CAPÍTULO CXXXIV
Como El Rei foi cercar Melgaço
"Tornando a el-rei,
que ficou em Braga assaz fadigado da guerra em que era, pero fosse tempo de
inverno, não deu vagar porém a seu trabalho, e ordenou de ir sobre Melgaço,
cinco léguas acima de Tuy, e meia Iegua do rio Minho, villa cercada sem
arrabalde, de bom muro e forte castello, do senhorio de seu reino, que lhe
tinham os inimigos tomada.
A este logar chegou
el-rei com sua hoste, e era no mez de janeiro, na qual ia D. Pedro de Castro e
o Priol do Esprital, e João Fernandes Pacheco e outros capitães e senhores, e
seriam por todos umas mil e quinhentas lanças, e muita gente de pé.
E os que dentro
estavam por defensão do lugar, eram Alvaro Paes de Souto Maior e Diogo Preto Eximeno,
e em sua companhia até trezentos homens d'armas e outros muitos peões escudados.
E logo como el-rei
chegou, foram armadas as tendas e pousado o arraial, não porém longe da villa, e
sem dar mais espaço, começaram de dentro d'atirar os trons e escaramucar com os
de fora, e não se fez dano de nenhuma parte a outra, nem com os trons que
lançaram.
No seguinte dia
escaramuçaram e deram uma setada a Pero Lourenço de Távora, e da villa morreram
alguns. e foram outros feridos; e pero este dia lançassem nove pedras de trons
aos do arraial, não lhe fizeram nojo, e nos dois dias depois este, lançaram vinte
pedras sem outra escaramuça, que não fizeram dano.
À sexta-feira não
lançaram trons, mas foi uma escaramuça, em que mataram um do arraial e foram
feridos muitos de uma parte e da outra, e ao sábado lançaram três trons e um de
noite, sem fazer nojo. Ao domingo foi feita uma escaramuça entre os da villa e
os de D. Pedro de Castro, e mataram dos de D. Pedro um homem d'armas e dois de
pé, e d'outros, por todos até seis, e da villa foram alguns feridos, e nenhum
morto. Nos dois dias seguintes, deitaram oito trons que não fizeram dano."
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Extraído de: LOPES, Fernão (1897) - Chrónica d' El-Rei J. João I. Vol. IV, Edição da Bibliotheca de Classicos Portuguezes, Lisboa.
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