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sábado, 11 de janeiro de 2020

Melgaço descrito há cerca de 150 anos




Há cerca de 150 anos, Melgaço era bastante diferente do atual. Algumas décadas antes, tinha visto o seu território praticamente duplicar com a incorporação das antigas freguesias que pertenciam aos antigos concelhos de Castro Laboreiro e Valadares. No livro “Notícia Histórica das Cidades, Villas e Casas Ilustres da Província do Minho” (1873), Melgaço é descrito nestes termos: “A mais antiga noticia que se encontra da fundação desta villa, data do reinado de D. Affonso Henriques, que em 1170 a mandara povoar, cercando-a duma fortaleza no logar em que outrora existira uma chamada Minho.
Anteriormente a esta noticia, nada se sabe a respeito da povoação que ali existira, e que necessariamente fora praça de guerra, visto ter uma fortaleza ou baluarte.
Esta villa é uma das raias que dividem Portugal da Galliza pelo poente. Foi-lhe dado foral, ao que parece, por D. Sancho II. No entanto o título pelo qual El-Rei D. Sancho I dera a um mosteiro de S. João de Longos Valles bens e coutos, em mercê do assignalado serviço que lhe fizera D. Pedro Pires, prior que então governava o convento, mandando construir à sua custa a torre e fortaleza de Melgaço, parece indicar que fora este monarcha, que mandando reformar a villa lhe dera também foral.
O monarca que mais foros e privilégios concedeu a Melgaço, foi efectivamente D. Sancho II: e por tanto é de crer que fosse elle também quem lhe desse o mais distincto de todos, que é o foral.
D'El-Rei D. Diniz recebeu Melgaço também muitas graças e favores, entre outros o cerca-la de novos muros, e o escolher alcaide para o castello.
Tem Melgaço casa de Mizericordia e hospital, e as egrejas de Santa Maria e S. Paio, que são os edifícios mais importantes da villa: aquella, era apresentada alternadamente pela casa de Bragança e mosteiro de Fiães, e está situada a pequena distância da ermida de Nossa Senhora da Orada, imagem de muita devoção. O templo de S. Paio a que Sandoval chama mosteiro de S. Paio de Paderno, é um edifício curioso pela sua origem: pois segundo alguém pretende pertencera aos árabes, até que a infanta D. Urraca, filha d' El-Rei D. Fernando Magno, o concedera à Sé de Tuy, e ao seu bispo D. Jorge no anno de 1071.
A. rainha D. Thereza, e seu filho D. Affonso Henriques, confirmaram-lhe esta doação na parte a que tinham direito.
Os arrabaldes de Melgaço são férteis em cereaes e pastagens : no rio Minho que a banha, se pescam magnificas lampreias e salmões. Entre as produções de Melgaço é a mais importante, sem duvida, o saborosíssimo presunto.
Nas suas cercanias tem Melgaço muito honrosas casas e quintas, sobresahíndo entre todas as dos Castros e Sousas, tronco de muitas famílias illustres. A população da villa ascende hoje a mais de 2:000 almas e as suas armas são — em campo de prata um Pelicano de sua cor, amamentando os filhos com sangue que tira do próprio peito.”



Extraído de FIGUEIREDO, António Lopes de (1873) - Notícia Histórica das Cidades, Villas e Casas Ilustres da Província do Minho. Typografia Luzitana. Braga.

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