Castro Laboreiro, 1911 |
Em carta datada de 26 de Setembro de 1791, Dom Frei Caetano Brandão descrevia assim o traje das mulheres de Castro Laboreiro: Não há coisa mais fêa que o (uniforme)do sexo feminino; huma manta de Çaragoça dobrada na cabeça descendo da parte de diante até o peito muito cozida com o rosto; de traz até quasi ao chão; hum avental da mesma, ou mantéo, sem género de refego, nem prega, polainas de panno branco, e huns tamancos muito altos, atados com diferentes corrêas; he o vestido geral de todas.
A
esta fealdade no trajar, Dom Frei Caetano Brandão acrescentou liminarmente a
sua apreciação sobre os rostos das crastejas: as caras são de tapuyas tostadas
e disformes.
No ‘Minho
Pitoresco’, cerca de um século depois, José Augusto Vieira exprimia uma opinião
diferente ao afirmar a crasteja com quem conversavamos, assim como todas as que
se relaccionaram comnosco, de tracto affável e simples, modesta e com uma
physionomia expressiva. Em todas encontrámos uma regularidade de traços,
formando um conjuncto agradável e sympathico.
As peças
mais originais do costume, ou trajo, que vestiam eram: a mantela, espécie de
lenço para a cabeça, o collete, o manteo largo deitado desde os hombros até aos
joelhos, as piugas e os tamancos que dão à crasteja a pequenez do pé, como
acontece na China com os borzeguins das altas damas. Chamam-lhes na linguagem
local «alabardeiros».
Alguns
anos depois, em 1904, Leite de Vasconcellos e o Abade de Melgaço, José
Domingues, empreendem uma excursão a Castro Laboreiro "montados em mulas e
acompanhados de duas mocetonas, calçadas de grossos çoques (isto é, çocos ou
socos), e com polainas de branqueta.
Quando
chegaram a Castro Laboreiro era dia de feira e o etnógrafo observou ‘muitos
homens juntos: apresentavam-se geralmente de cara rapada, vestidos de çaragoça
(jaqueta, calças e collete), traziam chapéus de panno ou carapuça, e varapau.
Mulheres, por ser de gado a feira, não andavam lá muitas. O trajo ordinário d’ellas
é: camisa; faxa vermelha; collete; jaqueta; saia branca; saiote; saia de cor,
quási sempre,preta, feita de foloado «panno de lã de ovelha ou de linho» que se
fabrica em Castro; mandil, singuidalho, do mesmo ou de outro panno; na cabeça
capella, que pode ser substituída por lenço; nas pernas calções e piúcas, meias
sem pés, que se prendem com uma liga
ou baraça; e nos pés chancas.(…) No Inverno, tanto homens como mulheres, se
abrigam das neves, chuvas e friagens com o corucho, espécie de capuz
de burel que se traz na cabeça, e tem uma espécie de aba que se prolonga pelas
costas abaixo."
Um
outro visitante de Castro Laboreiro foi o jornalista alemão Bruno Buchenbacher
que percorreu o Alto Minho logo após a implantação da República. Referiu-se aos
castrejos como "trabalhadores incansáveis e confessou a sua surpresa por ter
encontrado na vila duas fábricas de chocolate cuja qualidade elogiou. Salientou
ainda dois característicos notáveis: lindas cachopas e formidáveis cães, ambos
para recear"…
Das
fotografias que tirou destaca-se a de uma castreja vestindo trajo tradicional.
Extraído de: LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia M. Cardoso - O Trajo Castrejo. ACER - Associação Cultural e de Estudos Regionais.
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