O
traje típico de Castro Laboreiro é de caraterísticas singulares.
Foi por isso alvo de estudos etnográficos por alguns dos maiores
investigadores na área durante o século XX.
Esta fotografia mostra-nos uma panorâmica da vila castreja em 1915. Onze anos antes, em
1904, já José Leite de Vasconcelos calcorreava os caminhos de
Melgaço até Castro Laboreiro para estudar os costumes castrejos. Em
relação ao traje típico de Castro Laboreiro, faz-nos, no seu
trabalho publicado, uma descrição bastante pormenorizada. Quando
chegou
a Castro Laboreiro, era dia de feira e o investigador
observou “muitos
homens juntos: apresentavam-se geralmente de cara rapada, vestidos de
çaragoça (jaqueta, calças e collete), traziam chapéus de panno ou
carapuça, e varapau. Mulheres, por ser de gado a feira, não andavam
lá muitas. O trajo ordinário d’ellas é: camisa; faxa vermelha;
collete; jaqueta; saia branca; saiote; saia de cor, quási
sempre,preta, feita de foloado «panno de lã de ovelha ou de linho»
que se fabrica em Castro; mandil, singuidalho, do mesmo ou de outro
panno; na cabeça capella, que pode ser substituída por lenço; nas
pernas calções e piúcas, meias sem pés, que se prendem com
uma liga ou baraça; e nos pés chancas.(…) No Inverno, tanto
homens como mulheres, se abrigam das neves, chuvas e friagens com o
corucho, espécie de capuz de burel que se traz na cabeça, e
tem uma espécie de aba que se prolonga pelas costas abaixo."
Entre
outros estudos etnográficos acerca das vestes típicas de Castro
Laboreiro,
é de salientar a obra de Alice Geraldes, publicado em 1979, que nos deixa um excelente
apontamento sobre o traje de noiva típico de terras castrejas. Sobre
o mesmo diz-nos que “a saia era feita de tecido xadrez, da Covilhã. Chegava a ter dois
metros de largura e o comprimento ia até ao tornozelo. A beira da
saia era debruada com uma fita de lã preta, à qual se seguia uma
barra de um palmo de veludilho preto e cima desta uma tira de cetim
da mesma cor. A barra de veludo era contornada com um fitilho de
lantejoulas e vidrilhos.
A
blusa era de castorina de cor escura. apertava à frente com botões
e a manga era comprida. Por cima levava um peitilho em renda.
Algumas
noivas, nem todas, vestiam um casaco de casimira ou saragoça preta,
cujo comprimento não chegava bem à cinta. Aplicava-se-lhe também
como guarnição uma tira de veludilho à volta e outra na ponta das
mangas.
O
"mandil" também preto, ou era de cetim com barra de
veludo, ou de veludo com barra de cetim.
Na
cabeça levavam as noivas um lenço de seda que, segundo a opinião
da nossa informadora, era lindo: dourado, florido com franjas a toda
a volta . Atavam as duas pontas sob o queixo.
Usavam
ainda um xaile de casimira preta com barras às cores de larga franja
tecida. O xaile era simplesmente posto sobre os ombros, sem ser
traçado.
A
saia, que usavam por baixo, era de linho e enfeitada com rendas e
entremeios de crochet.
Ao
pescoço, as noivas traziam um cordão de ouro com 3 ou 4 voltas,
oferecido pelo noivo. Uma das voltas deste cordão passava por vezes
debaixo do braço.
No
dia da boda as noivas usavam sapatos.
(…)
Segundo informações que nos foram prestadas, o primeiro casamento
que se realizou na "Vila" com noiva à moda da cidade, isto
é, sem ser à moda da terra, data de há 12 anos atrás [por
volta de 1967].
Depois deste, o hábito pegou de forma radical e hoje já ninguém
leva o trajo tradicional.
Sobre
a quebra de tal costume, uma jovem na casa dos 19 anos, ainda
solteira, deplorava que o tradicional trajo de noiva tivesse sido
preterido por outro tão incaracterístico e a todos os títulos
menos belo. Acalentava o sonho de ir vestida, se o namorado a isso
não se opusesse, como as noivas antigas da sua terra, porque,
segundo a sua opinião, a modernização não devia destruir o que de
belo havia na vida da sua gente. Era uma moça inteligente, que tinha
noções concretas e muito bem concertadas sobre o valor da cultura
tradicional e do que havia de secundário e essencial nela.”
Extrato
em:
- GERALDES, Alice (1979) - CASTRO LABOREIRO E SOAJO - Habitação, vestuário e trabalho da mulher; Edição do Serviço Nacional de Parque, Reservas e Património Paisagístico, Lisboa.
- LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia M. Cardoso - O Trajo Castrejo. ACER - Associação Cultural e de Estudos Regionais.
- GERALDES, Alice (1979) - CASTRO LABOREIRO E SOAJO - Habitação, vestuário e trabalho da mulher; Edição do Serviço Nacional de Parque, Reservas e Património Paisagístico, Lisboa.
- LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia M. Cardoso - O Trajo Castrejo. ACER - Associação Cultural e de Estudos Regionais.
Sem comentários:
Enviar um comentário