(...continuação)...
Em
outras freguesias do termo de Valadares onde o vinho constituía a produção principal
a evolução económica sofreu influência da política magestática do Marquês de Pombal
. Em 1756 um Alvará cria a Companhia Geral do Alto Douro com privilégios vários
entre os quais o que lhe foi concedido em 16.12.1760 do exclusivo da produção e
venda das aguardentes nas três Províncias do Norte-Minho, Trás-os-Montes e
Beira. Os lavradores destas regiões não podiam exportar vinho mas apenas
vendê-lo à Companhia que o destilava em ‘fábricas’. Valadares tinha uma: a do
Hospital (Leite, 2006: 180).
Bela,
Cambeses e Longos Vales foram as freguesias com maiores contingentes de vinho
entregues, entre 1779 e 1780, ao comissário Balthazar Coutinho que pagava aos lavradores
um preço médio inferior ao tabelado anteriormente pela Câmara de Monção, quer
em épocas de grandes colheitas, quer quando o vinho era escasso. Houve recusa
dos lavradores em venderem vinho à Companhia nos anos de 1784 e 1785, o que
lhes causou prejuízos por não poderem escoar a sua produção para outros
destinos (Idem, ibidem: 192). Um projecto de constituição de Sociedade Pública
d’Agricultura e Comércio da Província do Minho, apresentado à Rainha D. Maria I
em 7 de Outubro de 1784 pelos ‘Comerciantes e Homens Bons de Viana’, procurava
contrariar a situação de ‘deplorável decadência em que se acha a agricultura
das vinhas’. (Idem, ibidem: 188). A petição não foi aceite e a produção de vinho
desceu entre 1787 e 1796 Capela, 2003: 68-72). ‘Para esta evolução recessiva da
produção e vendas contribuiu o abandono de muitas vinhas em resultado da acção
da política comercial da Companhia via compressão dos preços e a exclusividade
das compras para o fabrico da aguardente’ (Leite, 2006: 198).
Ocorreu,
então, no Alto Minho uma alteração estrutural nas economias camponesas: vinhedos
deram lugar a milheirais, sendo o alargamento da área cultivada em ‘milhão’
também devida ao abandono da produção de outros cereais. Segundo uma Estatística
de 1792, ‘para toda a região da antiga comarca de Viana, a média geral dá 78,2%
ao milho, 13,7% para o centeio, 5,7% para o trigo e 2,3% para o feijão’ (Capela,
2005: 607).
Esta
especialização na cultura do milho e perda da importância relativa do vinho tornou
a economia agrária do Alto Minho extremamente dependente da evolução do preço
daquele cereal caracterizada por flutuações acentuadas com subidas e descidas
alternadas que se verificaram ao longo de quase todo o Séc, XIX , dando lugar a
períodos de açambarcamento e de especulação (Feijó, 1992: 159).
Para
o incremento dos milheirais concorreu a apropriação de novos espaços onde se pudessem
implantar leiras. Os férteis vales já estavam suficientemente agricultados e havia
necessidade de colocar milho em todo o terreno que o pudesse produzir. O corregedor
Morais Homem, em 1792, ‘considerava que, apesar das capacidades produtivas da
região, a agricultura na comarca de Viana apresentava «infinitos defeitos»,
criados pela obsessão do milho em detrimento do trigo ou centeio, levando a
semear aquele em terrenos impróprios por falta de água’ . Propõe 215 baldios
para arrotear no distrito de Viana , susceptíveis de 248 móios de semeadura. Em
Monção, existiam 18 montes maninhos que podiam levar 42 móios de semeadura(
Sousa, 1997: 74, q. 25), ou seja 2.520 alqueires.
Os
montes maninhos comunais ou ‘baldios do povo’, passam a ser vistos como terras que
poderiam se repartidas e aforadas para darem maiores rendimentos. Privados e Câmaras
concorrem para essa apropriação em tapamentos e apoiados na legislação
publicada durante e após a transição do Antigo Regime para o Portugal Novo
saído do Liberalismo.
As
novas leis inspiram-se nas ideias fisiocráticas veiculados por alguns autores
nas Memórias Económicas da Academia que sustentavam que ‘a repartição dos
baldios acarretaria um aumento da quantidade de terra arável disponível’
(Feijó, 1992: 108). De pouco valeu a chamada de atenção de Villasboas para ‘ a
necessidade que os lavradores tem dos montes, não só para o pasto dos gados ,
mas para o roço dos adubos, o que he huma razão demais para ser menor a
extensão das terras cultivadas que demandão sempre huma certa porção de baldios
propícios ao matto que as terras exigem: matéria para reflexão sobre as novas
tapadas que se fazem nos baldios com obrigação de os rotear’ (Villasboas, 1800:
157).
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Informação
extraída de:
LEITE,
Antero & LEITE, Maria Antónia Cardoso - Parada do Monte, História e
Património. ACER.
IAN/TT–Memórias Paroquiais,
vol. 27, memoria 58, pp. 383-388 (publicado em CAPELA,J.
FEIJÓ, Rui Graça –
Liberalismo e Transformação Social, Ed. Fragmentos, Lisboa, 1992
VILLASBOAS, Custódio Jozé
Gomes de – Descripção Topographica das Commarcas
Fronteiras da Província do
Minho, 1800 (inserido em Fernando de Sousa e Jorge
Fernandes Alves- ‘Alto
Minho. População e Economia nos Finais de Setecentos,
Editorial Presença, Lisboa,
1997,
Minho: Memória, História e
Património, Ed. C. M. de Melgaço, 2005).
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