sexta-feira, 29 de junho de 2018

A freguesia de Paderne (Melgaço) em meados do séc. XVIII e o seu património religioso edificado




Paderne é atualmente uma freguesia do concelho de Melgaço que é sempre associada ao seu antiquíssimo mosteiro do que se desconhece com precisão a sua fundação. Sabe-se contudo com certeza que é mais antigo que a própria nacionalidade. Os seus primeiros tempos de vida colocam aos investigadores e curiosos muitas interrogações.
A atual freguesia de Paderne corresponde em boa parte ao antigo couto do seu Mosteiro. O património religioso da freguesia não se restringe, contudo, à igreja e ao seu antigo convento. Existe um conjunto de capelas espalhadas pela freguesia que são todas elas antigas, sendo todas elas citadas nas Memórias Paroquiais de 1758. Estas memórias constituem-se como uma importante base documental para conhecermos as paróquias da nossa terra em meados do século XVIII.
O pároco memorialista da paróquia de Paderne António Rodrigues de Morais, pároco de S. Martinho de Alvaredo, começa por escrever que “é situada esta freguesia (Paderne) na Província do Minho e pertence ao Bispado de Braga, Comarca de Valença, termo de Valadares. É couto do Mosteyro de Paderne e donatário dele, o D. Prior do mesmo mosteyro” e refere ainda que a freguezia “tem um Mosteyro de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e cujo padroeiro de S. Salvador.”
No que toca à sua população à época, o pároco afirma que Paderne, possuia em 1758 “seiscentos e cinquenta e quatro fogos e meios fogos, faz o número das pessoas que compreende entre presentes e cauzentes, mil setecentos e oitenta” residentes.
O sacerdote aborda também de uma forma geral a geografia da freguesia e afirma que Paderne “fica situada em uma parte, que nem é totalmente valle, nem monte, mas sim com alguma declinação descobrem-se pela parte de nascente, Rouças e S. Payo, para a parte do Norte, Melgaço, quasi meia légua, e parte da Galiza, as feguezias de S. Crystovão de Mourentão e Santa Maria, do Bispado de Tuy, do sul, descobrem-se as freguezias de S. Mamede de Parada do Monte e a de Santa Maria da Gávia (Gave), as quais duas últimas freguezias pertencem a Braga”.
Em relação aos lugares da freguesia habitados refere que Paderne, em 1758, “tem doze lugares que são Granjão, Barral, Crastos, Golães, Várzea, Felgueiras, Queirão, Aldeia, Sainde, Pomares, Covello, Portella. Tem mais o lugar de Sante, o qual um anno pertence à freguezia de S. Payo e outro a esta e tem mais os lugares da Granja e Barbeito que também são meeiros e pertencem um ano a esta freguezia e outro à freguezia de S. Martinho de Alvaredo”.
O padre António Rodrigues de Morais dá-nos na Memórias Paroquias de 1758 alguns pormenores acerca do interior da igreja do convento de Paderne e escreve que “O orago da freguezia é São Salvador e tem cinco altares: o altar-mor com o painel do Salvador, e duas imagens de Santo Agostinho e de São Teotónio. Os colaterais, um tem a imagem de um grande Santo Cristo e nele estão colocados o Santo Lenho, as Sagradas Relíquias dos Santos Mártyres de Marrocos e São Teutónio. Da outra parte correspondente que fica à mão esquerda está o altar de Nossa Senhora do Rozário, imagem perfeita e grande a qual sai em uma solene procissão à senhora da Orada, além de Melgaço, que dista desta freguezia meia légoa, todos os anos, no dia da Ascensão do Senhor em cujo altar está colocado o Santíssimo Sacramento, a imagem de S. José e uma imagem pequena de Nossa Senhora. Fora do Cruzeiro para a mesma parte esquerda, está o altar de Santo António com a sua imagem e mais duas imagens pequenas de S. Miguel e Santa Luzia, da outra parte correspondente está o altar de S. Sebastião com a sua imagem e mais duas pequenas imagens de S. Roque e S. Camillo de Lelys. A igreja tem uma nave com um grande cruzeiro, tem irmandades do Santíssimo Sacramento, a da Nossa Senhora do Rozário, do Santíssimo Nome de Jesus, de Santo António, de S. Sebastião das Almas e mais duas de S. Pedro.
Contudo, o património religioso da freguesia de Paderne, em meados do século XVIII, não se limitava ao convento mas antes se compunha também por uma série de capelas espalhadas pelo território do Couto. Assim, o pároco escreve que “Tem em Sante (…) uma ermida de Nossa Senhora dos Remédios, dentro do mesmo lugar, à qual vão romagens no dia da sua festa a 15 de Agosto e tem uma irmandade da mesma Senhora. Tem três altares esta ermida: o principal com a imagem da Senhora, uma de S. Francisco e outra de S. José e outra mais pequena de S. António. Nos colaterais, num está a imagem de S. Gonçallo; da outra parte à mão direita, está o altar de Santa Roza de Lima com a sua imagem. No lugar do Granjão, está a capella de S. Miguel. No lugar de Crastos, está a capella fora do lugar em um sítio muito alto de Nossa Senhora de Guadalupe, com um altar em que estão as imagens da Senhora, Santo António e Santa Rita. No lugar da Várzea, na Quinta do Pezo, está uma capella pertencente à mesma quinta que administra o Senhor da mesma Quinta da Senhora da Conceição com um altar em que está a imagem da mesma Senhora. Tem mais o mesmo lugar, na Quinta do Reguengo uma capella pegada às casas da quinta com o título de S. Miguel, na qual está um altar com três imagens, uma de S. Miguel, outra de S. Gregório e outra de S. Caetano. Tem mais fora do lugar em um monte alto, a capella de S. Marcos com um só altar em que está a imagem de S. Marcos, a qual administra o Morgado do Reguengo e a ella concorre alguma gente de romagens. Tem o lugar de Golães, a capella de S. Roque com um só altar em que está a imagem do mesmo santo a qual administra o Senhor da Quinta. Tem o lugar de Felgueiras uma capella de Santa Comba com um altar com as imagens de S. Silvestre, situada em um monte fora do lugar na qual está um altar com as imagens de S. Silvestre e uma pequena de Santa Bárbara, a qual administra o Padre João de Sousa com outros. Tem o lugar de Sainde uma capella de S. José que administram os do mesmo lugar na qual está um altar com duas imagens de Nossa Senhora e S. José. Tem o lugar de Pomares a capella de S. Tiago que é administrada pelos moradores do mesmo lugar e com um só altar em que estão as imagens de S. Tiago e S. Gregório. Tem o lugar de Barbeito a capela de S. Pedro, que num ano pertence a esta freguezia e outro a S. Martinho de Alvaredo, na qual está um altar com a imagem do Santo e outra de S. António.”
O Prior termina escrevendo que “Nos dias em que se celebram os Santos destas capellas concorre alguma gente”...

