Igreja Matriz de Castro Laboreiro (Foto de Daniel Jorge) |
A
Igreja Matriz de Castro Laboreiro, da invocação de Nossa Senhora da Visitação,
é um pequeno templo de fundação ainda pré-românica, embora com grandes
alterações posteriores. No edifício são visíveis várias fases de obras
distintas, nomeadamente a da sua edificação primitiva, que alguns autores
colocam no século IX, e da qual pouco resta. É possível identificar uma
campanha gótica, e outra datada da segunda metade do século XVIII, da qual
resultou a feição actual do monumento.
Igreja de construção
medieval, reformada possivelmente no século XVI, período de que deve datar a
divisão da nave em tramos, marcados, exteriormente, por contrafortes e,
interiormente, por arcos diafragma, denotando influência galega e como é comum
surgir em zonas de fronteira portuguesas. Sofreu ainda reformas no século XVII,
época de que deverão datar as pilastras dos cunhais coroados por pináculos, o
remate das fachadas em friso e cornija e o púlpito, e no século XVIII, altura
em que se construiu a sacristia, se abriram janelas na nave e capela-mor, e se
fez o portal lateral sul, de moldura recortada. Este, é uma cópia tosca do
portal norte da Igreja Paroquial de Santa Maria la Real de Entrimo, em
território galego mas muito próxima de Castro Laboreiro, que poderá ter inspirado
mais profundamente a reforma moderna da igreja de Castro Laboreiro. Destaca-se
ainda a pia baptismal quinhentista, decorada com alto friso de flores-de-lis
interligadas e, inferiormente, gomada. O retábulo-mor é neoclássico, mas
apresenta alguns elementos de transição barrocos, nomeadamente na estrutura do
trono e nas colunas definidores do eixo, com terço inferior estriado e o
restante liso.
Esta igreja possui uma planta longitudinal composta por nave única e
capela-mor rectangular, mais estreita, tendo adossado à fachada lateral norte,
torre sineira quadrada, flanqueando a frontaria, e corpo que se prolonga ao
longo da nave e capela-mor. Volume homogéneo na igreja, com cobertura
indiferenciada em telhado de duas águas, e de uma, mais baixa, no corpo
adossado e no prolongamento da primeira. Fachadas em cantaria aparente, de
aparelho regular, tendo várias cruzes de via sacra relevadas, com cunhais apilastrados,
coroados por pináculos piramidais com bola, e os ângulos das empenas rematados
por cruzes latinas de cantaria, a da fachada principal com chanfro, sobre
acrotério. Fachada principal orientada, terminada em empena, com friso e
cornija, e rasgada por portal de verga recta, de falsas aduelas dispostas em
cunha, sobrepostas na chave por ornato polilobado inscrito num círculo, ladeado
por pilastras toscanas, pouco relevadas. Encima o portal em cornija recta,
pequeno óculo quadrilobado e um nicho, em arco de volta perfeita, sobre
pilastras, assentes em mísula de perfil contracurvado e formando pingente,
interiormente concheado e desnudo e, superiormente, rematado por pinha. Junto à
pilastra esquerda existe gárgula de canhão. Sensivelmente recuada à frontaria, surge
a torre sineira, com duas ordens de pilastras toscanas sobrepostas nos cunhais,
coroados por pináculos piramidais com bola, e com dois registos, marcados por
friso e cornija, rasgando-se no primeiro, virada a oeste, porta de verga recta,
moldurada, e, no segundo, em cada uma das faces, sineira em arco de volta
perfeita, envolvida por moldura, albergando sino. Esta termina em friso e
cornija, encimada a oeste por falso frontão sem retorno para conter o relógio,
circular. Cobertura em coruchéu facetado, encimado por cata-vento de ferro.
