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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A vida em Parada do Monte na 1ª metade do século XIX



O art.º 8º da Lei dos Forais de 3 de Junho de 1822 vem regular a questão dos baldios: Os Baldios, e maninhos, são verdadeira propriedade dos Povos, enquanto não se mostrar reserva, ou doação expressa deles. Sua administração pertencerá às Câmaras pela maneira que a Lei determinar; salvo porém aos povos o uso, e direitos que por posse antiga tiverem em quaisquer logradouros, baldios, maninhos e edifício.
São elaborados Tombos dos concelhos, obrigação que já havia sido estabelecida pela Alvará pombalino de 23 de Julho de 1766. O de Valadares começou a ser redigido em 27 de Outubro de 1823 na ‘Caza de Apuzentadoria do Doutor Manoel Lopes de Figueiredo, Dezembargador da Caza e Relação do Porto com exercício de Provedor nesta Câmara e de Viana da Foz do Lima’. Depois de invocar o Alvará de 1766, aludiu-se a um edital de 2 de Outubro de 1820 pelo no qual foram avisados por pregão todos os possuidores de maninhos para virem louvar e verem as medições sendo ainda obrigados a reconhecer a Câmera como Directa Senhora deles’ sob ‘pena de Rebeldia’ (A. M. M., 1829: 2v).
Parada do Monte entrou no Tombo a partir de 12 de Novembro daquele ano. Lavraram-se autos nos quais os louvados atestaram a existência de ‘tomadas sem título algum’, tendo procedido a medições e indicado as confrontações em varas. Referiram a capacidade em semeadura e arbitrou-se o valor anual do foro. Para algumas das tomadas indicaram o seu estado.
Uma primeira constatação é a de que as tomadas situavam-se em terrenos hoje integrados no núcleo urbano da freguesia (caso dos localizados na Trigueira ou Aldeia Grande) ou próximos dele. Em algumas das actas refere-se: ‘tomada no baldio’ ou ‘tomada que tinha sido baldio’ (as localizadas nos lugares de Costa e Trigueira), ou ‘tomada no monte’ (lugar de Cotto Santo, hoje Couto Santo). Em algumas (muito poucas) designava-se o cereal cultivado: centeio ou trigo.
Distinguia-se ainda as que estavam em ‘estado rústico’ das que se encontravam cultivadas. A capacidade em ‘semeadura’ era de 13 alqueires para as 22 tomadas. Não havendo indicação, em todas as actas, do cereal cultivado ou podendo ser cultivado torna-se impossível estabelecer comparações de produtividade entre os terrenos. Contudo, para o conjunto das freguesias que pertenciam ao concelho de Valadares, existe um ‘Relatório’ enviado pela câmara ao Governo Civil com o cálculo da produtividade em trigo, milho, centeio, batata e feijão. Pode-se encontrar diferenças de produtividade conforme o produto agrícola considerado: o milho é o cereal com maior rendimento, seguido do centeio e do trigo. Diferenças também em dois grupos de freguesias: um primeiro grupo reunindo as freguesias situadas na Ribeira Minho ou pouco dela afastadas e que se revelavam mais produtivas em milho e feijão. O outro conjunto agrupava quatro freguesias serranas, entre as quais estava Parada do Monte, com a mesma produtividade em centeio , maiores rendimentos em batata, mas menos produtivas em milho e feijão. Para este grupo não se refere resultados para o trigo pois nas quatro freguesias, segundo o Relatório, ‘apenas se colhe milho grosso’.  Em Parada do Monte ele ocupava os prados situados nas férteis veigas irrigadas pela água trazida por um conjunto de levadas e regos partindo de várias presas.
Algum vinho em latadas bordejando as leiras. O centeio era cultivado em tomadas que tinham sido baldio e nos barbeitos junto às brandas de Mourim e Travassos. Semeava-se linhaça em certos terrenos (linhares) constantemente objecto de irrigação e monda de modo a manter a cultura fresca sem ervas daninhas . Era o início de um conjunto de trabalhos ou ‘tormentos’ do linho. Havia entreajuda na época das lavradas: ‘Marcam-se de antemão os dias de cada um para a sua lavrada".