domingo, 24 de junho de 2018

Melgacenses que combateram na Primeira Grande Guerra - Os Expedicionários da freguesia de Cousso


Há cerca de 100 anos, quando o Corpo Expedicionário Português foi constituído, dezenas de milhares de jovens eram autenticamente roubados às suas terras e às suas famílias e iriam entrar no maior conflito militar que a humanidade tinha conhecido, a Primeira Grande Guerra. Entre as dezenas de melgacenses que foram mobilizados, alguns deles eram naturais da freguesia de São Tomé de Cousso e que hoje queremos homenagear neste artigo. Eram eles os soldados Adolfo de Sousa, do lugar de Virtelo; Agostinho Alves, do lugar da Cela e Manuel Duque. Todos eles sobreviveram à guerra.
Aqui ficam as informações que se conseguiram reunir em relação a cada um deles:

1 - Adolfo de Sousa, soldado servente do 5º Grupo de Baterias de Montadas do Regimento de Artilharia n.º 1 (5º Grupo de Baterias de Morteiros).
Nasceu às seis horas da manhã do dia 8 de Fevereiro de 1893 no lugar de Virtelo, freguesia de São Tomé de Cousso, filho de pai incógnito e de Rosa Maria de Sousa.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no referido lugar de Virtelo, na freguesia de Cousso, concelho de Melgaço.
Embarcou no Cais de Alcântara, em Lisboa, com destino a França integrado no Corpo Expedicionário Português a 25 de Maio de 1917, tendo desembarcado no Porto de Brest.
Já no cenário de guerra, sabe-se que baixou ao Hospital de Sangue nº 2 em 14 de Março de 1918, tendo tido alta em 22 do mesmo mês e ano. Após o desastre que se mostrou a Batalha de La Lys, no âmbito da reorganização do Corpo Expedicionário Português, é colocado no 4º Grupo de Baterias de Artilharia em 30 de Abril de 1917.
perto do fim da guerra, em Novembro de 1918, foi punido por comportamentos julgados menos adequados. Assim, no dia 26 de Setembro de 1918, foi punido “pelo Senhor Comandante com 12 dias de detenção por ter faltado ao recolher do dia 24”.
Uns meses depois, em 21 de Abril de 1919, foi novamente punido com 4 dias de detenção pelo Senhor Comandante “por se ausentar do seu boleto sem autorização de noite e ter sido encontrado a fazer barulho”.
Sobreviveu à guerra e embarcou no Porto de Cherbourg (França) em data que se desconhece, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 19 de Maio de 1919.


2 - Agostinho Alves, Alferes de Administração Militar, 2º Grupo Automóvel.
Nasceu às cinco horas da manhã do dia 5 de Janeiro de 1885 no lugar da Cela, freguesia de São Tomé de Cousso, filho de Firmino Alves e de Rosa Dias.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se casado desde 29 de Outubro de 1913 com Margarida Alves Ferreira, natural do concelho de Penafiel, e era morador à data no dito concelho do distrito do Porto.
Embarcou no cais de Alcântara, em Lisboa, com destino a França integrado no Corpo Expedicionário Português a 20 de Janeiro de 1917. Em França, durante a sua permanência na guerra, foi louvado pelo Comandante do Grupo a 30 de Julho de 1918 “pelo zelo e competência que mostrou no desempenho dos serviços a seu cargo, como adjunto do comando deste grupo e designadamente pela boa vontade com que ontem desempenhou os serviços de que foi incumbido na marcha desta unidade da zona da retaguarda para a zona da frente…”.
Seguiu para Portugal em 29 de Agosto de 1918, no gozo de 53 dias de licença de campanha, incluindo 8 dias para a viagem. Recebeu novamente um Louvor em Janeiro de 1919 porque “sendo o oficial de serviço no dia 9 de Abril de 1918, providenciou de harmonia com as ordens do comando e na ausência do oficial técnico do Grupo, no sentido de se fazer a evacuação das oficinas, conseguindo em poucas horas disponíveis, fazer evacuar uma grande parte do material automóvel que existia nas mesmas oficinas. E ainda pela maneira como desempenhou nos dias imediatos, durante a retirada, dos vários serviços de que foi incumbido, não obstante as dificuldades do momento, contribuindo para a boa execução das ordens que no Grupo foram dadas e por forma que este bem desempenhou o seu serviço, com os poucos recursos de que dispunha, evidenciando coragem, decisão, energia, interesse pelo serviço e uma boa compreensão do eu dever militar”.
Sobreviveu à guerra, tendo embarcado no Porto de Cherbourg (França) em data que se desconhece, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 8 de Julho de 1919.
Viria a falecer em 12 de Abril de 1982 no concelho de Penafiel.


