Melgaço, 1958...
No domingo à noite o pequeno automóvel da Guarda serpenteou os montes, desceu e subiu encostas, os faróis mortiços iluminavam poucos metros à sua frente, mas suficientes para dirigir vagarosamente o velho Ford até à Gave, uma aldeia com 300 habitantes, uma das maiores da região. Parou a viatura no largo da igreja, poucos metros adiante estava o cruzeiro, não se via viva alma, apenas a candeia de azeite iluminava fracamente o nicho da Senhora da Natividade.
No domingo à noite o pequeno automóvel da Guarda serpenteou os montes, desceu e subiu encostas, os faróis mortiços iluminavam poucos metros à sua frente, mas suficientes para dirigir vagarosamente o velho Ford até à Gave, uma aldeia com 300 habitantes, uma das maiores da região. Parou a viatura no largo da igreja, poucos metros adiante estava o cruzeiro, não se via viva alma, apenas a candeia de azeite iluminava fracamente o nicho da Senhora da Natividade.
O Tenente empunhou o
revólver, desceu e deu a volta à pequena praça, sempre atento ao menor
movimento. Nada!
Após alguns minutos
de espera sentiu o barulho de passos no saibro da praça. Engatilhou o revólver,
encostou-se ao automóvel, disfarçando a silhueta na penumbra. Um vulto
aproximou-se e a meia dúzia de passos de distância perguntou:
- Vossemecê é que é o
da Guarda?
O Tenente admirou-se por
ouvir a voz nasalada de uma mulher, mas não desviou o revólver.
- Sou, e você quem é?
- Eu venho buscá-lo
para o levar junto do meu patrão, que quer confirmar se veio só e não lhe quer
mal. Venha comigo.
- Onde? O local
combinado era aqui.
- Ele está à saída da
aldeia e fale baixo para não acordar ninguém. Já basta o barulho que o carro
fez para chegar até aqui.
- Vai à minha frente
e lembra-te que se me estão a preparar alguma, abro caminho a tiro.
- Nada tema senhor, o
meu patrão apenas quer falar consigo.
Tomaram o caminho que
subia para Valdepoldros, a mulher à frente, o Tenente meia dúzia de passos mais
atrás, continuando a empunhar a arma.
- Estamos quase a
chegar, senhor – avisa a mulher ao fim de poucos minutos de caminhada na
escuridão serrana, quando passavam entre azevinhos centenários.
De repente algo
assobiou nos ares e abateu-se sobre o Tenente que caiu de imediato. Outra
pancada e mais outra zurzem o corpo estendido no caminho. O Alípio arfava do
esforço e da emoção de ter arreado no oficial da guarda com o seu pau ferrado.
Dera-lhe com ganas, que o malandro merecia.
- Procura a pistola
Rita, ele tinha-a na mão.
- Já a tenho comigo.
Vê lá se ele é vivo ou morto…
- Diabos o levem,
está cheio de sangue. Acho que não respira.
- De certeza?
- Sim… De certeza –
conclui o Alípio.
- Então vai buscar os
animais para sairmos daqui.
Os dois cavalos e a
mula estavam presos ali perto e num pulo o Alípio trouxe-os pelas rédeas.
Atravessaram o corpo do Tenente no dorso da mula, cobriram-no com uma manta e
amarraram-no de forma a não escorregar em andamento.
No silêncio apenas quebrado pelas patas dos animais,
os dois irmãos montaram e arrastaram a mula, caminho acima, em direcção a
Valdepoldros.
...............................(CONTINUA).................(CONTINUA)..................................
Para ler a parte I, clique em http://entreominhoeaserra.blogspot.pt/2013/12/o-tenente-da-guarda-parte-i.html
Para ler a parte II, clique em http://entreominhoeaserra.blogspot.pt/2013/12/o-tenente-da-guarda-parte-ii.html
Fonte: Este interessante texto foi publicado no blogue "Vila Praia de Âncora" em http://vilapraiadeancora.blogs.sapo.pt. Não resisti a partilhá-lo com vocês!
Autor do texto: Brito Ribeiro.
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