António Lourenço de
Sousa Lobato, nascido em 11 de Março de 1938 na aldeia de Sante (freguesia de Paderne, no concelho de
Melgaço). Em 26 de Julho de 1961, sendo 1º Sargento piloto-aviador da Força
Aérea Portuguesa, chega à Guiné e fica colocado no AB2-Bissalanca. Na manhã de
22 de Maio de 1963, quando, em missão operacional sobre a região litoral
centro-oeste da Guiné, após forçada aterragem no mato, é capturado pelo PAIGC e
mantido cativo na República da Guiné-Conackry, vindo a ser, em 22 Novembro de
1970, resgatado, com outros 25 portugueses, no decurso da Operação Mar Verde,
após o que regressa a Portugal.
Esse período em que foi mantido cativo foi contado em
livro. Com o subtítulo "O mais longo cativeiro da guerra", este
impressionante documento humano relata os longos anos em que o piloto aviador António
de Sousa Lobato esteve prisioneiro na Guiné Conakry, após ser capturado pelas
forças do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde),
durante a Guerra Colonial, que opôs Portugal a grupos que lutam pela
independência das antigas colónias de África. O livro refere o drama físico e psicológico
vivido por um jovem militar português, que durante mais de sete anos foi capaz
de suportar um isolamento extremo num cubículo de dimensões exíguas, em
condições sub-humanas, mas sem perder a esperança de alcançar de novo a
liberdade. Aliás, por três vezes se evadiu, tendo a última escapadela
durado ainda uma curta semana, mas tão longa para quem durante dias e meses a
fio permanecia confinado numa fortaleza sombria e claustrofóbica. Mas o aspecto
talvez mais saliente neste testemunho heróico tem a ver com a reflexão interior
que o protagonista deste drama nos dá a conhecer, durante as longas horas que
era obrigado a permanecer quase estático num espaço acanhado de quatro por dois
passos, na medida do próprio autor. Sem a vastidão ilimitada do céu por onde se
habituara a voar, António de Sousa Lobato é forçado, para sobreviver
psiquicamente a essa provação extrema, a explorar uma outra dimensão ainda
ignota: a do seu próprio ser interior do qual vai aprender a conhecer os
limites ou, melhor ainda, a sua infinita transcendência. Recusando-se a
desistir da vida e escudado na promessa que fez à sua jovem esposa, nos oito
meses que ambos passaram na Guiné " "Se algum dia desaparecer não te
preocupes, voltarei sempre." " o tenente Lobato estabelece consigo
próprio um diálogo interior que lhe conserva a lucidez e o vai ajudar a passar
os dias sufocantes e sempre solitários. Ao mergulhar nesta outra dimensão,
comum afinal a todos nós, o prisioneiro revela não apenas a força inabalável do
seu carácter, moldado também na dura disciplina militar, mas dá-nos sobretudo
uma lição de sobrevivência e da admirável capacidade que o Ser Humano tem de se
adaptar às condições mais inóspitas e adversas. Deste modo, e como ele próprio
afirma, foi esta vitória sobre si próprio que o salvou e simultaneamente
enriqueceu como pessoa, fazendo jus às palavras milenares de Buda, que a
proclamou como "a maior de todas as vitórias".O livro baseia-se não
só nas recordações do seu autor, mas também nos apontamentos que ele escreveu
durante o cativeiro, quando outro preso importante de uma cela contígua lhe
forneceu papel e lápis, o que permitiu inclusive o envio clandestino de algumas
cartas para a família, e até informações sobre a prisão e várias outras de
carácter militar. Parte destes documentos, incluindo desenhos da topografia
local e um esboço do Forte de Kindia, encontram-se reproduzidos nas 26 páginas
do anexo final do livro. E é só em Novembro de 1970, que a operação secreta "Mar Verde",
durante muito tempo não admitida oficialmente pelo governo português, põe fim
ao longo cativeiro de Lobato e outros jovens militares portugueses, entretanto
capturados pelos combatentes guineenses. O regresso à Pátria e à família é
apenas ensombrado por essa obrigação de não revelar o "modus operandi"
da libertação, a qual é apresentada como uma fuga bem sucedida, já que o
segredo de Estado assim o determina. Em suma, trata-se de um relato empolgante
pela sua veracidade e que nos revela a faceta oculta da nossa própria
humanidade, quando confrontados com situações limite em que apenas nos podemos
valer de nós mesmos e de mais ninguém. Uns desistem e abandonam-se ao desespero
e à negação, mas outros sempre acalentam o eterno sonho da liberdade
recuperada, se não nos espaços exteriores, pelo menos na ampla vastidão do
querer indómito de uma alma que não se verga a nenhuma adversidade, porque em
si a Vida sabe!
Extraído de: http://ultramar.terraweb.biz/06livros_AntonioLobato.htm
Extraído de: http://ultramar.terraweb.biz/06livros_AntonioLobato.htm
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