sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Quando alguns melgacenses foram socorrer os galegos dos soldados franceses (1809)




As três invasões francesas, ocorridas em princípios do século XIX a Portugal mudariam o nosso país para sempre.
Não existem registos de que as tropas francesas tenham estado alguma vez em Melgaço. Contudo, em 1809, na 2ª Invasão Francesa, as tropas napoleónicas, pretendiam entrar em Portugal atravessando o rio Minho. Começaram por tentar entrar em Caminha, depois em Cerveira e depois ainda Valença enchendo barcas de soldados para atravessar o rio. O plano era ocupar esta última vila. Contudo, todas essas tentativas não foram bem sucedidas. A complicar a vida aos franceses, havia ainda a má relação entre as tropas napoleónicas e as comunidades da Galiza. Um dos episódios mais célebres foi a insurreição dos aldeões na Ponte de Mourentan (Arbo) encabeçada pelo padre Mauricio Trancoso, pároco do Couto, entre outros atos de revolta contra a presença francesa na região encabeçadas por este pároco. Alguns destes episódios, são-nos contados na publicação “Gazeta del Gobierno” espanhol de 17 de Março de 1809, especialmente quando alguns melgacenses foram socorrer os galegos dos soldados franceses:
Lisboa, 28 de Fevereiro - Escrevem de Viana, com data de 20 do corrente, que todo o dia 17 e parte do 18 (de Fevereiro de 1809) atiraram os franceses, posicionados na outra margem do Minho, com canhões de 18 e 24 e apesar de terem acertado em algumas casas, foi sem dano de maior. Vendo que com isto não se atemorizavam, ontem retiraram-se daquela paragem, depois de alguns saques, levando algumas donzelas. Contudo, logo os nossos, havendo observado, juntaram os frades do Convento de São Domingos e uma Companhia de Ordenança da mesma vila, passaram o rio até à margem oposta e trouxeram as duas peças com que os franceses os tinham atacado.
Das fronteiras da Galiza chagaram notícias do dia 20 deste mês, de que em Tui em frente a Vilanova e em Salvaterra havia bastante tropa inimiga, havendo muitos movimentos para entrar no nosso reino (Portugal) em barcas pelo rio Minho. Mas a nossa tropa fez-lhe dura resistência com ações de grande valor.
Acaba de chegar a notícia a Viana por três sujeitos, com testemunhos coincidentes, que no dia 19 em frente a Melgaço na Galiza, desconfiando os franceses dos galegos, começaram a “pasarlo todo á cuchillo”. Os galegos gritavam aos portugueses para eles os fossem socorrer, e estes passaram a toda a pressa num grande número de barcas, obrigando os franceses a retirar-se mais acima, ficando estes com 80 mortos (número certamente exagerado!) e dos nossos, apenas ficou um ferido.”
Em Melgaço, pelos vistos, falava-se que “os franceses eram piores que feras; queimaram uma igreja e alguns lugares em Sacariñas e Muzetan. Temos à nossa vista mais de 60 homens de infantaria e de cavalaria. Acredita-se que se dirigem para Lugo por não poderem realizar os seus intentos de entrar em Portugal”.
As tropas francesas iriam atravessar o rio Minho em Orense e iriam entrar em Portugal pela fronteira de Chaves, a partir de onde iriam avançar para Braga e depois para o Porto. Seriam expulsos pelas tropas portuguesas e inglesas e sairiam por Montalegre em direção a Orense.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Quando o Padre de Melgaço foi desterrado (1923)



A má relação entre o Estado português e a Igreja Católica arrastava-se desde o século XIX e vai-se agravar com a implantação da República em 1910. Muitas das ideias republicanas eram hostis à Igreja Católica e quando é publicada a Lei da Separação do Estado das Igrejas em 1911, a situação torna-se explosiva. Temos que ter em conta que estávamos num país profundamente católico e que a Igreja Católica tinha um enorme ascendente sobre a generalidade da população.
Neste período, as paróquias viram todos os seus bens arrolados e inventariados, sendo todos aqueles que não fossem essenciais ao culto entregues ao Estado. Por outro lado, a Lei proíbe os padres de tomarem posições políticas e de influenciarem o povo em eventos religiosos ou outros. O padre Celestino de Almeida, de Melgaço, em 1923, terá violado essa regra e foi sancionado com um ano de desterro para fora do seu concelho, não podendo permanecer em nenhum dos concelhos limítrofes de Melgaço durante esse tempo. O caso do Padre Celestino levou a uma reação demolidora por parte das estruturas da Igreja Portuguesa através da publicação de um texto no jornal “A União”, Orgão Oficial do Centro Católico Português, movimento ativista católico, na edição de 21 de Janeiro de 1923:

O Caso de Melgaço

Noticiam os jornais que teve já a sua execução o decreto desterrando por um ano do seu concelho e limítrofes, o Pároco de Melgaço, Reverendo Celestino de Almeida. Que as nossas primeiras palavras sejam de saudação ao Sacerdote da Igreja que a inconsciência de uma mentalidade jacobina e formada de errados preconceitos jurídicos e sociais acaba de sacrificar no altar das conveniências políticas, e por culpa de todos nós.
Seja qual for a suposta ou provada culpabilidade do Sacerdote agora castigado à sombra e sobre a égide do iniquo ukasse de 20 de Abril, chamado Lei da Separação, a nossa saudação envolve ne pessoa desse perseguido, todo o nobre clero português, que, a juntar à longa cadeia de martírios e sofrimentos de toda a ordem vindos já de longe, e nestes últimos anos incrivelmente agravados, conta uma violência mais e uma injustiça a cumular às muitas de que infelizmente tem sido vítima.
Cumprindo este dever de saudação e cristã solidariedade, protestamos uma vez mais, indignamente, contra a iniquidade de um lei, que contendo preceitos e disposições injustas e ofensivas dos sagrados direitos de Deus e da Igreja, é, uma afronta permanente aos católicos portugueses, como tais e até como cidadãos.
O poder vem de Deus, disse Leão XIII, e devemos acatá-lo. Mas a legislação vem dos homens e quando é má, cumpre repeli-la e resistir-lhe nobremente.
Repelimos e classificamos de iniqua essa vergonha nacional que é a chamada Lei da Separação. Que o nosso protesto seja sem tréguas. Não confundamos porém o poder, em si legítimo, com a legislação que ele aplica, odiosa e perversa. Urge acabar, derruir essa monstruosidade jurídica que nos vexa e nos afronta.
É no parlamento que se fazem as leis.
No parlamento remos que fazer tombar esse iniquidade.
Vociferando contra o regime? Era deslocar a questão. Não, combatendo lealmente mas fortemente, a sua legislação iniqua e malévola.
Sem faltarmos ao nosso dever de católicos obedientes à voz da Igreja, que nos preceitua acatar, sem pensamento reservado, o poder civil como ele se acha constituído, as opressões legais desapareçam e as afrontas se quebrem nas mãos dos que pretendem impôr-no-las.
Tal o pensamento social e político do Centro Católico. Nenhum ministro em Portugal desterraria párocos e sancionaria com a sua autoridade legal preceitos iniquos de leis afrontosas se, dentro e na sua obediência ao poder constitutivo, uma força indomável tenaz e potente – a dos Católicos organizados sem pensamento político reservado – constituísse no lugar próprio – o Parlamento, a influência da sua ação disciplinada e a ação no seu número esmagador – a sentinela vigilante e segura dos seus direitos e liberdades…
Não é uma ameaça estulta: é fazer História.
É por isso que, perante a iniquidade do desterro do Pároco de Melgaço, uma vez só tem autoridade em Portugal para protestar e nesse protesto ingente ser escutada – a do Centro Católico.
Ao Pároco de Melgaço, pois, a solidariedade e os protestos do Centro Católico Português.
É pouco este protesto?
É o que a inércia e insubmissão dos católicos portugueses à palavra da Igreja, permite que se faça.
A nossa consciência não nos acusa.
Poderão todos os católicos portugueses dizer o mesmo?”
Thomaz de Gamboa.

