sexta-feira, 27 de julho de 2018

Porquê prolongar a linha do cominho de ferro até Melgaço (1915)?...




Desde o último quarto do século XIX que a Linha do Minho estava planificada até Melgaço. Contudo, como se sabe, o último troço entre Monção e Melgaço nunca saiu do papel. Esse era um futuro que nunca chegou. Nunca saberemos como seria o nosso concelho se tal se concretizasse.
Em 1915, a linha férrea tinha acabado de chegar a Monção. No jornal “República”, na sua edição de 5 de Dezembro desse ano, fala-se na constituição de uma comissão com vista a estudar o prolongamento da linha até Melgaço. Um dos membros da dita comissão fala das enormes vantagens que teria o comboio até Melgaço para a região, quer para o comércio agrícola, quer para as termas melgacenses…


Prolongamento da Linha Férrea de Monção a Melgaço
Tenta-o levar a efeito uma comissão de naturaes da região
Trabalha-se pelo prolongamento do caminho de ferro de Monsão a Melgaço e para levar a efeito aquela obra de fomento regional acha-se até constituída em Lisboa uma comissão.
É um membro dessa comissão, o Snr. Januário Esteves Nogueira, que, procurado ontem por nós, para que nos informasse sobre as vantagens desse empreendimento vai falar.
Eis o que ouvimos:
O prolongamento do caminho de ferro de Monsão a Melgaço constitui um empreendimento com que beneficiarão extraordinariamente aqueles conselhos. E porque assim é, porque tal se lhes afigura alguns filhos da região, com residência em Lisboa, se formaram, animados pelo mais sincero e veemente desejo de serem úteis à sua terra, em comissão e meteram hombros à obra na resolução inabalável de se não pouparem a sacrifício algum. Essa comissão é formada pelos Snr. Dr. Manuel Fernandes Pinto, José Augusto, Marcelino Ilídio Pereira, Luíz Vaz de Araújo, Manuel Pereira, Agostinho Manuel de Sousa, Raul Augusto Rodrigues Vilarinho, e seu creado, que nela desempenha as funções de secretário. Os respetivos trabalhos acham-se já encetados e felizmente até agora teem sido coroados de êxito, tendo sido para eles a adesão de grande número de coletividades assim como a das comissões locais de diferentes partidos e das câmaras municipaes, etc. Neste momento mesmo se está tratando da representação ao Snr. Ministro do Fomento, o que já conta um respeitável número de assinaturas.
O caminho de ferro já chega, como deve saber, até Monção. Infelizmente, porém, as obras da estação acham-se, por assim dizer, tão em começo que quasi que não há estação, não havendo por isso, tão pouco, armazéns onde recolher as mercadorias nem casas para o pessoal. Assegura-se contudo que dentro em breve tudo deverá achar-se concluído. Será esplêndido. Porque a conclusão das obras representa um grande benefício para a importante vila de Monsão. No entanto, isso não nos satisfaz ainda inteiramente, visto tornar-se de absoluta necessidade o prolongamento da linha.
A rapidez e a facilidade de comunicações entre os dois concelhos trará o deslocamento do povo das aldeias que se confundirá nos mercados e nas festas da região. E sendo Monsão maior na extensão e possuindo mais recursos do que Melgaço, é indubitável que todos os ramos de atividade local ganharão extraordinariamente com o prolongamento da linha. Como sabe, aqueles dois concelhos são por excelência agrícolas, produzindo em abundância vinho, milho, feijão, batatas e dando-se a creação de galinhas.
Não havendo, como agora sucede, permuta dos seus respetivos produtos agrícolas não só se torna difícil, mas ainda caríssima. Calcule que uma pipa de vinho pode custar em Melgaço, vinte escudos. Os transportes são além disso morosos, feitos por carros de bois, ficando cada pipa de vinho, paga de transporte, por vinte e oito escudos, aproximadamente. Quer dizer, sofre um aumento de quarenta por cento. E quando me refiro ao vinho, que cito apenas como exemplo, quero também referir-me a todas as outras produções agrícolas, que o transporte, pelo seu elevado preço, encarece de uma maneira extraordinária.
Mas há mais. Você não ignora que Melgaço possui umas afamadas termas medicinaes, excelentes para a cura da diabetes. Ora quantos e quantos doentes em Monção, nos seus arredores, nos concelhos circumvizinhos carecem de tratamentos sem que isto se lhe torne possível. Imaginem que de Monção a Melgaço, há carreiras diárias de automóveis, custando cada lugar oitenta centavos, o que perfaz, entre ida e volta, um escudo e sessenta centavos. Qual será o pobre, ou mesmo o remediado, que diariamente pode despender essa importância para poder tratar-se? Evidentemente nenhum. Prolongada a linha como é desejo nosso, essa dificuldade desaparecerá o todos que sofrem, com pouco dinheiro, poderão galgar a distância que os separa de Melgaço. Essa prolongação valorizará ainda outro ponto de vista turístico a linha. Ela corre ao longo duma paisagem encantadora e pitoresca, cheia de sorrisos, de luz e de cor. Olhe o que fez a Espanha. Há perto de trinta e cinco anos que em frente de nós se ouve e silvo da locomotiva do caminho de ferro de Vigo a Orense.
E aqui tem as razões porque trabalho por ver essa linha estender-se até Monção. E creia que pugnando pela economia, pela arborização dum dos mais encantadores aspetos do Alto Minho, trabalho por uma obra extraordinária e particularmente patriótica. Compreendo a importância dos caminhos de ferro sob o ponto de vista estratégico – que a guerra actual está provando, sobretudo na Polónia, onde Hindenburg mobiliza exércitos com a facilidade com se mudam as pedras num jogo de damão; - não ignoro as deficiências da defesa nacional naquele aspeto… Não é, pois, uma aspiração de utilidade doméstica o que pedimos. Não lhe parece?...”


