O
art.º 8º da Lei dos Forais de 3 de Junho de 1822 vem regular a questão dos
baldios: Os Baldios, e maninhos, são verdadeira propriedade dos Povos,
enquanto não se mostrar reserva, ou doação expressa deles. Sua administração
pertencerá às Câmaras pela maneira que a Lei determinar; salvo porém aos povos
o uso, e direitos que por posse antiga tiverem em quaisquer logradouros,
baldios, maninhos e edifício.
São
elaborados Tombos dos concelhos, obrigação que já havia sido estabelecida pela
Alvará pombalino de 23 de Julho de 1766. O de Valadares começou a ser redigido
em 27 de Outubro de 1823 na ‘Caza de Apuzentadoria do Doutor Manoel Lopes de
Figueiredo, Dezembargador da Caza e Relação do Porto com exercício de Provedor
nesta Câmara e de Viana da Foz do Lima’. Depois de invocar o Alvará de 1766,
aludiu-se a um edital de 2 de Outubro de 1820 pelo no qual foram avisados por
pregão todos os possuidores de maninhos para virem louvar e verem as medições
sendo ainda obrigados a reconhecer a Câmera como Directa Senhora deles’ sob ‘pena
de Rebeldia’ (A. M. M., 1829: 2v).
Parada
do Monte entrou no Tombo a partir de 12 de Novembro daquele ano. Lavraram-se
autos nos quais os louvados atestaram a existência de ‘tomadas sem título
algum’, tendo procedido a medições e indicado as confrontações em varas. Referiram
a capacidade em semeadura e arbitrou-se o valor anual do foro. Para algumas das
tomadas indicaram o seu estado.
Uma
primeira constatação é a de que as tomadas situavam-se em terrenos hoje
integrados no núcleo urbano da freguesia (caso dos localizados na Trigueira ou
Aldeia Grande) ou próximos dele. Em algumas das actas refere-se: ‘tomada no
baldio’ ou ‘tomada que tinha sido baldio’ (as localizadas nos lugares de Costa e
Trigueira), ou ‘tomada no monte’ (lugar de Cotto Santo, hoje Couto Santo). Em
algumas (muito poucas) designava-se o cereal cultivado: centeio ou trigo.
Distinguia-se
ainda as que estavam em ‘estado rústico’ das que se encontravam cultivadas. A
capacidade em ‘semeadura’ era de 13 alqueires para as 22 tomadas. Não havendo
indicação, em todas as actas, do cereal cultivado ou podendo ser cultivado
torna-se impossível estabelecer comparações de produtividade entre os terrenos.
Contudo, para o conjunto das freguesias que pertenciam ao concelho de
Valadares, existe um ‘Relatório’ enviado pela câmara ao Governo Civil com o
cálculo da produtividade em trigo, milho, centeio, batata e feijão. Pode-se
encontrar diferenças de produtividade conforme o produto agrícola considerado:
o milho é o cereal com maior rendimento, seguido do centeio e do trigo.
Diferenças também em dois grupos de freguesias: um primeiro grupo reunindo as
freguesias situadas na Ribeira Minho ou pouco dela afastadas e que se revelavam
mais produtivas em milho e feijão. O outro conjunto agrupava quatro freguesias
serranas, entre as quais estava Parada do Monte, com a mesma produtividade em
centeio , maiores rendimentos em batata, mas menos produtivas em milho e
feijão. Para este grupo não se refere resultados para o trigo pois nas quatro
freguesias, segundo o Relatório, ‘apenas se colhe milho grosso’. Em Parada do Monte ele ocupava os prados
situados nas férteis veigas irrigadas pela água trazida por um conjunto de
levadas e regos partindo de várias presas.
Algum
vinho em latadas bordejando as leiras. O centeio era cultivado em tomadas que
tinham sido baldio e nos barbeitos junto às brandas de Mourim e Travassos.
Semeava-se linhaça em certos terrenos (linhares) constantemente objecto de
irrigação e monda de modo a manter a cultura fresca sem ervas daninhas . Era o
início de um conjunto de trabalhos ou ‘tormentos’ do linho. Havia entreajuda na
época das lavradas: ‘Marcam-se de antemão os dias de cada um para a sua
lavrada".