3 - Manuel Duque, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão).
Nasceu às oito horas da manhã do dia 10 de Março de 1893, em lugar que não se menciona no seu assento de batismo, na freguesia de São Tomé de Cousso, filho de pai incógnito e de Joaquina Duque.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se casado com Ermelinda Esteves, natural desta freguesia, desde 13 de Junho de 1912 e era morador na freguesia de Cousso, deste concelho de Melgaço.
Embarcou para França, no Cais de Alcântara, em Lisboa, integrado no Corpo Expedicionário Português a 22 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho.
Já no cenário de guerra em França, foi colocado na Companhia de Serviços Auxiliares em 1 de Agosto de 1917. Punido em 2 de Dezembro do mesmo ano pelo “diretor de serviço com 3 dias de detenção por se apresentar no serviço que estava incumbido uma mais tarde”. Baixa à ambulância em 19 de Março de 1919. Evacuado para o hospital em 20 do mesmo mês, tendo alta no dia 23 tendo regressado à unidade. Sobreviveu à guerra e embarcou no Porto de Cherbourg (França) em data que se desconhece, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 9 de Junho de 1919.
Viria a falecer na freguesia de Cousso, deste concelho de Melgaço, no dia 17 de Fevereiro de 1971.

sábado, 16 de junho de 2018

A velhinha Ponte Internacional de S. Gregório (Melgaço): algumas notas históricas