Extraído de: Jornal "República", edição de 5 de Dezembro de 1915.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Castro Laboreiro numa história do escritor Júlio Dantas (1932)




Em 1932, na publicação brasileira "Revista Feminina", o escritor Júlio Dantas publicou um conto cujo enredo se passa em Castro Laboreiro e onde uma das personagens recorda uma visita a terras castrejas quarenta anos antes. A história tem o título "Uma mulher" e diz assim...

"Uma Mulher
Era quase noite quando o velho Pedro Lindoso e eu, depois de duas longas horas a cavalo pela serra, chegámos a Castro Laboreiro. O meu provecto amigo, apesar dos seus setenta e três anos feitos, firme na montada como um rapaz, mantinha com aprumo as suas tradições de marialva, mestre de picaria, saboneiro e espotrejador dos melhores do seu tempo. Uma leve aragem fazia ramalhar, num cicio brando, a fronde dos castanheiros patriarcas. O sol, como um disco de cobre em brasa, rolava sobre o friso roxo do horizonte.
Das bandas de Hespanha chegava, às lufadas, um cheiro acre de mato queimado.
Já não vinha aqui há quarenta anos! — disse Lindoso, numa expressão de melancolia que contrastava com o seu feitio ordinariamente jovial.
Na volta duma castinceira brava, as primeiras casas assomaram cabrejando na encosta, toscas, cobertas de colmo hirsuto, com as suas características varandas debruçadas sobre bárbaros pilares de pedra e as suas lumieiras baixas donde se exalava um bafo morno de curral. Aproximei o cavalo duma das frestas: uma luz de candeia bruxoleava; junto duma mancha ruiva e buliçosa de gado, numa tarimba suspensa, três vultos humanos roncavam, de borco. Atada pelo cabresto a um argolão de ferro chumbado nos pilares de granito, cada casa tinha, espojada à porta, a sua cavalgadura, inquieta sob a mordedura dos tabões e dos moscardos. Aqui e além, uma figura bronca de castrejo, como uma pincelada negra, escoava-se na sombra. Dir-se-ia que atravessávamos um povoado medieval.
Onde é a estalagem? — perguntou o meu companheiro a uma mulher de capeirete negro que caminhava ao nosso encontro atrás dum porco gelatinoso e enorme.
Mais além, na casa do arco.
Ainda é na casa do arco?
Continuámos a marcha. Descobria-se já, para os lados de Hespanha, o clarão da queimada. Da Sutra banda, vista através da renda negra de um pinhal, a última palpitação luminosa do ocaso tinha uma vaga tonalidade de ouro verde. Começavam a ouvir-se uivar e latir os cães, os fortes molossos de Castro Laboreiro, cruzados de cadela e de lobo. Coágulos espessos de sombra davam-nos a impressão inquietante de que atravancavam o caminho. Por fim, parámos diante duma casa maior do que aquelas que tínhamos visto até ali, com telhado amouriscado em vez de cobertura de colmo, uma varanda mais larga sobre cachorros, e um arco de grosseiras aduelas dando acesso a um pátio onde, numa promiscuidade selvagem, à luz duma lanterna, dormiam homens e gado.
É aqui que nós ficámos? — perguntei eu, com manifesto descontentamento.
Se isto ainda estiver como há quarenta anos, hás-de ficar melhor do que julgas, — disse o velho apeando-se do seu ruço rodado.
Daí a pouco, amantados os cavalos, eramos conduzidos, a pedido do meu companheiro, ao melhor quarto da estalagem, cujas portas só se abriam, de anos a anos, para receber um hóspede de qualidade. Depois do que vira no pátio, esperava tudo, confesso, menos aquela relativa opulência.
Era uma quadra ampla, caiada, com os cantos, junto à sanca, enegrecidos de teias de aranha, o soalho mal tratado e sujo, e, contrastando com
