Pelos documentos históricos, conhecemos diversas individualidades que desempenharam o cargo de alcaide-mor de Melgaço e do extinto concelho de Castro Laboreiro, desde os tempos da Idade Média. Vários deles pertenciam à poderosa família fidalga dos Castros de Melgaço. Um deles foi Pedro (ou Pêro) de Castro, que ocupou esse cargo entre 1576 e 1578 e do qual pouco se sabe.
Este alcaide-mor de Melgaço e Castro Laboreiro desapareceu para sempre na célebre batalha de Alcácer-Quibir, travada no dia 4 de Agosto de 1578, no norte de África, onde combateu ao lado do rei D. Sebastião.
Pêro de Castro deve ter nascido algures na década de vinte do século XVI. Além de alcaide-mor de Melgaço e de Castro Laboreiro, foi também vedor da Casa da D. Catarina, esposa do Duque de Bragança, D. João, e Comendador da Ordem de Cristo. Foi casado com D. Jerónima da Maia, e mais tarde, em segundas núpcias, com D. Joana de Castro. Do primeiro casamento, teve Fernão de Castro, que acompanhou o pai para África, tendo também combatido em Alcácer-Quibir, e sido feito prisioneiro durante a batalha. Mais tarde, viria a ser Alcaide-mor de Melgaço e Castro Laboreiro, referido como tal em documentação a partir de 1584.
Além de alcaide-mor, Pêro de Castro era também Capitão-mor e sargento-mor do castelo de Melgaço, suspeitando, nós, que também seria provedor da Santa Casa da Misericórdia melgacense.
Este Pêro de Castro era filho de Fernão de Castro, sendo neto de um outro antigo alcaide-mor de Melgaço, chamado também Pêro de Castro, referido no foral manuelino. Aquele último era proprietário, entre outras, da chamada Quinta do Reguengo, na época denominada de Quinta da Várzea. Esta designação já consta no foral de D. Manuel I a Melgaço concedido em 1513. Na época, é referida como uma grande e boa propriedade de terreno fértil, belamente situada na Juradia da Várzea e no termo de Melgaço. No dito foral, podemos ler “Primeyramente tem a Coroa Real … - E na freguysia de Varzea tem ora o dito pero de crasto a quintãa da Varzea q he Reguenga. E asy as vinhas e herdades della que soyam seer dous casaaes reguegos.
Temos também provas documentais de que Pero de Castro, aí por volta de 1570, mandou começar a construir a capela de Santo António do Campo da Feira, na vila de Melgaço. Onde ficaria situada esta capela? ESTEVES, A. (1957) esclarece que “fora das muralhas, a um dos lados daquele terreno onde se realizava mensalmente a feira local e quando ainda se não tinha levantado a obra córnea da praça com o fim de aumentar o poder de resistência e protecção das forças militares, Pero de Castro, um dos fidalgos caídos para sempre na desgraçada batalha de Alcácer-Kibir entre gente do Duque de Bragança, Dom Jaime, aí pelo ano de 1570 abriu os alicerces e principiou a levantar as paredes de uma ermida em honra de Santo António...” Assim, esta capela situava-se nos terrenos da atual Praça da República perto do término da atual rua Afonso Costa, e foi demolida no último quarto do século XIX para se rasgar a rua Nova de Melo. A edificação da capela apenas foi concluída bastantes alguns anos mais tarde, já no tempo de Gil Gonçalves Leitão, juiz de fora de Melgaço e provedor desta Santa Casa da Misericórdia. Sabemos que este determinou em 1595 que se terminassem as paredes desta ermida. Estas informações podemos encontrá-las no Livro dos Provedores da Santa Casa, onde se lê numa memória posterior de 1597: “O Licenciado Gil Gonçalves Leitão juiz de fora que foi nesta vila e provedor que foi nesta casa fez acabar a ermida de Santo António de paredes que havia muitos anos que estava começada por ordem de Pêro de Castro, alcaide-mor desta vila”.
Temos conhecimento que, antes da partida de Pêro de Castro para África, o cargo de alcaide-mor de Melgaço passou para Belchior de Castro, senhor do Paço de Rouças, em São Paio. Para comprovar tal facto, podemo-nos apoiar num documento de justificação de nobreza feita no tribunal de Melgaço em 1601: “...que indo desta terra Pero de Castro era o alcayde moor desta villa pera affrjqua [África] na jornada de EI Rei dom sebastião deixou ho carrego de capitão moor e sargento moor e allcajdarias moor a belchior de castro tio do sobplycante lopo de castro o quall serbio os ditos carregos athe a Ora de sua morte athe entregar esta villa a sua magestade por mandado do duque noso Snr por ser o dito belchior de castro seu parente primos segundos…".
Sabemos que em Março de 1578, cerca de cinco meses antes da batalha, Pêro de Castro ainda se encontrava em Melgaço. Tal facto nos prova um documento, em cujas linhas iniciais se pode ler: "Saibam quantos este estromento de doaçam cesão de bens que deste dia pera todo o sempre já mais virem qomo no anno do nacimento de noso Senhor Jesuxpo de mill quinhentos setenta e oito annos aos onze dias do mes de março do dito anno na quinta de Várzea do illustre Sñor Pero de Castro fidalgo de linhagem e alcaide môr do castello da villa de Melgaço, estando ...”
Desta forma, a sua partida deu-se depois de meados de Março desse ano. Em relação à sua participação na batalha, em 4 de Agosto desse ano de 1578, em ESPANCA, J. (1983), diz-se que “Da seguinte relação, que tiro da História Genealógica, consta um grande número de Fidalgos e criados que com o Duque de Barcelos se acharam na batalha de Alcácer-quibir e nela morreram ou ficaram prisioneiros. Além de D. Jaime, tio do jovem duque, há memória dos seguintes Fidalgos: (...) Pedro de Castro, Alcaide-mor de Melgaço que, achando-se vivo no campo da batalha depois de perdida já, não mais se soube dele...”
Tal como o rei D. Sebastião, não sabemos se o alcaide-mor de Melgaço e Castro Laboreiro morreu em combate ou se foi feito prisioneiro até ao fim dos seus dias. Apenas sabemos que desapareceu para sempre.