Chegado ele, todos aparecem aos campos dispostos a trabalhar como sendo para si próprio .O proprietário oferece, pelas oito horas, uma parva; ao meio dia, o almoço ou o jantar como se chama na terra, e ao terminar, pelas 17 ou 18 horas, a merenda. Cada lavrada tem quase vinte pessoas para cima. Dentro de um mês fica a terra com a semeadura feita e os gados sobem para as brandas, acompanhados dos seus pastores’ (Domingues, 2008).
Nas malhadas participava ‘muita gente, principalmente vizinhos, parentes e amigos. O acto de malhar era reservado aos homens, formando-se dois grupos que se enfrentavam na mesma eira. Os instrumentos eram os manguais que consistiam em dois paus desiguais, servindo o mais delegado e comprido para as mãos dos homens , e o mais grosso e mais curto para zurrar o cereal. Eram ligados por um pedaço de couro cru de animal forte’ (Idem, ibidem).
Para a cultura do linho prevalecia o mesmo espírito comunitário quando se tratava de picar e aplanar a terra, dividi-la em talhões, semear, arrancar a baganha no ‘ripo’, enfeixar os caules e alagá-los nas poças, depois estendê-los para secar, maçar, espadelar e fiar.
Este quadro de uma economia agro-pastoril era complementado com um conjunto de actividades e ofícios: a trituração dos grãos de milho e centeio em mós de pedra movidas pelos rodízios dos moinhos permitia obter a farinha para produzir broa de milho ou pão meado; nos fulões , os malhos preparavam a lã das ovelhas com que se faziam ‘mantas para as camas, capas para andar a guardar os rebanhos, polainas para agasalho das penas e até casacos para os homens’ (Idem, ibidem); as serras nos engenhos cortavam os troncos em tábuas com que se soalhavam as casas e as mobilavam.
No interior do agregado, ferreiros fabricavam nas forjas as alfaias, ‘desde as cardas para os tamancos até foices e enxadas, passando pelas ferraduras e o apontar dos picos e até garfos em arame‘. Socas e tamancos saíam de hábeis  mãos e nos teares, a teia de linho transformava-se, ao fim de muitas horas de trabalho das tecedeiras, em panos de que se faziam ‘camisas, toalhas de mesa, e guardanapos, e ainda, lindas e brancas como a neve, toalhas franjadas, com que adornavam os açafates que levavam à feira, admirados pelas senhoras da «ribeira» (Idem. Ibidem).
Ao longo da primeira metade do séc. XIX estas actividades conheceram um crescimento induzido pela evolução demográfico: Entre 1801 e 1845 o número de habitantes de Parada do Monte passou de um total de 662 para 800 pessoas, ou seja um aumento de 20,8%. O número de fogos era de 206 em 1801 e de 233 em 1845, a que corresponde um acréscimo de 13,1%2.

É desta época o aumento e melhoria das habitações até aí construídas sem grandes preocupações de conforto com paredes em alvenaria irregular e cobertas a colmaço sobre varedo e amparado pelas cápeas das empenas. Os espigueiros em pedra substituíram os canastros em vime.

Informação extraída de:
LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia Cardoso - Parada do Monte, História e Património. ACER.
IAN/TT–Memórias Paroquiais, vol. 27, memoria 58, pp. 383-388 (publicado em CAPELA,J.
FEIJÓ, Rui Graça – Liberalismo e Transformação Social, Ed. Fragmentos, Lisboa, 1992
VILLASBOAS, Custódio Jozé Gomes de – Descripção Topographica das Commarcas
Fronteiras da Província do Minho, 1800 (inserido em Fernando de Sousa e Jorge
Fernandes Alves- ‘Alto Minho. População e Economia nos Finais de Setecentos,
Editorial Presença, Lisboa, 1997,

Minho: Memória, História e Património, Ed. C. M. de Melgaço, 2005).

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