A velha Ponte Internacional de S. Gregório era uma passagem sobre o rio Trancoso que se localizava ao fundo da Rua Verde no referido lugar da freguesia de Cristóval, deste concelho de Melgaço e ligava à margem galega, à localidade de Ponte Barxas.
Neste sentido, é bom salientar que a existência desta ponte é muito antiga dando inclusivamente nome ao próprio lugar que tinha uma designação comum de ambos os lados o rio: Ponte das Várzeas/Ponte Barxas. Todavia, do lado português, o nome entrou em desuso algures no início do século XX, enquanto que do lado galego, a localidade conserva o nome arcaico (Ponte Barxas).
Esta ponte era tão rudimentar como estratégica em termos militares. Historicamente, daquilo que se conhece, era a principal passagem de Melgaço para a Galiza no vale do rio Trancoso e por isso, um ponto fronteiriço sempre sensível em tempos de guerra. Sabendo que em tempos antigos, o rio Minho era intransponível em praticamente todo o troço que passa por Melgaço, restavam as outras linhas de fronteira natural, entre as quais o traçado do rio Trancoso. Nesta linha fronteiriça, a importância da Ponte das Várzeas é destacada por MOREIRA, L. (2008) que refere que Desde Castro Laboreiro, à entrada do rio Minho, a fronteira era estabelecida pelo vale do rio Trancoso - também designado por “rio das Várzeas” - cujo vale de margens abruptas era considerado impenetrável. Os únicos pontos de passagem seriam duas pontes: a Ponte de Pouzafolles, ainda em área de montanha, e a Ponte das Várzeas, construída em madeira no lugar de S. Gregório”, relativamente próximo do rio Minho.
De facto, esta ponte internacional, com toda a importância que a sua localização estratégica lhe oferece, é aqui referida como sendo construída de madeira. Tal informação é confirmada na memória paroquial de 1758 de Cristóval, onde o sacerdote refere que a paróquia “tem mais o lugar de  Sam Gregório com uma capela antiga do mesmo santo e com vinte vizinhos (fogos), por onde é a estrada deste Reino de Portugal para a Galiza passando-se o regato por uma ponte de táboa que chamam a Ponte das Varges.
A sua importância estratégica da perspetiva militar durante a Guerra da Restauração (século XVII) é comprovada pela frequência com que é utilizada por portugueses e espanhóis nas suas incursões em território inimigo, além do cuidado por parte dos nossos em guardar esse ponto fronteiriço. Podemos citar um trecho do livro “História do Portugal Restaurado” que nos fala das manobras militares nas fronteiras desta região: D. Gastão, com outro troço, ficou alojado na Ponte das Várzeas (Cristóval) e para que o inimigo divertisse o poder que tinha junto, mandou entrar na Galiza pela Portela do Homem a Vasco de Azevedo Coutinho e por Lindoso a Manuel de Sousa de Abreu, ordenando-lhes, que segunda feira, nove de Setembro, entrassem na Galiza. No mesmo dia ao amanhecer, dividiu D. Gastão a infantaria em três troços e levantando uma plataforma, fez jogar as duas peças de artilharia que levava, contra o reduto da Ponte da Várzeas (junto a Ponte Barxas) e foram de grande efeito, recebendo o inimigo considerável dano. Os três troços, que governavam Lourenço de Morim, Sargento Mor de Caminha e os Capitães Gaspar Casado Manuel e Martim Coelho Vieira, com grande valor e pouca ordem, superando o embargo de algumas estacadas, avançaram três redutos, e entraram ao mesmo tempo, degolando os soldados que os guarneciam. Ficando aberto o caminho para Monte Redondo, que os galegos haviam reparado, se retiraram os que fugiram para este lugar que ficava vizinho. Depois de arruinados os redutos galegos, os