Mais tarde, o Estado Novo iria inaugurar uma nova fase nas relações entre o Estado e a Igreja Católica aproveitando a influência que esta tinha sobre as populações.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A História da Capela de Santo António do Campo da Feira de Melgaço



A extinta capela de Santo António, ficava situada no antigo Largo do Comércio, ao fundo da atual Praça da República, na vila de Melgaço mas foi demolida no início do século XX. Foi mandada construir por Pêro de Castro, fidalgo melgacense e alcaide-mor da vila, morto na batalha de Alcácer-Quibir e era local de paragem obrigatória das principais procissões organizadas pela Misericórdia.
A sua construção terá começado por volta de 1570 mas apenas foi concluída alguns anos mais tarde já no tempo de Gil Gonçalves Leitão, juiz de fora de Melgaço e provedor desta Santa Casa da Misericórdia. Sabemos que este determinou em 1595 que se terminassem as paredes desta ermida. Estas informações podemos encontrá-las no Livro dos Provedores, onde se lê numa memória posterior de 1597: O Licenciado Gil Gonçalves Leitão juiz de fora que foi nesta vila e provedor que foi nesta casa fez acabar a ermida de Santo António de paredes que havia muitos anos que estava começada por ordem de Pêro de Castro, alcaide-mor desta vila”.
Foi já com outro provedor em funções, também juiz de fora, António de Távora, que a capela foi concluída, logo depois de uma pequena festa organizada por sua esposa, Dona Maria de Anciães, para comemorar o dia do batizado de seu filho Jerónimo em 16 de Janeiro daquele ano de 1600, festa que marcou pela roda de fidalgos amigos reunidos à sua volta. Nessa altura, o carpinteiro tinha-lhe dito que o retábulo da capela estava terminado mas para o santo sacrifício, faltavam os últimos retoques. Urgia dar-lhos e não desperdiçou tempo.
Em 16 de Fevereiro de 1600, reuniram-se os irmãos nobres Gonçalo Rodrigues de Araújo, escrivão e tabelião, o comerciante Henrique Coronel, Estevão d’Amorim, sargento-mor das Ordenanças, Manuel da Cunha, para quem tinha sempre um gracejo por causa dos compadrios, Manuel Ribeiro, casado com Isabel Gomes, morador em Eiró e secretário da Câmara e João Gomes Ribas, mercador e homem de grandes negócios ao tempo e os irmãos mecânicos João Dias, Pero Gomes, António Martins, Gonçalo Coelho, o carpinteiro Álvaro Vaz e Gaspar Rodrigues Pereira, alfaiate e então deixam escrito para memória futura “assentou-se em mesa que por a Casa de Santo António do campo da feira ser anexa a esta Casa é esta consertada e ordenada para nela se dizer missa e sagrar Francisco Soares, abade na vila, o capelão desta Casa e provedor e mais irmãos abaixo assinados em seu nome e dos que em diante foram ditos que eles se obrigavam com as esmolas da dita casa a fabricar todo o necessário à fábrica da dita igreja de Santo António e isto com declaração que não chegando as esmolas desta casa, a dita fábrica se obriga a tudo satisfazer de suas fazendas e o irmão que for do mês será obrigado a arrecadar as esmolas que aí se derem para todo o ano; cada irmão seu mês para as dar para as dar aos tesoureiros da dita casa que agora e em diante forem e sendo necessário fazer nesta caso escritura pública se obrigavam a fazer logo para o qual requereram ao arcebispo a licença de se dizer missa na dita capela”.
O Sargento-mor Estevão d’Amorim deixou um relato da festa da benção da pequena ermida em 27 de Março de 1600, que era segunda-feira da semana santa. Nele pode ler-se: ”Aos vinte e sete do mês de Março do ano de mil e seiscentos anos nesta Casa da Santa Misericórdia desta vila de Melgaço onde estava o provedor e irmãos em cabido com campa tangida se levou desta Casa da Santa Misericórdia se levou o bem-aventurado Santo António com procissão a sua Casa que para ele estava fabricada no Campo da Feira por ordem da dita Casa no qual dia acima se disse a primeira missa cantada com licença do Vigário Geral desta Comarca como dela e dos papeis consta que estão no Cartório desta Casa de que mandou fazer este assento para todo o sempre constar desta verdade e assinaram estando presente o senhor abade Francisco Soares…”
Para o culto de Santo António mais uma capela se construíra e esta foi a primeira a erigir-se no nosso concelho ao santo de quem o juiz de fora era tão devoto, que aproveitando a animosidade dos almocreves, por serem obrigados a fazer o papel de diabretes nas procissões do ano, conseguiu comutar aquele jogo numa confraria instituída na dita ermida, em honra do glorioso Santo António, com duas missas em cada mês, o que se fez com consentimento dos vereadores de então.
Contudo, já durante a segunda metade do século XVIII, esta capela encontrava-se num estado bastante degradado. O arrefecimento da devoção a este santo veio com o rodar dos tempos e a consequência do facto foi o desinteresse de todos pela capela. Em 1773, ameaçava ruína e por isso «dentro dela se anda rectificando e se lhe faz um grande acrescentamento», registou o Padre Manuel da Ribeira, abade da vila de Melgaço.
No ano confrarístico de 1842-1843, gastou a Misericórdia mais de duas dezenas de escudos na compra de barrotes para o telhado desta capelinha e o conserto do mesmo. Sabemos porém que nos princípios de 1854 estava «em partes completamente arruinada e até próxima a ir a terra».
Dado o seu delicado estado de conservação, em 1867 foi decretada pela Câmara a sua demolição. Contudo, este pequeno templo apenas seria demolido no início do século XX.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

