Grupo de Castrejas em 1911
Fernando
Galhano na sua juventude e acompanhado de dois seus irmãos visitaram Castro
Laboreiro levados pela imagem de uma terra medieval bárbara dada pelo Minho
Pitoresco’.(…) Lembro-me da partida de Melgaço munidos da apresentação do
Comando da Guarda Fiscal para os postos da raia, da paragem junto do pouco que
resta do mosteiro gótico de Fiães, da chegada à antiga vila. Mas, curiosamente,
dessa estadia de duas ou três semanas entre fragas e gende rude, guardo apenas uma
recordação muito vaga. Casas cobertas de colmo no meio de uma paisagem agreste
de calhaus, uma igreja de granito tostado, de onde aos domingos saíam mulheres
embuçadas em capuchas escuras; (…) uma mulher com o filhito ao peito atado no
fateiro a lavrar uma terra magras, para centeio; pedra e mais pedra.
Alice
Geraldes no seu estudo Brandas e Inverneiras - Particularidades do sistema
agro-pastoril crastejo, editado em Junho de 1996, destaca uma distinção das comunidades
castrejas conforme a sua localização em relação à margem do rio Laboreiro: os do
Pedroso ou Camarros vivendo na margem esquerda; a margem direita é chamada terra
dos Gorriões, na qual se incluem além das brandas, ainda 5 lugares fixos.
Esta
diferenciação veio a reflectir-se na atitude dos castrejos perante a permanência
no seu seio do modo de vida tradicional. Os da margem esquerda (ou Camarros)
eram considerados pelos da margem direita como mais atrasados por manterem um
certo vocabulário, roupas antigas e algumas tradições.
A
mesma autora em Castro Laboreiro e Soajo – Habitação, vestuário e trabalho da
mulher refere que o primeiro casamento que se realizou na «Vila» com noiva à
moda da cidade, isto é, sem ser à moda da terra, data de cerca de 1967.
Em
sua opinião entre os diversos factores que concorreram para as alterações
no
vestir das mulheres castrejas salienta-se o da emigração dos homens obrigando à
mobilização total da mão de obra feminina para as tarefas do campo fazendo cair
em desuso, tanto as práticas artesanais da confecção de tecidos, como a própria
confecção manual dos modelos tradicionais (…) Por tal razão tanto as tecedeiras
como as «costureiras» da família não puderam transmitir às gerações mais novas
nem a arte de tecer, nem a arte de confeccionar roupas.
Porém
quando realizou o seu levantamento, Alice Geraldes constatou que, no lugar dos
Camarros, na margem esquerda do rio Laboreiro, ainda se usavam certas peças do
vestuário feminino tradicional já desaparecidas do resto da freguesia. (…) Durante
as estações frias a mulher de Castro Laboreiro veste, como se vestiam as suas
irmãs de há 50 anos atrás. Continua a pôr a capa negra sobre a cabeça
resguardada com um lenço, a usar «calçons» sobre as meias altas de lã, a trazer
a saia preta pregueada e sobre esta o «mandil». Também verificou ser usado o fateiro
com que as mães prendiam ao seu corpo os filhos de tenra idade quando
trabalhavam ou se deslocavam a cavalo. Ainda hoje a mulher crasteja usa, em
certas ocasiões, a capa e o fateiro foi recentemente utilizado por uma jovem
mãe como nos referiu D. Elisabete Sousa, de Castro Laboreiro.
Aponta-se
o isolamento da comunidade como uma das razões da não permeabilidade às modas.
Contudo, este argumento é de relativa importância, pois, os crastejos sempre
estiveram em contacto com o mundo exterior, quer quando comerciavam gado pela
fronteira seca, quer nas trocas pela rota do contrabando, quer ainda nas idas à
feira em Melgaço ou quando desciam à Ribeira para venderem carvão.
A
melhoria das comunicações rodoviárias teve impacto sobretudo na construção de
novas habitações ao permitir o acesso à vila de camiões carregados com diversos
materiais. Foi também após a chegada, em 1947, da estrada a Castro Laboreiro
que alfaias agrícolas como as máquinas de malhar e erguer o centeio vieram
substituir o trabalho dos malhadores nas eiras.
O
urbanismo na vila também se alterou com o alinhamento das casas ao longo da
nova estrada. Porém, nas brandas e inverneiras manteve-se o povoamento concentrado
e as novas construções erguidas com os réditos da emigração continuaram a
estruturar-se para servir de habitação no andar superior reservando-se o piso
térreo para corte de animais.
O
trajo crastejo alterou-se, sim, com o desaparecimento de certos trabalhos e a
substituição de tecidos em lã e linho pelos de origem industrial. O uso do singuidalho
(ou mandil das velhas) acompanhou o declínio do pastoreio, do corte do mato e
da produção de carvão até se extinguir completamente.
Extraído de: LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia M. Cardoso - O Trajo Castrejo. ACER - Associação Cultural e de Estudos Regionais.
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