Nunca como hoje a opinião pública deu tanta atenção aos fenómenos meteorológicos extremos. Contudo, se falarmos com os mais velhos, eles contam-nos como eram os duros invernos de antigamente, algo diferentes dos atuais. Se folhearmos os jornais melgacenses de outrora, encontramos notícias dedicadas a severas intempéries e aos graves danos causados. Em Dezembro de 1914, ocorreu uma violenta tempestade de que nos fala a esta notícia no "Jornal de Melgaço" de 17 de Dezembro desse ano:
"O temporal
Pode-se dizer assoutamente que o temporal da noite de quinta-feira passada foi horroroso e causador de innumeros e avultados prejuízos, quer em Melgaço, quer nos concelhos de Monsão e Valença e ainda por esse paiz fora.
O vendaval, acompanhado de grossas e continuas bátegas de água, fazia transir de mêdo os mais arrojados. É que parecia tudo arrastar e tudo derruir. E a prova está na descripção simples e resumida, dos estragos por elle causados e que passamos a descrever;
O regato do Rio do Porto, que passa nesta villa, devido à grande enchente, alagou muros, destruiu latadas e causou grandes prejuízos aos proprietários confinantes.
O de Prado, maiores estragos causou, porque, além de também arrasar muros, campos e latadas, destruiu as pontes de Canles, da Carpinteira e parte da Pedrinha, próximo do monte de Prado.
O do Barral, em S. Paio e o de Midão, em Paderne, danificaram também muitos prédios confinantes, causando-lhes consideráveis prejuízos, e o Mouro, que atravessa as freguezias de Parada do Monte, Cousso e Gave, d'este concelho, e Riba de Mouro e outras, do concelho de Monsão, deixou horrorizados todos os seus habitantes. As pontes da Cella e de Virtello, assim como todos os moinhos, fulões e engenhos, tudo foi destruído, causando este facto o maior pânico.
Na Ponte do Mouro, o espectáculo era deveras admirável mas assombroso. A corrente arrastou, até ali, pipas, salgadeiras, soalhos, adelhas de moinhos, peças de engenhos de serra, cadeiras e muitas outras coisas que é impossível enumerar, entrando também em algumas casas daquella localidade e destruindo completamente alguns moinhos e azenhas, assim como derrubou parte das guardas da antiga Ponte.
O rio Gadanha, na freguezia de Troporiz, concelho de Monsão, destruiu quasi totalmente os moinhos e engenhos de serragem que ali existiam, assim como destruiu a ponte que ligava parte da freguezia com a estrada nacional e o resto de uma outra ponte, construída em 1909, acabou de ser desmoronada.
Na freguezia de Pias, do mesmo concelho, fez o mesmo rio idênticos estragos, chegando a ficar interrompido o transito pela ponte da Naia. Em Valença, a innundação causou enormes prejuízos nas freguezias de Cerdal e Gandra; principalmente na primeira são calculados em 50 contos. O sr. José Casimiro Affonso perdeu a sua bem montada fábrica de moagem, serragem e de azeite, levando-lhe a corrente grande porção de material e cereaes, ficando só as machinas.
Muitos outros proprietários tiveram também grandes prejuízos, vendo os campos sem vinha e sem arvores. Da ponte da egreja, em construcção, nada ficou!
No último domingo, caiu sobre os logares de Pouzafolles, Balsada, Faval, Quingosta, Porto-Carreiro e Fulão, da freguezia de Fiães, deste concelho, uma tão terrível trovoada que, alem de causar enormes prejuízos aos prédios confinantes do rio Trancoso, levou na sua passagem moinhos, terrenos e cinco pontes que havia de communicação com a Hespanha, ficando por isso os moradores daquelles logares nas mais críticas circunstâncias por não poderem agora transitar com seus gados e carros para Hespanha, onde muitos delles têem a maior parte de seus bens.
Os prejuízos são calculados em muitos centos de escudos e por isso, na impossibilidade de os respectivos povos poderem occorrer a taes despezas, devem as juntas de paroquia, por intermédio da autoridade administrativa ou da Câmara Municipal, solicitar do Governo o subsídio indispensável para reparar, se não todos, a maior parte dos prejuízos causados."
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