O lugar das Corujeiras pertence à antiga freguesia de Rouças e trata-se de um topónimo muitíssimo antigo. A sua origem não é clara e temos que considerar várias hipóteses que nos remetem para tempos primitivos em que o local poderia ainda nem ser povoado.
Poderia chamar-se "Corujeiras" devido ao facto de o sítio ou povoação ser um local onde haveria ou nidificavam corujas ou de onde se ouviria essas aves notívagas com muita frequência. Contudo, a origem do topónimo pode não ser certa e tão clara como possa parecer. Joaquim Viterbo, no seu Elucidário, obra de 1798, define o termo “curugeira” como “um pardieiro, povoação vil, sítio penhascoso, e só próprio para criar curujas” o que nos leva à possibilidade de o seu significado nada ter a ver com esta ave notívaga mas apenas definir um local de difícil acesso e com pouco valor. E apresenta um exemplo da aplicação deste termo com este sentido recorrendo à Crónica de D. João I, de Fernão Lopes: “E tudo isto fez (o avô de João, rei de Castella, que morreo de peste no cerco de Gibraltar, sem a poder render) por cobrar huma curugeira de pouco valor” (VITERBO, J., 1798). Assim, o termo “Corujeira” poderia ter uma conotação depreciativa. Todavia, é muito provável que a sua origem não seja esta segunda hipótese já que as caraterísticas do local não se encaixam nas citadas no parágrafo anterior. Temos ainda que considerar uma terceira hipótese que até poderá ser aquela que se nos afigura mais pertinente e que aponta para o facto de o topónimo “Corujeiras” estar associado a cruzamentos ou encruzilhadas, tal como o topónimo galego “Coruxo”, que nada tem a ver com corujas ou outras aves notívagas.
Trata-se de um lugar referenciado em documentação histórica, pelo menos, desde tempos medievais, mais concretamente desde o século XII, e onde o Mosteiro de Fiães tinha terras. Assim, sabemos que em 10 de Agosto de 1192, um tal Paio Soares, Elvira Vaz e filhos doam ao dito mosteiro a herdade de Corujeiras, nesta freguesia de Rouças. Note-se que na escritura da doação, este topónimo aparece escrito com a grafia “Cruieiras” no início do documento, mas mais à frente o nome da dita herdade é assim escrita: ”Curugeiras sub ecclesia Sancte Marine Roucis”, ou seja, que a dita propriedade se situava abaixo da igreja de Rouças. Contudo, PINTOR J. (1975) julga que a partícula “sub” pode ser interpretado no sentido de subordinação à igreja sede da freguesia.
É também do nosso conhecimento uma escritura de meados do século XIII referente ao lugar das Corujeiras. Assim, em Junho de 1247, um tal Martinho Pais e sua esposa aforam uma vinha do Mosteiro de Fiães, sita em Corujeiras. Nesta escritura, aparecem citados o alcaide de Melgaço à época, um tal Pedro Fernandes que era desta freguesia de Rouças, e o abade de Fiães, Dom João.
Voltamos a ter referências documentais a este lugar das Corujeiras numa escritura de venda lavrada em 11 de dezembro de 1603. Nela, se escreve pelo tabelião Afonso Fernandes que um tal Fernam Mendes e mulher Ana Roiz, moradores nesta aldeia das Corujeiras, venderam a Pero Gonçalves Besteiro e sua esposa Cecília Gomes, da casa do Paço de Rouças, a sua herdade “chamada de curugeiras, chamada a llama assi como está marquada e debissada por marcos e debissas que parte do nascente do sol com terra de rodrigo albres sogro e pai dos bemdedores e do poente do soll com binha delles vendedores e da outra parte com terra de Caterina desmoris... que llebará de semeadura hum alqueire de semteo pouco mais ou menos”, foreira à Câmara de S. Paio, por oito mil réis.
Em tempos menos antigos, continuamos a ter referências a este lugar como estando povoado. Por exemplo, ainda no século XVII, na documentação paroquial, aparece ainda frequentemente mencionado com a grafia “Crujeiras”, refletindo a forma como era pronunciado na época.
Sabemos que na constituição do morgadio da Casa da Torre, da vila de Melgaço, em 19 de Junho de 1634, foram vinculados, além da Quinta da Cordeira, outras propriedades neste lugar, nomeadamente, “as leiras de Corujeiras de Baixo, um pedaço de terra, vinha e souto sitos no lugar do mesmo nome” (ESTEVES, 1989).
Ainda no século XVII, através de uma escritura lavrada em 8 de Março de 1693, relativa a um acordo entre a quinta de Pontizelas (Paderne) e o morgado da Casa da Torre, temos conhecimento que esta mantinha propriedades neste lugar, nomeadamente, “…da vinha de Curujeiras, do souto, campo e monte sitos no lugar de Curujeiras de Baixo. ”
Este lugar das Corujeiras aparece também referido na escritura de instituição do morgadio de Galvão, cujos instituidores foram António de Castro Sousa Lobato e suas irmãs. A formalização foi efetuada em escritura lavrada em 16 de Dezembro de 1703, onde se expõe o rol de propriedades e foros vinculados, entre os quais aparece: “Item, mais ipotecaban o campo de curugeiras que fica nos lemites (...) que comprara sua mai ao cappitan paullos vas baan, que parte do norte com vinha que foi de Lourenço da Costa e do sul com terras de Joam gomes de carbalho de llobo ja defunto que ten dosentas baras de redondo de des palmos de conprido caada huma.”
Temos ainda referência a uma propriedade designada de “Quinta das Curujeiras de Baixo”, citada no testamento de uma tal Dona Margarida Carolina de Castro Sousa e Meneses, da Casa de Galvão, falecida em 6 de Setembro de 1871, mas moradora, à data da sua morte, na Rua Direita, na vila de Melgaço. No dito testamento, deixou a uma sua sobrinha chamada Maria Ludovina Álvares de Barros, entre outros bens “...dois campos contíguos no Carvalho do Lobo, a confrontarem do norte com a estrada real e oratório do Senhor Crucificado e do sul com a Quinta de Curujeiras e o campo do Terço…”
Segundo ESTEVES, A. (1989), esta Maria Ludovina “enviuvou e neste estado dividiu e demarcou de combinação com Bernardo António Pereira de Castro, da Quinta de Eiró de Baixo, por escritura de 1876, a casa da Quinta de Corujeiras, visto a ela pertencer metade por herança de sua mãe e a outra metade ter sido arrematada por aquele Bernardo em hasta pública efetuada no inventário por óbito de D. Ana Margarida de Sousa e Castro”, atrás citada.
Diga-se ainda que nos livros paroquiais, temos informações, de uma forma mais ou menos continuada, desde o século XVII, a este lugar, sendo citado nas Memórias Paroquiais de 1758 no rol dos lugares povoados desta freguesia. Pelo menos, desde essa época, tem tido população residente de forma mais ou menos continuada ao longo dos séculos, conforme se pode conferir na tabela seguinte:
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