sábado, 26 de junho de 2021

Reportagem da RTP em Melgaço em 1985




Trata-se de uma reportagem televisiva feita em 1985 que percorre alguns pontos em Melgaço. Na mesma, vemos imagens de São Gregório, da vila e de Castro Laboreiro, com entrevistas a vários melgacenses acerca das eleições legislativas desse ano...

sábado, 19 de junho de 2021

São Paio, Melgaço (1832) - Um salteador volta à sua terra

 


Há quase 200 anos, Melgaço vivia tempos bastante complicados fruto do clima de terror provocado por bandos de salteadores como o do Tomás das Quingostas, natural de São Paio. Em 1829, foi, pela primeira vez, preso e julgado pelo assassínio de um homem em Prado, tendo ido cumprir pena para a antiga Cadeia da Relação no Porto, junto à torre dos Clérigos. 

Quando as tropas liberais entraram no Porto, em Julho de 1832, foram libertar os presos políticos, tendo o Tomás das Quingostas, no meio da confusão, sido libertado.

O que aconteceu ao Tomás das Quingostas depois de sair da prisão?

Segundo ESTEVES, A. (1952), “Saído «das cadeias do Porto em 1832 pela entrada do Senhor D. Pedro naquela cidade» e, na verdade todos os historiadores daquele período da luta fratricida confirmam terem as forças desembarcadas em Pampelido, à sua chegada ao Porto, aberto as prisões e soltado os presos, indultando-os assim, veio o Tomaz para S. Paio, sem aguardar para a escápula a caricata aventura de Carlos Napier. 

Sua mãe tinha no lugar de Baratas uma casinha onde fora feito, dizia-se, o património do primo do seu filho, o P. Manuel António Pereira Codeço, morador no lugar do Cruzeiro, mas comprada pelo seu marido era ainda solteiro. 

O Tomaz, ao chegar à terra, fôra-se logo com machadas e verrumas, cravos e martelos à referida casa e, à valentona, lhe cravára as portas, ficando até, alegou o padre, dentro fechadas umas suas sobrinhas. 

Com este acto de violência parece ter atemorisado muita gente e especialmente aquele clérigo, pois sempre ele se disse receoso de perder a vida às mãos do parente. 

Perde-se lhe a pista no resto daquele ano, mas não repugna a suposição de ter gasto esses meses na formação de uma guerrilha ou a reorganizar a malta de facinorosos e atrevidos ladrões, acusada como já existente nos tempos anteriores à prisão. 

Perto das Baratas vivia o Cirurgião de Real, Manuel José de Caldas, casado e com filhos, a prestar os seus serviços por aquelas redondezas em troca das avenças dos fregueses, quase todas em milho, e por isso havia bom passadio no seu lar.  

Ora em Janeiro de 1834 o Tomaz das Quingostas exigiu do cirurgião quarenta e sete alqueires e meio de milho e em Julho do ano seguinte mais cincoenta alqueires e tres quartos. 

Poucos dias antes desta última data a Prefeitura do Minho iniciara a caça ao Homem, oficiando aos sub inspectores de Melgaço e de Monção para lhe ser feita guerra de morte, com «a suspeita que sejão um fermento de guerrilha notrindo rellaçõens com os faciosos do reino vizinho» e no princípio do último trimestre deste mesmo ano secundara a caça o Governo Civil de Viana, mas confessando, abertamente, haverem-se «tornando infructíferas todas as medidas adoptadas para este fim, pelo auxílio que os mesmos Povos dão a este chefe, fazendo-se por isso tão cúmplices como os referidos Salteadores…» 

Tomaz das Quingostas nem assim transferiu o seu quartel general para outra região, mas os acontecimentos políticos desenrolados no país e, sobretudo no distrito, dele distraíram as atenções dos diversos dirigentes da nação, durante o ano de 1836.  

