sexta-feira, 30 de junho de 2017

As paróquias de Melgaço no início do século XVIII


No início do século XVIII, o território do concelho de Melgaço era bem diferente do atual. Era formado apenas pelas paróquias de Santa Maria da Porta (Vila), Roussas, S. Paio, Remoães, Paços, Chaviães e Cristoval. Devemos ter presente que na época Paderne e Fiães eram coutos dos respetivos conventos e por isso com jurisdição própria (o couto de Paderne incluía Cubalhão). Castro Laboreiro era concelho. Alvaredo, Penso, Gave, Lamas de Mouro e Parada do Monte pertenciam, à época, ao então concelho de Valadares. 
No livro "Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Portugal" (volume III), publicado em 1712, encontramos muitas informações sobre Melgaço e as suas paróquias, incluindo o número de habitantes estimado de cada uma delas:
"Três léguas acima de Monção para nascente, e uma da raia de Portugal e Galiza para o poente, está situada a vila de Melgaço, a quem os rios Minho e o pequeno Várzeas (Trancoso), que nele se mete da parte do oriente em ângulo reto dividem o seu termo do Reino da Galiza. A mais antiga notícia que achamos da sua fundação é que El Rey Dom Afonso Henriques a povoou no ano de 1179, fabricando nela uma grande fortaleza na parte em que estava outra chamada Minho. No ano de 1181, a 22 de Julho, deu o mesmo rei aos moradores desta  vila, o lugar de Chaviães. Segunda memória é o título de bens e couto que El Rey Dom Sancho, o Primeiro, deu ao mosteiro de Longos Vales em Monção, estando na cidade do Porto no ano de 1197, do qual diz que fazia esta mercê pelo assinalado serviço que lhe fizera Dom Pedro Pires, Prior que então governava o Convento, em lhe fazer à sua custa a Torre e fortaleza de Melgaço e devia reforma-la. El Rey Dom Sancho, o Capelo, lhe deu grandes foros e privilégios, que confirmou seu irmão El Rey Dom Afonso, o Terceiro, no ano de 1262 mandando que nela houvesse trezentos e cinquenta vizinhos, permitindo-lhe que pudessem eleger um cavaleiro português para alcaide daquele castelo e que sendo pessoa benemérita, ele o confirmaria. El Rey Dom Dinis a enobreceu e cercou de novos muros, tudo forte para aqueles tempos, mas para os presentes fraquíssima, por ter penhascos, que lhe servem de batarias cobertas a tiro de clavina. Tem boas e férteis terras, pela  maior parte todas, mas em particular o vale da Folia com grandes ventagens: dá muito pão e vinho, frutas, feijão, hortaliças e cebolas muy celebradas por doces e as melhores desta província, excelentes presuntos sem sal, caça do monte, e pescas do rio de boas lampreias, bons linhos, castanha, mel, gado e lacticínios. Tem cento e vinte e seis vizinhos muito nobres com casas e quintas honradas. São as melhores as dos Castros e Sousas, que por muitos anos foram alcaides mor desta vila, de quem descendem grandes fidalgos deste reino, os Araújos e Rosas. Estes têm duas sepulturas honoríficas na capela mor da Matriz, uma que venderam aos Castros, outra no corpo da igreja à parte esquerda junto do altar de Nossa Senhora. Nestas últimas guerras com Castela, deu famosos soldados, que ocuparam grandes postos. É da Casa de Bragança e tem juiz de fora, que também o é dos Orfãos e tem a mesma preeminência o Juiz da terra quando aquele falta, dois vereadores, Procurador do Concelho, eleição trienal do povo por pelouro, a que preside o ouvidor de Barcelos, escrivão da Câmara, três tabeleões, um escrivão dos Orfãos e outro das sizas: O alcaide mor tem de renda vinte e dois mil reis e uns carros de palha e lenha e pesqueiras no rio Minho, o qual apresenta alcaide carcereiro com vinte mil reis de renda, tudo data dos Duques.Tem Capitão Mor, que nomeia a Câmara, os Duques o confirmam e lhe passam a patente; quatro companhias de ordenanças, em que serve o mais antigo de Sargento Mor. Tem Casa da Misericórdia, Hospital e as freguesia seguintes:
- Santa Maria da Porta, abadia da casa de Bragança e do Mosteiro de Fiães com alternativa ordinária, rende duzentos mil réis. A um tiro de mosquete da praça está a Ermida de Nossa Senhora da Orada, imagem de muita devoção pelos milagres que obra.
- Santa Maria Madalena de Chaviães, abadia da mesma Casa, rende cento e cinquenta mil réis e tem conto e trinta e sete vizinhos.
- Santa Ana de Paços, vigararia que apresenta o Mosteiro de Paderne, rende oitenta mil réis ao Vigário e para os frades cento e quarenta mil réis; tem cento e sessenta vizinhos.
- S. Martinho de Cristóval, abadia em que teve parte o Mosteiro de Fiães, hoje é toda do Ordinário, rende duzentos e cinquenta mil réis, tem cento e cinquenta e nove vizinhos. Aqui está a Ponte da Várzeas, que divide este Reino do da Galiza.
- Santa Marinha de Roussas, abadia do padroado secular, que dizem foi dos senhores do Paço de Roussas, do apelido de Besteiros, família tão antiga, como nobre, a quem o tempo e pobreza tem atenuado de modo, que poucos lavradores o tomam hoje. Tem por armas em campo azul uma torre firmada em pedras azuis e três bestas de ouro, duas do lado da torre e uma em cima, timbre a mesma torre com uma besta no alto. O Solar passou aos Castros e o padroado a Manuel Pereira, o Mil Homens de alcunha, morador em Monção, cuja filha herdeira casou na Galiza. Rende a Igreja ao abade duzentos mil réis e tem cento e cinquenta vizinhos.
- S. Paio é o mesmo a que Sandoval chama Mosteiro de S. Paio de Paderne, haveria-o sido antes dos mouros e a Infanta Dona Urraca, filha de El Rey Dom Fernando, o Magno, dotou a metade do seu Padroado à Sé de Tui e a seu bispo Dom Jorge no ano de 1071 com o lugar de Prado, que ainda então não devia ser paróquia, e  outros bens e vassalos. Em 13 de Abril de 1156 que vem a ser o ano de 1118, deu à mesma Sé e ao bispo Dom Afonso a quarta parte da mesma igreja, Onega Fernandes, parece que sendo viúva,  com filhos Paio Dias e Argenta Dias, que confirmaram esta doação, a qual tomou o hábito de monja, entendemos que em Paderne, e nesta mesma deu também o que lhe tocava e na de S. Martinho de Valadares (Alvaredo). Ultimamente, a rainha Dona Teresa e seu filho Dom Afonso Henriques da era de 1163 que é o ano de 1125 deram ao mesmo bispo esta igreja e dizem na doação que lha dão inteira. Mas a meu ver, seria o quarto que nela tinham com que lhe vinha a ficar in folidum. É abadia secular do Ordinário com as duas anexas que se segue, tem a quarta parte dos dízimos, importa sessenta mil réis, ao todo cem mil réis; o outro quarto a que chamam a renda do Castelo, leva-a a Casa de Bragança e a metade a Mesa Arcebispal. Tem duzentos vizinhos.
- S. Lourenço de Prado, vigararia anexa a S. Paio, que apresenta o abade dela, rende ao vigário cinquenta mil réis, os dízimos vão na Matriz. Tem cento e quinze vizinhos.
- S. João de Remoães, vigararia do mesmo abade, a quem é anexa, rende ao vigário vinte e cinco mil réis, os dízimos vão para a Matriz. Tem oitenta e dois vizinhos. Aqui está a Juradia da Várzea sujeita a Melgaço, mas da freguesia do Mosteiro de Paderne em terras de Valadares."