Chegado
ele, todos aparecem aos campos dispostos a trabalhar como sendo para si próprio
.O proprietário oferece, pelas oito horas, uma parva; ao meio dia, o almoço ou
o jantar como se chama na terra, e ao terminar, pelas 17 ou 18 horas, a
merenda. Cada lavrada tem quase vinte pessoas para cima. Dentro de um mês fica
a terra com a semeadura feita e os gados sobem para as brandas, acompanhados
dos seus pastores’ (Domingues, 2008).
Nas
malhadas participava ‘muita gente, principalmente vizinhos, parentes e amigos.
O acto de malhar era reservado aos homens, formando-se dois grupos que se
enfrentavam na mesma eira. Os instrumentos eram os manguais que consistiam em
dois paus desiguais, servindo o mais delegado e comprido para as mãos dos
homens , e o mais grosso e mais curto para zurrar o cereal. Eram ligados por um
pedaço de couro cru de animal forte’ (Idem, ibidem).
Para
a cultura do linho prevalecia o mesmo espírito comunitário quando se tratava de
picar e aplanar a terra, dividi-la em talhões, semear, arrancar a baganha no
‘ripo’, enfeixar os caules e alagá-los nas poças, depois estendê-los para
secar, maçar, espadelar e fiar.
Este
quadro de uma economia agro-pastoril era complementado com um conjunto de
actividades e ofícios: a trituração dos grãos de milho e centeio em mós de
pedra movidas pelos rodízios dos moinhos permitia obter a farinha para produzir
broa de milho ou pão meado; nos fulões , os malhos preparavam a lã das ovelhas
com que se faziam ‘mantas para as camas, capas para andar a guardar os
rebanhos, polainas para agasalho das penas e até casacos para os homens’ (Idem,
ibidem); as serras nos engenhos cortavam os troncos em tábuas com que se soalhavam
as casas e as mobilavam.
No
interior do agregado, ferreiros fabricavam nas forjas as alfaias, ‘desde as
cardas para os tamancos até foices e enxadas, passando pelas ferraduras e o
apontar dos picos e até garfos em arame‘. Socas e tamancos saíam de hábeis mãos e nos teares, a teia de linho
transformava-se, ao fim de muitas horas de trabalho das tecedeiras, em panos de
que se faziam ‘camisas, toalhas de mesa, e guardanapos, e ainda, lindas e
brancas como a neve, toalhas franjadas, com que adornavam os açafates que
levavam à feira, admirados pelas senhoras da «ribeira» (Idem. Ibidem).
Ao
longo da primeira metade do séc. XIX estas actividades conheceram um crescimento
induzido pela evolução demográfico: Entre 1801 e 1845 o número de habitantes de
Parada do Monte passou de um total de 662 para 800 pessoas, ou seja um aumento
de 20,8%. O número de fogos era de 206 em 1801 e de 233 em 1845, a que
corresponde um acréscimo de 13,1%2.
É
desta época o aumento e melhoria das habitações até aí construídas sem grandes preocupações
de conforto com paredes em alvenaria irregular e cobertas a colmaço sobre
varedo e amparado pelas cápeas das empenas. Os espigueiros em pedra substituíram
os canastros em vime.
Informação extraída de:
LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia Cardoso - Parada do Monte, História e Património. ACER.
IAN/TT–Memórias Paroquiais, vol. 27, memoria 58, pp. 383-388 (publicado em CAPELA,J.
FEIJÓ, Rui Graça – Liberalismo e Transformação Social, Ed. Fragmentos, Lisboa, 1992
VILLASBOAS, Custódio Jozé Gomes de – Descripção Topographica das Commarcas
Fronteiras da Província do Minho, 1800 (inserido em Fernando de Sousa e Jorge
Fernandes Alves- ‘Alto Minho. População e Economia nos Finais de Setecentos,
Editorial Presença, Lisboa, 1997,
Minho: Memória, História e Património, Ed. C. M. de Melgaço, 2005).
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