domingo, 26 de setembro de 2021

Melgaço e a Lenda da Inês Negra no programa "Mátria" (RTP1) em 1984



Recuamos quase 40 anos e fomos visitar Melgaço em 1984. Aqui, a poetisa Natália Correia gravou um episódio do seu programa "Mátria" que foi exibido na RTP1. Torna-se interessante a forma como Natália Correia separa o que é lenda e o que é História no que toca a este episódio da tradição de Melgaço.
Esta série de programas eram dedicados à figura feminina nos seus mais variados aspetos, sobretudo nos aspetos culturais, corria o ano de 1984...
Viaje no tempo!





sábado, 18 de setembro de 2021

A Quinta do Reguengo e a sua ligação à Misericórdia de Melgaço



O nome "Quinta do Reguengo" deriva do facto de outrora esta quinta ter pertencido ao rei, tendo em conta que o termo reguengo significa exatamente “terra que é propriedade do rei”.

A história desta quinta vem de longe e há muitos séculos que ali se produzem os mais variados produtos agrícolas, entre os quais o vinho. Tendo sido propriedade de vários senhores feudais, era ali que os habitantes de Melgaço pagavam a dízima de tudo o que produziam. Daí a dimensão dos lagares e dos canastros existentes na quinta, de dimensões bem acima do necessário para guardar e transformar o que a Quinta produzia.

O solar encontra-se localizado nos terrenos onde existiu em tempos antigos a chamada “Quinta da Várzea”, que pertenceu aos Castros, alcaides-mores de Melgaço e Castro Laboreiro.

A designação de “Quinta da Várzea” já consta no foral de D. Manuel I a Melgaço concedido em 1513. Na época é referida como uma grande e boa propriedade de terreno fértil, belamente situada na Juradia da Várzea e no termo de Melgaço. No dito foral, podemos ler “Primeyramente tem a Coroa Real … - E na freguysia de Varzea tem ora o dito pero de crasto a quintãa da Varzea q he Reguenga. E asy as vinhas e herdades della que soyam seer dous casaaes reguegos. E quando se deer a lavradores nam ficam obrigada ao dito reguengo a prazer das partes por aquyllo que se cõcertarem sem ficar a dita quyntão posta e outra obrigaçam da paga do reguengo por seer fora dos reguegyeyros della.

Esta quinta era uma propriedade de terreno fértil e foi propriedade de várias gerações da família fidalga dos Castros de Melgaço.

Todavia, em 24 de Março de 1606, Inácio Velho de Araújo, um homem de negócios melgacense regressado da Índia, onde tinha amealhado considerável fortuna, celebrou em Lisboa um contrato de compra da Quinta do Reguengo, parte de terras livres e parte constituída em morgado. Comprou-a na sua totalidade estando ela já aforada a Fernando de Castro e esposa D. Ana de Menezes, mordomos de D. Catarina, mulher de D. João VI, Duque de Bragança. Uma parte da propriedade pertencia ao filho Jerónimo de Castro o qual levou a tribunal a questão da propriedade.

O negócio fez-se por “um conto e sinquoenta mil reis, preço desta venda o não reseberam [na frente do tabelião, entenda-se] mas confessaram o tinham em si resebido pella dita maneira em moedas de tostois e reis de prata, moeda corrente neste Reino delle comprador e estavam paguos e entregues a sua vontade do preço desta venda sem erro nem falta alguma e assim o confessaram portanto retificam a dita quitaçam e a dam como derampella maneira atras referida a elle comprador e a seus herdeiros e declararam elles vendedores que sendo caso que elles nam aiam a provisam de sua majestade dentro nos dittos dous anos para haver effeito a parte da dita quinta que está tida por de morgado elle Inácio Velho tome posse das ditas herdades na forma desta escriptura pera haver nella a ditta parte e havendo elles vendedores a dita provisam a qualquer tempo que seja ou seus herdeiros elle comprador e seus herdeiros sejam obrigados a largarem a parte que houverem das dittas herdades em satisfaçam da ditta parte de morgado e haveram a parte de morgado como se declara nesta escriptura e lhe pertence conforme a ella e declararam mais que o pam de foro de Sam Visenso e o Cotto e Casais de Sam Marcos nam entram nesta venda mas o mais si como atras fica declarado...”