Extraído de: COSTA, António Carvalho da, (1712) - Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Portugal. Tomo III; Officina de Valentim da Costa Deslandes, impressor de Sua Magestade; Lisboa.

domingo, 25 de junho de 2017

Isto é Melgaço (Alto Minho - Portugal)


Video composto por um conjunto de fotografias em slide show sobre alguns dos mais belos recantos desta nossa terra MELGAÇO!



sexta-feira, 23 de junho de 2017

Fronteira de S. Gregório (Melgaço) e Ponte Barxas em 1924 em fotos

Na revista galega "Vida Galega", na sua edição de Julho de 1924, encontramos publicada uma reportagem fotográfica intitulada "Tierras miñotas: La frontera de Puente Barjas", sobre a área de fronteira entre a povoação de S. Gregório (Cristoval - Melgaço) e a localidade galega de Ponte Barxas.
Este conjunto de fotografias dá-nos uma ideia na época sobre alguns dos recantos destas duas povoações irmãs que a fronteira nunca separou...
Viaje no tempo!


Antiga Ponte Internacional de S. Gregório/Ponte Barxas


Em S. Gregório (Cristoval - Melgaço) em 1924

Vista para S. Gregório (Cristoval - Melgaço) na época


Em S. Gregório (Cristoval - Melgaço) junto ao Cruzeiro. Ao centro, o senhor de bigode é identificado como sendo um morador de S. Gregório chamado António Outeiro, acompanhado pelo tio (à direita)


Em  S. Gregório (Cristoval - Melgaço). De pé, um senhor de nome António Outeiro, acompanhado pelo seu tio e esposa


Na Ponte Internacional de S. Gregório em 1924, foto tirada para o lado galego (Ponte Barxas)


sexta-feira, 16 de junho de 2017

E se há 100 anos o comboio tivesse chegado a Melgaço?


