Frente do desdobrável (Janeiro de 1955) |
Em Janeiro de 1955, é publicado um desdobrável destinado a
promover o concelho de Melgaço que era uma espécie de um guia para o visitante.
No mesmo, encontramos um texto da autoria do professor António Pinho, de
Paderne, que parece uma verdadeira declaração de amor pela sua terra.
Melgaço e a sua região
“Eis a vila e concelho mais setentrionais da
mais setentrional província desta Pátria Camoniana que nos foi berço; eis o
torrão que se impõe pelos seus motivos históricos e pelos panoramas
inconfundíveis que, através dele, se dominam, para aquém e além fronteiras.
Melgaço, antiga
fortaleza árabe, terra lusitana de mais antiga e ilustre história, foi mandada
povoar pelo Rei Conquistador, que lhe concedeu foral e a elevou a concelho.
Assoalhado numa acidentada encosta, reclinada para o
rio Minho que, a seus pés, desliza, sinuoso e meigo, e sulcado por riachos fertilizantes por entre encostas alterosas, o concelho de Melgaço enquadra-se
numa das mais fascinantes e paisagísticas regiões minhotas que o pintor à tela
tem confiado.
Se, porém, a sua situação geográfica é, sobremaneira,
privilegiada, não é só esta, já por si, assas forte, que, distinguindo-o, o
ilustra e diz típico, entre os mais genuinamente portugueses.
São as belezas inebriantes com que a Natureza
caprichou em fadá-lo. São os seus artísticos monumentos. É o folclore das romarias
e cortejos. É a uberidade do seu solo. São os costumes das suas gentes. É a
vegetação das suas campinas e vergeis. São as construções do último quartel a esmaltarem-no. É a policromia de seus panoramas. É o murmúrio da água das suas
fontes, sumamente, são todos os atributos paisagísticos, históricos, arqueológicos, etnográficos e folclóricos que tornam bem distinto este
canteiro, o primeiro, desse “jardim à beira mar plantado” que o Épico,
singularmente, cantou.
A sua vila assenta arraiais em torno do Castelo, que
outrora a escudou e hoje a vela, mirando, altivo, defronte, o Edifício dos Paços
do Concelho e, em silêncio, escutando os segredos dos pares enamorados que, do
simétrico e colorido jardim da Praça da República se encaminham para a Avenida Salazar,
por onde, divagando, desfrutam toda a magia e encanto da vasta e singular
paisagem que daí se domina.
Para o ocaso, a três quilómetros desta, num pitoresco
recanto, brotam, em duas bicas, as afamadas “águas minerais” que ao doente
aliviam e ao são proporcionam bebida agradável. Sim, a essa distância situa-se
a Estância Hidrológica do Peso.
O Peso... Insigne “boulevard” sob ramada compacta de
árvores frondosas; rincão onde o sol, noutras partes, calcinante, enamorando a
copa do arvoredo, que sofre as inclemências do astro-rei, para prodigamente
oferecer ao aquista ou ao visitante, a sombra, uma sombra perfumada pelo aroma
inconfundível da flor das tílias que se evola nos ares e cala nos corações.
Estância de cura e turismo, de vilegiatura e repouso,
é o Peso. Ali afluem, na época calmosa, inúmeras pessoas que, extasiadas,
esquecem, como que por encanto, aquelas preocupações do dia a dia que a todos
encurtam a vida e comprometem a alma. Aí, tudo distrai e seduz...
É o harmonioso marulhar das água do bucólico regatozinho.
São os campos de jogos, onde se pratica o ténis e joga o golf. É mais além, o
maravilhoso Balneário, onde se exercita a mais avançada terapêutica, que bem
digno é duma visita. É adentro do majestoso pavilhão, o cantar da água da “bica”
que, qualquer coisa, parece segredar às solicitas empregadas, as quais num
constante vai-vem, levam um copo vazio, enquanto a miraculosa água a outro
abranda sofrimento ou mitiga a sede.
E, por toda a parte se vê gente que admira, comenta,
medita, lê, conversa, discute e, assim, neste cantinho abençoado, o espírito
esclarece-se, o país encontra-se, a saúde melhora-se e as horas voam!...
Mas o businar das caminhetas dos hotéis lembra a hora
de jantar. Mergulha-se, então, a Estância no silêncio e o buliço é agora nos hotéis e pensões onde a culinária é de primeira qualidade.
A levante limita este concelho, em parte, o Trancoso
que, dando seguimento, em Alcobaça, à raia seca demarcada, que vem desde a
Ameijoeira, vai lançar as suas águas no Minho, no local onde este diz adeus à Nação
Vizinha – e vá lá o prolóquio: onde a voz de um português se faz ouvir em duas
províncias espanholas, Orense e Pontevedra, que, com a do Minho, ali confinam – para, caudaloso e
ofegante, banhar terras portuguesas.
Ali é Cevide e, mais acima, é S. Gregório, que se
alcandora nas ribas dum e doutro, a meia encosta do Monte do Facho, fitando –
qual sentinela alerta – assim altaneiro, a Galiza a quem se liga por uma
excelente ponte internacional que dá acesso à cidade de Orense.
Esta risonha povoação que, olhada defronte, à distância,
se nos assemelha a um presépio, dista pouco mais de meia dúzia de quilómetros
da sede de concelho, à qual se liga por uma excelente via nacional, donde, a
cada passo, se topa com excertos de paisagens das mais imponentes e majestosas que se podem oferecer a olhos humanos. Abstemo-nos de traçar aqui o seu perfil
para não corrermos o risco de falsear a verdade, denegrindo-lhes, porventura,
o que de sui generis as descrimina, que bem digno é o estro do poeta, da
fidelidade do pintor ou do sentimento emotivo de pena melhor aparada. Far-nos-emos
eco somente de que, a caminho de S. Gregório, tudo se patenteia e conjuga em
manifestações grandiosas de beleza incomparável, em vistas panorâmicas sem
confronto que, seguidamente, a nossos olhos se desdobram e nos fazem admirar,
cada vez mais a obra do Criador.
Lá no alto, a sul, é Castro Laboreiro, é serra..."
(Continua na próxima publicação)
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