portugueses investiram contra as trincheiras de Monte Redondo, e desemparando o inimigo, entraram no lugar e saquearam-no uma segunda vez. O mesmo fizeram a algumas aldeias que ficavam pouco distantes. Os galegos acudiram àquela parte com três mil infantes e 400 cavalos e achando a gente carregada de despojos, avançaram com resolução e os soldados da ordenança, não querendo pôr em contingência o que haviam roubado, voltaram as costas, não valendo a D. Gastão as grandes diligências que fez para os deter na Ponte das Várzeas. Os oficiais e 500 soldados que ficaram, fizeram rosto ao inimigo e valendo-lhe a aspereza do sítio, se vieram retirando pelas veredas mais estreitas, e deixando 15 soldados mortos e dez prisioneiros, conseguiram valorosamente passar a Ponte das Várzeas sem maior dano.
Em finais do século XIX, os tempos já são outros mas esta estratégica Ponte Internacional de S. Gregório conserva-se como uma estrutura rudimentar em madeira. No livro “O Minho Pittoresco” (1886), podemos ler uma curiosa mas detalhada descrição da ponte e refere-se que “S. Gregório é, por assim dizer, uma rua única, uma rua verde, em ladeira íngreme até à ponte da Várzea, essa ponte que o nosso desenho representa, e que é a primeira ponte internacional lançada entre os dois países, se não quisermos falar nas poldras de Pousafoles, mais ao nascente, no curso do Trancoso.
Mas, enfim, a ponte da Várzea tem já os seus 4 metros de altura, 6 de comprimento e 2 de largo! É quase a ponte de um lagosinho!
Não se riam dela, contudo, que ali onde a vêem, com os seus dois troncos de castanheiro, lançados de margem a margem, e os seus torrões como pavimento macio, é um símbolo de fraternidade entre dois países que vivem em plena paz, e seria um baluarte de independência a conquistar, quando o clarim de guerra ressoasse desoladoramente por aquelas quebradas fora.
Ponte Várzea é o lugar espanhol, donde o pontilhão tira o nome e que pertence à alcaidaria de Padrenda, com quem S. Gregório faz o seu comércio meio lícito, meio... de contrabando!
Que diabo queriam, porém, que fizesse S. Gregório, se no inverno é a margem de Ponte Várzea que lhe dá por empréstimo um bocadito de sol, a cujos raios vão aquecer-se aqueles pobres friorentos gelados das suas sombras de meses!”
Em 1911, a singularidade desta ponte de S. Gregório chegaria a provocar risos o Parlamento numa altura em que se temia que Paiva Couceiro e as forças realistas entrassem em Portugal por esta mesma ponte. Num livro que se debruça sobre o Governo de Pimenta de Castro, pode ler-se que Circulava o rumor de que Paiva Couceiro estava atravessando a ponte internacional de S. Gregório com sete mil homens. — «Como o caso é gravíssimo, quero saber, senhor Ministro da Guerra, que medidas de defesa adoptou e quais as que tenciona adoptar?» — Pimenta de Castro, natural de Monção, sabia que a ponte internacional sobre o rio S. Gregório, não passava de um tronco de árvore atravessado sobre o pequeno rio. Desfrutou o mulato dizendo-lhe:
«Sete mil homens devem despender quinze dias a atravessar a ponte internacional de S. Gregório».
«Que defesa pensa estabelecer o senhor Ministro da Guerra e que tropas mandou para lá?»
«Tenho lá as tropas que lá estavam (não estavam nenhumas!) e mais as que para lá vou mandar (não mandou coisa alguma!)».
Paiva Couceiro não estava em S. Gregório, nem pessoa alguma. Isso porém é que ele não quis confessar...”
Esta ponte seria destruída nos tempos da guerra civil espanhola e nunca mais seria reconstruida. A Nova Ponte Internacional de S. Gregório já era uma realidade desde 1935...



