sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

A antiga paróquia de Santa Maria da Porta (Melgaço) em meados do século XVIII


A antiga paróquia de Santa Maria da Porta, atualmente designada de Vila (Melgaço) é muito antiga. Quase tão antiga como a própria nação portuguesa. Deve o seu nome devido ao facto de se localizar ao lado de uma das portas da antiga fortificação da Praça Militar de Melgaço.
Segundo Bernardo Pintor a Igreja de Santa Maria da Porta “existia nos fins do século XII, e já seria antiga. Foi então que se construiu outra, se não foi que se reconstruiu a que já havia”.
Nas Inquirições de D. Afonso III, de 1258, diz-se que Santa Maria da Porta era "tres quartas regis". No catálogo das igrejas situadas ao norte do rio Lima, que o rei D. Dinis mandou organizar em 1320 para determinação da taxa a pagar, a igreja de Santa Maria da Porta gozava de boa situação económica. 
Em 1546 encontrava-se anexada à de Santa Maria do Campo. Esta veio a ser extinta, em conjunto com a paróquia de São Facundo em finais do século XVI pelo arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires.
Américo Costa descreve Santa Maria da Porta como abadia da apresentação alternativa do Ordinário, Casa de Bragança e convento de Fiães. Diz o mesmo autor que era donatária desta igreja a Casa de Bragança. Situava-se na antiga comarca de Barcelos.
No censo de 1864, figura sob a designação de “Melgaço - Santa Maria”, e nos de 1878 a 1930 apenas como Melgaço. Pelo decreto-lei nº 27 424, de 31 de Dezembro de 1936, passou a denominar-se como “Vila”. 
Para compreendermos a realidade desta paróquia em meados do século XVIII, podemos recorrer às Memórias Paroquiais de 1758. No caso desta paróquia, pode-se dizer que o pároco foi cuidadoso e não se poupou a pormenores na descrição dos diferentes aspetos desta paróquia de Santa Maria da Porta.
Faz uma descrição da igreja na época referindo que a mesma tem como “Orago de Santa Maria da Porta da vila e tem quatro altares; a saber, o altar mor com o Santíssimo Sacramento, com o Espírito Santo, com a Santa Quitéria, Santo António, S. João Baptista; o do Menino Deus e o altar da Nossa Senhora do Rozário e a Senhora do Socorro, com o Mártir São Sebastião; tem o altar das Almas e a Nossa Senhora do Carmo nele. Tem outro altar da Nossa Senhora do Amparo que é capela particular adonde está São Tyago, Nossa Senhora do Amparo e São Miguel. Tem uma nave sita na capela mor, outra sita na capela particular da Senhora do Amparo. Tem três confrarias, uma chamada do Espírito Santo, que é própria dos sacerdotes, mais outra chamada das Almas que é para as pessoas que quiserem nela entrar por Irmãos; mais a confraria chamada dos Santos”.
Porém, não deixa de fazer referência a outros templos que existiam na época na dita paróquia, nomeadamente várias capelas: “Tem cinco ermidas. A saber: a primeira chamada de Senhora da Orada, pertencente aos religiosos Monges de São Bernardo, Couto de Fiães. Esta ermida está na estrada que vai para a raya seca, que divide este reyno do da Galiza. Foi fundação dos Templários que bem mostra pela sua antiguidade. A Senhora faz muitos milagres; costumam no tempo da ladainhas virem clamores delas de todas as freguesias deste termo, do de Valladares e Monção.
Tem mais a ermida de Nossa Senhora da Pastoriza que é particular; mais a ermida de S. Julião, esta a mandou fazer a Misericórdia (sabemos que esta informação é incorreta já que esta capela é muito anterior à Misericórdia de Melgaço); mais a ermida de Santo António de Galvão que é de particular. Todas estas fora dos muros da mesma Praça. E tem mais a ermida de Santo António, sita no Campo da feira desta villa, dentro das trincheiras dela que a mandou fazer a mesma Misericórdia, a esta não acode romagem especial”.
O pároco descreve igualmente a vertente geográfica da paróquia: “Esta situada em valle muito ameno e fértil e se descobre dele pella parte norte, a freguesia de Chaviães, com quem parte e pela parte do sul, a freguesia de Rouças, com quem também parte e monte, a Serra chamada de Pomedello, distante uma légua; pela parte do nordeste, confronta com o Reyno da Galiza, na província e bispado de Tuy, servindo-lhe de divisão o formoso e caudaloso rio Minho e se descobrem várias freguesias do dito bispado de Tuy; como também a serra de Paradante e Montes da Franqueira no mesmo Reyno, distantes uma légoa pela parte do poente. Confronta com a freguesia de Prado, com quem parte dízimos e se descobre a esta villa e Praça de Armas de Valença, distante cinco légoas.”
O pároco refere-se também às culturas agrícolas praticadas nesta paróquia escrevendo que “os frutos que nesta terra colhem os moradores com mais abundância é o trigo, milhão, centeyo e cevada, vinho em abundância. Da mesma forma, castanhas, painço miúdo, feijões e fruta com toda a casta de legumes, nabos, cebolas e carne de porco muito saborosa”.

O abade faz ainda referência à feira franca da vila de Melgaço dizendo que “nesta vila aos nove de cada mês ou dez, não sendo dias santos é feira franca”.

Sem comentários:

Enviar um comentário