Após a implantação da República em 5 de Outubro de 1910, os tempos não foram pacíficos. Os monárquicos tentaram, por todos os meios, derrubar o regime republicano. Contudo, os republicanos acabaram, através de uma operação militar, por empurrá-los para o norte do país e daqui para terras galegas. Durante anos, os monárquicos, chefiados pelo General Paiva Couceiro, reagruparam-se na Galiza, junto à fronteira do Minho e Trás-os-Montes, tentando organizar incursões militares em território português com o objetivo de voltar a implantar a Monarquia no nosso país.
No jornal bracarense “Commercio do Minho”, na sua edição de 24 de Outubro de 1911, fala-se na presença de combatentes monárquicos (na notícia, são apelidados de “conspiradores”) perto das fronteira de Melgaço e que tinham sido enviadas para cá tropas:
“Conspiradores desarmados e dispersos
Montalegre, 20 - As forças militares hespanholas desarmaram, na povoação de Sampaio de Araújo, nas faldas do Gerez, 380 conspiradores que alli se encontravam. Alguns não puderam ser desarmados por terem fugido.
Madrid, 20 - Canalejos confirmou que a Guarda Civil, após uma balida de 36 horas, dissolveu uma coluna do Paiva Couceiro, apprendendo muitas armas.
Alguns conspiradores internaram-se em Portugal. O governador respectivo telegraphou dizendo que somente ficaram em Verin sete portuguezes enfermos.
Gerez, 20 - As autoridades hespanholas fizeram dispersar os conspiradores em Sampaio e Lóbios. Paiva Couceiro fugiu em automóvel.
Situação dos conspiradores
Viana do Castello, 21 - Notícias oficiais e particulares de Melgaço informam ter ontem, perto da noite, chegado às povoações hespanholas de Padrenda e Crespos, um bando de cerca de 280 conspiradores armados, ficando acampados à distância de dois kilómetros do posto fiscal de S. Gregório na raia secca, com o objectivo de fazerem uma incursão na madrugada.
Foram tomadas todas as precauções e avisadas as autoridades militares, mandando-se imediatamente reforçar os postos da Guarda Fiscal, ficando sem efeito o regresso ao seu quartel da força de Infantaria 3 da guarnição do Monsão.
Uma força da Guarda Fiscal, Marinha e voluntários, guardaram durante a noite o telegrapho e repartições públicas da villa de Melgaço.
A coluna de Marinha conserva-se ainda em Valença, esperando reforço de metralhadoras e bem assim ordem de avanço.
Até agora não consta quo os conspiradores tenham feito qualquer tentativa de avanço, conservando-se nas suas posições.
As nossas patrulhas vigiam os movimentos dos conspiradores. Por enquanto o sossego é completo em todo o districto.
Viana do Castello, 21 - Chegam notícias de que parte dos conspiradores, acampados em Crespos, tomaram hoje o comboio da manhã, da estação da Frieira, com destino ignorado. Para Melgaço partiram emissários para conhecer as povoações.
Noticias oficiaes da Galliza confirmam o desarmamento de diferentes grupos, em número superior a 600, aprehendendo a cavalaria munições, armamento, trens, etc.
Às cinco horas da tarde passou aqui um comboio especial conduzindo para Valença um esquadrão da Cavalaria 9, que seguiu logo para Melgaço.
A coluna de Marinha da Valença destacou já para Monsão, 80 praças devidamente comandadas, afim de conjuntamente com a infantaria constituir a defesa no Alto Minho.
Vianna do Castello, 21 - Confirma-se oficialmente a dispersão dos conspiradores que estavam em frente de S. Gregório, ignorando-se as localidades onde acamparam e o destino que levaram.
Por informações ali colhidas por pessoa de confiança, sabe-se que uns seis tomaram o comboio para Tuy ou Nieves, entre os quaes iam dois tenentes-comandantes do referido bando de conspiradores, sendo um d’elles o ex-tenente de Caçadores 3, Virgílio da Silva.
Há tranquilidade geral.”
Apenas iriam ocorrer incursões de monárquicos nas fronteiras de Trás-os-Montes. Em Melgaço, tais incursões nunca aconteceram... Os monárquicos tentaram, em 1919, estabelecer a chamada Monarquia do Norte na cidade do Porto, regime prontamente esmagado pelos republicanos. O general Paiva Couceiro viria a ser capturado em 1939 quando se preparava para passar a fronteira de Arbo para Melgaço.
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