Inácio de Araújo, o Velho, a quem muitos dos antepassados da Misericórdia, a principiar pelos conterrâneos, deram Velho como apelido e não como opositor a Júnior, principiando por fazer vários legados no testamento, acabando por instituir a Santa Casa da Misericórdia de Melgaço como sua herdeira. Impôs-lhe, porém, o encargo de continuar a questão judicial que, por causa da parte da quinta havida por de morgado, trazia nos tribunais com Jerónimo de Castro, filho daquele alcaide-mor, se não estivesse ela finda quando a morte levasse o testador.

Inácio Velho de Araújo foi, nas palavras de ESTEVES, A. (1957), “o primeiro grande benemérito da Santa Casa e o seu testamento ainda hoje constitui uma sublime lição”. (…) É pois, esta a primeira voz de -Alto!- a fazer-se ouvir nestes muitos anos da História da Misericórdia e por que fica bem e agrada ao nosso coração reconhecer as virtudes de Araújo Velho, meditemos todos sobre o alcance desta sublime lição de amor à pobreza, seja do nosso sangue, seja do sangue dos outros.

O referido diferendo judicial entre Jerónimo de Castro e a Santa Casa da Misericórdia de Melgaço durou ainda muitos anos e porque em Lisboa devia estar em julgamento qualquer incidente, a Misericórdia em 1625, sendo provedor o Lic. Reverendo Manuel Nunes da Costa, “mandou lá um próprio, João Pereiro, desta vila e… analfabeto” (ESTEVES, A., 1957). Pode ler-se nos registos nestes termos: “E se lhe encomendou quem fizesse e requeresse e solicitasse a justiça desta Casa como bom cristam e hirmam que era desta Casa de modo que por falta de deligencia não se perca a justiça desta Casa...”. Devia ser, de facto, um incidente processual, pois quando em 28 de Outubro de 1629, o Provedor Gregório de Castro, de Remoães, reuniu a Mesa, tendo deixado assente o seguinte: “porcoanto era partida a pellação do feito que se tratou nesta vila com Jerónimo de Castro sobre a Quinta da Bárzia de que foi escrivão Gonçalo Roiz [Rodrigues] de Araújo para a subpllicação da cidade de Lixboa para onde foi… era necessário mandar um próprio, homem de consideração e de agencia que vá solicitar por esta Casa a justiça dela no caso da ditta appelação e acordaram de mandar a Ds [Domingos] Esteves....

O tal Domingos Esteves foi para Lisboa, deu notícias do estado do processo, disse das passagens sucessivas para as mãos dos três juízes julgadores, pediu dinheiro e que o mandassem vir embora, porque a demanda corria devagar. De cá, da Misericórdia de Melgaço, mandaram-no ficar em Lisboa até decisão final e ele obedeceu. Apresentou-se à Mesa da Misericórdia em 23 de Junho de 1630 com a certidão da sentença “contra a Santa Casa”. Nesse mesmo dia, pediu liquidação do seu salário correspondente “cento e noventa e sete dias de ida, vinda e estada que em todos se monta vinte e quatro mil reis” e como era seu manifesto desejo, logo lhe foi pago.

Contudo, a querela estava longe de estar resolvida e demoraria mais dez anos até o assunto estar fechado. De facto, a questão judicial só foi liquidada em Melgaço em 1 de Maio de 1640 tendo ficado assente que “neste mesmo dia apareceu presente o Sr. Jeronimo de Castro morador na cidade de Lisboa, fidalgo da Casa de Sua Mgde. [Majestade] hora estante nesta dita vila pello coal foi ditto que porcoanto elle tinha snça. [sentença] contra esta Santa Casa da Misericórdia da Subplicação da cidade de Lisboa de parte da quinta parte diguo da parte da Quinta da Barzea em que estava condenada em certa cantia de fruitos e custas vencidas athe este ano de seis ctos. e corenta [1640] e por achar e ter informação que a ditta Santa Casa era pobre e não havia por onde se pagassem os ditos fruitos e custas vencidas athe este ditto ano de seis ctos. e corenta pello que pellos ditos respeitos e serviço de Deos nosso senhor lha fazia serviço a dita Santa Casa de lhe perdoar como de feito loguo lhe perdoou deste dia para todo o sempre jamais os dittos fruitos e custas que se achassem ella dever por qualquer via que fossem feitas e sobmente entraria a colher os fruitos da parte que lhe pertencer o anno vindouro de seis ctos. E corenta e hum [1641] e assinou aqui nas casas de António Pinheiro onde estava pousado...”

