Castro Laboreiro, no início do século XX
Leia a parte final da conversa entre o Tio Francisco e o
seu vizinho. Falam de coisas do antigamente, do Tomás das Quingostas e de dois
outros castrejos das suas lembranças, homens de coragem: um tal tio Tato do Rodeiro e um tal tio
Nelo Cotarelo de Queimadelo...
“Diz o vizinho: - É d’antes diç ca habia homes mui balentes. Diç que um tal tio Tato do Rodeiro que agarrou um lobo pela garganta, è que o afogou, è que lhe pegou nua perna ó cabalo grande do Tomás das Quingostas (o ladróm mais balente d’estas alturas!), è que o segurou, è que o cabalo a querê’lo coucear, è ele agarrado á perna, è que tirou c’o cabalo ó chão, mais despois o Tomás que o mataba c’um tiro, se nom fugisse.
“Diz o vizinho: - É d’antes diç ca habia homes mui balentes. Diç que um tal tio Tato do Rodeiro que agarrou um lobo pela garganta, è que o afogou, è que lhe pegou nua perna ó cabalo grande do Tomás das Quingostas (o ladróm mais balente d’estas alturas!), è que o segurou, è que o cabalo a querê’lo coucear, è ele agarrado á perna, è que tirou c’o cabalo ó chão, mais despois o Tomás que o mataba c’um tiro, se nom fugisse.
Diz o tio Francisco: - Esse
tio Tato eu já nom conheci, mais diç q’andou com meu abô pelos fiandeiros, é
dua beç que s’abriu ua sepultura na igreija é que lá aparecêrum os ossos d’ele,
q’erã mui grossos, mui grossos, è que todos deziã q’erã os dele. Eu nom sei.
Quem fezo a casa do Nelo Cotarelo de Queimadelo foi ele, è diç que foi ele só,
é ele só é que botou aqueles côtos todos arriba; diç que nom queria que ninguém
o ajudasse. É olha q’ela tem lá bôs côtos…
Diz o vizinho: - Pois huje nom
hai d’esses homes; só hai p’raí uns froucinhos que nom balem nadinha. Só som
bôs p’ra tapar um buraco co’eles!
Diz o tio Francisco: - É ós
pois, que bá um home dezer-lhe que nom balêm nada, ca lh’esmoqueteã a cara, ou
pelo menos tira-lhe um berro como um burro…
Diz o vizinho: - Tio
Francisco, bou-me comer o cardo, cá j’hã-de ser horas, è a minha Maria nom m’as
garda, ca cando tal, tamém s’enrista p’ra mim como um demonho! Intóm digo-lhe
adeus até de manhã, se Deus quijer. Olhe q’as noites estão frias. Intóm o
milhor é meter-se um home na cama.
Diz o tio Francisco: - Pois
intóm, até demanhã, se Deus quijer. È cando te parecer, bem perqui, cà eu
tenho-che múito que dezer, cá tamém já che tenho uns anos, è eles nom passã sem
s’aprênder algo.»
Para ler a primeira parte deste diálogo, clique em
Para ler a segunda parte deste diálogo, clique em
Extraído de: VASCONCELLOS, José Leite de (1928) - Linguagem Popular de Castro Laboreiro. in Opúsculos, Vol. II – Dialectologia (parte I),Imprensa da Universidade, Coimbra.
Sem comentários:
Enviar um comentário