este abandono, dois leitos que podiam considerar-se ricos: um, alto, largo, de bilros, montado sobre estrado de honra de dois degraus e coberto duma colcha antiga de damasco vermelho; o outro, simples barra conventual, com pés de bicho e espaldar entalhado onde se viam as armas de São Bento, peça talvez proveniente do próximo mosteiro de Fiães. Tinha sido armada em tempo (aquela alcova — dizia-se — para lá .dormir o senhor arcebispo de Braga, em visita pastoral. Sentámo-nos em duas tripeças, abancados a uma mesa tosca de castanho, sobre a qual ardiam os três lumes dum candeeiro de latão. Pedro Lindoso, depois de encomendar ao moço da hospedaria uma ceia frugal de caldo de galinha e broa, fechou a porta. Quando nos encontrámos sós, disse-me!, depois de um momento de concentração:
Há quarenta anos, neste mesmo quarto, iam-me matando a tiro de clavina.
A ti?
Por causa duma mulher. Por pouco não fiquei estendido, como um cão.
Olhei o velho Lindoso. A sua face rapada, dura, de um tom forte de terra de Siena, contrair-se. Os seus olhos brilhavam. Enrolou um cigarro, acendeu-o, levantou-se, e a passear pela casa, as esporas de ferro de Guimarães tilintando nas sapatorras, contou-me aquela aventura dos seus tempos de rapaz. Tinha pouco mais de trinta anos, em 1892, viera a Castro Laboreiro, com duas pistolas nos coldres e um saco de libras na bolsa do arção, concluir certo negocio de compra de umas terras que entestavam com a Hespanha. O vendedor, um castrejo rico, preparara as coisas para que o fidalgo fosse bem aposentado, sendo-lhe feita a cama no "quarto do arcebispo", onde já tinham dormido — se era verdadeira a fama — além do antistite, um ministro de Estado e outras grandes personagens. A estalagem do arco era já então o que é agora com a diferença dos cães que há quarenta anos formavam uma verdadeira matilha, ululante e feroz, presa de dia aos argolões de ferro do pátio e solta de noite para a guarda da casa. O próprio "quarto do arcebispo" nada mudara em quase meio século, conservando os dois leitos, com as suas colchas de damasco, a mesa de castanho em que havia então um candelabro de prata mareada de dois lumes, e as teias de aranha pojando aos quatro cantos da alcova, — embora presumivelmente, quarenta anos antes, as aranhas devessem ser outras. O estalajadeiro, homem ruivo, gigantesco, mal encarado como os cães, perguntou ao hóspede o que queria para a ceia e disse-lhe que mandaria a filha servi-lo. Assim foi. Passado pouco tempo (com que comoção ele o recordava!) bateram de mansinho à porta, e Genoveva apareceu. Trazia uma toalha branca e uma malga de caldo nas mãos. Pedro Lindoso ficou tão deslumbrado a olha-la, que não atinou com uma só palavra para lhe dizer. Era uma maravilha. Não o tipo vulgar das belezas crassamente plebeias, mas a castreja de raça pura, tipo delgado e esbelto, pelle suave tocada de tons doirados como um marfim antigo, olhos enormes que pareciam, prolongar-se num traço negro para as fontes, mãos delicadas e brancas, e os peitos fortes arfando sob o gracioso coletinho encarnado que as mulheres da serra então usavam e cuja moda hoje se perdeu.
Ninguém a diria filha daquele pai. Enquanto Genoveva punha a mesa, olharam-se ambos: ele em êxtase, ela a furto, perturbada. Quando começou a comer, Pedro pediu-lhe que se assentasse ao seu lado, ela sorriu e recusou. Naquele silêncio feito de inexplicável ansiedade, cada um deles tinha a impressão de que sentia bater o coração do outro. A única janela do quarto, debruçada sobre o pátio interior — então cheio de fardos de palha — estava aberta. O vento entrava às lufadas. Como a toalha se levantasse, enfunada pela aragem a filha do hospedeiro apressou-se a compo-la, e esse movimento aproximou-a de Pedro.
