domingo, 5 de março de 2023

Quem foi Amadeu Abílio Lopes, o melgacense que dá nome à praça na Calçada?

 



A Calçada é uma das áreas mais emblemáticas da vila de Melgaço. Espaço de passagem mas também de convivência, a Calçada foi, durante décadas, designada de Largo José Cândido Gomes de Abreu, antes de ser renomeado de Praça Amadeu Abílio Lopes tal como se chama na atualidade. Mas quem foi este distinto melgacense? Deixamos aqui algumas notas biográficas que conseguimos reunir.

Amadeu Abílio Lopes era filho de Vitorino José Lopes, soldado da Guarda Fiscal, e de Maria Rosa Cortes, lavradeira. Foi também neto paterno de Manuel José Lopes e de Maria Benedita Pereira, sendo, por outro lado, neto materno de António Luís Cortes e de Balbina de Castro.

Nasceu no lugar do Cortinhal, Chaviães, a 13 de Março de 1913. Emigrou em 1927 para o Brasil. Depois de adulto ingressou no mundo dos negócios, tendo sido proprietário de estabelecimentos ligados à panificação, entre outras áreas de atividade, conseguindo amealhar considerável fortuna.

Casou a 13 de Setembro de 1942 com Ulysseia Pires, senhora natural do Rio de Janeiro.

Na edição de Julho de 1945 da publicação “Vida Carioca” do Rio de Janeiro, fala-nos dos negócios do Sr. Amadeu Lopes na chamada Cidade Maravilhosa. Ali, podemos ler: “Há três anos, o Sr. Amadeu Abílio Lopes fez sociedade com o Sr. Duque e, sob a firma Duque & Lopes Ltda., adquiriram a propriedade da bem situada e bem afreguezada Panificação Modelo de Botafogo, à Rua Mena Barreto, 55, num dos pontos mais importantes daquele bairro aristocrático.

Tendo trabalhado na Padaria São João, que é outro importantíssimo estabelecimento de panificação de Botafogo, durante o período de 1930 a 1942, o Sr. Amadeu Abílio Lopes adquiriu uma prática do ramo notável, que o fez um verdadeiro mestre da arte. (...)

trabalha com 15 empregados. (…) Faz as suas entregas em cinco carochinhas higiénicas e rápidas.

É uma casa e primeira ordem...

Em 1956, mandou construir no lugar onde nascera, junto à estrada, a vivenda a que chamou “Lar da Saudade”, onde ele e a esposa passavam as férias quando vinham a Portugal.

Em vários momentos, ajudou com avultadas somas em dinheiro, a Santa Casa da Misericórdia de Melgaço e os Bombeiros Voluntários de Melgaço. No que toca aos contributos para a Santa Casa, estes eram consideráveis, dadas as palavras dirigidas pelo Padre Carlos Vaz, provedor, nas páginas da “Voz de Melgaço”, na edição de 15 de Agosto de 1960: “Deve todo o concelho uma grande homenagem. Deve-a também e sobretudo o nosso hospital. E, pela nossa parte, vamos prestá-la dentro de alguns meses, descerrando na sala principal do hospital as fotografias de dois benfeitores muito dedicados aos problemas do nossos doentes.

Queremos referir-nos a S. Ex.cias o Sr. Amadeu Abílio Lopes e Sua Ex.ma esposa. Nos arquivos desta Santa Casa, já se encontra há muito uma verba muito avultada para o novo hospital, outras e outras vêm sendo dadas por aqueles ilustres benfeitores. Ainda agora, para a ambulância, 5.000$00…

O Padre Carlos Vaz, provedor da Santa Casa, volta e enaltecer o caráter altruísta do Sr. Amadeu Lopes na edição da “Voz de Melgaço, na edição de 15 de Dezembro desse mesmo ano nestes termos: “Um dos grandes melgacenses dos nossos dias e que de longe, e de olhos fixos na sua terra, vem para ela contribuindo com o seu carinho, a sua dedicação, a sua generosidade, veio a todos dar-nos o seu exemplo, oferecendo a avultada soma de 280.000$00, para o novo edifício. Que belo exemplo para todos nós! E nas vésperas do Cortejo!

Ao Senhor Amadeu Abílio Lopes, a Sua Ex.ma Esposa, de Chaviães, sempre presentes nesta gloriosas batalhas do Coração, por nós e por todo o povo da nossa Terra, os mais vivos agradecimentos.

Na Voz de Melgaço, de 15 de Novembro de 1963, o provedor da Santa Casa escreve: “Já não nos falta exemplos dignos de imitar-se, o do Sr. Amadeu Abílio Lopes e de Sua Ex.ma Esposa, de Chaviães, com a sua valiosíssima oferta de 350 000$00.” Existem outros contributos a que fazem referância a imprensa local nomeadamente para a Santa Casa melgacense.

Amadeu Lopes deve ter sido um cidadão distinto em terras do Brasil. Foi-lhe atribuído, em data que não conseguimos apurar, o grau de comendador e era figura de destaque na sociedade. Podemos atestar esta observação com uma notícia do “Diário do Paraná”, edição de 25 de Novembro de 1971, onde destaca a presença do comendador na visita do Arcebispo de Braga a Curitiba nos seguintes dizeres: “Desde ontem de manhã, Curitiba é a segunda cidade brasileira Alvares que guarda um “fac-simile” da cruz do almirante Pedro Álvares Cabral que esteve no altar da missa celebrada em Porto Seguro, quando do Descobrimento do Brasil.

A cruz foi entronizada pelo arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, Dom Francisco Maria da Silva, no anfiteatro da Reitoria da Universidade Católica do Paraná, em solenidade que lugar às 10 horas de ontem, estando presente o comendador Amadeu Abílio Lopes, e Dona Ulisséia Pires Lopes, descendente direto do descobridor do Brasil.

Já numa fase adiantada da sua vida, juntamente com outros melgacenses, criou a sociedade anónima “Quintas de Melgaço, Agricultura e Turismo, SA.” Em 1997, doou as suas ações Câmara Municipal de Melgaço. O município atribuiu ao Largo José Cândido Gomes de Abreu, mais conhecido por Largo da Calçada, o seu nome.

A sua esposa finou-se em 1999, na sua residência da Praia de Botafogo, Rio de Janeiro, com 76 anos de idade.

Ele morreu também no Brasil, em Abril de 2013, com cem anos de idade. Não teve quaisquer filhos.