Em
1931 é inaugurada a luz eléctrica no Peso. O “Notícias” de Melgaço de 17 de
Maio daquele ano relata a instalação da electricidade em vários prédios desta
estância: 500 lâmpadas no Hotéis Rocha, Quinta do Peso e filiais, no Parque e
avenidas da empresa das Águas. Anunciava a inauguração para os primeiros dias
de Junho sendo a energia fornecida pela Companhia do Tambre com sede na vila de
Noia, província da Corunha, Espanha.
Amiudadas
vezes faltava a luz, como refere o correspondente no Peso daquele jornal: “É raríssima
a noite em que nesta localidade se conserve a luz eléctrica toda a noute sem
por vezes se apagar, o que causa grandes prejuízos não só à casas particulares,
como aos hotéis, casas de pensão e casas comerciais… Assim é que os hoteleiros
e casas de pensão são obrigados a ter em depósito em sua casa de caixas de
velas”.
O
emprego da electricidade possibilitou a que se fizessem no balneário aplicações
de diatermia, para o que foi adquirido um aparelho; ampliou-se também a secção
de banhos carbo-gasosos. O balneário ficou provido de um serviço completo de
banhos de imersão, carbo-gasosos, duchas escocesas e sub-aquáticas. Em 1935
começou a direcção clínica “a empregar sistematicamente as curvas glicémicas
como meio de investigação dos efeitos das águas na diabetes”.
Foram
também anos em que se procurou dotar os aquistas de meios de diversão tendo-se inaugurado
em 1931 o campo de ténis.
“Com
maior frequência o Parque, o Pavilhão das Águas, os salões dos hoteis se
animaram com as galas de iluminações nocturnas, as harmonias de bandas de
música e orquestras, a elegância dos bailes e a alegria das quermesses. Era a
beneficência, o melhor incentivo das festas, segundo as boas tradições das
estâncias portuguesas. Contribuir para a filial que a Associação Protectora dos
Diabéticos Pobres, em 1931, instalou no Peso, contribuir para o hospital da
Misericórdia de Melgaço, contribuir para os pobres, tornou-se pretexto para amiudadas
festas”.
Em
28 de Agosto de 1932 o Notícias de Melgaço descrevia assim a animação na
estância: “As 9 horas da manhã deu entrada no Peso a afamada Banda dos
Bombeiros Voluntários de Melgaço, com um primoroso passo dóbli e depois de
executar várias peças do seu vasto reportório no Parque do Grande Hotel
Ranhada, dirigiu-se para o parque das Águas, e aí permaneceu até à noute, tendo
início dentro do Pavilhão das Águas e fora, um concorridíssimo baile que se
prolongou até às três horas do dia 29. Durante a tarde houve jogos
variadíssimos e diferentes divertimentos. A ordem era mantida por uma patrulha
de marinheiros fardados e devidamente armados, comandada pelo Sr. E.P. de
Mendonça, que devido à boa educação de todo o povo que foi assistir a estes
festejos, não foi alterada a ordem da força acima referida”.
Três
dias depois houve, no Peso, um outro baile, “por iniciativa de alguns hóspedes
no Grande Hotel Ranhada e realizou-se a convite, visto encontrarem-se ali as
damas mais distintas não só da vila de Melgaço como também desta localidade. O
baile correu animadíssimo até às 2 horas da madrugada; foi oferecido às damas à
meia noute um explêndido chá. A música constava de um quarteto composto de uma
concertina, violão, flauta e violino, dirigido pelo Sr. Dinis de Brito, que fez
executar com a inteligência e exactidão inumeráveis peças do seu grande
reportório”.
O
Parque do Grande Hotel do Peso conheceu também noites animadas como a da ‘Festa
da Caridade’ realizada em 17 de Setembro de 1932, “por iniciativa das Ex.mas
Sras. D. Judit Alheas, D. Maria José Nascimento e D. Sara Brou da Rocha Brito
que foi abrilhantada com Iluminação, Bailes, Quermesses, Barracas de chá e
petiscos nacionais servido por gentis senhoras com trajes a carácter. As
Barracas muito originais e de um fino gosto artístico foram obra do Ex.mo Sr.
Lino do Nascimento tendo como auxiliar o incansável Ex.mo Sr. Rocha Brito.
Às
vinte e duas horas, entrou com um primoroso passo doble a banda de Valadares
que depois de dar entrada no seu respectivo coreto, ali se conservou executando
inúmeras peças do seu vasto reportório até às três da madrugada”.
Contudo,
os bailes não compensavam grande parte dos aquistas que se sentiam prejudicados
com os aumentos de preços verificados nos serviços das Termas. O ‘Notícias de Melgaço’
refere-se aos “protestos dos hóspedes que juram não voltar cá mais devido ao elevadíssimo
preço porque lhe fazem pagar a inscrição de banho”. O correspondente daquele
jornal no Peso afirmava: “Não há razão alguma de uma inscrição custar 110$00 quando
em outras termas, em que nada falta ao hóspede, custa menos de metade desta importância.
Não há razão alguma de um enchimento custar um escudo quando é certo que a
maior parte da água mineral corre para o regato”. E concluía:”Temos ouvisto
dizer a vários hóspedes que o que vale ter vindo aqui deve-se à água ter feito
milagres e aos distintíssimos directores clínicos”.
A
fama dos bons serviços termais espalhou-se por todo o País e interessou a
comunidade científica. O complexo do Peso passou a ser visitado por médicos,
como os “diplomados pelo Instituto de Climatologia e Hidrologia, de Lisboa, em
excursão dirigida pelo Prof. Armando Narciso. Nos dias 29 e 30 de Julho de
1939, realizou-se também no Peso um Congresso de Medicina e Desportos
Higiénicos limitados aos diplomados da Escola de Medicina do Porto, do curso de
1931-32”.
Extraído de:
- LEITE, Antero e FERRAZ, Susana - O edifício da Fonte Principal das Termas do Peso (Melgaço). A.C.E.R.-Associação Cultural e de Estudos Regionais, entidade parceira do Projecto Vale do Minho Digital, promovido pela Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho.
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