De repente, uma lufada mais áspera apagou a vela acesa do candelabro de prata. Sem saber como, na escuridão, Genoveva encontrou-se nos braços do fidalgo, debateu-se, ia sucumbir sufocada pela boca ardente desse rapaz de trinta anos, mas resistiu, libertou-se, e desapareceu, descendo de escantilhão a escaleira até ao pátio. Foi o estalajadeiro que veio acender a luz e acabar de servir a ceia. Os movimentos do homem eram bruscos, o olhar desconfiado, e as suas mãos possantes, eriçadas de pelos ruivos, tinham atitudes de pata de fera. Pedro deitou-se mas, excitado e receoso, não ponde dormir. A sensação desse belo corpo que por instantes palpitara de encontro ao seu, e, mais ainda, o temor de qualquer surpresa, porque o quarto não tinha chave e o estalajadeiro. parecera-lhe hostil, não o deixaram conciliar o sono. Atento ao menor ruído, apalpava de vez em quando as pistolas escondidas sob o cabeçal do leito, e, de luz acesa, tinha os olhos fitos na porta, barricada com as duas tripeças, uma sobre a outra, para darem sinal. A certa altura, pareceu-lhe que alguém subia a escada. Duas tábuas rangeram; sentia-se, distintamente, o resfolegar duma respiração opressa. Pedro aperrou uma pistola, e gritou: — "Quem está ahi?"
Ferrolhou a aldabra, a porta abriu-se: era Genoveva, descalça, quase nua, um xaile preto pelos ombros. Mas as duas tripeças caíram: no silêncio da noite, o ruído atroou a casa; ladraram infernalmente os cães soltos no pátio; e, daí a pouco, ouviu-se a voz do estalajadeiro, bradando:
"Genoveva! Genoveva!" Abraçada ao fidalgo, a tremer, a pobre moça, que ele, no primeiro momento, suspeitara de traição, balbuciava numa súplica: — "Fuja, que o meu pai mata-o!" Mas fugir, por onde? Descer a escada era cair nas mãos do estalajadeiro; saltar pela janela, sobre os fardos de palha, era ser devorado pelos cães, piores do que lobos. Foi então que Genoveva teve uma inspiração salvadora. Quando já seu pai subia a escada, ela atirou o xaile pela janela e precipitou-se dum salto.
"Que é de minha filha?" — uivou o estalajadeior, assomando à porta, de clavina na mão. Mas Genoveva respondeu-lhe, de baixo, numa voz clara: — "Que quer vocemecê, pai?" o homem deixou cair a arma, já apontada ao peito do hóspede, e murmurou, humilde:
"Queira perdoar. Cuidei que a minha filha estava aqui!"
Como tu vês — concluiu o velho Lindoso, sentando-se a enrolar outro cigarro — neste mesmo quarto de estalagem, há quarenta anos, a mesma mulher me ia perdendo e me salvou! — Demoraste-te ainda?
No dia seguinte, de madrugada, fechei o negócio com o castreja, montei a cavado, e, escoltado por dois criados que ele mandou armar, pus-me a caminho.
E Genoveva?
Nunca mais a vi.
Nem soubeste dela?
Nem soube dela. Ah. Meu amigo! Quem pudera, mesmo com perigo de morte, mesmo com uma clavina aperrada aos peitos, voltar quarenta anos atrás!
Nisto, bateram, levemente à porta do quarto. Uma velha entrou, com uma toalha branca e uma malga vidrada de Darque, onde o caldo fumegava.
Tinha a cabeça branca, o corpo franzino envolto no capeirete de lã negra das castrejas, e uns olhos grandes, escuros, porventura restos de antiga formosura.
Pedro fitou-a, num movimento de interrogativa surpresa. Depois, enquanto a mulher estendia a toalha sobre a pequena mesa de castanho, eu e o meu companheiro trocámos um olhar cuja significação só nós podíamos ter compreendido. — Vive nesta casa há muito tempo? — perguntou à castreja Pedro Lindoso, cuja voz tremia de comoção.
Nasci aqui.
Como se chama?
Genoveva.
Não se lembra de mim?
A mulher encarou o fidalgo, que se levantara, olhou-o, tornou a olhal-o, e respondeu, com uma expressão de naturalidade que nos gelou:
Não tenho ideia, meu senhor.
Quando Genoveva saiu, Pedro Lindoso murmurou apenas, baixando a cabeça, para que eu não lhe visse os olhos rasos de lágrimas:
Ainda tu dizes, meu amigo, que as mulheres têm a memória do coração!"

