O
mapa de Portugal mais antigo conhecido até hoje tem quase 500 anos e
foi elaborado em 1560. O seu autor é o cartógrafo Fernando Álvares
Secco.
Trata-se
de um mapa com um grau de pormenor bastante elevado e onde podemos
encontrar a representação de
diversos lugares e linhas de água. Uma
outra particularidade é que o mapa aparece orientado de forma
diferente daquela a que estamos habituados a ver. Assim o Oeste
aparece posicionado para o topo da página, ou seja, em vez de vermos
Portugal continental posicionado “na vertical” com o norte
voltado para o topo do mesmo, o território aparece-nos numa posição
“horizontal” tal como se pode observar no mapa integral.
Mapa original e integral " A Descrição atual e precisa de Portugal, antiga Lusitânia" de Ferando Álvares Secco (1560) Ficheiro de grande resolução - clique AQUI |
No
mapa, podemos encontrar assinalados diversos lugares de Melgaço e,
além do rio Minho, os traçados dos rios Trancoso e Laboreiro ainda
que não
se
encontrem referidos os seus nomes. O traçado dos dois pequenos
rios
encontram-se, contudo, desenhado com pouco rigor: Por
um lado, o seu traçado é desenhado dentro do território português
e não representam a linha de fronteira como seria o correto. Por
outro lado, no mapa, o rio Trancoso, à época chamado de Ribeira das
Bárzias, é local de desembocadura das águas do rio Laboreiro.
Assim, no mapa, o rio Laboreiro em vez de correr em direção ao rio
Lima, vai encontrar-se com o Trancoso e
as suas águas vão em
direção ao rio Minho. Daqui se nota que o autor do mapa não tinha
o mínimo conhecimento do terreno da nossa região. No mapa, o rio
Laboreiro, além de ser um afluente do Trancoso, é colocado
com a nascente na serra do Soajo.
No
mapa, aparece traçado também o rio Mouro e representada a Ponte do
Mouro. O autor achou importante marcar a localidade onde nasce o dito
curso de água, Lamas de Mouro, mas inscreveu-o com a designação de
“Mouco” em vez de “Mouro”. Aparentemente, parecem tratar-se
de erros de transcrição e não formas arcaicas dos topónimos.
Chamo
à atenção que neste mapa, apesar de aparecerem assinalados vários
lugares dos, à
época,
concelhos de Melgaço e Castro Laboreiro, a vila de Melgaço
não
merece nenhuma referência, ao
contrário da vila castreja.
Também Paderne ou Fiães não aparecem assinalados. Ao contrário,
encontram-se marcados no mapa, próximos do rio Minho, de Oeste para
Este, a Várzea (próximo do Peso, à época era freguesia), Remoães
(no
mapa “Ramoas”), Prado (no mapa “Prados”) e
S. Paio.
Curiosamente,
S. Paio aparece assinalado de forma errada como situado próximo
da
margem do Minho, tal como Remoães e Prado. Este
erro pode ser explicado da seguinte maneira. Durante séculos, as
igrejas de Remoães e Prado eram subordinadas à de S. Paio e por
alguma razão o autor foi induzido em erro colocando S. Paio na
margem do Minho.
No
território do antigo concelho de Castro Laboreiro, além da vila,
aparece representada a
Branda
do Rodeiro. Temos
ainda inscrito
um lugar designado de “Os Viduais”. Não sabemos se o autor se
queria referir ao lugar ao atual lugar do Vido, mesmo sabendo que a
localização não é muito rigorosa.
Aparecem
ainda inscritos no mapa dois outros locais situados, aparentemente em
terras de Castro Laboreiro: “Corvelhe”
(local totalmente desconhecido em terras castrejas nunca citado,
creio, em documentos antigos). Será
algum erro de transcrição e quereria o autor inscrever o lugar da
“Corveira” (forma antiga de “Curveira”)?
O
mesmo tipo de observação podemos fazer para outro local
identificado no mapa como “Carvalher”. Quereria
o autor escrever “Carvalheira”, lugar que se desconhece em
documentos antigos como topónimo em terras castrejas? Ou
estaria a tentar referir-se ao Porto dos Cavaleiros (Cavaleiros),
antigo lugar situado entre Castro Laboreiro e Lamas de Mouro? É mais
plausível esta segunda hipótese mas não passa de uma conjetura.
Uma
última nota para a designação que é dada à unidade de relevo a
que pertencem as terras altas de Melgaço. Hoje em dia, damos nomes
vários às várias
unidades de relevo situadas dentro do atual território de Melgaço
tais como a Serra do Laboreiro, Serra da Peneda ou Serra do Pomedelo.
Tal como podemos ver neste mapa, todas as terras altas, a sul do rio
Minho, dentro dos concelhos (à época) de Melgaço e Castro
Laboreiro são designadas como a “SERA (Serra) DA STRICA”. Essa
designação é replicada em mapas posteriores durante o século XVII
e XVIII.
Parece
ser um equívoco do autor. Na atualidade, ainda temos o sítio e
localidade de Estrica que fica perto de Sistelo, no vizinho concelho
de Arcos de Valdevez. Em mapas do século XVIII e XIX, encontramos a
designação da Serra da Estrica atribuída a uma unidade de relevo a
sudoeste
de
Castro Laboreiro e
dentro de terra arcuenses. Creio contudo que este nome da serra se
encontra em desuso, existindo
contudo o lugar de Estrica.
Uma
última nota para este mapa que não se pretende criticar com
este pequeno apontamento.
Temos que ter em conta que estamos em meados do século XVI e
elaborar este mapa foi certamente uma tarefa monstruosa. Por isso, é
um marco na cartografia em Portugal e é o mais antigo mapa do nosso
país até hoje conhecido.
Hoje,
a arte da Cartografia é incrivelmente mais fácil com todos os meios
que temos ao dispor.
No
tempo de Fernando Álvares Secco tudo era diferente.
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