Informações extraídas de:

- MARÇAL, Bruno José Navarro - (2010) - Governo de Pimenta de Castro - Um General no Labirinto da I República. Universidade de LIsboa, Faculdade de Letras, Departamento de História;
- MENEZES, Luiz de (1751) – História de Portugal Restaurado. Tomo I; Oficcina de Domingos Rodrigues; Lisboa;
- MOREIRA, Luís Miguel (2008) - O sistema defensivo do Alto Minho em finais do sés. XVIII. In: Cad. Vianenses; nº 41;
- VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, tomo I, edição da livraria de António Maria Pereira- Editor, Lisboa.


sexta-feira, 8 de junho de 2018

Melgacenses que combateram na Primeira Grande Guerra - Os Expedicionários da freguesia de Prado


Prado (Melgaço)
(Foto em http://coxo-melgaco.blogspot.co)

Há cerca de cem anos, mais de sete dezenas de jovens melgacenses partiram para as trincheiras de França integrados no Corpo Expedicionário Português para aquele que foi o mais horrendo conflito militar da História que a humanidade tinha conhecido. Hoje, prestamos homenagem aos soldados do C.E.P. nascidos na freguesia de Prado, deste concelho de Melgaço:

1 - Tito Arsénio Alves Gonçalves, segundo-sargento do 2.º Esquadrão do Regimento de Cavalaria n.º 11, Coluna Automóvel para Transporte de Feridos. Nasceu às sete horas da tarde do dia 5 de Junho de 1895 no lugar da Bouça Nova, na freguesia de São Lourenço de Prado, filho de Manuel Luís Gonçalves e de Albina Rosa Alves.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e morador no lugar da Bouça Nova, freguesia de Prado, deste concelho de Melgaço. Embarcou em Lisboa com destino a França, integrado no Corpo Expedicionário Português a 22 de Fevereiro de 1917.
Já no cenário de guerra, em França, sabemos que se encontrava em diligência na 1ª Divisão desde 6 de Junho de 1917, da qual recolheu em 17 de Agosto desse mesmo ano. Por essa altura, foi louvado “pelo zelo, atividade e competência desenvolvida no desempenho de todos os serviços de que foi encarregado e principalmente no cargo de vagmestre em que mostrou espírito de previdência e honestidade” (Ordem de Serviço da Coluna Automóvel de Transporte de Feridos nº 178 de 26 de Agosto). A partir de 4 de Setembro de 1917, encontrava-se de novo em diligência na 1º Divisão do Corpo Expedicionário Português.
A 24 de Outubro desse mesmo ano, baixa ao Hospital, tendo sido “julgado incapaz de todo o serviço e de angariar os meios de subsistência em sessão” de Junta Médica de 29 do mesmo mês e ano. Recebeu alta hospitalar no dia 30 de Outubro, seguindo para o Depósito de Adidos do Corpo Expedicionário. Posteriormente, seguiu para o Depósito de Adidos da Base em 9 de Novembro.
Contudo, em 27 de Novembro de 1917, baixa de novo ao Hospital Canadiano nº 3, tendo falecido em 5 de Dezembro, vítima de “tuberculose pulmonar”, tendo sido sepultado no cemitério de Boulogne, coval nº 8. Posteriormente, depois da guerra, os seus restos mortais foram trasladados para o Talhão A, Fila 3, Coval 4 do dito Cemitério de Boulogne-sur-Mer (França).

