sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Acerca de um milagre atribuído à Senhora da Peneda há 300 anos

 



Completam-se 800 anos sobre a lendária aparição de Nossa Senhora, supostamente ocorrida em Agosto de 1220 no local onde se encontra o santuário e anteriormente existiu uma ermida. 

A lenda da aparição perdurou na tradição oral e aparece descrita no livro "Santuário Mariano", publicado no início do século XVIII e onde encontramos uma recolha de estórias da tradição oral relacionadas com crenças religiosas. Nesse mesmo livro, encontra-se descrito um alegado milagre ocorrido há cerca de 300 anos, atribuído à Senhora da Peneda e ocorrido em 1719: "Agora descrevemos hum grande milagre, que Nosso Senhor fez pelos merecimentos desta Senhora a hum seu devoto, o qual se descreve na Gazeta de dois de Mayo deste anno de 1720 e diz assim em uma cláusula. Por carta do Ilustríssimo Arcebispo de Braga, escrita ao Chantre da Collegiada de Vallença do Minho em 18 de Abril se tem à noticia, de que na Freguesia do Salvador da Gravieyra, cinco légoas da Villa de Ponte de Lima, aonde se venera huma imagem de Nossa Senhora milagrosa, com o titulo da Senhora da Peneda, sucedera entre os muitos prodígios, que ali observa a Fé dos seus devotos, hum notável, e raro caso em Jacinto Gonçalves da Freguesia de S. Tiago de Calvos, do Reyno de Galiza, o qual havendo perdido em uma peleja, que houve com os Mouros, junto à praça de Millilha (na véspera de São João Batista do ano passado de 1719) a sua mão esquerda, cortada com hum golpe tão violento, que lha lançou fora, distância de três passos -, chamando pela Senhora da Peneda, lhe estancou logo o sangue que vertiam as artérias, e sem outra ferida prosseguiue concluiu o choque, em que a vitória ficou pelos espanhóise vindo no primeiro bado da Quaresma deste ano de 1720 agradecer à Senhora a mercê, que lhe fizera, estando em oração diante da Imagem da Senhora, lhe sobreviveu hum acidente, que o privou dos sentidos e tornando a si, achou restituída a mão, que lhe faltava, ainda que pálida (como defunta) e sem movimento algum. Porém, passadas quatro horas a pode abrir e fechar sem dificuldade, e no dia seguinte a teve capaz de trabalho, o que tudo viram muitas pessoas, que se acharam presentes, e para que esta portentosa maravilha fosse patente a  todos, lhe ficou um círculo vermelho na mesma parte, por onde lhe fora cortada a mão, a qual como prodígio novo se lhe agravou um dia com excesso conhecido, para tirar a dúvida a uma pessoa, que não dava crédito ao milagre e à vista do sucesso, pediu à Senhora perdão da sua incredulidade dando-lhe muitas graças Até aqui o que refere a Gazeta sobre as maravilhas da Mãe de Deus, que obra muitas naquele seu Santuário, como já dissemos. 

 

Extraído de:  SANTA MARIA, Fr. Agostinho (1721) - Santuário Mariano. Officina de António Pedrozo Galram, Lisboa.