"FESTA CRASTEJA" no programa A PRAÇA - RTP1 (16/08/2018)



Os costumes das gentes de Castro Laboreiro estiveram hoje em destaque no programa "A Praça" na manhã da RTP1.
Veja ou reveja o excerto do programa no vídeo abaixo!


sábado, 11 de agosto de 2018

Melgacenses que combateram na Primeira Grande Guerra - Os Expedicionários das freguesias de Fiães, Paços, Cubalhão e Gave



Foi há pouco mais de 100 anos que os primeiros soldados do contingente que Portugal enviou para combater em França na I Guerra Mundial chegaram à Flandres.
Com base nos dados de que disponho, de Melgaço, partiram para a Flandres, 73 homens, oriundos das diversas freguesias. Estes homens foram autenticamente “roubados” às suas vidas e obrigados a ir para uma guerra para a qual não estavam preparados. Paderne, com 14 homens, Penso, com 12 homens e Vila, com 14 homens são as freguesias melgacenses que mais contribuíram em termos de número de efetivos. Porém, hoje homenageamos os soldados naturais de Fiães, Paços, Cubalhão e Gave. De cada uma destas freguesias, partiu um soldado para esta guerra horrenda. Eles foram João José Pires (lugar de Outeiro, Paços), Justino Pereira (lugar de Cima, Cubalhão), José Fernandes (lugar de Pousafoles, Fiães) e Abílio Alves de Araújo (lugar de Sobreira, Gave).


CUBALHÃO


1 - Justino Pereira, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão).
Nasceu às seis horas da manhã do dia 17 de Junho de 1895, no lugar de Cima, da freguesia de Cubalhão, filho de António Pereira e Maria Esteves.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no referido lugar de Cima da freguesia de Cubalhão, neste concelho de Melgaço.
Embarcou em Lisboa, no Cais de Alcântara, com destino a França em 15 de Abril de 1917 integrado no Corpo Expedicionário Português, onde pertenceu à célebre Brigada do Minho, portador da chapa de identificação nº 49 544.
Esteve envolvido na Batalha de La Lys, integrado na 4ª Brigada de Infantaria do Corpo Expedicionário Português em 9 de Abril de 1918. Nesse dia, foi dado como desaparecido em combate nessa mesma batalha. Contudo, posteriormente, por comunicação da Comissão de Prisioneiros de Guerra, soube-se que tinha sido feito prisioneiro pelos alemães durante a referida batalha e levado para o Campo de Prisioneiros de Merseburg (Alemanha), que se localiza a cerca de 150 Kms a noroeste da cidade de Dresden, onde ainda se encontrava em 20 de Novembro de 1918. Depois de finalizar o conflito em Novembro de 1918, foi libertado e embarcou em porto desconhecido no dia 28 de Dezembro de 1918, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara, no dia 3 de Janeiro de 1919.
Após regressar da guerra, viria a casar com Maria Alves, natural da freguesia de Cristoval, concelho de Melgaço, no dia 14 de Abril de 1919.
Viria a falecer às 12 horas do dia 12 de Março de 1959, na freguesia de Cristoval, neste concelho de Melgaço.