2 – Manuel Joaquim Gomes, soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às duas horas da manhã do dia 28 de Agosto de 1894 no lugar de Paredes, na freguesia de São Lourenço de Prado, filho de Manuel Joaquim Gomes e de Justina das Dores Gomes.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no referido lugar de Paredes, na freguesia de São Lourenço de Prado, neste concelho de Melgaço.
Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 7 de Agosto de 1917, portador da chapa de identificação nº 49 064, tendo desembarcado no Porto de Brest (França) em 11 do mesmo mês e ano.
Não há registos no seu Boletim Individual até Fevereiro de 1918. Já no cenário de guerra, em França, baixa ao Hospital Inglês nº 30 em 5 de Fevereiro desse ano, tendo tido alta em 15 de Março seguinte.
Em 22 de Julho de 1918, entra em gozo de 30 dias de licença para convalescer, por decisão de Junta Médica (Ordem de Serviço do Quartel General do Corpo Expedicionário nº 200 de 22 de Julho de 1918).
Viria a baixar ao hospital em 18 de Agosto de 1918, desta vez ao Hospital da Base 1, tendo tido alta em 16 de Setembro para o Depósito de Infantaria. Em 18 de Setembro seguinte, apresentou-se no Esquadrão de Remonta vindo do Depósito de Infantaria, afim de ficar adido ao dito esquadrão.
Foi punido em 3 de Novembro de 1918 pelo “Senhor Diretor do Hospital da Base 1 com oito dias de prisão disciplinar por ter sido encontrado embriagado”.
Encontrava-se presente no Comando Militar do Corpo de Adidos em 7 de Maio de 1919, vindo do Hospital da Base 1 “por ter sido dispensado do serviço e fica aguardando oportunidade de ser repatriado. Seguiu para as prisões do Comando Militar do Corpo de Adidos no dia 8 com passagem”. Nesse mesmo dia, já se encontrava presente nas Prisões da Base afim de fazer parte do quadro permanente das mesmas.
Será repatriado juntamente com o Corpo de Adidos e embarca no dia 5 de Julho de 1919 no Porto de Embarque de Cherbourg (França) e viria a desembarcar em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 8 de Julho desse mesmo ano.
Após voltar da guerra, viria a casar com Maria do Céu Barreiro em 9 de Setembro de 1926. Manuel Joaquim Gomes faleceu em 23 de Abril de 1934, no lugar de Cerdedo, nesta freguesia de São Lourenço de Prado, deste concelho de Melgaço.

