A Igreja Paroquial de Paços (Melgaço) e área envolvente
(Foto de J. Braga)
(Foto de J. Braga)
O
topónimo (Paço, contracção de Palácio) deriva, de acordo com alguns estudiosos,
do facto de aqui ter havido não um mas diversos palácios, ou casas solarengas,
para alojamento de grandes senhores e suas gentes.
Trata-se
de uma povoação inquestionavelmente remota, e teve decerto a sua origem na
contínua passagem de povos entre as duas margens do rio Minho. Deverá ter sido
“a sede de uma antiquíssima vila romana que enquadraria todo o Melgaço
medieval.”
Acrescenta
o Padre Manuel Bernardo Pintor: “Movimento à localidade deve ter-lhe dado uma
passagem que havia no rio Minho, por onde, em recuados tempos, passavam os
peregrinos que demandavam o santuário jubilar de Santiago de Compostela, bem
como pessoas que, das redondezas, se dirigiam para além Minho por motivo de
seus negócios.
“Era o
Porto de Bergote. Tal devia ser a sua importância e o movimento da passagem que
a localidade se chamava Bergote de cá e de lá, em ambas as margens do rio, como
atesta um documento do mosteiro de Fiães do ano de 1223 pelo qual Toda Monis
com os seus seis filhos e filhas de apelido Fernandes e mais os filhos de
Marinho Fernandes, que, pelo apelido, se deve presumir ser irmão do marido,
venderam uma herdade a Fernando Sanches. Aqui se declara:
— A
mesma herdade está situada na vila que chamam Bergote. Vendemos-te quanto aí
temos em uma parte do Minho e na outra.
“Caso
estranho o facto de no fim do documento se mencionarem não as autoridades de
Portugal mas, sim, as de Leão, entre o Senhor de Crecente, isto é, o
governador, que era capelão régio, Pedro Fernandes.”
As
Inquirições de D. Afonso III, em 1258, falam de Bergote, pertencente ao
concelho de Melgaço. As de D. Dinis, em 1290, referem Bregontim, no julgado de
Melgaço, antepondo-lhe, decerto por confusão, o qualificativo de freguesia. Nas
Inquirições de 1307, já Bergote aparece sonegada aos direitos reais, desde há
mais de seis anos.
No
século XII há escrituras de propriedades em Paços, embora não indiquem o nome
da terra. A primeira referência documental referindo expressamente Paços, com o
nome de “vila”, aparece em 1210.
Em
1641, no decorrer das lutas da Guerra da Restauração, a freguesia de Paços foi
invadida por oitocentos soldados da Galiza que já tinham provocado desacatos em
Cristoval.
Ainda
no que diz respeito à história da freguesia, no Inventário Colectivo dos
registros Paroquiais Vol. 2 Norte Arquivos Nacionais /Torre do Tombo, pode
ler-se textualmente:
«As
primeiras referências conhecidas a Santa Maria de Paços remontam a 1171, e ao
cartulário de Fiães, que contém vários documentos referentes a lugares desta
freguesia.
No
catálogo das igrejas situadas ao norte do rio Lima, que o rei D. Dinis mandou
organizar, em 1320, para a determinação da taxa a pagar, a igreja de Santa
Maria de Paços foi taxada em 25 libras. Pertencia, na época, à terra de
Valadares.
Em
1444, a comarca eclesiástica de Valença, ao norte do rio Lima, foi desmembrada
do bispado de Tui, passando o território a pertencer ao bispado de Ceuta. Em
1512, o arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa, deu ao bispo de Ceuta a comarca eclesiástica
de Olivença recebendo em troca a de Valença do Minho. Em 1513, o papa Leão X
aprovou a permuta.
No
registo da avaliação dos benefícios da comarca de Valença do Minho, a que se
procedeu, entre 1545 e 1549, no arcebispado de D. Manuel de Sousa, a igreja de
Santa Maria de Paços, enquadrada na terra da vila de Melgaço, foi avaliada em
40 mil réis.
