Há vários séculos atrás, existiu dentro das muralhas do castelo de Castro Laboreiro uma pequena capelinha. Era a ermida de Santa Bárbara ou de Nossa Senhora dos Remédios. Era nessa pequena capela que a guarnição do castelo cumpria os seus deveres religiosos.
A sua localização dentro das muralhas pode-nos levar a alguma discussão. No desenho da planta do castelo de Duarte D'Armas, por volta de 1509, não vemos representada nenhuma capela, o que nos poderá levar a presumir que ainda não existisse na época. Vemos a torre de menagem ao centro perímetro amuralhado com um compartimento adossado à parede sul da torre.
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Planta do reduto norte do castelo de Castro Laboreiro (Duarte D'Armas, 1509) |
O pequeno templo de Santa Bárbara já é representado numa planta do castelo que data de 1650 e será porventura a referência mais antiga à sua existência, desconhecendo nós a época da sua construção. Na mesma planta do castelo, são representadas várias construções adossadas às muralhas este, oeste e sul e com a capela de Santa Bárbara encostada ao muro oeste da torre de menagem e assinalada com uma cruz.
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Planta do castelo de Castro Laboreiro (1650) |
Contudo, em 1659, em pleno período da Guerra da Restauração, um raio atinge a torre de menagem e esta cai em cima da dita capelinha. Um documento da época conta-nos a forma como a capela foi destruída pelo sucedido: “... Aos dezoito dias de Novembro de 1659, que foi uma terça-feira, às nove horas da manhã, caiu um raio na Torre do Castelo, que servia de Armazém da pólvora e mais munições, o qual raio deu na pólvora e fez a maior ruína que se sabe (...) as suas casas e as fez em pedaços e aí estavam e aí escapou com mais segurança e castigou o que na Ermida não podia ficar pedra sobre pedra, pois caiu toda a Torre sobre ela e ficou Nossa Senhora dos Remédios aí me recolhi, sem cobertura, sem água...”.
Depois deste episódio, a torre de menagem não seria reerguida. Quanto à capela de Santa Bárbara, esta ficaria em ruínas durante muito tempo. Cerca de um século depois, na Memória Paroquial de 1758, o pároco da freguesia refere que o castelo era antiquíssimo, tendo parte da muralha arruinada e, no interior, existem casas onde habitavam os soldados e o governador do castelo, todas arruinadas e sem portas. Não há nenhuma referência à existência da capelinha pelo que é provável que a mesma permanecesse arruinada na época. Temos que ter em conta que, durante o século XVIII, o castelo esteve boa parte do tempo sem guarnição. Depois da perda de importância, o castelo voltaria a ter guarnição no contexto das invasões francesas no início do século XIX.
Fomos procurar na documentação da Arquidiocese de Braga, nomeadamente nos livros do seu Registo Geral, e fomos encontrar prova documental de que a pequena capela foi, de facto, reconstruída ainda no último quarto do século XVIII, umas décadas antes das invasões napoleónicas. Na verdade, em Janeiro de 1777, a pequena ermida já se encontrava reedificada. Por essa altura, o arcebispo de Braga passou a necessária licença para a capelinha ser benzida depois de terminada a sua reedificação, tal como podemos ler neste documento da época:
“Provisão de licença para se benzer a capela se Santa Bárbara sita no castello de Crasto Laboreiro.
D. Gaspar Arcebispo e senhor de Braga Primaz das Hespanhas, attedendo ao que em sua suplicação nos apresentou o Governador Manoel Machado de Araújo, Cavaleiro professo da Ordem de Cristo , Governador do castello de Crasto Laboreiro deste nosso arcebispado, informação do Reverendo Pároco da freguesia de Santa Maria de Crasto Laboreiro, e ao mais que consideremos, havemos por bem dar commissão ao Reverendo Pároco da dicta freguesia para que na forma do Ritual Romano benza o capela da Senhora Santa Bárbara, sita dentro do dicto castello, por se achar reedificada, e com a decência necessária e depois de benzida, concedemos licença para que nella se possa dizer Missa, e celebrar os Offícios Divinos; e elle Reverendo Pároco nas costas desta sua certidão em que conste dia, mez e anno. E pelo assim havemos por bem mandarmos passar a presente que ao depois de ser por nós assinada, se registava no Registo geral desta Corte, sem o que não valha. Dada em Braga sob nosso signal e sello de nossas armas aos 8 de Janeiro de 1777".
Atualmente, nas ruínas do castelo, ainda encontramos vestígios de antigas estruturas e junto à muralha que divide os redutos norte e sul, podemos ver as primeiras fiadas de pedra de uma estrutura de planta quadrangular, com entrada de acesso virada a norte e que parece corresponder à antiga capela de Santa Bárbara. Se esta ruína corresponde à antiga capelinha, isto significa que a mesma foi reedificada num local diferente do local original. Na planta de 1650, esta ermida aparece encostada à parede oeste da torre de menagem, no reduto norte (o que se encontra a uma cota superior). Esta ruína que podemos ver na atualidade, aparece perto da muralha que divide os redutos norte e sul do perímetro amuralhado, situando-se no reduto sul perto da muralha divisória e com porta para norte.
Sabemos que na viragem para o século XIX, o castelo já tinha de novo guarnição e era defendida por quatro peças de artilharia.
Depois das invasões francesas, o castelo entra num declínio definitivo e em abandono. Deixa de ter guarnição e não voltamos a encontrar referências à capelinha de Santa Bárbara. Muita da pedra das muralhas e outras estruturas é trazida para ser empregue em edificações na vila castreja ou lugares próximos.
No início do século XX, é mais ou menos certo que a antiga ermida de Santa Bárbara já não devia existir já que não é citada no Arrolamento dos bens da paróquia em documento produzido em quatro de Dezembro de 1911.
Na edição de XX de XX de 1921, no jornal castrejo "A Neve", o redator de um texto, que assina como "Manolo" escreve a respeito desta singela ermida, nestes termos: "...Na parte sul e ao fundo do planalto estava a capela de Santa Bárbara..." Definitivamente, este pequeno templo já fazia parte do passado nessa época.
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Ruína que se acredita ser da capela de Santa Bárbara. |