica. São frequentes os nomes próprios de homens de homens gauleses terminados em –a, como: Atepa, Boutia, Claua, Cantusa, Carussa, Mapa, Toutissa.
A respeito da palavra Pentu(s), que se lê na linha 6, notarei que em inscrições astúricas, há PENTI FLAVI e PENTI BALAESI. Hubner, na lista de cognomina diz: genitivo “Penti Balaesi f.” e “Penti FLAVI”, indicando os genitivos por não saber se os nominativos eram Pentus e Penti(us). Mas a nossa inscrição mostra que mais prudente foi Hubner pois não há dúvida que, se Pentius era possível, também o era Pentus.
Os celtistas haviam deduzido teoricamente a forma Pentos (= Pentus) para explicarem Pentius e outros derivados (Pentilius, Pentinus, etc.). Em todo o caso, não ocultarei que, se Pentus é realidade como nome de homem, não passa de hipótese como nome de número céltico, visto que não há texto antigo que contenha tal palavra com este significado mas é hipótese muito admissível. Compreende-se que Pentos, a significar “Quinto” se aplicasse como designação de pessoa, pois é sabido que os prenomes latinos Quintos, Sextus, Decimus, etc., significam na origem ordem de nascimento (o quinto filho, o sexto, etc.). Do mesmo modo, que com Quintus se correlacionava Quintinus, Pentilius, também com Pentus se correlacionavam Pentinus, Pentilius e Pentius. Notável coincidência!

A tribo romanizada a que pertencia o monumento era, com muita probabilidade, aquela que tinha o seu oppidum num monte que fica a dois passos da igreja paroquial de Paderne, e que ainda hoje se chama a Cividade, do latim civitatem. Ali encontrei uma casa redonda, do tipo já conhecido noutros castros de Entre-Douro-e-Minho, e vários objetos de pedra (esculturas) e restos cerâmicos, tudo de origem pré-romana. O nome desta tribo começava acaso pela enigmática sílaba “Comp” que se lê três vezes na inscrição… "


Extrato retirado de:

VASCONCELLOS, José de Leite de (1907) - Estela sepulcral arcaica do Alto Minho. In:  O Arqueólogo Português, Lisboa.