No último quarto do século XIX, deu-se a expansão da rede ferroviária em Portugal. Melgaço, que em finais do século XIX já recebia milhares de pessoas que procuravam as suas águas termais milagrosas, ansiava por possuir uma ligação ferroviária aos grandes centros urbanos.
Desde finais do século XIX, que estava projetado o prolongamento da linha do Minho até Melgaço de forma a responder a esse forte movimento de pessoas. Projeto de linha larga, linha estreita e nenhum deles se concretizou. Como seria Melgaço se o comboio tivesse chegado há cerca de 100 anos? Seria muito diferente do que é hoje?
No seu livro, editado em 1905, Alfredo Vieira de Villas Boas, Ministro das Obras Públicas à época, conta-nos detalhes do verdadeiro pântano de avanços e recuos que este projeto sofreu:
"Entre Valença e Monção estava concedido, havia muitos anos, um tramway a vapor sobre o leito da estrada. Os seus concessionários tinham feito, ajudados de elementos políticos importantes, as mais pertinazes diligências e esforços para obterem as vantagens da base 5ª da lei de 14 de Julho de 1899, e até para lhes transformar a concessão na de uma linha férrea de um metro de largura em leito próprio, com garantia de juro, apesar de figurar, desde 1900, no plano da rede do Norte, o prolongamento de via larga da linha do Minho, desde Valença até Melgaço.
A comissão técnica de 1898 justificava, no seu magnífico relatório de 3 de Julho de 1899, a adoção da via larga para o troço de Valença a Melgaço, nos seguintes termos: “Trazer à linha principal o tráfego que lhe pertence, conduzindo sem trasbordo os passageiros e mercadorias pelo caminho que se lhe oferece em melhores condições de tração, o mesmo é que abrir livre curso, sem derivações possíveis, ao afluente, no ponto em que vai engrossar a corrente geral no máximo trajeto.
Acrescem as circunstâncias da facilidade do traçado em planta e perfil e da construção pouco extensa, quasi só diferente para uma ou outra bitola pelas dimensões do perfil transversal e pelo tipo propriamente da via e perfeitamente divisível em duas campanhas sucessivas, a primeira de Valença a Monção, a segunda de Monção a Melgaço.”
A publicação do decreto de 15 de Fevereiro de 1900, classificando o troço de via larga de Valença a Melgaço, veio corroborar essa judiciosa resolução, não obstante o que, os concessionários requereram em 8 de Maio de 1900 a transformação da sua concessão na de uma linha de um metro, com uma zona de proteção de 30 Kms, e à qual dessem as vantagens previstas da base 5ª, para o que seria preciso, com prejuízo da região, alterar a classificação decretada meses antes, depois de inquérito e audiência das corporações consultivas competentes.
Nem o leito da estrada comportava uma linha dessa largura, nem havia conveniência pública na transformação.
O pedido foi indeferido por despacho  de 23 de Junho de 1900, sob parecer do Conselho de Administração, sendo autorizado o levantamento do depósito de 1760$000 réis, mediante desistência da concessão e, no caso contrário, declarado improrrogável o prazo, tantas vezes prorrogado, para começarem os trabalhos.
O Estado recusava-se assim a alterar o plano de viação acelerada por forma inconveniente, reservava o seu direito de construir o prolongamento de via larga, mas respeitava a concessão feita, sem consentir no adiamento sucessivo da realização da obra.
Sucederam-se, todavia, novas prorrogações em 14 de Março de 1902 e 16 de Março de 1903, e diligências para promulgação de uma lei que transformasse a concessão de tramway na de uma linha de um metro, em leito próprio, com garantia de juro.
Essa pretensão era muito patrocinada por pessoas influentes da política regeneradora, sendo durante a minha gerência. Não só recusei, mas estando por cumprir o preceito do decreto de 6 de Outubro de 1898, que manda elaborar os projetos das linhas complementares classificadas, suscitei, por portaria de 5 de Março de 1904, o cumprimento dessa prescrição, mandando proceder pela Direção do Minho e Douro aos estudos do troço de Valença a Melgaço para via larga, nas condições da máxima economia, dividindo-a em dois lanços sucessivos: um de Valença a Monção, outro de Monção a Melgaço.
Não desistiram os concessionários da sua pretensão, formulando-a em requerimento sobre que foi ouvido mais uma vez o Conselho de Administração, animados pela concessão das linhas de Braga a Guimarães, Braga a Monção e Viana a Ponte de Lima, com garantia de juro.