TEXTO DE JÚLIO DANTAS.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Melgacenses que combateram na Primeira Grande Guerra - Os Expedicionários da freguesia de Rouças



Há cerca de um século atrás, dezenas de milhares de soldados portugueses partem para França e para África para participarem no mais horrendo conflito armado que a Humanidade tinha conhecido até aí. O "contingente melgacense" era formado por mais de 70 soldados, dos quais 6 eram naturais da freguesia de Santa Marinha de Rouças. A estes, hoje prestamos-lhe a merecida homenagem. Eles foram:

1 - Manuel Cardoso, Alferes do Q. A. A. - Arsenal do Exército e Parque Automóvel. Nasceu às quatro horas da tarde do dia 14 de Maio de 1884 na freguesia de Santa Marinha de Rouças em lugar que não consta no respetivo assento de batismo, filho de Joaquim da Costa Cardoso e de Emília de Jesus Cardoso, moradores na referida freguesia de Rouças do concelho de Melgaço.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se casado com Maria Luíza Esteves Cardoso, natural do concelho de Matosinhos, e era morador em Paço d’Arcos, no concelho de Oeiras.
Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 5 de Junho de 1918 a bordo do navio Pedro Nunes e desembarcou no Porto de Brest (França) em 10 de Junho desse mesmo ano, ficando de quarentena na ilha de Treberou, seguindo depois em caminho de ferro para Bologne em 23 de Junho.
Sabemos que se encontrava presente no Parque Automóvel no dia 30 de Junho de 1918. Baixa ao hospital em 23 de Outubro desse mesmo ano, tendo alta no dia 28 seguinte.
Já depois do fim da guerra, foi colocado no Depósito de Material da Base 2 (Secção de Material Automóvel) como adjunto em 15 de Março de 1919.
Viria a sobreviver à guerra, tendo embarcado no Porto de Cherbourg (França) com destino a Portugal a bordo do navio inglês “Northwestern Miller” em 5 de Julho de 1919, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara em 8 de mesmo mês e ano.