Não obstante se perder esta questão judicial, a parte da Quinta do Reguengo ou da Várzea ficou no acervo dos bens da Misericórdia, que a foi trabalhando pelos seus caseiros e a vendeu em 29 de Setembro de 1675. A venda fez-se por quinhentos e vinte mil réis e um foro de oito lampreias, que passava sobre o naceiro da Serpente da Pedrosa por dez mil réis.

O comprador da quinta foi o capitão Agostinho Soares de Castro que era cavaleiro professo na Ordem de Cristo e “capitão de cavalos e coirassos”, “tendo sido o primeiro Senhor da Casa e Quinta do Reguengo, situada na Juradia da Várzea, termo de Melgaço” (ESTEVES, A., 1989).

Por seu pai, Miguel de Castro Soares Azevedo, primeiro senhor da Casa da Granja, sita junto da Ponte da Folia, na freguesia de Remoães, e provedor da Santa Casa da Misericórdia da vila de Melgaço em 1629, descendia dos nobres Castros, alcaides-mor de Melgaço, desde que em tal cargo D. João I investiu Diogo Gonçalves de Castro.

O capitão Agostinho de Castro era neto de Tristão de Castro Azevedo, abade da freguesia de Rouças, tendo sido também provedor da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço em 1591, ano em que deu a avultada esmola de quatro mil réis para a pintura de retábulo da igreja da confraria melgacense.

Foi depois da compra da quinta à Misericórdia melgacense que o capitão Agostinho Soares de Castro mandou construir este bonito solar que ainda hoje podemos contemplar.

Sabemos que em 1759 morava lá Agostinho Soares de Castro, provavelmente filho do capitão com o mesmo nome anteriormente citado, juntamente com a sua esposa Benta António da Silva Sottomayor (ROCHA, J., 2009).

Entretanto, em 12 de Novembro de 1766, estala na Santa Casa da Misericórdia de Melgaço, uma onda de críticas à venda desta Quinta do Reguengo, concretizada quase um século antes. Segundo ESTEVES, A. (1957), essas críticas eram completamente infundadas e extemporâneas. As críticas aparecem descritas numa carta achada num altar da igreja e dirigida ao provedor e mais irmãos da mesa. Mas “toda a gente sabia encontrar-se na lei então vigente a obrigação de a vender e no livro dos acórdãos do tempo a clara prova da legalidade do meio empregado para a alienação daqueles prédios”. (idem)

Temos notícia que em 1868, a quinta e o solar pertenciam a José de Sá Sottomaior, antigo presidente da Câmara Municipal.

Atualmente, o solar alberga um hotel rural de elevada qualidade e na quinta produz-se um excelente vinho alvarinho. O solar, que ainda hoje é admirado na sua traça primitiva, espaçosa, elegante, em forma de U, com galeria para o sul e escadas bem lançadas a ladeá-la. À esquerda do observador ostenta-se o brasão de armas do fidalgo e à direita o de um dos últimos morgados.

O mesmo encontra-se inserido em meio rural, e enquadrado por grandes vinhedos e precedido de portal com vãos abertos, estando o central ladeado de jambas pilastradas sobre as quais assentam dois leões esculpidos. É construído em cantaria de granito rebocada e pintada a branco, exceto cunhais, cornijas, molduras e ornamentos, sacadas, galeria e escadaria que apresentam pedra à vista.


domingo, 12 de setembro de 2021

O lugar das Corujeiras (Rouças-Melgaço): um topónimo com mais de 800 anos

 

O lugar das Corujeiras pertence à antiga freguesia de Rouças e trata-se de um topónimo muitíssimo antigo. A sua origem não é clara e temos que considerar várias hipóteses que nos remetem para tempos primitivos em que o local poderia ainda nem ser povoado. 

Poderia chamar-se "Corujeiras" devido ao facto de o sítio ou povoação ser um local onde haveria ou nidificavam corujas ou de onde se ouviria essas aves notívagas com muita frequência. Contudo, a origem do topónimo pode não ser certa e tão clara como possa parecer. Joaquim Viterbo, no seu Elucidário, obra de 1798, define o termo “curugeira” como “um pardieiro, povoação vil, sítio penhascoso, e só próprio para criar curujas” o que nos leva à possibilidade de o seu significado nada ter a ver com esta ave notívaga mas apenas definir um local de difícil acesso e com pouco valor. E apresenta um exemplo da aplicação deste termo com este sentido recorrendo à Crónica de D. João I, de Fernão Lopes: “E tudo isto fez (o avô de João, rei de Castella, que morreo de peste no cerco de Gibraltar, sem a poder render) por cobrar huma curugeira de pouco valor” (VITERBO, J., 1798). Assim, o termo “Corujeira” poderia ter uma conotação depreciativa. Todavia, é muito provável que a sua origem não seja esta segunda hipótese já que as caraterísticas do local não se encaixam nas citadas no parágrafo anterior. Temos ainda que considerar uma terceira hipótese que até poderá ser aquela que se nos afigura mais pertinente e que aponta para o facto de o topónimo “Corujeiras” estar associado a cruzamentos ou encruzilhadas, tal como o topónimo galego “Coruxo”, que nada tem a ver com corujas ou outras aves notívagas. 