À vontade, portanto, o Tomaz continuou a campear em Melgaço e em 7 de Maio de 1836 fez ao cirurgião Caldas a nova exigência de setenta e dois alqueires de milho e, como tantos não havia em casa, levou-lhe o rol das avenças e foi cobrar a maior parte do cereal à casa dos próprios fregueses. 

O Tomaz das Quingostas foi então perseguido pela tropa e, desconfiando do cirurgião, considerando-o único espia dos seus actos, recebeu em Agosto como indemnização; um cavalo, levado das Baratas pelo seu companheiro bem conhecido pela alcunha «O Casal de Sante» e em Outubro um touro, tangido desde ali pelo João Ferreiro, de Barata. 

Dias antes perseguido outra vez pela tropa, fôra ele encontrado no caminho de São Bento do Cando, em 11 de Julho. Apanhada a guerrilha de surpresa, poude ela, contudo, escapar-se das garras da força pública, mas deixou ficar no sítio vários objectos e um cavalo, que a tropa apreendeu. 

Este insucesso foi também imputado ao cirurgião e, para salvar a vida, remiu-o pagando uma segunda indemnização; 99$800 reis. 

Mas como a tal luta de morte não acabara ainda, nos primeiros dias de Fevereiro do ano seguinte o Comandante da 4ª Divisão Militar, com o conhecimento e aplausos do Governo de Sua Magestade a Rainha, anunciou às autoridades locais que, brevemente, uma força militar sob o comando do Major de Caçadores 4, José de Figueiredo Frazão «vai occupar esse Concelho, o de Monsão e Valladares, com o importante fim de conseguirem o extermínio ou dispersão da Quadrilha de salteadores que tantos males tem causado aos seus infelices habitantes, e de que é chefe o malvado Congostas».  

Poucos dias volvidos sobre este aviso, Paderne foi ocupado por trinta baionetas da Ordem, de propósito mandadas por autoridades superiores para efectuarem o extermínio da fera humana. 

Por este mesmo tempo, no monte de Montrigo, na própria freguesia de São Paio, casualmente vieram à fala Tomaz Codeço e Manuel de Caldas e dessa conversa saiu o empréstimo de cinco libras em ouro, feito por aquele para este governar a sua vida. 

Em Março de 1838 «com muita violência e ameaças de vida» foram-lhe ainda exigidos mais sessenta alqueires de milho. 

Não contente com este canastro, segundo parece sempre aberto para fornecer de brôa os guerrilheiros, em 26 de Agosto recebeu o Tomaz das Quingostas cento e cinco mil reis por um cavalo, que lhe levara o Izidoro, alferes de voluntários e, em 17 de Outubro, uma clavina, entregue pelo Caldas na sua própria casa ao buscador Caetano Manuel Meleiro, da Granja. 

Como sempre o Caldas de Real foi o bode expiatório: por aquele cavalo apreendido pelo alferes de voluntários tinha-lhe sido pedida a avultada indemnização de 207$800 reis e para tanto lhe não pagar «se valeu de alguns amigos que o compuzeram pella quantia de sento e sinco mil reis e huma clavina de vallor de sinco mil reis.» 

Roubado, perseguido, procurado de dia e de noite, o cirurgião Caldas resolveu sair de São Paio e refugiou-se na vila, porque o Tomaz era «Homem destemido, ladrão e matador, que roubaba de dia e de noite e quando se lhe não desse ou fezesse o que elle queria logo entimava a penna de vida e assim o executava» e «depois de indultado se fez mais temível cometendo mortes e vários roubos como foi na romaria da Sr.ª da Peneda em 7 de Setembro de 1838, Riba de Mouro, andando em todo o monte temível, muito armado e com a cometiva da sua quadrilha que a todos ameação e todos temião pellas suas dezordens 

Mas se tudo isto assim se articulou no tribunal, nos mesmos autos se escreveu, que entre Tomaz Codeço e o Cirurgião tinha havido toda a familiaridade e bom entendimento e, por vezes, dos dinheiros do Tomaz se valeu o Caldas nas suas aflições."