2 - José Rodrigues, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às 8 horas da tarde do dia 1 de Abril de 1892, na Quinta de Cavaleiros, freguesia de Santa Marinha de Rouças deste concelho de Melgaço, filho de António Rodrigues e de Anna Domingues.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se viúvo e era morador na referida freguesia de Rouças.
Embarcou para França no Cais de Alcântara, em Lisboa, integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho, tendo desembarcado no Porto de Brest (França).
Muito pouco se sabe sobre o percurso deste soldado no conflito armado. Apenas se sabe que embarcou em França com destino a Portugal no dia 19 de Dezembro de 1917 para gozo de 20 dias de licença de campanha e terá desembarcado em Lisboa em Lisboa em 22 de Dezembro do mesmo ano. Aparentemente, por razões que se desconhecem, não voltou a França. Não constam mais anotações no seu Boletim Individual.

3 - Hipólito Lourenço - Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às três horas da tarde do dia 20 de Abril de 1892, no lugar da Picota, freguesia de Santa Marinha de Rouças deste concelho de Melgaço, filho de pai incógnito e de Maria da Nazaré Lourenço.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no dito lugar da Picota, da freguesia de Rouças.
Embarcou para França, no Cais de Alcântara, em Lisboa, integrado no Corpo Expedicionário Português a 22 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho, tendo desembarcado no Porto de Brest (França).
Já no cenário de guerra, sabe-se que foi punido em 9 de Setembro de 1917 “com 2 dias de detenção por ser pouco cuidadoso com a limpeza do armamento que lhe está distribuído”. Viria a ser novamente punido em 16 de Janeiro de 1918 “pelo Exmo. General Comandante do C.E.P. com 20 dias de prisão correcional por na noite de 7 para 8 de Dezembro, estando de sentinela num posto de 1ª linha, foi encontrado pelo sargento de ronda sentado na banqueta e não ter tomado uma atitude correta quando aquele seu superior o advertia infringindo assim os deveres…”.
Sabe-se também que em 14 de Fevereiro de 1918, baixou à Ambulância nº 1, tendo sido evacuado para o hospital no mesmo dia, não se encontrando registada a data em que teve alta.
Viria a ser aumentado ao efetivo do Batalhão de Infantaria nº 22 e à 3ª Companhia com o número 775 em 30 de Outubro de 1918.
Sobreviveu à guerra e seria repatriado juntamente com o Primeiro Batalhão, tendo embarcado no Porto de Cherbourg (França) em 25 de Maio de 1919, e viria a desembarcar em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 28 de Maio seguinte.
Depois de regressar da guerra, casou com Deolinda do Espírito Santo da Cunha em 18 de Dezembro de 1920. A sua esposa viria a falecer na freguesia de Rouças em 28 de Setembro de 1941. Contudo, Hipólito Lourenço viria a casar em segundas núpcias com Laurinda Fernandes, do lugar de Eiró, em 2 de Março de 1968.
Viria a falecer no dia 17 de Outubro de 1972, na freguesia de Rouças, neste concelho de Melgaço.

