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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A história de um melgacense no cativeiro da guerra na Guiné Conakry (1963-1970)


António Lourenço de Sousa Lobato, nascido em 11 de Março de 1938 na aldeia  de Sante (freguesia de Paderne, no concelho de Melgaço). Em 26 de Julho de 1961, sendo 1º Sargento piloto-aviador da Força Aérea Portuguesa, chega à Guiné e fica colocado no AB2-Bissalanca. Na manhã de 22 de Maio de 1963, quando, em missão operacional sobre a região litoral centro-oeste da Guiné, após forçada aterragem no mato, é capturado pelo PAIGC e mantido cativo na República da Guiné-Conackry, vindo a ser, em 22 Novembro de 1970, resgatado, com outros 25 portugueses, no decurso da Operação Mar Verde, após o que regressa a Portugal.

Esse período em que foi mantido cativo foi contado em livro. Com o subtítulo "O mais longo cativeiro da guerra", este impressionante documento humano relata os longos anos em que o piloto aviador António de Sousa Lobato esteve prisioneiro na Guiné Conakry, após ser capturado pelas forças do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), durante a Guerra Colonial, que opôs Portugal a grupos que lutam pela independência das antigas colónias de África.  O livro refere o drama físico e psicológico vivido por um jovem militar português, que durante mais de sete anos foi capaz de suportar um isolamento extremo num cubículo de dimensões exíguas, em condições sub-humanas, mas sem perder a esperança de alcançar de novo a liberdade. Aliás, por três vezes se evadiu, tendo a última escapadela durado ainda uma curta semana, mas tão longa para quem durante dias e meses a fio permanecia confinado numa fortaleza sombria e claustrofóbica. Mas o aspecto talvez mais saliente neste testemunho heróico tem a ver com a reflexão interior que o protagonista deste drama nos dá a conhecer, durante as longas horas que era obrigado a permanecer quase estático num espaço acanhado de quatro por dois passos, na medida do próprio autor. Sem a vastidão ilimitada do céu por onde se habituara a voar, António de Sousa Lobato é forçado, para sobreviver psiquicamente a essa provação extrema, a explorar uma outra dimensão ainda ignota: a do seu próprio ser interior do qual vai aprender a conhecer os limites ou, melhor ainda, a sua infinita transcendência. Recusando-se a desistir da vida e escudado na promessa que fez à sua jovem esposa, nos oito meses que ambos passaram na Guiné " "Se algum dia desaparecer não te preocupes, voltarei sempre." " o tenente Lobato estabelece consigo próprio um diálogo interior que lhe conserva a lucidez e o vai ajudar a passar os dias sufocantes e sempre solitários. Ao mergulhar nesta outra dimensão, comum afinal a todos nós, o prisioneiro revela não apenas a força inabalável do seu carácter, moldado também na dura disciplina militar, mas dá-nos sobretudo uma lição de sobrevivência e da admirável capacidade que o Ser Humano tem de se adaptar às condições mais inóspitas e adversas. Deste modo, e como ele próprio afirma, foi esta vitória sobre si próprio que o salvou e simultaneamente enriqueceu como pessoa, fazendo jus às palavras milenares de Buda, que a proclamou como "a maior de todas as vitórias".O livro baseia-se não só nas recordações do seu autor, mas também nos apontamentos que ele escreveu durante o cativeiro, quando outro preso importante de uma cela contígua lhe forneceu papel e lápis, o que permitiu inclusive o envio clandestino de algumas cartas para a família, e até informações sobre a prisão e várias outras de carácter militar. Parte destes documentos, incluindo desenhos da topografia local e um esboço do Forte de Kindia, encontram-se reproduzidos nas 26 páginas do anexo final do livro. E é só em Novembro de 1970, que a operação secreta "Mar Verde", durante muito tempo não admitida oficialmente pelo governo português, põe fim ao longo cativeiro de Lobato e outros jovens militares portugueses, entretanto capturados pelos combatentes guineenses. O regresso à Pátria e à família é apenas ensombrado por essa obrigação de não revelar o "modus operandi" da libertação, a qual é apresentada como uma fuga bem sucedida, já que o segredo de Estado assim o determina. Em suma, trata-se de um relato empolgante pela sua veracidade e que nos revela a faceta oculta da nossa própria humanidade, quando confrontados com situações limite em que apenas nos podemos valer de nós mesmos e de mais ninguém. Uns desistem e abandonam-se ao desespero e à negação, mas outros sempre acalentam o eterno sonho da liberdade recuperada, se não nos espaços exteriores, pelo menos na ampla vastidão do querer indómito de uma alma que não se verga a nenhuma adversidade, porque em si a Vida sabe!

Extraído de: http://ultramar.terraweb.biz/06livros_AntonioLobato.htm

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