No
livro “Lugares Inesquecíveis de Portugal” da
autoria de Paulo Alexandre Loução, encontramos um bonito capítulo
dedicado ao castelo de Castro Laboreiro, redigido pelo Professor José
Domingues: “O
castelo dos Montes Laboreiro ou do Laboreiro (fr. Castro Laboreiro,
c. Melgaço) é a segunda fortaleza mais setentrional de Portugal –
a primeira é o vizinho castelo de Melgaço (fr. Vila, c. Melgaço).
Situa-se em frente ao lugar da Vila de Castro Laboreiro, no alto dum
cabeço rochoso da cordilheira montanhosa de Entre-Lima-e-Minho –
na época medieval identificada com os Montes Laboreiro, topónimo
que ainda perdura do lado galego – servindo de sentinela avançada
de toda a raia seca entre estes dois rios.
Trata-se
de um castelo medieval de tipologia roqueira, que, não fugindo à
regra dos seus homólogos, nos aparece de improviso no fio
cronológico do tempo, mudo como uma esfinge, ocultando o segredo das
suas origens. Sem embargo, é tanta a sua antiguidade que se não
guardou memória autêntica da sua fundação.
Não
surpreende, por isso, que desde o dealbar do século XVII, pelo
menos, os documentos manuscritos e impressos, com alguma assiduidade,
tributem a fundação da esculca do Laboreiro a S. Rosendo de
Celanova ou à sua família – e não será de todo despiciendo que,
do outro lado da raia, ainda hoje continuem a chamar-lhe o castelo de
S. Rosendo.
Reza
a lenda que D. Afonso III de Leão – o Magno
– terá doado, a título
hereditário, o monte Laboreiro – “leporarium
montem” – ao conde Hermenegildo
Mendo, avô de S. Rosendo, a título de recompensa por lhe ter
submetido um grande opositor. Por morte de seu avô passou para o seu
pai, o conde Guterres Mendo, e, sucessivamente, para S. Rosendo.
Mas
todo o período lendário tem o seu aspecto histórico: (i) esta
doação e consecutiva transmissão já aparecem registadas em
manuscrito do século XII, que relata a vida do fundador do cenóbio
de Celanova; (ii) se efetivamente se pode identificar a arcaica
terminologia “monte”,
que aparece nos documentos do século X, com as estruturas defensivas
muito rudimentares levantadas para as populações se abrigarem dos
ataques muçulmanos, normandos e eventuais violências internas,
desde esse recuado século que está documentada a existência do
castelo do Laboreiro em expressões como “subtus
mons leporario” e similares; (iii)
finalmente, não há dúvida de que o castelo do Laboreiro fazia
parte do património do mosteiro galego de Celanova, conforme consta
no contrato de permuta outorgado em Zamora, no ano de 1241, entre D.
Sancho II de Portugal e o dito mosteiro de Celanova, cedendo este
último o castelo de Laboreiro ao monarca luso, que por sua vez lhe
liberou a igreja de Monte Córdova (c. Santo Tirso).
Contra
o que tem seguido a correntes historiográfica tradicional, mais
lendária parece ser a tomada deste castelo pela força das armas, no
tempo de D. Afonso Henriques. Tudo por conta e crédito da carta de
couto que, no dia 16 de Abril de 1141, o mesmo monarca outorgou ao
mosteiro de Paderne, em compensação do tributo de dez éguas com
suas crias, trinta moios de vinho, um cavalo avaliado em quinhentos
soldos e cem moedas de ouro, que a abadessa Elvira Sarracine lhe
tinha prestado durante a tomada do castelo de Laboreiro – “istum
pretium et servitium fuit datum quando tomavit dominus rex castellum
de Laborario”. Este diploma
afonsino vem confirmar a existência do castelo na primeira metade do
século XII.
A
cronologia documental conhecida impõe que, para se aceitar o sucesso
bélico do nosso primeiro monarca, se acredite na conquista da
fortaleza roqueira do Laboreiro duas vezes consecutivas, no Inverno
de 1140 – uma por Leão e outra por Portugal. Esta ideia torna-se
assaz improcedente tendo em conta (i) a situação geográfica do
castelo e a defesa natural proporcionada pela escabrosidade dos
colossais penhascos que a natureza cinzelou, (ii) os invernos
rigoroso no âmago destas montanhas e (iii) a morosidade, os riscos e
as práticas de sitiar castelos em pleno século XII.
Assim
sendo, o mais plausível é que, primeiro, o castelo do Laboreiro
tenha tomado voz por Afonso VII, quando este por aqui passou a
caminho de Valdevez, e depois, após o Bafordo
de Valdevez e consecutivo armistício
entre os dois reinos, tenha ficado do lado de Portugal, aproveitando
o monarca luso a proximidade geográfica para o visitar e tomar
posse. O convento de Paderne, por sua vez e tal como outros
congéneres, ter-se-á limitado a comprar ao soberano a carta de
couto para o seu mosteiro, pagando o respetivo preço.
Regressando
ao hodierno, o “viajante” do prémio Nobel da Literatura, José
Saramago, ficou surpreendido com o nome da porta deste castelo
voltada para o casario actual da vila – porta
do Sapo – referindo que “alguma
coisa daria o viajante para saber a origem deste nome”.
Numa tentativa de satisfazer essa curiosidade, é bem plausível que
a explicação esteja na formação granítica, em forma de
tartaruga, que fica mesmo em frente a essa porta. A verdade é que
por estas bandas, plausível legado do Galaico-Português, a
tartaruga ainda é o sapo concho ou
sapo com concha.”
Extraído
de:
-
LOUÇÃO, Paulo Alexandre (2011) – Lugares Inesquecíveis de
Portugal. Eranos Edições; Lisboa.
Mais um dia... meus Parabéns!
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