4 - Manuel José Lourenço, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às doze horas da noite do dia 10 de Janeiro de 1895 no lugar de Perzes, freguesia de Santa Marinha de Rouças deste concelho de Melgaço, filho de José Manuel Lourenço e de Joaquina Roza Eanes.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador na referida freguesia de Rouças.
Embarcou em Lisboa, no Cais de Alcântara, com destino a França integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho.
São muito escassos os dados sobre o percurso deste soldado durante a guerra. Apenas encontramos registado que baixou à Ambulância nº 5 em 11 de Março de 1918 e foi evacuado para o Hospital de Sangue nº 1no dia 13 do mesmo mês.
Viria a sobreviver a este conflito armado, tendo embarcado no Porto de Cherbourg (França) com destino a Portugal em 16 de Abril de 1919 e viria a desembarcar em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 19 de Abril de 1919.
Após voltar da guerra, viria a casar com Roza Fernandes, natural da freguesia de Rouças, em 27 de Agosto de 1922.
Viria a faleceu às 8 horas da manhã do dia 25 de Setembro de 1967, na freguesia de Rouças, concelho de Melgaço.

5 - António Pires, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às duas horas da manhã do dia 8 de Julho de 1894, filho de pai incógnito e Dolores Pires, natural do lugar do Paço, Rouças, deste concelho de Melgaço.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no referido lugar do Paço, na freguesia de Rouças.
Embarcou para França, no Cais de Alcântara, em Lisboa, em 22 de Abril de 1917, integrado no Corpo Expedicionário Português, tendo pertencido à famosa Brigada do Minho, sendo portador da chapa de identificação nº 49 837. Desembarcou no Porto de Brest (França), juntamente com a sua unidade.
Já no cenário de guerra, em França, sabe-se que foi punido em 16 de Setembro de 1917 “pelo Comandante da Companhia com 10 dias de detenção por não apresentar a bolacha de ração de reserva que lhe havia sido distribuída com a recomendação expressa de não a comer sem autorização, recomendação esta que foi feita por um oficial antes de marchar para as trincheiras da 2ª Brigada de Infantaria e na ocasião da distribuição”.
Foi dado como desaparecido em combate durante a Batalha de La Lys 9 de Abril de 1918. Contudo, por comunicação da Comissão de Prisioneiros de Guerra, chegou a informação que, na realidade, tinha sido feito prisioneiro pelos alemães durante as hostilidades e levado para o Campo de Prisioneiros de Friedrichsfeld, na Alemanha, tendo sido libertado após o fim do conflito em Novembro de 1918.
O soldado António Pires encontrava-se presente no Porto de Embarque em 20 de Dezembro de 1918, a aguardar o repatriamento para Portugal. Viria a embarcar na Holanda, em porto que se desconhece, com destino a Portugal, no navio inglês "Northwestern Miller" em 12 de Janeiro de 1919, tendo chegado a território nacional e desembarcou em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 18 de Janeiro de 1919.
Após voltar da guerra, viria a casar com Delfina Alves em 17 de Abril de 1930.
Faleceu na freguesia de Rouças, neste concelho de Melgaço, no dia 31 de Outubro de 1967.

6Emílio Augusto Veloso, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às quatro horas da manhã do dia 24 de Junho de 1894, filho de pai incógnito e Maria Veloso, natural do lugar do Cabreiros, freguesia de Rouças, deste concelho de Melgaço.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no referido lugar do Cabreiros, na dita freguesia de Rouças.
Embarcou para França, no Cais de Alcântara, em Lisboa, em 15 de Abril de 1917, integrado no Corpo Expedicionário Português, tendo pertencido à famosa Brigada do Minho, sendo portador da chapa de identificação nº 49 670. Desembarcou no Porto de Brest (França), juntamente com a sua unidade.
Quase nada se conhece acerca do seu percurso durante a guerra. Apenas se sabe que já perto do fim da guerra, foi “aumentado ao efetivo do Batalhão de Infantaria nº 22 e à Formação com o nº 160 em 30 de Outubro de 1918”.
Sobreviveu à guerra. Viria a ser repatriado, juntamente com o Primeiro Batalhão de Infantaria, e embarca no Porto de Cherbourg (França), com destino a Portugal, em 25 de Maio de 1919, tendo chegado a território nacional e desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 28 de Maio do mesmo ano.
Após voltar da guerra, viria a casar com Cândida Augusta Afonso em 6 de Fevereiro de 1929.
Faleceu na freguesia de São Vítor, no concelho de Braga, no dia 18 de Março de 1969.

