Castelo de Melgaço na década de 1930. Parte da muralha já não existe.
Em
1910, quando da classificação do castelo de Melgaço, este encontrava-se em
adiantado estado de ruína e, da cerca, já pouco restava. Desde 1884 que a
Câmara Municipal tinha decidido vender boa parte da pedra da muralha.
Entre
10 de Outubro de 1914 e 3 de abril, de 1916 efetuou-se a escritura de compra do
que restava da fortificação da vila para demolir, incluindo a Porta de Baixo
com a inscrição medieval, a título de alargamento e aformoseamento da vila.
Desse modo, a 14 de Outubro de 1914, procedeu-se à demolição da cerca desde a
Porta de Cima, a que ligava com a couraça nova, para a Porta de Baixo,
vendendo-se a pedra. Em 1916 a Câmara cedeu oito carros de pedra da muralha por
troca de um pedaço de terreno pertencente a D. Maria da Nazareth Esteves dos
Santos Lima, para o município abrir uma servidão junto à estrada de Prado a
Paderne, no sítio de Cortinhas.
Em 1917 pretendeu-se acabar com este resto e se não fora o alarme lançado por António Maria Vasco de Melo Silva César e Meneses, 9º conde de Sabugosa a que se seguiu um movimento encabeçado pelo jornalista Humberto Beça, hoje nada restaria da fortificação.
Em 1917 pretendeu-se acabar com este resto e se não fora o alarme lançado por António Maria Vasco de Melo Silva César e Meneses, 9º conde de Sabugosa a que se seguiu um movimento encabeçado pelo jornalista Humberto Beça, hoje nada restaria da fortificação.
A
este respeito, escreveu o Conde de Sabugosa uma nota no livro “Neves de Antanho”
que dizia que “Ainda hoje, enquanto isto escrevemos, (Agosto 1917), a vila conserva
algumas dessas vielas de pitoresco aspecto, e é, em parte, cintada com as veneráveis
muralhas que tanto a enobrecem. Consta-me, porém, que o município, com a deplorável
mania de «modernizar», vício incorrigível das nossas edilidades. umas boçais, outras
mal orientadas, está atentando criminosamente contra a majestade da sua terra, dilacerando-lhe
os vetustos flancos para «fazer dinheiro» e colher materiais destinados a um edifício
público, um tribunal, segundo me informam, que será provavelmente semelhante
ao matadouro com que já se orgulha! Que lástima! Se alguma entidade há, que possa
impedir o sacrilégio, acuda breve a afastar esta vergonha de Portugal!”
Em
consequência, a 5 de Dezembro de 1917 um ofício do presidente do Conselho de
Arte e Arqueologia indagava à Câmara por que motivo se demoliram as muralhas da
vila, sem ser ouvida a Comissão dos Monumentos. A Câmara entendeu que a
suspensão dos trabalhos era contrária aos interesses do município, decidindo
informar a Inspecção-Geral das Fortificações e Obras Militares para garantir os
seus direitos. Como resultado, em 23 de Janeiro de 1918, um despacho do
Ministério da Guerra anulou a venda de talhões. Todavia, a Câmara decidiu vender o material
proveniente da demolição de uma casa situada no largo do Chafariz e a pedra da
muralha da couraça nova (26 de Junho de 1919). O entulho deveria ser deitado no
espaço onde estavam os canastros, sobranceiro ao antigo lavadouro público (o
atual jardim que rodeia o castelo). O Inspetor do Conselho de Arte e
Arqueologia pediu que a Câmara o informasse sobre o plano de melhoramentos do
castelo.
Contudo,
Em 5 de Maio de 1920 a Repartição de Turismo solicitou a constituição de uma
Comissão que tivesse como objetivo a "guarda e defesa do castelo".
Nesse mesmo ano, a 24 de Novembro, tendo recebido um reforço orçamental, a
Repartição de Turismo solicitou à Câmara o envio de lista das obras a
empreender e o respetivo custo.
Sem
preocupação de preservação, a 25 de Fevereiro de 1925 a Câmara deliberou vender
a pedra dos alicerces das muralhas da vila, desde a extremidade do quintal das
senhoras Almeidas até a extremidade do quintal de Emiliano Igrejas por oito
escudos cada carro. A 1 de Abril seguinte, licitou dois lotes de pedra, um por
400$00 e o outro por 600$00. A 15 de Julho subsequente, colocou novamente em
praça um terceiro lote de pedra das muralhas. À época, ainda, o presidente da
Junta de Freguesia da vila solicitou à Câmara o refugo de pedra das muralhas
para consertar o caminho público da Pigarra. No ano seguinte (1926), José
Augusto da Cunha requereu à Câmara que lhe facultasse mais 80 carros de pedra,
para além dos 120 que já havia levado, a qual se encontrava à entrada da vila,
no lado sul, entulhada e em monte (27 de Outubro).
Depois
de tudo isto, podemos olhar para o estado da torre e da muralha que restava na
foto ao cimo. Sem mais palavras...
Informações recolhidas em:
- CONDE DA SABUGOSA (1918) - Neves de Antanho. Edição da Livraria Bertrand, Lisboa.
- www.fortalezas.org.
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