O novo requerimento abrangia três pretensões: mudança de classificação da linha pela substituição da vai larga pela via reduzida; auxílio do Estado sob a forma de garantia de juro e outras vantagens; outorga de uma concessão aos requerentes, acrescentada com o do troço de Monção a Melgaço.
Alegrava-se, para justificar a mudança de tipo de via, o elevado custo da via larga, exatamente onde ela pode ser construída sem grande dispêndio e a diferença de custo é compensada pela supressão das baldeações em Valença e pelo aproveitamento do material circulante em serviço hoje até ali.
Argumentava-se que o diminuto rendimento do prolongamento não dava remuneração ao capital exigido pela via larga, como se o tributo desse prolongamento não aumentasse o tráfego aquém de Valença. Demais, estando concedida uma linha de via reduzida, de Braga a Monção, era ali e não em Valença que a via reduzida devia entestar com a via larga.
Por último seria prejudicial para o público o fracionamento das linhas por várias empresas concessionárias. E não colhia o argumento infundado de ser indispensável a concessão com garantia de juro, por não poder ser construída tão cedo pelo Estado a linha de via larga.
O rendimento próprio da linha de Valença a Melgaço será pequeno, não bastando pois a garantia de 3% sobre 20 000$000 réis por Km, para lhe dar rendimento.
Se o Estado tivesse que dar maior garantia, com o mesmo encargo, preferível seria levantar o capital para a construção de via larga.
Concluía o parecer por alvitrar a anulação da concessão do tramway. Logo que findasse a última prorrogação concedida.
Por essa ocasião veio a Câmara de Valença, com informação favorável do governador civil, patrocinar a pretensão dos concessionários e pedir que  o estudo ordenado fosse feito, não para via larga, mas para via reduzida.
Argumentava a Câmara com as vantagens que para Valença resultariam de se efetuar ali o transbordo de passageiros e mercadorias. E no inquérito de 1899, a mesma Câmara pronunciava-se a favor da via larga “atentas as relações comerciais e o muito trânsito e movimento entre Melgaço e Monção para a estação de Valença, que é terminus”.
Às solicitações oficiais e oficiosas, invocando as supostas conveniências da política partidária, ás campanhas difamatórias na imprensa, em que inventavam manejos de uma imaginária companhia ou sindicato do Porto, apoiado pelas entidades técnicas que intervinham no assunto para obter a concessão de um troço de via larga reservada para o Estado, respondi com o despacho de 27 de Setembro de 1904, mandando prosseguir até Melgaço, com a máxima atividade, os estudos para via larga, que estavam sendo feitos entre Valença e Monção.
Por essa ocasião, vários habitantes dos concelhos interessados, alegando que tinha sido pedida às câmaras a aprovação do projeto de lei concedendo garantis de juro à linha de via reduzida, solicitaram a El-Rei a imediata resolução do assunto por um ato ditatorial.
Em 22 de Setembro realizou-se em Monção uma reunião de delegados de três concelhos, para representarem no mesmo sentido.
Não obstante as vivas instâncias do meus correlegionários políticos, entendi que não devia afastar-me da linha de conduta adotada, e resolvi definitivamente o assunto de acordo com a lei, com os interesses do Estado e as verdadeiras conveniências da região, desfiguradas para se acudir a uma empresa periclitante.
Passara o prazo da última prorrogação.
Por portaria de 30 de Setembro de 1904, mandei declarar caduca a concessão do tramway, pondo assim termo à questão, deixando o campo desembaraçado para a construção para a construção do prolongamento do caminho de ferro do Minho por conta do Estado, e votando ao merecido desprezo as arremetidas de foliculares venaes ou desorientados.
Creio ter prestado, com esta resolução, que me originou numerosos dissabores, um verdadeiro serviço à região e ao Estado.”
Contudo, o processo, à boa maneira portuguesa, continuou a revelar-se um pântano burocrático. Anos mais tarde, por portarias de 11 de Outubro de 1905 e de 1 de Abril de 1911, foram aprovados os projetos e orçamentos do primeiro lanço, Valença a Monção, e da estação de Monção; e enfim, a abertura à exploração entre Valença e Lapela realizava-se em 15 de Junho de 1913, verificando-se em 15 de Julho de 1915 a do troço entre Lapela e Monção.
O sonho do comboio em Melgaço morrera...