Trata-se de um lugar referenciado em documentação histórica, pelo menos, desde tempos medievais, mais concretamente desde o século XII, e onde o Mosteiro de Fiães tinha terras. Assim, sabemos que em 10 de Agosto de 1192, um tal Paio Soares, Elvira Vaz e filhos doam ao dito mosteiro a herdade de Corujeiras, nesta freguesia de Rouças. Note-se que na escritura da doação, este topónimo aparece escrito com a grafia “Cruieiras” no início do documento, mas mais à frente o nome da dita herdade é assim escrita: ”Curugeiras sub ecclesia Sancte Marine Roucis”, ou seja, que a dita propriedade se situava abaixo da igreja de Rouças. Contudo, PINTOR J. (1975) julga que a partícula “sub” pode ser interpretado no sentido de subordinação à igreja sede da freguesia.

É também do nosso conhecimento uma escritura de meados do século XIII referente ao lugar das Corujeiras. Assim, em Junho de 1247, um tal Martinho Pais e sua esposa aforam uma vinha do Mosteiro de Fiães, sita em Corujeiras. Nesta escritura, aparecem citados o alcaide de Melgaço à época, um tal Pedro Fernandes que era desta freguesia de Rouças, e o abade de Fiães, Dom João. 

Voltamos a ter referências documentais a este lugar das Corujeiras numa escritura de venda lavrada em 11 de dezembro de 1603. Nela, se escreve  pelo tabelião Afonso Fernandes que um tal Fernam Mendes e mulher Ana Roiz, moradores nesta aldeia das Corujeiras, venderam a Pero Gonçalves Besteiro e sua esposa Cecília Gomes, da casa do Paço de Rouças, a sua herdade “chamada de curugeiras, chamada a llama assi como está marquada e debissada por marcos e debissas que parte do nascente do sol com terra de rodrigo albres sogro e pai dos bemdedores e do poente do soll com binha delles vendedores e da outra parte com terra de Caterina desmoris... que llebará de semeadura hum alqueire de semteo pouco mais ou menos”, foreira à Câmara de S. Paio, por oito mil réis. 

Em tempos menos antigos, continuamos a ter referências a este lugar como estando povoado. Por exemplo, ainda no século XVII, na documentação paroquial, aparece ainda frequentemente mencionado com a grafia “Crujeiras”, refletindo a forma como era pronunciado na época. 

Sabemos que na constituição do morgadio da Casa da Torre, da vila de Melgaço, em 19 de Junho de 1634, foram vinculados, além da Quinta da Cordeira, outras propriedades neste lugar, nomeadamente, “as leiras de Corujeiras de Baixo, um pedaço de terra, vinha e souto sitos no lugar do mesmo nome” (ESTEVES, 1989). 

Ainda no século XVII, através de uma escritura lavrada em 8 de Março de 1693, relativa a um acordo entre a quinta de Pontizelas (Paderne) e o morgado da Casa da Torre, temos conhecimento que esta mantinha propriedades neste lugar, nomeadamente, “…da vinha de Curujeiras, do souto, campo e monte sitos no lugar de Curujeiras de Baixo. ” 

Este lugar das Corujeiras aparece também referido na escritura de instituição do morgadio de Galvão, cujos instituidores foram António de Castro Sousa Lobato e suas irmãs. A formalização foi efetuada em escritura lavrada em 16 de Dezembro de 1703, onde se expõe o rol de propriedades e foros vinculados, entre os quais aparece: “Item, mais ipotecaban o campo de curugeiras que fica nos lemites (...) que comprara sua mai ao cappitan paullos vas baan, que parte do norte com vinha que foi de Lourenço da Costa e do sul com terras de Joam gomes de carbalho de llobo ja defunto que ten dosentas baras de redondo de des palmos de conprido caada huma.” 