sábado, 7 de julho de 2018

A capela de S. Bento. na Várzea Travessa (Castro Laboreiro)




Entre as várias capelas que podemos encontrar na freguesia de Castro Laboreiro, figura a capelinha de São Bento no lugar da Várzea Travessa. A sua construção remonta ao século XVIII e a razão evocada para a sua edificação é bastante curiosa.
Assim, em 1744, a 25 Junho, o padre Domingos Álvares, morador no lugar de Várzea Travessa, da freguesia de Castro Laboreiro, pede autorização para fazer uma capela nesse lugar, pondo-lhe "por fábrica o seu Barbeitto chamado de Paradella", por “estar distante da igreja um quarto de légua e devido ao facto de no inverno a enchente dos rios fazer com que possa dizer missa nos lugares, bem como os vizinhos de as ouvir, por não poderem ir à igreja”. Em 1745, a 28 Janeiro, o pároco Simão da Ribeira, Reitor da freguesia de Castro Laboreiro, certifica que o lugar onde o suplicante pretende erigir a capela tem “36 vizinhos e 84 pessoas de sacramento”. Além deste, estão "outros seis lugares ao redor deste com alguma distância da sede paroquial um quarto de légua e tem três regatos entre eles e a igreja, que vindo invernos rigorosos se não podem passar pelo perigo, sendo por isso muito necessário a dita capela para administração de sacramentos". Data de 27 de Abril desse mesmo ano, o instrumento de dote para a fábrica da capela com a propriedade de “Barbetto de Paradela, no lugar da Varge, a qual leva dois alqueires de centeio e que rende mais de $500”. O suplicante quer edificar a capela “para nela colocar a imagem de São Bento”. De 24 de Julho, data a licença do Bispo D. Eugénio Boto da Silva para o padre Domingos Álvares “erigir no lugar de Varge a capela, a qual deve ser feita com decência e perfeição devida, ao moderno com a porta principal para o público”; Em 11 de Agosto, concretiza-se o registo do processo de petição, autorização e dote para a ereção de uma capela no lugar de Várzea Travessa, freguesia de Castro Laboreiro, a pedido do Padre Domingos Álvares, morador no dito lugar.
De 1758, a 11 de Maio, conhece-se a referência à capela de São Bento pelo padre Inácio Ribeiro Marques nas Memórias Paroquiais da freguesia, como sendo da freguesia.
Em 1989, a capela sofre obras de restauro com caráter destoante, procedendo-se ao seu alteamento, abertura do pequeno vão sobre o portal, feitura do coro-alto em betão, e dos nichos da parede testeira.
A capela apresenta planta retangular simples, com cobertura homogénea em telhado de duas águas, rematadas em beirada simples. Fachadas são em cantaria de granito aparente, de aparelho irregular, sobretudo nas fiadas superiores, com as juntas tomadas e pintadas de branco, terminadas em cornija de betão. Fachada principal é virada a norte, terminada em empena, encimada por sineira, rebocada e pintada de branco, com vão em arco, albergando sino com imagem do orago, terminada em empena truncada coroada por cruz latina de cantaria, de braços quadrangulares, tendo por trás cruz latina luminosa mais alta. A capela é rasgada por portal de verga reta, sobre os pés direitos, ladeado por frestas, com grades e rede de arame, e encimado por pequeno vão retangular, com moldura de betão. Fachada lateral esquerda rasgada por porta travessa de verga reta, sobre os pés direitos, e fresta na zona do retábulo-mor, e a oposta cega, tal como a posterior, que termina em empena.
O interior tem espaço a demarcar a capela-mor, com as paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento em mármore e cobertura de betão. Esta capela possui coro-alto, de betão, acedido por escada do mesmo material, com guarda em ferro, disposta no lado do Evangelho. Sobre o supedâneo de um degrau dispõe-se o altar e, na parede testeira, abrem-se três nichos, em granito polido, com arco de volta perfeita, o central sensivelmente maior, albergando imaginária.