A
produção de gado tinha nos baldios o seu principal espaço. Os pastos comuns situavam-se
nas zonas mais altas da freguesia envolvendo as brandas de Travassos e Mourim.
Era o território do ‘gado do vento’ referido nos forais. Dos baldios obtinha-se
ainda matos, lenha e carvão. Isabel Medeiros data a sua origem dos tempos da ‘primeira
fase da Reconquista’ (Idem, ibidem: 27).
Para
a mesma investigadora, ‘a evolução registada na utilização da área baldia em relação
com a própria posição dos lugares repercutiu-se amplamente nas formas de organização
do pastoreio’ (Idem, ibidem: 36). A ‘vezeira‘ era predominante ocupando a
comunidade de pastores que em dias alternados se deslocavam com a ‘fazenda’ de
ovelhas e cabras para os baldios por caminhos íngremes e muitas das vezes
arrostando com intempéries sem outra protecção contra o frio e a chuva a não ser
a da ‘croça’. Percorriam grandes distâncias até Santo António de Val de Poldros
e Aveleira. Durante a sua permanência nos montes utilizavam, como poiso, as ‘cardenhas’
- construções ciclópicas em falsa cúpula dispondo de rudimentares condições de
conforto mas subdivididas em dois andares para alojamento separado dos animais
e do pastor Com este movimento interno coexistia um trânsito pela raia seca de
Porto dos Asnos de gados e mercadorias praticado pelos dois povos desde tempos
imemoriais e que não foi afectado pela divisão entre os dois estados
(Domingues, 2007: 94). ‘Nos tempos medievais já os Montes de Laboreiro recebiam
rebanhos provenientes da Galiza, movimento compensado por deslocações de gados
portugueses também para o lado da fronteira. Este intercâmbio, que durante
muito tempo nem teria sido sujeito a tributação, e que animava o pastoreio na
montanha, passou mais tarde a ser afectado pelo imposto de montado, o qual
recairia decerto sobre os gados galegos transumantes que, a partir de Abril, tilizavam
as ervagens frescas da serra’ (Idem, ibidem).
Para
Carlos Alberto Ferreira de Almeida, ‘a complementaridade que o mosteiro de Fiães
desenvolveu entre a criação de gado e cultivos de Verão (na serra) e a agricultura
em ecologia de vale, é bem possível que o sistema de brandas e das inverneiras
lhe deva muito’ (Almeida, 1991: 79-cit. Lima, 1996: 88-nota. 6).
Bernardo
Pintor encontrou documentos do mosteiro de Fiães do séc. XIV nos quais ‘aparece
delimitada a «granja de Fervença», entre a «granja de Travassos», hoje um lugar
de Parada do Monte e a «Bouça dos Homens», branda da freguesia da Gavieira.
Da
mesma forma surge o «aforamento do montâdego» de Campelo, junto à Aveleira. Esta
última povoação é hoje uma branda de Gave’ (Lima, 1996: 83-cit. Pintor,
1981:20).
As
Inquirições de 1258 são omissas a Parada do Monte mas ao referirem-se a S.
Pedro de Mouro (hoje Riba de Mouro) ‘disseram que quando houver guerra hão de
guardar as travessas (travessias) do Monte de Laboreiro’. Os habitantes de Parada do Monte estavam também obrigados a prestar
tal serviço pois o seu território integrava-se no de Riba de Mouro. Havia ainda o costume antigo de prestarem ‘rogos’ quando algumas pessoas
da Galiza casavam e que eram ‘o mesmo que geiras ou prestações de
serviços agrícolas e cada geira do campo, sendo completa, constava de
cinquenta homens de cava’ (Marques, 1994:20). Este costume causava a ruína dos
lavradores conforme se aludia numa petição dirigida pelo concelho de Valadares
a D. Afonso V. Em 1462, o Rei decidiu que taes rogas nom aver nem se darem
nem irem dar a Gualiza nem virem de la os dar ca’, tendo fixado a multa de
1.000 reais aos que infringissem esta sua directiva (idem, ibidem).
Na
ocupação humana do território sob os Montes Laboreiro e em particular do Vale do
Mouro exerceu importância significativa a circulação de pessoas e bens por estradas
e caminhos. Existia uma via vinda de Valadares pelo Monte da Cumieira e que se
dirigia para Cousso, Pomares, Cubalhão e Lamas de Mouro.
Daqui continuava para Alcobaça e Porto de Cavaleiros onde atravessava a
fronteira. Uma outra derivação atingia Portelinha ramificando-se para o Soajo,
Castro Laboreiro e Entrimo. Era o eixo do comércio do gado pela raia seca
referido em documentos (Marques, 1978). Também permitia a circulação do carvão,
mel, cera e caça (Medeiros, 1984:64). Parada do Monte comunicava com aqueles
destinos através do percurso pela branda de Travassos, de difícil progressão
dado o relevo do terreno, ou então atravessando o Mouro pela ponte da
Minhoteira e subindo a Pomares. Era também nesta direcção que se ía à feira em
Melgaço com passagem por Paderne, lugar de Moinhos, ponte da Folia e Remoães. O
percurso estabelecia também ligação com S. Marcos onde existia uma barca de
passagem do Rio Minho permitindo a entrada na Galiza por Arbo.
Havia
ainda o caminho seguindo pela margem esquerda do rio Mouro com passagem por
Gave, Riba de Mouro até Valadares, sede do concelho. Era por ele que se fazia um
importante trânsito de pessoas e mercadorias, particularmente nos dias em que havia
feira em Valadares.
Extraído de:
LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia Cardoso - Parada do Monte, História e Património. ACER.
Outra bibliografia citada:
Outra bibliografia citada:
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-Circular de 15.04.1846 do Secretário do Ministério do Reino ao Governador Civil de
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de Viana do Castelo;
-Circular de 22.09.1846 do Secretário de Estado dos Negócios do Reino ao Governador
Civil de Viana do Castelo.
Um fulão-Desenho de F. Galhano
24
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