Extraído de: VILLAS BOAS, Augusto Vieira (1905) - Caminhos de Ferro Portuguezes. Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira & Cª, Lisboa. 

quinta-feira, 15 de junho de 2017

sexta-feira, 9 de junho de 2017

A capela de Nossa Senhora de Guadalupe (Paderne - Melgaço): notas históricas e arquitetónicas


As referências históricas a esta capela são bastante escassas. As mais antigas datam de 1551 onde encontramos uma obrigação à fábrica da ermida de Nossa Senhora "d'Água do Lupo", assim designada na época, a favor de João Alves e sua mulher Isabel Leuvente, moradores na freguesia de Paderne, os quais erigiram uma capela no lugar de Crastos e pedem licença para lá se rezar missa.
Aparentemente a estrutura que suporta o sino foi construída em 1730 já que esta data se encontra lá inscrita. Nas Memórias Paroquiais de 1758, o prior de Paderne faz referência à capela de Nossa Senhora de Guadalupe no lugar de Crastos, “erguendo-se fora do lugar, num sítio mais alto, e tendo um altar onde estavam as imagens da Senhora, de Santo António e Santa Rita.
Num artigo do etnólogo José Leite de Vasconcelos, acerca de umas escavações arqueológicas no Castro da Cividade (Paderne) feitas em 1903, aparece referência a esta capela nestes termos “A Senhora de Guadalupe venera-se numa capelinha que fica perto do lugar de Crastos (a menos de um km), na freguesia de Paderne." O investigador na época ouviu esta quadra de um morador na Cividade:


