Em 1867, é abolida em Portugal a pensa de morte. Nos séculos anteriores, muitos foram aqueles que, julgados, eram condenados à morte através de enforcamento entre outras formas. Em Melgaço, como noutras terras, havia, desde tempos antigos, uma forca para cumprir as sentenças capitais. Onde ficava? Numa praça central de Melgaço, ou noutro local? O saudoso Padre Bernardo Pintor encontrou, há mais de meio século, num documento antigo do século XVI, uma pista sobre a localização da dita forca em terras melgacenses durante a Idade Média. Atentemos: "Desde
a sua emancipação pelo foral de D. Afonso Henriques, Melgaço teve
os seus juízes e portanto julgamentos, de que necessariamente
resultavam penalidades.
Não
posso desenvolver o estudo da posição judicial de Melgaço através
dos tempos. No reinado de D. Afonso III, aparece-nos como couto
dentro do julgado de Valadares.
No
tempo de D. Dinis, já absorveu todo o termo de Valadares que voltou
a tornar-se independente. Segunda vez, foi anexado Valadares a
Melgaço por D. Pedro I e depois novamente restituído por D.
Fernando à sua autonomia.
Os
de Valadares, termo extenso, não aceitavam de bom grado a justiça
ministrada pelos juízes de Melgaço que era concelho muito pequeno.
Do
que não resta dúvida é que em Melgaço já antes do século XVI
havia uma forca para executar as pessoas à morte. Nós podemos ainda
saber onde ela esteve mas não quer dizer que sempre fosse ali o seu
lugar. A informação é dada pelo Tombo de Rouças, freguesia que
teve preponderância na vida política de Melgaço pelos seus
fidalgos de Eiró. Dali foram os primeiros alcaides que podemos
conhecer pelos documentos do Cartulário de Fiães.
A
vida burocrática dos concelhos nem sempre se desenrolava nos seus
castelos, onde eles existiam. A maior parte das terras nem sequer
tinha castelo, e de muitas não é conhecida a sede de administração
nos tempos medievais.
A
forca dos primeiros séculos esteve em local não muito distante do
Eiró, como no-lo testemunha o Tombo de Rouças elaborado em 1540
sendo pároco e Reverendo António de Castro. Deste Tombo foi tirada
uma certidão em 1651 pelo pároco João Lopes Vilarinho. Dessa
certidão, guardada na Mitra de Braga, foi tirada um pública forma
em 1798 pelo pároco Francisco Lúcio de Sá Sotto-Maior de Amorim
Leones, que se encontra no arquivo paroquial de Rouças, e que eu
agora consultei segunda vez, mercê da boa vontade do pároco atual,
Reverendo António Esteves, dali natural.
No
Tombo se lê que o limite de Rouças “...parte pelo Rio do Porto
arriba, pela água, até ao Porto de Bolegais e dali arriba deste
porto está um marco derriba do que arrincou um Vasco Carneiro,
defunto, o qual marco se furtou de junto da herdade de João
Rodrigues e se levou à parede da Granja do Mosteiro de Fiães, e que
entra pela herdade que quedou de Mendo Álvares dali ao outeiro onde
soia estar a forca...” A palavra “Soia” quer dizer costumava.
Dá a entender que isso havia sido em tempos anteriores e que já não
estava lá nessa à época. A localização desta antiga forca devia
ser ali pelas imediações do antigo colégio externato.
Extraído de: PINTOR, Padre M. A. Bernardo (1975) - Melgaço Medieval. Augusto Costa & Cª Lda. Braga.
Extraído de: PINTOR, Padre M. A. Bernardo (1975) - Melgaço Medieval. Augusto Costa & Cª Lda. Braga.
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