Há
cerca de 150 anos, Melgaço era bastante diferente do atual. Algumas
décadas antes, tinha visto o seu território praticamente duplicar
com a incorporação das antigas freguesias que pertenciam aos
antigos concelhos de Castro Laboreiro e Valadares. No livro “Notícia
Histórica das Cidades, Villas e Casas Ilustres da Província do
Minho” (1873), Melgaço é descrito nestes termos: “A mais
antiga noticia que se encontra da fundação desta villa, data do
reinado de D. Affonso Henriques, que em 1170 a mandara
povoar, cercando-a duma fortaleza no logar em que outrora existira
uma chamada Minho.
Anteriormente
a esta noticia, nada se sabe a respeito da povoação que ali
existira, e que necessariamente fora praça de guerra, visto ter uma
fortaleza ou baluarte.
Esta
villa é uma das raias que dividem Portugal da Galliza pelo poente.
Foi-lhe dado foral, ao que parece, por D. Sancho II. No entanto o
título pelo qual El-Rei D. Sancho I dera a um mosteiro de S. João de
Longos Valles bens e coutos, em mercê do assignalado serviço que
lhe fizera D. Pedro Pires, prior que então governava o convento,
mandando construir à sua custa a torre e fortaleza de Melgaço,
parece indicar que fora este monarcha, que mandando reformar a villa
lhe dera também foral.
O
monarca que mais foros e privilégios concedeu a Melgaço, foi
efectivamente D. Sancho II: e por tanto é de crer que fosse elle
também quem lhe desse o mais distincto de todos, que é o foral.
D'El-Rei
D. Diniz recebeu Melgaço também muitas graças e favores, entre
outros o cerca-la de novos muros, e o escolher alcaide para o
castello.
Tem
Melgaço casa de Mizericordia e hospital, e as egrejas de Santa Maria
e S. Paio, que são os edifícios mais importantes da villa: aquella,
era apresentada alternadamente pela casa de Bragança e mosteiro de
Fiães, e está situada a pequena distância da ermida de Nossa
Senhora da Orada, imagem de muita devoção. O templo de S. Paio a
que Sandoval chama mosteiro de S. Paio de Paderno, é um edifício
curioso pela sua origem: pois segundo alguém pretende pertencera aos
árabes, até que a infanta D. Urraca, filha d' El-Rei D. Fernando
Magno, o concedera à Sé de Tuy, e ao seu bispo D. Jorge no anno de
1071.
A.
rainha D. Thereza, e seu filho D. Affonso Henriques, confirmaram-lhe
esta doação na parte a que tinham direito.
Os
arrabaldes de Melgaço são férteis em cereaes e pastagens : no rio
Minho que a banha, se pescam magnificas lampreias e salmões. Entre
as produções de Melgaço é a mais importante, sem duvida, o
saborosíssimo presunto.
Nas
suas cercanias tem Melgaço muito honrosas casas e quintas,
sobresahíndo entre todas as dos Castros e Sousas, tronco de muitas
famílias illustres.
A população da villa ascende hoje a mais de 2:000 almas e as suas
armas são — em campo de prata um Pelicano de sua cor, amamentando
os filhos com sangue que tira do próprio peito.”
Extraído
de FIGUEIREDO, António Lopes de (1873) - Notícia Histórica das
Cidades, Villas e Casas Ilustres da Província do Minho. Typografia
Luzitana. Braga.
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