Fachadas laterais terminadas em friso e cornija, sobreposta por beirada
simples, as da nave reforçadas por cinco contrafortes, quadrangulares e
superiormente inclinados, os da fachada norte encobertos pelo anexo adossado,
no qual se rasgam duas pequenas janelas rectangulares de capialço. Fachada
lateral sul rasgada, junto ao friso, por duas janelas rectangulares de capilaço
no primeiro, quinto e sexto panos da nave e por outras duas janelas, mais
pequenas, na capela-mor, no meio das quais surge cartela ovalada inscrita com a
data de 1775 encimada por cruz relevada. Todas as janelas são gradeadas. No
terceiro plano abre-se portal de verga recta, com moldura recortada nos ângulos
superiores, tendo a chave sobreposta por ornato concheado. Junto à pilastra do
cunhal sudoeste da igreja surge relógio de sol circular, virado ao meio-dia,
encimado por concheado. Fachada posterior com capela-mor cega terminada em
empena, abrindo-se na sacristia janela. Interior com nave de paredes em
cantaria aparente, de seis tramos marcados por cinco arcos diafragmas de volta
perfeita, assentes em pilares circulares, com pavimento de madeira assinalando
antigas sepulturas com as guias de granito, na zona central, e em lajes de
granito, no restante, e tecto de madeira, de duas águas entre os arcos
diafragmas. Coro-alto de madeira sobre dois pilares de cantaria, com guarda em
balaústres de madeira e acesso por escada disposta no lado da Epístola. No
sub-coro, entre os pilares, tem guarda-vento de madeira envidraçada, no lado da
Epístola ampla pia de água benta gomada, encimada por nicho em arco de volta
perfeita, interiormente concheada, e, no Evangelho, pia baptismal cilíndrica,
com decoração em flores-de-lis estilizadas e relevadas, inferiormente formando
gomos, sobre pé cilíndrico. Lateralmente, sensivelmente a meio da nave, surge,
do lado do Evangelho, púlpito de bacia rectangular, sobre mísula, com guarda
plena de madeira e acesso por porta de verga recta moldurada, e, no lado da
Epístola, a porta travessa, com arco abatido encimado por arco de descarga,
ladeada por duas pias de água benta gomadas encimadas por nicho em arco de
volta perfeita. No lado do Evangelho, tem, no último tramo, porta de verga
recta para o anexo, onde existem sanitários, com pavimento cerâmico, e, no lado
oposto, no quinto tramo, capela em arco de volta perfeita sobre pilastras
toscanas. Arco triunfal de volta perfeita, almofadado no intradorso, sobre
pilastras toscanas, ladeadas por mísulas com imaginária e cerrado por teia de
madeira. Capela-mor com paredes rebocadas e pintadas de branco, tendo no lado
do Evangelho porta de acesso à sacristia e, no lado oposto, entre as janelas,
pequeno nicho de alfaias. Retábulo-mor em talha policroma a branco, beje, azul
e dourado, de planta recta e três eixos, definidos por duas pilastras caneladas
exteriores e duas colunas de terço inferior canelado e de capitéis coríntios,
assentes em dupla ordem de plintos paralelepipédicos, frontalmente ornados de
motivos fitomórficos. Ao centro, abre-se tribuna de perfil curvo, com moldura
fitomórfica dourada, de fecho saliente, albergando trono expositivo, de cinco
degraus rectangulares, com chanfro canelado nos ângulos, ornados de elementos
vegetalistas, ladeados por jarras com flores, e tendo o fundo pintado com
glória de querubins e a inscrição IHS. Nos eixos laterais surgem apainelados,
definidos por molduras de perfil abatido com acantos relevados no fecho e
inferiormente, enquadrando mísulas com imaginária. Sobre o entablamento, com
friso contendo florões, desenvolve-se o ático, adaptado ao perfil da cobertura,
tendo ao centro espaldar com frisos e cartela de onde pendem festões, terminada
em cornija rematada por acantos relevados. O espaldar é ladeado por urnas sobre
as colunas e apainelados com motivos fitomórficos enrolados. O sotobanco tem
portas de acesso à tribuna, de perfil curvo, molduradas e com motivos
vegetalistas dourados, encadeados na vertical. Altar paralelepipédico sobre o
qual existe sacrário tipo templete, com colunas nos ângulos e cúpula. Pavimento
de granito e tecto em madeira, de perfil curvo. A sacristia é de pequenas
dimensões e iluminada por um vão, tendo lavabo de espaldar rectangular.
Extraído de: www.monumentos.pt ( Textos de Paulo Amaral e Alexandra Cerveira 1999 / Paula Noé 2008)
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