Viajamos
quase dois séculos até ao ano de 1829. Melgaço e esta região
vivem um autêntico clima de terror, provocado por bando de
salteadores, entre as quais a do Tomás das Quingostas.
Depois
de vários crimes, entre os quais o assassinato de um tal João
Vicente, do Rio do Porto, ocorrido em Prado, o
juiz, depois de ouvidas testemunhas, manda prender o Tomás das
Quingostas e o seu bando. No documento de pronúncia, pode ler-se:
“Obrigam as testemunhas da presente devassa a prisão e livramento
a Thomaz Joaquim Codeço, da freguezia sw São Paio e a António José
Pitains e Caetano Paulo da Ponte, todos da mesma freguezia e a João
Marquez natural de Remoães e de presente assistente em Paderne. O
escrivão os passe ao Rol dos culpados e passe as ordens necessária
para serem presos com todo o segredo de justiça, bem como proceda a
sequestro dos bens dos réus e com ele remeta a presente devassa à
Relação do Distrito.
Melgaço,
treze de Abril de mil oitocentos e vinte e nove.
Manuel
José de Pinho Soares de Albergaria”
Segundo
ESTEVES, Augusto C. (1959), “a guerrilha era destemida,
desdenhava dos mandatos judiciais
e troçava das fileira da tropa. Nem uma semana deixou passar sem
novo crime cometer, não no termos de Melgaço mas bem perto da sua
sede.” Assim, duas semanas depois de ter sido emitido mandato de
captura, a
quadrilha do Tomás das Quingostas assaltou a Casa do Celeiro em
Paderne e tudo é descrito neste documento:
“Pelo que em vinte e
seis para vinte e sete de Abril de mil oitocentos e vinte e nove, o
réu João Manuel Marquez, com os mais da quadrilha assaltou a Casa
do Celeiro de Paderne, em ocasião que ali se não achava o
Administrados do Celeiro Dom Bento de Nossa Senhora das Dores
Pereira, arrombando a porta à mão direita da entrada, cuja
fechadura tradaram e arrombaram e dela roubaram móveis, pano de
linho e o que ali se achava de baixo de chave como consta no Apenso”
Segundo
ESTEVES, Augusto C. (1959), “atrás de crimes, crimes se cometiam.
Tomás das Quingostas jogava tudo por tudo para manter o comando
afastado dos cobiçosos da chefia, ma o seu caudilhamento estava
prestes a terminar.
O
juiz enviou contra ele os soldados do Regimento 21 aqui estacionado
com vista a capturar a quadrilha do Tomás das Quingostas. Mais
tarde, o capitão do Regimento 21 envia ao juiz este ofício onde se
lê:
"Participo a vossa senhoria que sendo encarregado de prender
Thomáz Joaquim Codeço, da freguezia de São Paio e
João Marquez do lugar de Além, freguezia de Paderne, indo na noite
de dia três para quatro de Maio ao lugar de Orjaz, e cercado numa
casa aonde me constou que estavam refugiados, e entrando pela porta
dentro, dizendo-lhe que se dessem à prisão, responderam que não e
arremeteram para mim com dois bacamartes, com os perros levantados
dizendo-me – Retire-se senão morre!, de maneira que me vi na
precisão de sair para fora, eles logo dispararam tiros por uma
janela para fora à vista do que mandei imediatamente participar isto
ao meu major para me auxiliar com o resto da tropa que se achava
nesta Praça [Melgaço], chegando a qual se efetuou a prisão dos
mesmos réus, aos quais encontrei dois bacamartes, uma faca e uma
pistola e sete cartuchos com balas e balotes, os quais entrego a
vossa senhoria e tudo o que lhe encontrei para proceder conforme a
lei e por esta ocasião também entrego uma rapariga que achei na sua
companhia, que me informaram ter sido furtada pelo mesmo Thomáz
Joaquim Codeço de um serão.
Deus
guarde a Vossa Senhoria.
Quartel
em Melgaço, quatro de Maio de mil oitocentos e vinte e nove
João
Manuel Serqueira
Na
sequência da prisão do Tomás das Quingostas, o juiz descreve o
clima de terror que se vivia na terra. Num documento refere “...me
foi dito que em cumprimento ao ofício que lhe fora transmitido por
João Manuel Serqueira, capitão do Regimento vinte e um que é o
incluso, pelo qual lhe comunicava a diligência da prisão de Thomáz
Joaquim Codeço e João Marquez, aquel da freguezia de São Paio,
termo de Valladares e este da freguezia de Remoães, termo desta
vila, os quais se achavam constituídos chefes de uma formidável
Guerrilha de Ladrões e Salteadores de reinos, que andavam de dia e
de noite descaradamente
armados de bacamartes, facas e mais armas defezas, perturbando a paz
e sossego público cometendo roubos e mortes neste distrito, roubando
igrejas e nelas, os vasos sagrados dos competentes sacrários,
assaltando estradas, roubando os passageiros e esforçando mulheres e
tirando-as das suas casas, passando deste reino para o da Galiza a
cometer iguais delitos...”
Tomás
das Quingostas foi encarcerado na prisão de Melgaço, julgado, condenado, e mais
tarde transferido para a Prisão da Relação do Porto. Contudo,
quando os liberais, com D. Pedro ao comando, entraram na cidade
invicta, libertaram os presos políticos da dita Prisão da Relação,
entre eles o Tomás e os do seu bando. Viria a regressar a Melgaço
para um novo período de terror mas desta vez viria a ser abatido
pelos soldados depois de o terem prendido.
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