FIÂES


1 – José Fernandes, 2º Sargento do Regimento de Cavalaria 11, 1º Esquadrão.
Nasceu às três horas da tarde do dia 9 de Maio de 1894, filho de Manuel José Fernandes e Maria do Carmo Domingues, natural do lugar de Pousafoles, freguesia de Santa Maria de Fiães, concelho de Melgaço.
À época de partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no dito lugar de Pousafoles, da freguesia melgacense de Fiães.
Embarcou em Lisboa, no Cais de Alcântara, com destino a França em 20 de Janeiro de 1917, integrado no Corpo Expedicionário Português.
Não conhecemos muito do percurso deste soldado durante a guerra. Já no cenário de guerra em França, em 8 de Julho de 1917, integrou uma diligência à 2ª Secção do Trem Divisionário, onde ainda se encontrava adido no dia 29 de Novembro desse mesmo ano. Em 8 de Dezembro de 1917, por ordem do comando da 2ª Divisão do Corpo Expedicionário Português, foi apresentar-se na sua unidade que à data era o 1º Grupo de Metralhadoras.
Sabemos que passou ao Depósito de Pessoal de Metralhadores Pesadas em 4 de Maio de Maio de 1918 “por ter sido suprimido o 1º Grupo de Metralhadoras”, unidade em que estava integrado à data.
Em 20 de Junho de 1918, baixa ao hospital, tendo tido alta no dia 30 do mesmo mês. No dia seguinte, a 1 de Julho, seguiu para o 3º grupo de Metralhadoras, unidade em que permaneceu até ao dia 10 de Setembro. Nesse dia, foi transferido para o Depósito de Infantaria.
Sobreviveu à guerra, tendo embarcado no Porto de Cherbourg (França) com destino a Portugal e desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 10 de Setembro de 1918.
Após regressar da guerra, viria a casar em Lisboa com Maria da Soledade no dia 7 de Julho de 1935.
Viria a falecer no dia 20 de Fevereiro de 1975, na freguesia da Lapa, cidade e concelho de Lisboa.


PAÇOS


1 - João José Pires, soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão).
Nasceu às duas horas da tarde do dia 28 de Abril de 1895 no lugar do Outeiro, na freguesia de Santa Maria de Paços, filho de José Joaquim Pires e de Alexandrina Pires.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no dito lugar do Outeiro, na freguesia de Paços.
Embarcou em Lisboa, no Cais de Alcântara, com destino a França, integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à célebre Brigada do Minho.
Dispomos de poucas informações quanto ao percurso militar deste soldado durante o conflito. Já no cenário de guerra, na Flandres (França), sabemos que baixou ao Hospital de Sangue nº 1 em 17 de Agosto de 1917.
Combateu na Batalha de La Lys a 9 de Abril de 1918. Foi dado inicialmente como desaparecido durante as hostilidades, tendo sido, mais tarde, dado como morto em combate na referida batalha no dia antes citado.
Encontra-se sepultado no Cemitério de Richebourg l`Avoué (França), Talhão C, Fila 10, Coval 5.