  

  

 Extraído de: 

 

  • ESTEVES, Augusto C. (1952) - Melgaço e as Invasões Francesas. Edição do autor. Melgaço. 

terça-feira, 15 de junho de 2021

Melgaço no programa "Caminhos da História" (14/06/2021)




Desta vez, Joel Cleto e o seu programa "Caminhos da História", do "Porto Canal" veio a Melgaço falar-nos da História da nossa terra, do nosso património...


sábado, 12 de junho de 2021

O Peso (Melgaço) e as Termas de meados do século XX em fotos

A descoberta das virtudes das águas das nascentes termais no Peso remontam a finais do século XIX. As Terma do Peso (Melgaço) tiveram a sua era dourada algures entre a viragem para o século XX e meados do século passado, que se seguiu um tempo de progressivo declínio... 

Hoje procuram uma nova vida...

Propomos uma pequena viagem por um conjunto de imagens que retratam o Peso e as termas em meados do século XX...




 

















sábado, 5 de junho de 2021

As "terras honradas" em Melgaço no início do século XIV

 


Recuamos ao início do século XIV. No primitivo concelho de Melgaço, algumas terras gozavam de privilégios e isenções de tributos à Coroa. Eram as chamadas "terras honradas", pertencentes a fidalgos ou mosteiros, cuja instituição apenas poderia ser feita por Carta Régia. Os reis, para efetuarem um melhor controlo do território e dos tributos a receber, faziam as chamadas Inquirições. No tempo do rei D. Dinis, as últimas foram feitas aí pelo ano de 1307. 

Da consulta da ata referente às Inquirições relativas às terras de Melgaço, lavrada em 28 de outubro do dito ano, ficamos a saber quais eram as "terras honradas" no primitivo concelho de Melgaço. Por exemplo, ficamos a saber que na freguesia de Rouças, toda a terra era devassa, à exceção da Quintã do Forno Telheiro. Esta propriedade ficaria onde hoje assenta o lugar do Telheiro. Partilhámos aqui o documento, porque é de extrema importância para a História de Melgaço: 

In nomine Dominiamen e na Era de M.CCC.XL.V. anos, e no mes de Oytubro, quando eu Aparico Gonçalviz vym per mandado del Rey alem Doyro, e aaquem Doyro pêra enquerer as honrras ffeytas novamente dela Era de mil e trezentos e vynte e oyto mas aca, e sobrelas velhas, que acrecentarom, e sobre ffeyto dos Regaengos mal parados, e sobrelas casas, que se ffazem sobrelos seus Regaengos, per que os homeens que hy moram som perdidosos; e sobre outras cousas que som pêra correger. 

