D. Amélia Moutinho,
dona do Porto Meia, é há muito hóspede do Hotel Ranhada, está cá todos os anos,
traz motorista e dama de companhia, já tem reserva para os primeiros vinte dias
deste Setembro que vem, prefere sempre o Setembro, e faz bem em não escolher o
Agosto, ao menos escapa ao irritadiço marido da senhora Condessa de Feijó. É
uma criatura insuportável aquele homem assim baixinho e gordinho, oh! se não é.
Em Setembro que vem teremos aqui no Hotel Ranhada os Teixeira, eles são donos
de uma cadeia de talhos. Trazem a família toda, são para aí umas trinta
pessoas. Vêm os avós, os netos, as noras, as sogras, a prole é de banzar. São
dos mais antigos hóspedes do Hotel Ranhada. Esta família já cá vem a águas
desde finais do século XIX, os mais velhos ainda privaram com o fundador, o
senhor António Maria Ranhada. Hóspedes tão antigos como eles só os da família
Linhares. Um dia antes de se instalarem, já cá está uma carrinha para despejar
as malas todas. Menos canseiras dão os lavradores ricos que chegam por finais
de Setembro e que por aqui ficam até 10 de Outubro, se tanto. O senhor Mário
Ranhada chama-lhes os “hóspedes das castanhas”. Nesta última leva chegam os
Sousa Lopes, que, não contentes com o que ganham na lavoura, ainda se metem a
fabricar botões. Pelo fim desta manhã de Agosto, há-de comentar-se à mesa, com
pilhéria, estas e outras bugiarias.
Fonte: "Termas de Melgaço: os dias saborosos de uma glória submersa", texto de Pedro Leitão, in: SIM, Revista do Minho, editado em 6 de Maio de 2013.
Artigo gentilmente enviado por pela Sra. Teresa Lobato a quem agradeço a partilha!
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