Temos ainda referência a uma propriedade designada de “Quinta das Curujeiras de Baixo”, citada no testamento de uma tal Dona Margarida Carolina de Castro Sousa e Meneses, da Casa de Galvão, falecida em 6 de Setembro de 1871, mas moradora, à data da sua morte, na Rua Direita, na vila de Melgaço. No dito testamento, deixou a uma sua sobrinha chamada Maria Ludovina Álvares de Barros, entre outros bens “...dois campos contíguos no Carvalho do Lobo, a confrontarem do norte com a estrada real e oratório do Senhor Crucificado e do sul com a Quinta de Curujeiras e o campo do Terço…” 

Segundo ESTEVES, A. (1989), esta Maria Ludovina “enviuvou e neste estado dividiu e demarcou de combinação com Bernardo António Pereira de Castro, da Quinta de Eiró de Baixo, por escritura de 1876, a casa da Quinta de Corujeiras, visto a ela pertencer metade por herança de sua mãe e a outra metade ter sido arrematada por aquele Bernardo em hasta pública efetuada no inventário por óbito de D. Ana Margarida de Sousa e Castro”, atrás citada. 

Diga-se ainda que nos livros paroquiais, temos informações, de uma forma mais ou menos continuada, desde o século XVII, a este lugar, sendo citado nas Memórias Paroquiais de 1758 no rol dos lugares povoados desta freguesia. Pelo menos, desde essa época, tem tido população residente de forma mais ou menos continuada ao longo dos séculos, conforme se pode conferir na tabela seguinte: 



domingo, 5 de setembro de 2021

O Cruzeiro do Senhor da Oliveira : algumas notas históricas e arquitetónicas


Esta pequena capela, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço, situa-se na margem esquerda do caminho vicinal cimentado, entre campos agrícolas, que da vila de Melgaço, dá acesso à Quinta da Oliveira, implantado numa plataforma sobranceira ao vale sinuoso do Rio Minho.

Não dispomos de um conjunto vasto de informações que nos permitam escrever com detalhe a História deste pequeno local de oração. Para irmos de encontro à sua origem, temos que recuar a 1795, ano de construção de um oratório mandado edificar por um tal António Gomes de Oliveira, à sua custa, por motivo da sua extrema devoção a Deus.

O mesmo António de Oliveira, em 1799, consegue do Núncio Apostólico em Lisboa, 100 dias de indulgência perpétua diária, para quem visitasse este pequeno oratório, conforme inscrição gravada no sopé da cruz. Na época, o lugar onde se encontrava era um local com muito movimento por ficar próximo da barca do Louridal, no rio Minho, e que fazia a ligação entre Portugal e a Galiza.

Temos conhecimento de que em 1801, a 8 Dezembro, um tal Manuel Alves, da Carvalheira, da freguesia de Chaviães, antes de morrer, pede aos seus familiares para não esquecerem de tomar-lhe conta do seu desejo de adornar o oratório, para bem da sua alma, e de lhe darem dois meninos de cera ao Senhor da Oliveira.

Algures entre Agosto de 1806 e Dezembro de 1807, falece António Gomes de Oliveira, fundador deste oratório. O mesmo estipulou em testamento que queria ser sepultado neste oratório do Senhor da Oliveira, com dois lumes da confraria das Almas e a lanterna que o mesmo oratório tinha.

Este oratório sofreu já modificações ao nível do alpendre durante o século passado. O mesmo possui planta quadrangular, de massa simples com cobertura em telhado de quatro águas. As fachadas apresentam-se com aparelho de alvenaria irregular de granito à vista, rebocado e caiado. A fachada principal encontra-se orientada a sudeste, com cunhais de alvenaria de granito, com juntas tomadas e caiadas, cerrada por parede cimentada e pintada de branco, onde se rasga porta de remate superior triangular, enquadrada por duas janelas de idêntico formato.

O interior deste oratório apresenta-se com paramentos cimentados e pintados de branco, com teto de masseira, em madeira, pintado de azul, de onde pende uma candeia de ferro. O cruzeiro apresenta-se com soco constituído por um plinto prismático monolítico, de arestas chanfradas, apresentando cavidade para encaixe do fuste e, ao longo das faces, inscrição muito erosionada. O fuste é alto, monolítico, de secção quadrangular com chanfros, encontrando-se pintado de branco, tendo na base da face frontal inscrita a data 1795 e sendo encimado por capitel coríntio, pintado de azul e branco, sustentando cruz latina de secção quadrangular, pintada de azul e ouro, nas arestas. A cruz apresenta na face frontal a representação escultórica do Senhor na Cruz, de pés sobrepostos, com pintura policroma, sobrepujado por cartela.