Em
1917 e
1918, viviam-se tempos de muito medo em Melgaço
e na generalidade do nosso país. Em 1917, tinham partido da nossa
terra mais de 70 rapazes para as trincheiras de França para
aí combaterem os alemães. A gente na terra e em especial as famílias
ficam com o coração nas mãos sempre à espera de notícias. Nesses
tempos, a informação demorava a chegar e nem sempre era muito
exata. Procuravam-se diariamente nos jornais, as listas de mortos e
desaparecidos em combate que era publicadas nos jornais nacionais. De
vez em quando lá vinha a notícia de um valente melgacense tombado
em combate que deixava a terra de luto. Por exemplo, podemos ler o
Jornal de Melgaço de 22 de Dezembro de 1917, onde este periódico
nos dá conta da morte do soldado José Maria da Cunha de Chaviães.
Na notícia pode ler-se:
“Sangue
Melgacense
Sangue
melgacense regou já os campos de França.
Na
linha da batalha, no front, e no sector portuguez, um modeste filho
desta terra, José
Maria da Cunha, acaba de sucumbir aos ferimentos recebidos em
combate.
O
seu nome, aureolado da glória que se ganha no campo do Dever e da
Honra, vem escrito no Rol da Honra.
Brioso,
valente, destemido, poucos dias antes tinha sido condecorado com a
medalha de valor militar.
Entre
os seus companheiros, moços bisonhos como ele, distinguira-se pela
sua bravura e pela sua coragem.
Nascera
este brioso soldado na freguesia de Chaviães, deste concelho. Era
filho de Aníbl dos Anjos Cunha e de Felisbela Cândida Alves e
militava em infantaria 3, onde era o soldado nº 659, da 1ª
companhia.
Que
lá em França, onde jaz coberto de louros, a terra lhe seja leve!”
Menos
de um mês depois, podíamos ler no Jornal de Melgaço de 18 de
Janeiro de 1918, a
trágica notícia da morte do soldado Arsénio Gonçalves, da
freguesia de Prado. Na
notícia, pode ler-se:
“Mais
um Bravo
Simples,
muito simples, o ofício do districto de recrutamento nº 3 a
informar-nos, por intermédio da Câmara Municipal, que em França
faleceu em Dezembro do ano findo, o 2º sargento de cavalaria nº 11,
Arsénio Gonçalves, filho de Manuel Luís Gonçalves e de Albina
Rosa Alves, natural da freguesia de Prado, deste concelho.
Tout
court, na sua extrema simplicidade, aquele ofício alguma coisa de
grande, de tocante, nos comunica.
Por
nos informar de uma morte?
Não.
Uma morte a mais, sua alma a menos neste mundo, que importa?
Quantos
mais não morreram ainda?
Nas
terras longínquas da França, longe da Pátria e dos seus, de armas
na mão, defendendo a bandeira verde rubra, quantos mais não
morderam ainda o pó?
Aos
próprios filhos
desta terra, a quem o Dever chamou e que com os seus irmãos de
armas, para França marcharam cheios de fé e com o coração
abarrotado de esperança de voltarem, a quantos ainda não murchará
essa esperança e não desaparecerá essa fé?
A
razão é muito outra...”
Contudo,
quando um ou outro soldado vinha
a Melgaço
passar uns dias de licença à terra, o seu estado, por vezes, gerava
preocupação entre as famílias e as comunidades melgacenses.
Atente-se nesta notícia publicada no “Jornal de Melgaço” de 26
de Janeiro
de 1918:
“Entre
os soldados mortos em França, na luta contra a prepotência alemã,
na guerra contra a tirania do teutões, há soldados que eram filhos
desta terra, que neste lindo rincão do Minho nasceram, daqui
partiram e aqui deixaram família, a carne da sua carne, o sangue do
seu sangue.
Entre
os soldados portuguezes que, lá em França, com o seu sangue heroico
estão escrevendo a página mais linda da História moderna, toda ela
feita de luz e de louros, há soldados filhos de Melgaço, que vão
arruinando a saúde e perdendo o vigor do corpo, há soldados que
d’aqui sahiram chaios de vida e de robustez e hoje aqui se
encontram alquebrados de forças e contaminados pelo germen de
terríveis doenças, adquiridas na vida árdua das trincheiras, ao
troar medonho da artilharia, entre lufadas contínuas de gases
asfixiantes.
Novos,
moços, todos eles sentiam abrir-se-lhes pela existência fora um
futuro risonho, primaveril, cheio de luz e de alvoradas: todos eles,
jisavam no cérebro sonhos cor de rosa e no peito acarinhavam uma
doce esperança duma vida fácil.”
As
notícias trágicas alternavam com aquelas que motivavam a elevação
das gentes melgacenses. Ora, leia-se esta publicada no “Jornal de
Melgaço”, edição de 8 de Dezembro de 1918:
“No
front
Consta-nos
que alguns filhos desta terra, que no front se
batem no sector portuguez, mereceram
dos seus superiores referências elogiosas,
sendo até alguns condecorados pelos seus heroicos feitos.
Desconhecemos
ainda os seus nomes, mas justo é que, se eles tanto se distinguiram,
o povo melgacense conheça os seus nomes, e
por isso vamos investiga-los e talvez no próximo número os
deixaremos já escritos”.
Em 1919, os sobreviventes à guerra voltariam à sua terra mas encontrariam aqui um outro temível inimigo que dava pelo nome de gripe pneumónica. Foram tempos muito difíceis, certamente!
Em 1919, os sobreviventes à guerra voltariam à sua terra mas encontrariam aqui um outro temível inimigo que dava pelo nome de gripe pneumónica. Foram tempos muito difíceis, certamente!
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