Primeyramente comecey en Melgaço, e visto o Rool d'El Rey da Enqueriçom, que fez o Priol da Costa, e Gonçalo Rodriguiz, e Domingos Paez de Bragaaperdante Giraldo Migueyz, e Roy MartynzJuyzes dessa Villa, e perdante Pêro Anes, e Rodrigue Anes, e Martim PerezTabalioens desse logar, e perdante outros homeens boons muytos e outrossi visto o Rool, per que depoys desto Paay Estevez, e Pêro Salgado, Tabaliom de Guimarães, deytarom en devasso aqueles logares, que acharom que nom eram honrrados, nem no deviam veer, e visto com esto o livro, per que ora depoys Jhoam Çezar deytou per mandado d'El Rey en devasso as honrras, que ffezerom novas, e o que acrecentarom nas velhas de la Era de mil e trezentos e vynte oyto anos aca, que a sobre dicta Enqueriçom foy ffeyta achey, que todo estava asi como EI Rey manda segundo a mercee, que fez aos Filhos dalgo, salvo Bergoti, que era todo devasso, e Pêro Fernandiz de Crasto, Cavaleiro, achey polos moradores do dito logar, e pelos Juyzes, e Tabalioens sobredictos, que des a seis anos aca, e mays vedara ao Moordomo da terra, que nom entrasse hi; nem quis que fossem chegados senom pelo seu chegador os desse logar; e que Ihis defendera que nom dessem ende a fumagem con o Concelho per razom da renda que aviam a dar a EI Rey. E eu Apariço Gonçalviz deytey todo esse logar de Bergoti en devasso porque achey que ora novamente o onrrava o dicto Pêro Fernandiz. E porque o dicto Concelho de Melgaço perdera pelo dicto Pêro Fernandiz en aqueles seis anos onze libras e quatro ssoldos de portagem da ffumagem, que ende ouverom daver de oyto casaes, que som e outras onze libras, e seis soldos de portagem, que estimamos, que o dicto Pêro Fernandiz ende ouvera de serviços e doutros proces per razom dos dereytos Reaesmandey aos dictos Juyzes que per todalas cousas, que achassem do dicto Pêro Fernandiz ouvessem vynte e duas libras e meia de portagem, que hy montava. 

Item achey que todo Doma e a Granja, que hy fez o Moesteyro de Feaens, e todo Rouçes eram devasos salvo a quintaa do Forno telheyro. E eu Apariço Gonçalviz asi os dou por devassos. E mando que entre hy o Moordomo da terra aa voz, e aa coomha, e por todolos dereytos d'El Rey. E defendo da parte d' El Rey, e sofram pena dos seus encontros, que nenhuum outro nom entre hy a penhorar nem a constranger pelos dereytos Reaeshergo o Moordomo da terra. 

Item achey pelos dictos Juyzes e Tabalioens e homeens boos que en todo o outro termho de Melgaço nom avia honrra, salvo a quintaa do Forno telheyro sobre dicta, e a quintaa do Egildi, e a da Ponte, e a de Remoaenshu moreu Fernam Rodriguiz, e a do outeyro da Várzea, que achey que eram honrradas en esta guisa que o Moordomo nom entrava dentro pola penhora mays tanto que sal fora, toma a mays o Porteyro, e o Meyrinho se lhy dam voz, entra dentro en essas quintaas polas penhoras. E outrosy que veem a mandado do Juiz ffazer dereyto, cada que lho manda dizer a esses Filhos dalgo que moram en essas quintaas. E eu Apariço Gonçalviz devasso todo o termho de Melgaço, salvo as dietas quintaas, que mando, que o Moordomo, e o Porteyro, e o Meyrinho husem delas, como eu acho que ataa aqui husarom enquanto fforem de Filhos dalgo. E defendo da parte del Rey que nenhuum amo de Cavaleiro, nem de domna, nem de outro homem en todo o termho de Melgaço, que nom seja escusado per amadigos e ffaçam vezinhança  como seus vezinhos. 

Item Eu Apariço Gonçalviz mando da parte d'EI-Rey aos Juyzes e ao Concelho de Melgaço que todas estas cousas ffaçam conprir e agardar e nom soffram a nemguum que se escuse per amadigos nem per outra honrra nenhuma e que ffaçam o fforo aa Villa como os outros Vezinhos da guysa que a júrisdiçom e os dereytos d’El Rey nom desperescam sob pena dos corpos, e dos encoutos d'El Rey e as sobre dictas quintaas mantinham-se como de suso he escrito enquanto fforem de Filhos d’Algo. E eu Pedro AnnesTaballiom del Rey en a Villa de Melgaço a estas cousas com o dicto Apariço Gonçalviz presente foy e meu synal y pugi em testemuyo de verdade, que tal est. 

  

[Sinal] 



Transcrição apoiada em: RIBEIRO, João Pedro (1815) – Memórias para a História das Inquirições dos primeiros reinados de Portugal. Impressão Régia, Lisboa.