CUBALHÃO


1 - Justino Pereira, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão).
Nasceu às seis horas da manhã do dia 17 de Junho de 1895, no lugar de Cima, da freguesia de Cubalhão, filho de António Pereira e Maria Esteves.
À data da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador no referido lugar de Cima da freguesia de Cubalhão, neste concelho de Melgaço.
Embarcou em Lisboa, no Cais de Alcântara, com destino a França em 15 de Abril de 1917 integrado no Corpo Expedicionário Português, onde pertenceu à célebre Brigada do Minho, portador da chapa de identificação nº 49 544.
Esteve envolvido na Batalha de La Lys, integrado na 4ª Brigada de Infantaria do Corpo Expedicionário Português em 9 de Abril de 1918. Nesse dia, foi dado como desaparecido em combate nessa mesma batalha. Contudo, posteriormente, por comunicação da Comissão de Prisioneiros de Guerra, soube-se que tinha sido feito prisioneiro pelos alemães durante a referida batalha e levado para o Campo de Prisioneiros de Merseburg (Alemanha), que se localiza a cerca de 150 Kms a noroeste da cidade de Dresden, onde ainda se encontrava em 20 de Novembro de 1918. Depois de finalizar o conflito em Novembro de 1918, foi libertado e embarcou em porto desconhecido no dia 28 de Dezembro de 1918, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara, no dia 3 de Janeiro de 1919.
Após regressar da guerra, viria a casar com Maria Alves, natural da freguesia de Cristoval, concelho de Melgaço, no dia 14 de Abril de 1919.
Viria a falecer às 12 horas do dia 12 de Março de 1959, na freguesia de Cristoval, neste concelho de Melgaço.


GAVE


1 - Abílio Alves de Araújo, 1º Cabo  do Regimento de Infantaria nº 29, 4ª Brigada de Infantaria (Brigada do Minho), 2ª Divisão do CEP.
Nasceu às dez horas do dia 12 de Julho de 1897 no lugar de Sobreira, freguesia da Gave, filho de João Manuel de Araújo e Maria Joaquina Alves. À data da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro e era morador na freguesia de Oliveira, no concelho de Arcos de Valdevez.
Embarcou para França em 22 Abril de 1917, integrado no Corpo Expedicionário Português, portador da chapa de identificação nº 46 998, onde pertenceu à célebre Brigada do Minho.
Combateu na batalha de La Lys no dia 9 de Abril de 1918, onde é dado como desaparecido em combate. Posteriormente, por comunicação da Comissão de Prisioneiros de Guerra, verificou-se que constava entre aqueles que tinham sido feitos prisioneiros pelos alemães. Dali foi levado para o Campo de Prisioneiros de Friedrichsfeld (Alemanha).
Depois do fim da guerra, o soldado Abílio de Araújo foi libertado e embarcou no navio inglês "Northwestern Miller", na Holanda, em 31 de Janeiro de 1919, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara, de 4 de Fevereiro de 1919.
Após regressar da guerra, viria a casar com Amélia da Conceição Guerra em Ponte de Lima no dia 18 de Fevereiro de 1920.
Viria a falecer em Arcos de Valdevez (Salvador) no dia 12 de Abril de 1989.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A revolta das mulheres de Chaviães (Melgaço, 1885)



Desde tempos antigos que os enterros se faziam dentro das igrejas. Em 1844, é decretada, em Portugal, a proibição dos enterros nas igrejas, uma lei que provocou a fúria entre as populações, particularmente no Minho e que motivou a revolta da “Maria da Fonte”, em Póvoa de Lanhoso.
Em Melgaço, em 1885, apesar de terem passado mais de 40 anos depois da publicação do decreto, as populações reagiam com muita relutância à proibição dos enterros nas igrejas. Temos registos que provam que em alguns funerais, as populações tentaram desobedecer à lei e forçar enterros dentro dos templos. Em 1885, em Chaviães, no funeral de um tal António Jachinto Gonçalves, do lugar da Igreja, houve momentos de muita tensão e revolta. Um grupo de mulheres revoltadas, elas próprias munidas de enxadas, ferros, etc, abriram a cova e sepultaram o ente-querido dentro da igreja, tendo o padre feito queixa delas às autoridades locais. Leia o que diz o assento de óbito no livro paroquial, lavrado pelo pároco de Chaviães à época, Bernardo Passos:
Aos dezasseis dias do mês de Maio do anno de mil oitocentos oitenta e cinco, na caza de sua morada do logar da Igreja festa freguesia de Chaviães, concelho de Melgaço, Diocese de Braga, faleceu, tendo recebido os sacramentos da Santa Madre Igreja, um individuo do sexo masculino, por nome António Jacintho Gonçalves, de idade de cincuenta e oito annos cazado com Maria Manuella Alexandra, o qual fez testamento, não deixou filhos e foi sepultado dentro da igreja desta freguesia por causa da revolta de mulheres que, invadindo o templo munidas de enxadas, ferros, etc, obstaram ao enterramento fora da mesma igreja, e aqui abrirão ellas mesmas a cova e sepultaram o cadáver, dando eu disto mesmo parte à autoridade administrativa em meu offício de 19 do mesmo mês de Maio...”
Não foi caso único em Melgaço. No ano seguinte, em 1886, às 8 horas e 30 minutos do dia 15 de Fevereiro na igreja matriz de Melgaço, houve um outro episódio de grande tensão. Era um funeral de um homem natural de Prado. Um grupo de mulheres cavaram um buraco na igreja para sepultar o defunto mesmo contra a lei. O administrador do concelho tentou impedi-las de concretizar os intentos. Foi cuspido, pontapeado, sovado e escorraçado pelo mulherio. Mandou chamar os soldados. O que se passou de seguida, foi bastante feio. Encontramos tudo contado numa notícia do jornal espanhol “El imparcial”, na sua edição de 25 de Fevereiro de 1886:


Un motim de mujeres
A las ocho y media de la mañana del 15 del corriente, celebrábase en la iglesia parroquial de Melgazo (Portugal) un oficio fúnebre por el alma de un hombre. El cadáver de este se hallaba sobre el túmulo levantado en el templo, y en el templo multitud de mujeres amigas o vecinas del finado.
una señal convenida, doce de ellas se colocaron al rededor del féretro como para darle guardia de honor, mientras otras, valiéndose de tablas y otros instrumentos comenzaron á cavar la fosa que que había de ser enterrado el cadáver.
Enterado el alcalde de lo que en el templo ocurría, se dirigió allí acompañado por algunas personas; pero las mujeres comenzaron á bofetadas y á palos con ellos hasta que los hicieron retroceder. Volvieron á la carga y pudo entrar en la iglesia él alcalde, quien, metido dentro de la fosa abierta, invitó á las mujeres á que se retirasen y dejasen que el muerto fuera enterrado en el cementerio como prescriben las leyes.
Nueva lluvia de bofetadas, mordiscos y tirones de pelo cayó sobre el infeliz alcalde, quién, viendo que era imposible por la fuerza de la razón dominar y convencer á aquéllas furia, apeló a la razón de la fuerza para conseguirlo y mandó llamar á 14 soldados y un sargento.
«Soldados — dijo el sargento, — no tirar contra las mujeres; servirse unicamente de las culatas de las carabinas en caso necesario.»
Aquéllas, más que mujeres demonios, lanzáronse furiosas sobre los soldados, á quienes mordieron, arañaron y patearon. Unas cuantas arrastraron el féretro hacia la fosa, y como á favor de esta horrible contusión habían entrado en la iglesia algunos hombres, uno de éstos, padre del muerto, agarró uno de los santos del altar, y sin considerar el sacrilegio que cometía, furioso lo dejó caer sobre la cabeza del sargento, cuya sangre manchó la cara de la sagrada imagen.
Desde este momento el tumulto adquirió ya serías proporciones, porque en él tomaron parte los hombres armados con palos, hoces y revólveres.
Sonó un tiroy uno de los soldados cayó á tierra herido gravemente en la cabeza, y otro soldado también fue herido por una pedrada en la cabeza.
Entonces el sargento reclamó y obtuvo del alcalde permiso para proceder con energía y hacer uso de las armas. Se hizo una descarga al aire, y esto exasperó a las mujeres, que gritaban furiosas: “Tiran con pólvora seca! A ellos! A ellos!”.
En una nueva arremetida, las mujeres fueron hacia ellos en actitud amenazadora, y entonces se oyó la voz de “Fuego”, alcanzando esta vez, las balas á un infeliz que iba á sacar del tumulto a su mujer, quien cayó muerto en el acto, y á otros varios que fueron heridos, entre los cuales estaba la mujer que aquel desgraciado iba a buscar.
Como los soldados tiraban á dar, el tumulto fue cediendo hasta que se pudo dar sepultura al cadáver en el cementerio.”


Fontes consultadas:
- Livro Paroquial de Assentos de Óbitos da Paróquia de Chaviães (1866 – 1905);
- Fonte: Jornal "El imparcial", edição de 25 de Fevereiro de 1886, ano XX.