Senhora d’ Agua de Lupe
Nem uma folha lhe destes:
Os Mouros da Cividade

Não faziam o que tu fizeste!

O autor prossegue: "O povo do Minho, sentimental como é, acrescenta: vinha o inimigo, isto é, os cristãos, em cima dos mouros e eles, coitadinhos, viraram-se para a senhora, sem os outros saberem, e pediram-lhe, mas em vão, que detivesse os contrários". Pelos vistos até os mouros tinham fé na Senhora de Guadalupe...

A capela apresenta um planta longitudinal de massa simples com sacristia adossada à fachada lateral esquerda. Os volumes são escalonados e coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na capela e de uma na sacristia, na continuidade da primeira, rematadas em beirada simples. As fachadas são construídas em cantaria aparente, terminadas em cornija e com os cunhais horizontalizados e coroados por pináculos piramidais com bola, sobre plintos paralelepipédicos. A fachada principal encontra-se voltada sudeste e termina em empena, com friso e cornija, truncada por estrutura sineira em arco de volta perfeita sobre pilares, albergando sino e rematada em empena, percorrida por sulco e com a data de 1730 inscrita. A mesma é rasgada por portal de verga sobre os pés direitos, encimado por fresta de capialço e ladeado, à esquerda, por uma outra. A fachada lateral esquerda é rasgada por porta de verga recta sobre os pés direitos e a oposta por fresta de capialço. A sacristia termina em meia empena e é cega. A fachada posterior com capela-mor é igualmente cega e terminada em empena, coroada por cruz latina de braços quadrangulares sobre plinto paralelepipédico, e a sacristia encontra-se rasgada por janela rectangular jacente, gradeada. O interior possui as paredes rebocadas e pintadas de branco. O coro-alto de betão acedido por escada disposta no lado do Evangelho e com guarda em falsos balaústres de madeira.


Informações extraídas de:
- CAPELA, José Viriato(2005) - As freguesias do distrito de Viana do Castelo nas Memórias Paroquiais de 1758, Braga, Casa Museu de Monção.
- VASCONCELOS, J. L. de (1933) – Castros lusitanos I. Cividade de Paderne. in: Revista Archeólogo Português.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Sobre a linguagem das gentes de Parada do Monte (Melgaço) em 1902

Parada do Monte (Melgaço)
(Foto em http://coxo-melgaco.blogspot.pt)

Há mais de 100 anos, um dos mais célebres investigadores portugueses na área da etnografia, José Leite de Vasconcelos, publicou um trabalho sobre a maneira de falar das gentes de Parada do Monte (Melgaço) numa investigação de dialetos em áreas de fronteira:
"Parada do Monte é freguesia do concelho de Melgaço. Em 1875, tinha 180 fogos, segundo o Portugal Antigo e Moderno de Pinho Leal, onde se diz que uma das riquezas dos habitantes dela são os gados.
Em Agosto de 1902, estive na vila de Melgaço e, como aí me proporcionou ensejo de falar com várias pessoas de Parada do Monte, colhi os materiais que adiante vou estudar.

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Extraído de:

- VASCONCELOS, José Leite de (1926) - Linguagem de Parada do Monte. In: Linguagens de Portugal e Hespanha. Separata da Revista Lusitana, Lisboa.


Nota: Optei por digitalizar as passagens do artigo por conter alguma simbologia difícil de encontrar no teclado