Na
cópia de 1580 do Censual de D. Frei Baltasar Limpo, Santa Maria de Paços
aparece como anexa ao mosteiro de Paderne, sendo da apresentação de padroeiros.
Em
termos administrativos, a freguesia de Paços pertenceu, em 1839, à comarca de
Monção e, em 1878, à comarca e julgado de Melgaço.
A
Igreja paroquial de Paços é uma Igreja de construção quinhentista, mas
reformada no século XVII, após ter sido incendiada pelas tropas espanholas e
alteada no século XX, conforme denotam os vários frisos que rematariam as
fachadas e agora surgem ao longo do terço superior das mesmas. A torre sineira
foi também alteada no século XX. Na capela lateral exterior de Santa Ana,
conserva estrutura em arco sobre mísulas que deveria corresponder ao vão da
primitiva capela e que agora enquadra a porta de ligação à igreja.
É do
ano de 1626 que data o primeiro registo de óbitos documentado. É de 1627 que data
o primeiro registo de casamentos documentado. Em Julho de 1641, o governador da
Galiza, o Marquês de Valparaizo, enviou um exército de oitocentos homens para
retaliar o ataque português de D. João de Sousa, incendiando as igrejas de
Cristoval e Paços, casas e searas das freguesia. Do ano de 1646 data a
obrigação à fábrica do Santíssimo Sacramento, a favor dos moradores da
freguesia, por quererem colocar o Santíssimo na sua igreja, devido à grande
necessidade.
O primeiro registo de baptismos documentado
nesta igreja de Paços é de 1654. Sabemos também que no sismo de 1755, a 1
Novembro, a igreja não sofreu ruína alguma fruto do terramoto.
Em Maio
de 1758, segundo o vigário Manuel José Pinheiro nas Memórias Paroquiais, a
freguesia pertencia ao Arcebispado de Braga, comarca de Valença, termo de Melgaço,
sendo da Casa de Bragança. O freguesia tinha 200 vizinhos e 647 pessoas. A
igreja, com orago de Santa Maria de Passos, ficava isolada, sem vizinho algum e
quase no meio do lugar. Possuía tinha três altares: o altar-mor onde estava
colocada a imagem de Nossa Senhora da Luz e o Apóstolo São Barnabé, o colateral
do Evangelho dedicado a Nossa Senhora da Conceição e o colateral da Epístola a
São Sebastião. A paróquia tinha também uma irmandade das Almas.
O
pároco era vigário, apresentado pelo mosteiro do Salvador de Paderne, tendo de
ordenado anual 20$000, excepto o pé de altar. O produto dos dízimos era 400$000
para o dito mosteiro. Encostada à capela-mor e da parte de fora da mesma,
existia uma capela de Santa Ana, a milagrosa. Nas Memórias Paroquiais
referia-se que, segundo tradição antiga, se dizia que a imagem de Santa Ana
tinha vindo pelo rio Minho abaixo juntamente com um sino chamado de Santa Ana,
e não só na freguesia, mas em toda a parte que se ouvisse tocar o sino, não
havia "pedraça", nem raio. Dizia-se que o motivo da capela estar de
fora se devia ao facto de que, depois da imagem ter aparecido nos limites da
freguesia e ter sido colocada dentro da igreja, ela no dia seguinte aparecia
sempre da parte de fora. Assim, foi entendido que a imagem queria estar onde
pudesse ver o rio, motivo que levou a construir-se a capela exterior à igreja.
Nessa
época, à capela concorria muito povo no dia da sua festa, do Reino de Portugal
e da Galiza.
Informações
extraídas de:
- ALMEIDA,
Carlos A. Brochado (2002), O sistema defensivo da vila de Melgaço. Dos castelos
da reconquista ao sistema abaluartado, Melgaço;
- CAPELA,
José Viriato (2005), As freguesias do distrito de Viana do Castelo nas Memórias
Paroquiais de 1758, Braga, Casa Museu de Monção / Universidade do Minho.
- www.monumentos.pt
- http://www.jf-pacos.com.
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