3Lopo Passos de Almeida, soldado condutor no Sub-Parque de Munições, depois no Depósito de Artilharia de Campanha . Nasceu às três horas da tarde do dia 9 de Fevereiro de 1892 no lugar de Raposos, na freguesia de São Lourenço de Prado, filho de Augusto Passos de Almeida e de Filomena Fortunata Abreu Cunha Araújo.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no referido lugar de Raposos, na freguesia de São Lourenço de Prado, neste concelho de Melgaço.
Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 25 de Julho de 1917, portador da chapa de identificação nº 70 886, tendo desembarcado no Porto de Brest (França).
Já no cenário de guerra, ficou afeto para os serviços auxiliares do Exército, por decisão de 20 de Dezembro de 1917. Alguns dias depois, em 23 de Dezembro, foi colocado como condutor no Comboio Automóvel.
Durante a guerra o soldado Lopo de Almeida, devido a alguns comportamentos julgados inadequados, foi punido em várias situações. Assim, foi sujeito a punição em 10 de Janeiro de 1918 “pelo Senhor Comandante da unidade com 8 dias de detenção por faltar à instrução”. Em 15 de Janeiro de 1918, foi novamente punido pelo “Comandante da Secção com 4 dias de detenção por se apresentar à parada da guarda em péssimo estado de asseio”. Foi ainda punido em 30 desse mesmo mês de Janeiro “pelo Senhor Comandante da Secção com 5 dias detenção por levar no carro que lhe está distribuído um camarada seu”. Todavia, foi novamente punido em 1 de Abril de 1918 “pelo Senhor Comandante do Serviço de Transporte Automóvel com 5 dias de detenção por sair como carro sem levar o respetivo vigia”.
Embarcou em 27 de Maio de 1918 com destino a Portugal “para repouso por mais de 30 dias”. Não há registo da data em que volta para França. Contudo, sabemos que em 9 de Setembro de 1918 embarcou de novo para Portugal a bordo do navio inglês “Czarita”. Não há registo do regresso a França no seu Boletim Individual.
Em 24 de Outubro de 1918 foi abatido ao efetivo do Serviço de Transporte Automóvel e passa a integrar o Depósito de Artilharia de Campanha, “em virtude da autorização concedida pela nota nº 1650/11 de 18 de Outubro da Repartição dos Serviços do Quartel General do Corpo Expedicionário por ter seguido para Portugal em 27 de Maio de 1918”. É aumentado ao efetivo do Depósito de Artilharia de Campanha, em 26 de Outubro, à 1ª Secção com o número 330, sendo que nesta data ainda se encontrava ausente em Portugal “desde 23 de Outubro”, dia em que abandona definitivamente o cenário de guerra. Em 31 de Janeiro de 1919, ainda se encontrava ausente em Portugal e é abatido ao efetivo do Depósito de Artilharia de Campanha “por excesso de licença”.
Conforme se refere atrás, o soldado Lopo de Almeida não regressou a França ao cenário de guerra.

4Américo de Almeida, soldado do Regimento de Cavalaria nº 11, unidade mais tarde transformada em Companhia de Ciclistas. Nasceu às dez horas da manhã do dia 26 de Fevereiro de 1894 no lugar de Raposos, na freguesia de São Lourenço de Prado, filho de Júlio Augusto Passos de Almeida e de Filomena Fortunata Abreu Cunha Araújo.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no referido lugar de Raposos, na freguesia de São Lourenço de Prado, neste concelho de Melgaço.
Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português em data a 26 de Maio de 1917, tendo desembarcado no Porto de Brest (França).
Não se conhecem informações acerca do percurso do soldado Américo de Almeida pelo facto de o seu Boletim Individual não se encontrar disponível para consulta.
Sabemos contudo que o soldado Américo de Almeida regressou vivo da guerra à sua terra, tendo falecido nesta freguesia de São Lourenço de Prado, concelho de Melgaço, em 30 de Agosto de 1938.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

MELGAÇO EM MEADOS DO SÉCULO XX (Por "FOTO PIRES")




Viaje até meados do século XX, época em que Melgaço era bem diferente daquele podemos contemplar hoje. Uma das melhores maneiras de podermos recordar esses tempos ou simplesmente conhecermos a terra nesse tempo é observarmos o legado fotográfico que nos deixou o senhor Manuel Luís Pires, da casa "Foto Pires". Ainda hoje, as suas fotografia circulam nas coleções de postais de época e são um importante legado de grande interesse histórico.
Recolhi uma pequena amostra da sua obra e compilei-a para um pequeno vídeo que percorre algumas das mais bonitas fotografias de Melgaço nessa época...