“Contando aos mais novos e lembrando-o aos mais velhos”
PÓRTICO
Com os meus amigos
aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma
vez atingidas,
O
caçador não repare na sua queda
Daniel Faria
In “A casa dos Ceifeiros”
Dr.
Júlio Lurdes Outeiro Esteves – Médico
Era eu um jovem adolescente quando, no
dia 7 de Maio de 1959, com apenas 51 anos idade, completados no dia anterior, morreu
em S. Gregório o Dr. Júlio.
Apesar da minha pouca idade na altura
da sua morte – 15 anos – e da ausência a que me obrigavam os estudos, que só
era interrompida nas férias escolares, cedo me habituei a sentir e a ver nele
uma personalidade de referência não só na vida de Cristóval, mas também de
Melgaço. Direi mesmo da Região, como pude constatar por informações recolhidas.
É por esta razão que, num misto de saudade
e orgulho por ter tido privilégio de com ele ter convivido, “ouso” recordá-lo
aqui e agora.
Sei que não vai ser tarefa muito fácil
porque estou certo que não vou conseguir transmitir a verdadeira dimensão de
uma personalidade que – quer se queira quer não – deixou marcas que, pela sua
importância, merece bem ser recordado, direi mesmo, perdoem-me a imodéstia, que
merecia bem mais SER PERPETUADO.
Fiel aos mais elementares princípios
de objectividade vou procurar mostrar, se para tal tiver “engenho e arte”, quem foi este Melgacense Ilustre.
Júlio de Lurdes Outeiro Esteves, de
seu nome completo, havia nascido também em S. Gregório – Cristóval, no dia 06
de Maio de 1908.
Filho de António Alberto Outeiro
Esteves e de Luisa Teresa de Sousa Viana, cresceu num ambiente familiar onde se
cultivavam valores que os tempos quase fizeram cair em desuso.
Concluiu a sua Licenciatura em
Medicina na Universidade do Porto em 1933 e especializou-se em estomatologia –
odontologia.
Quase de seguida fixou – se no
Concelho de Melgaço passando a residir no lugar de S. Gregório, freguesia de
Cristóval, donde, com se disse, era natural.
A sua actividade não se confinou à prática
da medicina que exerceu, nas condições que hoje serão fáceis de adivinhar bastando
para tal que nos lembrarmos que isso aconteceu nos anos de 30 a 50. Com consultórios em
S. Gregório, em Melgaço e em Monção, nunca deixou de fazer serviço domiciliário
sempre que para tal era solicitado.
Dizem-me os mais velhos, que com ele
privaram de muito perto, que nunca se poupou a sacrifícios e tais eles eram que
a sua saúde foi grandemente afectada por isso e, ainda, que a sua forma de
exercer a medicina lhe mereceu o nome de “médico dos pobres”.
O certo é, também, que não se lhe
conheceu fortuna resultante do exercício da sua actividade enquanto médico ou
das outras funções que ao longo da vida desempenhou.
Deixou o seu nome ligado a diversas
instituições, não só do Concelho com até do Distrito.
Foi um dos que, há precisamente
sessenta anos que hoje se completam, ajudou a fundar a “VOZ DE MELGAÇO” onde desempenhou funções de chefe da redacção
durante algum tempo.
Exerceu o cargo de Presidente da
Câmara Municipal de Melgaço desde Dezembro de 1956 até Novembro de 1957. Foi
curto o seu mandato, porque a sua saúde débil, não lhe permitiu que continuasse
e até o forçou a recusar cargos políticos mais elevados já que o seu prestígio
político era grande não só no Concelho como até no Distrito.
Numa altura particularmente difícil
para Santa Casa da Misericórdia de Melgaço, cujo hospital estava em riscos de
fechar, aceitou ser seu Provedor em 1945 e aí se manteve até à sua morte.
Este desafio foi-lhe lançado por outro
ilustre Melgacense – o Dr. Augusto César Esteves – a quem lhe caberia
substituir no cargo.
Não o aguardava tarefa fácil, ele
estava consciente disso, mas, com o seu espírito empreendedor e a sua
dedicação, deitou mãos à obra e conseguiu levar por diante aquele projecto da
Santa Casa da Misericórdia.
Para angariar os fundos que lhe
permitiram alcançar os objectivos que se propôs, valeu-se não só dos Amigos,
mas também conseguiu reunir à volta do seu projecto todo o Concelho que
respondeu, quase em uníssono, através de uma participação activa das mais
diversas maneiras e, muito particularmente, nos vários cortejos de oferendas que,
para o efeito, foram organizados.
Destes, recordo um, talvez o último,
onde a Freguesia de Cristóval se fez representar com um enorme cisne branco e
nos diversos carros se via de tudo. Os contributos eram dos mais variados desde
réstias de cebolas a árvores cujos “frutos” eram chouriços e salpicões ou notas
de 20$00… e, se a memória não me falha, as receitas deste também se destinavam para
obras a levar a cabo no “Asilo Pereira de Sousa em Eiró”.
Sinto que já vai longo este meu texto
e ao mesmo tempo fico com uma certa sensação de frustração por não poder dizer
mais coisas que permitissem mostrar a dimensão deste HOMEM BOM DE MELGAÇO, mas fica-me a satisfação de, falando nele o “Contando aos mais novos e lembrando aos mais
velhos”. Resumindo: “Falando nele”
para que outros o possam vir a estudar melhor
Para concluir, por hoje, deixo esta nota:
O dia em que morreu celebrava a Igreja
a festa da Ascensão que nesse ano calhou a 7 de Maio. Tendo em conta o carácter
e a personalidade do Dr. Júlio, não deixa de despertar uma certa curiosidade e,
porque não, ser motivo para uma reflexão pela coincidência das datas.
A
fechar:
Em dia de aniversário e cumprimentando
fraternalmente todos os seus leitores, aqui deixo os meus parabéns para o
Jornal e votos das maiores felicidades para todos quantos nele trabalham.
Para todos o meu “BEM HAJAM”
Armando
Coelho Rodrigues
Texto gentilmente enviado por Armando Rodrigues a quem muito agradeço a partilha!
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